quarta-feira, 29 de setembro de 2021

ENTREVISTA: MARCOS CÉSAR PONTES, UM BRASILEIRO CONQUISTA O ESPAÇO - GUSTAVO KLEIN - COM GABARITO

 Entrevista: Marcos César Pontes, um brasileiro conquista o espaço

Por Gustavo Klein

        Ele realizou o sonho de infância de muita gente: o paulista Marcos César Pontes, 43 anos, tenente-coronel da Força Aérea Brasileira, é o primeiro astronauta brasileiro, trabalha na Nasa, participa do projeto da construção da Estação Espacial Internacional que envolve 16 países e, no ano que vem, irá pela primeira vez ao espaço, a bordo da espaçonave russa Soyuz. Na entrevista a seguir, realizada em 2005, antes de ir ao espaço, Pontes fala sobre sua trajetória, turismo espacial e até sobre procura de vida extraterrestre.

        Você não vem de uma família rica e mesmo assim se tornou o primeiro astronauta vindo de um país do Hemisfério Sul. Como conseguiu direcionar sua formação para esse objetivo? 

        É, minha família era realmente humilde. Meu pai era servente do Instituto Brasileiro do Café e minha mãe, escriturária da Rede Ferroviária Nacional. Eu não teria condições financeiras de pagar uma boa escola. O que eu fiz? Entrei para o Senai, que considero um serviço fantástico, e por meio dele consegui um trabalho como aprendiz de eletricista. Com esse salariozinho que ganhava, pagava um curso de técnico em eletrônica, à noite.

        E a vida de militar, surgiu como? 

        Em 1980, me inscrevi para os exames de seleção da Academia da Força Aérea (AFA). Não podia pagar o colégio e o curso preparatório e, para estudar, contei com a ajuda de muitos professores do colégio, que me emprestaram livros. Os exames foram difíceis, mas consegui passar em segundo lugar em todo o país. Entrei na AFA em 1981 e recebi meu brevê de piloto e a espada de oficial da Força Aérea em 1984. Aí, então, me tornei piloto de caça. Depois, em 1989, fui aprovado no processo seletivo do curso de Engenharia Aeronáutica do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e, em 1996, seguindo ainda a área acadêmica, me mudei com minha esposa e meu filho para Monterey, na Califórnia, para fazer Mestrado em Sistemas de Engenharia. Foi preciso muita persistência, mas eu não acho que tenha nada de extraordinário, sou uma pessoa como qualquer outra. Acho que essa é a grande lição que posso passar para os jovens: acreditar e investir em si mesmo, sonhando e traçando um objetivo para o futuro.

        Ser astronauta é um sonho de infância comum. É o seu caso? 

        Meu primeiro sonho era ser piloto da Força Aérea. Sou de Bauru e ia de bicicleta até um aeroporto próximo só pra ficar vendo os aviões decolando e pousando. Adorava também ver os aviões da Esquadrilha da Fumaça. E a motivação foi essa, de ser piloto.

        [...]

        E como você foi chamado para participar da seleção?

        Absolutamente por acaso. E não fui chamado: na época eu ainda estava fazendo aquele mestrado em Monterey, na Califórnia, e meu irmão me mandou, por e-mail, um recorte de jornal falando da seleção de astronautas aqui no Brasil. Todos aqueles sonhos inconscientes vieram à tona, confesso que já havia dado uma olhada na página da Nasa na Internet para saber se tinha os requisitos para ser um astronauta.

        E tinha? 

        Todos, menos um: ser americano. Quando esse requisito foi retirado, demorei uns trinta segundos para tomar a decisão (risos).

        Quantos candidatos participaram da seleção? 

        Foram 40 de todo o Brasil, dos quais sobraram cinco, que foram fazer a última seleção, uma entrevista lá na Nasa. Como disse no final da entrevista de seleção… “Imagine como está se sentindo aquele garoto aprendiz de eletricista só pelo fato de estar participando dessa seleção!”. O anúncio de minha escolha está entre os momentos de minha vida que sou capaz de descrever em todos os detalhes.

        Qualquer pessoa pode se candidatar a astronauta? 

        Existem requisitos ligados à parte acadêmica, por exemplo, é preciso ter formação acadêmica em Exatas ou Biológicas: Medicina, Veterinária, Biologia, Engenharia, Matemática, Física, Química…

        [...]

        Há um tempo máximo recomendado para permanência no espaço?

        Os astronautas da antiga estação espacial soviética MIR chegaram a ficar mais de seis meses, mas isso não é recomendável. Quem passa algum tempo no espaço volta, invariavelmente, sofrendo de uma descalcificação severa, algo muito próximo da osteoporose, da qual se recupera a longo prazo. O problema mais grave é o da radiação. Se nosso trabalho fosse controlado pelos padrões tradicionais, como por exemplo o do Ministério do Trabalho, depois de uma missão espacial, o astronauta teria que se aposentar.

        [...]

        O que é mais importante em uma missão espacial? 

        O espírito de equipe verdadeiro é fundamental. Afinal, sua vida está nas mãos de todos os sete membros, em momentos diversos. Quando você está lá fora da nave, preso ao braço mecânico, sua vida depende do responsável por operá-lo, por exemplo. Uma boa equipe tem que ter motivação, valores comuns, para formar uma identidade, cada membro da equipe tem que ser confiável. A comunicação entre os elementos do time é fundamental.

        E o que acontece se o cabo que lhe prende à nave se rompe ou solta? 

        A roupa que utilizamos tem, atrás, uma espécie de foguete a base de nitrogênio líquido. Se o cabo se rompe e o astronauta fica flutuando no espaço, ele precisa se virar na direção da nave e acionar esse foguete, que dará um empurrão na direção certa. Se a mira do cidadão estiver ruim e ele passar direto pela nave, ele deve aproveitar bem as oito horas que dura a bateria que sustenta a pressurização da roupa, para ter uma visão única do espaço sideral, porque não vai mais voltar.

