terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

TEXTO: EU ME AMO - ADAPTADO DE RIBEIRO, BRUNO ALVARENGA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Texto: Eu me amo
     
    "Eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem mim": narcisismo, ciberespaço e capitalismo

        Caetano Veloso, em tom poético, cantou que "Narciso acha feio o que não é espelho". O Mito de Narciso é uma história que nos remete à mitologia grega, uma história que fala sobre um jovem que, ao se deparar com sua imagem na lâmina d'água de um lago, apaixona-se por si mesmo. O mito é utilizado para fazer referência ao apego de muitas pessoas a si mesmas. Essas pessoas são geralmente chamadas de narcisistas ou até mesmo de egocêntricas.
          Narcisismo e egocentrismo são dois termos de grande difusão social, o que se deve à Psicanálise, que utilizou o mito de Narciso para explicar a dificuldade de muitas pessoas em adiar suas satisfações, guiadas por um sentimento de urgência. Daí surgiu o termo narcisismo, que consiste numa fixação presente nos primeiros estágios do desenvolvimento humano, quando somos guiados pela urgência de satisfazer nossas necessidades. A criança chora e a mãe dá-lhe o peito. A satisfação quase sempre é imediata. Disso podem resultar registros mentais que levam à busca de satisfação imediata, e, no futuro, a pessoa pode se tornar um adulto que toma a si mesmo como medida de todas as coisas, ou seja, coloca seu "eu" (ego) como centro do universo.
        Ego é outro termo psicanalítico. Quase um sinônimo de "eu", o ego seria a estrutura mental responsável por negociar com o id (inconsciente) quando a satisfação de nossos desejos ocorrerá. O ego é regido pelo princípio de realidade, dominado pela razão; já o id é regido pelo princípio do prazer, da busca de satisfação de desejos reprimidos. Um ego frágil vai ceder aos impulsos do id, tendo, portanto, dificuldades de adiar a satisfação dos desejos e de lidar com frustrações. Deriva dessa dificuldade o egocentrismo. Daí a aproximação entre os conceitos de narcisismo e egocentrismo.
        Essa propensão à intolerância quase sempre é produto de esquemas de reforçamento contínuo. Nesse tipo de esquema, o reforço segue o comportamento praticamente todas as vezes que ele é emitido e costuma estar presente em histórias de pessoas "mimadas", que tiveram de se esforçar muito pouco para obter a satisfação de suas necessidades e desejos, pois os pais ou outros membros da família quase sempre proviam essa satisfação ao menor sinal de alteração emocional. É sabido que quanto mais imediato um reforço ocorre depois de um comportamento, maior a chance de esse comportamento ser fortalecido. Portanto, a intolerância como padrão comportamental pode ter relação com o esquema de reforçamento e com a imediaticidade com a qual os reforços foram apresentados ao longo da história do indivíduo.
        Sendo assim, pessoas podem se tornar reféns do reforço, tornando-se incapazes de adiar a satisfação de seus desejos e necessidades. São modeladas não somente para ser intolerantes às frustrações, como também para buscar satisfação imediata. Elas se tornam presas fáceis do ciberespaço, onde a satisfação pode ser obtida apenas com um clique.
        No ciberespaço, tudo parece ser mais fácil. As amizades são virtuais, sendo assim, os aborrecimentos podem ser evitados bloqueando ou excluindo alguém da rede de contatos. O prazer pode ser buscado em chats e redes sociais.
        Talvez seja hora de parar e pensar nos efeitos da cultura digital sobre o comportamento das pessoas. Essa cultura não criaria circunstâncias favoráveis para a modelagem de comportamentos narcisistas? Essa cultura não favorece o fechamento sobre si mesmo, de modo que as pessoas passem a entender que se bastam a si mesmas? Essa cultura não acaba por favorecer o individualismo? Quais são os efeitos da obtenção tão facilitada de reforços com apenas um clique?
        Se, na vida real, os reforços podem ser adiados por causa de uma série de circunstâncias, no ciberespaço eles são facilmente obtidos. Mas que tipos de comportamentos estão sendo reforçados? Comportamentos de não fazer nada, ou de se empenhar em atividades que concorrem com outras mais produtivas. Muitas empresas bloqueiam o acesso a chats e redes sociais, pois navegar em tais redes e chats afeta o trabalho e a produtividade, acarretando prejuízos.
        Não estaria o mundo digital contribuindo para a criação de uma cultura do imediatismo? Creio que não. Talvez esteja apenas fortalecendo contingências que já operavam no mundo antes de sua existência, contingências que fazem parte de um mundo capitalista em que "tempo é dinheiro", um mundo do "just in time", um mundo regido pela urgência em produzir, pois existe, de outra parte, a urgência em consumir. Um mundo, pois, regido por produção versus consumo.
        Se produzir com urgência é preciso, pois existe premência de consumir o que se produz, cria-se um círculo vicioso em que o consumo é uma satisfação inadiável e é realizado sem que se pense nas consequências, sem consciência das contingências que o determinam. Dessa forma, não se questiona sobre o que está sendo consumido, pois o que importa é consumir para obter prazer.
        O produto desse ciclo é a construção de pessoas cada vez menos conscientes dos determinantes de seu comportamento, incapazes de assumir um posicionamento crítico sobre seu modo de vida e o mundo em que vivem, inseridas numa teia de consumo em que elas mesmas são um produto à venda em stands reais e virtuais. O não pensar nas consequências produz pessoas alienadas, enamoradas por seu prazer, como Narciso por sua imagem refletida no espelho d'água, pessoas que podem ser descritas com o refrão da música do Ultraje a Rigor: "Eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem mim".
Adaptado de Ribeiro, Bruno Alvarenga. "Eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem mim": narcisismo, ciberespaço e capitalismo. Em:
                         Acesso em 10.01.2018.
Entendendo o texto:
01 – A expressão “Narcisismo” se origina:
a) de um uso reiterado numa canção de Caetano Veloso.
b) num mito difundido no senso comum sobre pessoas vaidosas.
c) do nome de um personagem de uma narrativa mitológica grega.
d) no aumento do egocentrismo e do consumismo dos tempos atuais.
e) de uma descoberta da Psicanálise a respeito do comportamento humano.

