quarta-feira, 29 de setembro de 2021

REPORTAGEM: PARA ESPECIALISTAS, CAUSAS DA SECA VÃO ALÉM DO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA - FERNANDO CAULYT - COM GABARITO

 Reportagem: Para especialistas, causas da seca vão além do desmatamento na Amazônia

         Floresta possui função importante de levar chuvas a outras regiões do continente. No entanto, cientistas são cautelosos com associação entre redução da mata e a pior estiagem em 80 anos no Sudeste

        O Sudeste passa pela pior seca dos últimos 80 anos, com mais 130 municípios de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais afetados. Um relatório recente, apoiado pela ONG WWF Brasil, apontou o desmatamento na Amazônia como uma possível causa para o fenômeno – e a conseguinte crise da água. Especialistas ouvidos pela DW, porém, dizem que os motivos vão além.

        Ainda não há um estudo científico que comprove a relação direta entre desmatamento e seca. E estudiosos são céticos em fazer essa ligação, sobretudo porque a queda na precipitação em 2014 está fora da proporção na comparação com o aumento da área desmatada no último ano – em 2013 ela atingiu um total de 763 quilômetros quadrados.

        Apesar de pesquisadores concordarem sobre a importância da Amazônia na regulação do clima para todo o país, a contribuição do desmatamento para a atual seca é controversa.

        Devido à capacidade das árvores de absorver água do solo, a floresta amazônica possui um importante papel para a regulação do clima na América do Sul. Ela libera umidade para atmosfera, mantendo o ar em movimento e levando chuvas para o continente.

        A umidade é exportada para regiões distantes pelos chamados "rios voadores" – sistemas aéreos de vapor – irrigando áreas no Sul, Sudeste, Centro-Oeste do Brasil, além de Bolívia, Paraguai e Argentina.

        Esse papel já foi comprovado por diversos estudos. E foi reforçado por um relatório que reuniu artigos sobre o potencial climático da floresta divulgado no final de outubro pela Articulação Regional Amazônica (ARA), como o apoio da WWF Brasil.

        O documento, porém, vai além. E aponta que o desmatamento na região pode ter um impacto significativo sobre o clima próximo e também distante da Amazônia, ao reduzir a transpiração da floresta e modificar a dinâmica de nuvens e chuvas no continente.

        "Não posso colocar toda a culpa na Amazônia, mas há uma combinação de efeitos, e o desmatamento é em parte responsável. Há também uma oscilação natural e as mudanças climáticas provocadas pelos homens", afirma Claudio Maretti, líder da Iniciativa Amazônia Viva da WWF.

        Maretti diz que os efeitos do aquecimento global pioram com o desmatamento na região, que aumenta as emissões de CO2 na atmosfera.

        Para Pedro Telles, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, a destruição da floresta é um dos fatores que contribuiu para causar a atual seca, mas não é o principal. "O principal fator da crise da água em São Paulo é a má gestão. Há anos já se sabia que o Sistema Cantareira tinha limitações e possivelmente chegaria a uma situação de crise e esgotamento. Há problemas na distribuição da água, o desperdício nessa etapa ultrapassa 30%, além da pouca preservação da área de manancial. Mas esses fatores nunca foram tratados adequadamente", afirma Telles.

        O biólogo Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), também é ponderado ao relacionar a seca ao desmatamento. Ele afirma que pode haver uma relação entre os dois, devido ao papel climático da floresta, mas evita apontá-lo como a causa principal. "Não temos dados para explicar uma queda de precipitação tão drástica somente por esse efeito. A queda na precipitação no corrente ano está muito fora da proporção em relação ao aumento da área desmatada de 2013 para 2014", completa Fearnside.

        Entre a comunidade científica é quase unânime a importância da Amazônia para as chuvas no continente. No entanto, há divergências sobre sua relação com a estiagem.

        "Não dá para dizer que o desmatamento da Amazônia é responsável pela estiagem no Sudeste, porque não existe nenhum estudo científico que comprove essa relação direta", afirma o meteorologista Gilvan Sampaio, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

        O meteorologista da USP Tercio Ambrizzi é da mesma opinião. "É muito difícil associar a atual seca com o desmatamento. Ele causa impacto, mas numa variabilidade de mais longo prazo e contribui para as mudanças climáticas", reforça.

        Sampaio lembra que a seca foi causada pelo predomínio de uma intensa massa de ar seco sobre o estado de São Paulo durante o verão, que bloqueou as frentes frias vindas do sul trazendo as chuvas.

        Além disso, as mudanças climáticas podem estar contribuindo para a situação atual. "A seca pode ser caracterizada com um desses extremos e pode ser já uma resposta às mudanças climáticas, mas não ocorre somente por isso", completa Ambrizzi.