        Quais são as perguntas mais comuns que lhe fazem? 

        Por incrível que pareça, todo mundo gosta de saber como é ir ao banheiro no espaço. E é realmente interessante, porque em uma situação de gravidade zero, você flutua, tudo flutua.

        Como fazer? 

        É simples: primeiro, ganchos fixam o astronauta ao vaso sanitário. Que, por não ter água, funciona por sucção. Há um buraco e é preciso acertar bem ali dentro, caso contrário suja o vaso e você mesmo tem que limpar.

        E como acertar o buraco? 

        Simples: há uma câmera dentro do vaso e uma tela na frente do astronauta, que controla tudo.

        E quando se está em missão fora da nave? 

        Ah, aí a coisa funciona da forma mais básica possível: fraldas. Aliás, a roupa utilizada pelos astronautas é bem complexa, tem até sistema de refrigeração por meio de água gelada, aquecedores elétricos, bote, luzes, comida desidratada, é pressurizada e custa a bagatela, cada uma, de US$ 20 milhões.

        [...]

        O senhor tem conhecimento de pesquisas da Nasa envolvendo extraterrestres? 

        Não sei. Se existem, não tenho conhecimento, mas tenho consciência de que respondendo assim eu dou margem a dúvidas como “ele está escondendo alguma coisa”. Não existe, na Nasa, nenhum treinamento específico sobre o que fazer no caso de toparmos com um extraterrestre no espaço. O que posso dizer é que, entre os pilares da Nasa, estão a exploração de novos mundos, descobrimentos científicos e a procura de vida extraterrestre. Está em um documento oficial da Nasa e, portanto, é um objetivo efetivo da agência.

        Isso pressupõe que a Nasa acredita que exista vida em outros planetas, não? 

        Claro. Acredita-se, realmente, que exista vida extraterrestre, até porque a possibilidade de que exista é muito maior do que a que não exista. Conhecemos uma parcela tão ínfima do universo! Mas isso não quer dizer que existam homenzinhos verdes, nos anima qualquer possibilidade de quaisquer formas de vida, mesmo as mais ínfimas, que existam ou que tenham existido, seja em Marte ou em qualquer outro lugar. Eu acredito, mas tenho conhecimento de fotos ou de coisas como Roswell ou a Área 51.

        Em um trabalho que exige tanta técnica e frieza, há espaço para a emoção? 

        Sempre há espaço para a emoção, e ela é importante inclusive para uma reação rápida diante de uma situação de emergência. Na hora em que algo dá errado, a primeira reação é a emocional, claro, mas os procedimentos estão tão gravados na nossa mente, como um circuito impresso, que é preciso frieza para fazer o que é preciso sem se deixar contaminar. Mas em um trabalho que dá a chance de ver a circunferência inteira do planeta e confirmar por conta própria que a Terra é azul, é impossível não ter emoções.

Fonte: http://www.velhosamigos.com.br/Reportart/reportart33.html. Acesso em: 23 jan. 2015.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 9º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 178-181.

Entendendo a entrevista:

01 – Que fato pode ter despertado o interesse do site para escolher o entrevistado?

      Provavelmente, o fato de Pontes ser um astronauta brasileiro reconhecido.

02 – Na primeira pergunta feita ao entrevistado, o jornalista enfatiza qual assunto?

      O assunto é o fato de Marcos ser de uma família humilde, mas ter se tornado o primeiro astronauta vindo do Hemisfério Sul.

03 – Que pressuposto é revelado pela primeira pergunta do jornalista?

      O de que apenas pessoas vindas de famílias ricas podem se tornar astronautas.

04 – O que há em comum tanto na primeira como na segunda resposta do entrevistado?

      Ambas revelam que o esforço e a dedicação de Marcos contribuíram muito para suas conquistas.

05 – Marcos Pontes informa que, entre as exigências da Nasa para selecionar um astronauta, ele só não tinha uma. Qual?

      A exigência de ser americano.

06 – Mesmo não sendo americano, Marcos tornou-se um astronauta da Nasa. Por que isso foi possível?

      Porque a agência resolveu deixar de lado o requisito de “ser americano” e realizou uma seleção de astronautas brasileiros.

07 – Quais são os requisitos acadêmicos exigidos pela Nasa aos candidatos a astronauta?

      É preciso ter formação acadêmica em Exatas ou Biológicas.

08 – O espírito de equipe é o que Marcos Pontes considera o fator mais importante em uma missão espacial.

a)   Por que ele tem essa opinião?

A opinião dele se explica porque é necessária a união da equipe, já que a vida de um depende da vida do outro.

b)   Segundo ele, como uma equipe cria uma identidade?

Essa identidade é criada a partir de motivação, valores comuns e confiança um no outro.

09 – Sobre vida extraterrestre, qual é o posicionamento da Nasa, de acordo com Marcos Pontes?

      A Nasa acredita que há a possibilidade de vida fora da Terra e tem a pesquisa do tema como um de seus objetivos.

10 – Em sua opinião, a trajetória de Marcos Pontes pode ser considerada inspiradora? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

11 – Entre as exigências da Nasa para os interessados em fazer parte de seu corpo de astronautas, está a de ser americano.

a)   Provavelmente, por que isso acontece?

A Nasa é uma agência americana. É importante discutir a visibilidade que as conquistas e descobertas da Nasa dá aos Estados Unidos.

b)   Em sua opinião, essa exigência é correta? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

12 – Que aspecto da entrevista você achou mais interessante? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

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