02 – De acordo com o texto, sobre a diferença entre narcisismo e egocentrismo, está correto o que se afirma em:
I – O narcisismo é um sentimento de urgência em obter satisfação; o egocentrismo se caracteriza pela focalização exclusiva em si mesmo.
II – O narcisismo é um modo de buscar compensar a falta de beleza; o egocentrismo implica o desejo de superar limitações pessoais.
III – O narcisismo se revela na intolerância e frustração do indivíduo frente à não satisfação de seus desejos; no egocentrismo, o que se destaca é a ausência de consideração do outro como referência de seus atos.
IV – No narcisismo, há uma insatisfação do indivíduo com sua própria aparência; já no egocentrismo, predomina, na mente do indivíduo, uma visão de inferioridade, que é compensada pelo ensimesmamento e rejeição da realidade objetiva.
V – O narcisismo consiste na busca de resolução imediata e urgente de necessidades pessoais; já o egocentrismo se caracteriza pela centralização do indivíduo em si mesmo como definidor de suas ações, concepções e decisões.
A alternativa em que todas as afirmativas indicadas estão corretas é a:
a) I e II.
b) II e IV.
c) IV e V.
d) I, III e V.
e) II, III e V.

03 – Sobre o Ego e o Id, tal como são concebidos no texto, está correto o que se afirma em:
a) Nos indivíduos narcisistas, há um apagamento do Id pela supremacia absoluta do Ego na tomada de decisões.
b) Tanto o Ego como o Id se revelam extremamente fortes nos indivíduos narcisistas, propiciando o controle de impulsos reprimidos.
c) O Ego propicia a fuga da realidade, levando o indivíduo à busca desenfreada de satisfação dos seus desejos não revelados pelo Id.
d) O Ego, por possuir vínculos com a realidade, negocia com o Id, vinculado ao inconsciente, o momento de satisfazer desejos reprimidos.
e) O Id vincula o indivíduo à sua realidade, ajudando-o a controlar e regular seus impulsos ou desejos inconscientes que são explicitados pelo Ego.