        Com chuvas abaixo da média, o volume de água em importantes rios e represas do Sudeste, como o rio Paraíba do Sul, a nascente do São Francisco e o Sistema Cantareira, diminuiu drasticamente. O abastecimento hídrico em várias cidades está comprometido.

        A estiagem também contribuiu para aumentar o número de incêndios florestais no Sudeste. Entre em janeiro e novembro deste ano, os focos de incêndios aumentaram 275% no Rio de Janeiro, 150% em São Paulo e 135% em Minas Gerais, em relação ao mesmo período de 2013.

CAULYT, Fernando. Para especialistas, causas da seca vão além do desmatamento na Amazônia. Deutsche Welle, nov. 2014. In: Carta Capital. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/para-especialistas-causas-da-seca-vao-alem-do-desmatamento-na-amazonia-2901.html. Acesso em: 14 abr. 2015.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 9º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 151-4.

Entendendo a reportagem:

01 – Que informação apontada por um relatório, apoiado pela ONG WWF Brasil, é discutida na reportagem?

      A informação de que o desmatamento na Amazônia é uma possível causa para a seca e, por conseguinte, para a crise da água no Sudeste.

02 – De acordo com a reportagem, essa informação apontada pelo relatório pode ser considerada como verdade absoluta? Por quê?

      As informações podem ser contestadas, já que há outras causas possíveis para a seca.

03 – Segundo a reportagem, por que os estudiosos são céticos em relacionar o desmatamento da Amazônia à seca no Sudeste?

      Porque a queda na precipitação em 2014 está fora da proporção na comparação com o aumento da área desmatada no último ano.

04 – Qual é a importância da Floresta Amazônica para a América do Sul?

      Ela é responsável pela regulação do clima, já que libera umidade para a atmosfera, mantendo o ar em movimento e levando chuvas para o continente.

05 – Que argumentos Pedro Telles utiliza para sustentar a tese de que a principal causa da crise da água em São Paulo é a má gestão?

      Ele aponta que há anos se sabia que o Sistema Cantareira tinha limitações e nada foi feito. Aponta também que há muito desperdício de água e pouca preservação das áreas de manancial.

06 – Por que o meteorologista Gilvan Sampaio, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), refuta o argumento de que o desmatamento é a principal causa da falta de chuva?

      Segundo ele, não há dados científicos suficientes para comprovar essa ligação direta.

07 – O meteorologista da USP, Tercio Ambrizzi, considera difícil associar a seca ao desmatamento e aponta uma possível causa para o fato. Que causa seria essa?

      As mudanças climáticas podem estar contribuindo para a situação atual.

08 – Para defender a ideia de que o desmatamento da Amazônia não é a única causa da seca no Sudeste, a reportagem apresenta a opinião de várias pessoas.

a)   Quando cada uma das pessoas é citada no texto, que informação acompanha seu nome?

Os nomes vêm acompanhados por sua profissão ou cargo e instituição para a qual trabalha.

b)   Qual é a importância dessas informações para o texto?

Informar esses dados oferece mais credibilidade ao que é exposto no texto.

09 – Releia este trecho:

        “Esse papel já foi comprovado por diversos estudos. E foi reforçado por um relatório que reuniu artigos sobre o potencial climático da floresta divulgado no final de outubro pela Articulação Regional Amazônica (ARA), como o apoio da WWF Brasil.”

a)   Retome o texto e localize as ideias que antecedem esse trecho. A que ideia a expressão “Esse papel” se refere?

A ideia do importante papel da Floresta Amazônica para a regulação do clima na América do Sul.

b)   Qual é a importância da expressão “Esse papel” para a construção do texto?

Essa expressão serve para ligar os parágrafos, mantendo a unidade de sentido do texto.

10 – Releia os trechos a seguir:

I – Floresta possui função importante de levar chuvas a outras regiões do continente. No entanto, cientistas são cautelosos com associação entre redução da mata e a pior estiagem em 80 anos no Sudeste.

II – [...] Apesar de pesquisadores concordarem sobre a importância da Amazônia na regulação do clima para todo o país, a contribuição do desmatamento para a atual seca é controversa.

III – [...] Ele afirma que pode haver uma relação entre os dois, devido ao papel climático da floresta, mas evita aponta-lo como a causa principal. [...]

a)   Observe que, em cada um dos trechos, aparece uma palavra ou expressão que contribui para que haja uma oposição entre as ideias. Em seu caderno, indique que palavra ou expressão foi responsável por marcar essa oposição em cada um dos trechos.

I – “No entanto”; II – “Apesar de”; III – “Mas”.

b)   Considerando o assunto do texto, por que você acha que esse tipo de palavra ou expressão foi usado?

A reportagem confronta os dados do relatório com a opinião de especialistas.

11 – A reportagem está fundamentada em que tipo de informação?

      Na citação de dados fornecidos por especialistas.

 

 

 

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