04 – Marque com V ou com F, conforme sejam verdadeiras ou falsas as alternativas que apresentam características dos esquemas de reforçamento contínuo apresentadas no texto.
( ) O excesso de reforço a comportamentos adequados do indivíduo gera um padrão comportamental marcado pela intolerância.
( ) Esquemas de reforçamento contínuo alimentam, nos indivíduos, a tendência à intolerância frente à não satisfação de seus desejos.
( ) No reforçamento contínuo, ocorre uma recompensa todas as vezes que o comportamento é evidenciado, o que propicia a sua repetição.
( ) O provimento imediato e frequente dos desejos e necessidades de uma pessoa pode fortalecer o comportamento de exigir satisfação imediata de desejos.
( ) O comportamento que é reforçado continuamente tende a se extinguir, por força da necessidade de satisfação de outros desejos e prioridades do indivíduo.
A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a:
a) F V F V V
b) V V F V F
c) V V V F F
d) V F V F V
e) F V V V F.

05 – Há uma asserção verdadeira sobre o conteúdo do texto em:
I – Os trechos de músicas de Caetano Veloso e do Ultraje a Rigor mencionados no texto fazem referência a pessoas narcisistas, cujo principal foco de interesse recai em si mesmas.
II – O autor considera que a imersão no ambiente do ciberespaço, criado pelo capitalismo, é a principal causa do crescimento de uma cultura do imediatismo e do consumismo.
III – O “círculo vicioso” mencionado na linha 95 se refere à relação entre a urgência em produzir, marca do capitalismo, e a intensa necessidade consumir de pessoas egocêntricas ou narcisistas.
IV – A predominância de pessoas egocêntricas e narcisistas no ciberespaço constitui o principal fator de ascensão do capitalismo, cujo princípio fundamental é aumento crescente da produção e do consumo.
V – Há uma relação de influência recíproca entre “narcisismo, ciberespaço e capitalismo” (título), a qual se vincula à produção de pessoas alienadas num contexto que privilegia rapidez, produção e consumo.

A alternativa em que todas as afirmativas indicadas estão corretas é a:
a) I e II.
b) II e IV.
c) IV e V.
d) I, III e V.
e) II, III e V.

06 – Marque com V ou com F, conforme sejam verdadeiras ou falsas as alternativas que apresentam fatos de morfossintaxe.
( ) Tanto em “Narciso acha feio” como em “O Mito de Narciso é uma história”, o predicado é nominal.
( ) Em “apaixona-se por si mesmo.”, há uma ocorrência de verbo pronominal.
( ) Em “apego de muitas pessoas a si mesmas.”, verifica-se a ocorrência de objeto direto e objeto indireto.
( ) Em “Daí surgiu o termo narcisismo”, o verbo é intransitivo.
( ) Em “Disso podem resultar registros mentais” e “Deriva dessa dificuldade o egocentrismo.”, os sujeitos estão pospostos.

A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a:
a) F V F V V
b) V V F V F
c) V V V F F
d) V F V F V
e) F V V V F.

07 – Releia o período: “Se produzir com urgência é preciso, pois existe premência de consumir o que se produz, criasse um círculo vicioso em que o consumo é uma satisfação inadiável e é realizado sem que se pense nas consequências, sem consciência das contingências que o determinam.”
Há uma reformulação adequada desse período, com manutenção do sentido original em:
a) O consumo é uma satisfação inadiável que se realiza sem que se pense em consequências e contingências que determinam a criação de um círculo vicioso produzido pela premência de produzir e de consumir com urgência o que se produz.
b) Não se pensa nas consequências da premência em consumir o que se produz, nem nas contingências que determinam a criação de um círculo vicioso que torna o consumo uma satisfação inadiável, gerando a necessidade de produzir com urgência.
c) Sem consciência das contingências que determinam a premência de consumir o que se produz e sem que se pense nas consequências do círculo vicioso criado pela satisfação inadiável da realização do consumo, torna-se preciso produzir com urgência.
d) Existe premência de consumir o que se produz, pois se cria um círculo vicioso entre a necessidade de produzir com urgência e o consumo como satisfação inadiável, sem que haja consciência das contingências que determinam as consequências de sua realização.
e) Por existir premência em consumir o que se produz, é preciso produzir com urgência, criando-se um círculo vicioso, no qual o consumo é uma satisfação inadiável, realizado sem consciência das contingências que o determinam e das suas consequências.






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