CRÔNICA: DIETA DE HOMEM
Paulo Mendes Campos
Nas carteiras da escola me ensinaram,
segundo o sábio Claude Bernard, que o caráter absoluto da vitalidade é a
nutrição; pois, onde ela existe, há vida; onde se interrompe, há morte.
Mas não me disseram que, entre os
animais humanos, o lado que pende para a morte, por falta de nutrição, é mais
numeroso que o lado erguido para a vida.
Me ensinaram que os alimentos fornecem
ao homem os elementos constituintes da própria substância humana; o homem é o
alimento que ele come.
Mas não me disseram que existem homens
aos quais faltam os elementos que constituem o homem. Homens incompletos,
homens mutilados em sua substância, homens deduzidos de certas propriedades
humanas fundamentais; homens vivendo o processo de morte.
Me ensinaram, no delicado modo
condicional, que, sem o concurso de certos alimentos minerais e orgânicos,
depressa a vida sobre a terra se extinguiria.
Mas não me disseram que, depressa, por
toda parte, a vida se extingue, no duro modo indicativo.
Me ensinaram que o oxigênio é o
primeiro elemento indispensável.
Mas não me disseram que só o oxigênio é
um bem comum de toda humanidade, salvo em minas e galerias, onde é escasso.
Me ensinaram que o carbono, o oxigênio,
o azoto, o fósforo e outros minerais são decisivos à vitalidade da célula.
Mas não me disseram que aqueles
elementos não se encontram no ar que respiramos. E ainda que se encontrarem na
terra, acaso digerida por uma criança, seu poder de assimilação é nenhum.
Me ensinaram que há alimentos orgânicos
ternários e quaternários. Mas não me disseram que dois terços de nossos irmãos
morrem de fome.
Me ensinaram que os alimentos
ternários, constituídos pelas gorduras e pelos hidratos de carbono são
importantíssimos. Mas não me disseram que em cem, dez homens estão, a qualquer
hora, às portas da inanição.
Me ensinaram que o ovo, o leite e a
carne são alimentos extraordinários. Mas não me disseram que em certas regiões
do mundo, há homens que consomem ovos, leite e carne em quantidades muito acima
das exigências da máquina humana.
Me ensinaram que a sensação de fome é
acompanhada de contrações gástricas, uma espécie de cãibra no estômago. Mas me
disseram isso de maneira impessoal, como se fosse apenas a dedução teórica de
um acidente possível.
Me ensinaram que as vitaminas são
substâncias influentes no crescimento e na saúde, quando elas faltam, comparecem
o escorbuto, o beribéri e outras doenças.
Mas não me disseram nem onde, nem
quantos padecem de avitaminoses.
Nas carteiras das escolas me ensinaram
muitas coisas. Mas não me disseram coisas essenciais à condição de homem.
O homem não fazia parte do programa.
Paulo Mendes Campos.
O anjo bêbado. Rio de Janeiro: Sabiá, 1969.
Entendendo o texto:
01 – Sem prejuízo de
sentido, as palavras em destaque nas frases a seguir podem ser substituídas
pelas sugeridas entre parênteses, exceto
em:
a)
“... que o caráter absoluto da vitalidade é a nutrição...” (soberano).
b)
“... os alimentos fornecem ao homem os elementos constituintes...”
(propiciam).
c)
“... salvo em minas e galerias, onde é escasso” (insuficiente).
d)
“... dez homens estão, a qualquer hora, às
portas da inanição”
(fraqueza).
e)
“...não me disseram nem onde, nem
quantos padecem de
avitaminoses” (resistem).
02 – De acordo com o texto,
a escola ensinou ao autor que, segundo Claude Bernard:
a)
A nutrição é indispensável à vida.
b)
Há alimentos que podem matar.
c)
Não há muita gente morrendo de fome.
d)
Pode-se viver sem uma boa alimentação.
e)
Pessoas desnutridas podem ter problemas de
caráter.
03 – O uso do pronome
oblíquo para iniciar frases como “Me ensinaram
que os alimentos fornecem ao homem...” e “Me
ensinaram que o oxigênio...” indica que o texto foi escrito levando-se em
conta:
a)
A linguagem culta.
b)
A linguagem erudita.
c)
A norma-padrão.
d)
A linguagem coloquial.
e)
A linguagem formal.
04 – No trecho “Me
ensinaram, no delicado modo condicional...”,
o autor quer dizer que, na escola, fala-se sobre o que:
a)
Está acontecendo.
b)
Pode acontecer.
c)
Nunca vai acontecer.
d)
Já aconteceu.
e)
Vai acontecer no futuro.
05 – No trecho “... a vida
se extingue, no duro modo indicativo”,
ao usar a expressão destacada, o autor quer dizer que:
a)
A realidade fornece indicadores do que deve
ser ensinado na escola.
b)
Na realidade, ocorrem fatos que a
escola apresenta como distanciados do presente.
c)
Não há possibilidade de acontecer, na
realidade, o que se afirma na escola.
d)
Na escola, costumam alarmar os alunos sem
razão justificável.
e)
Na escola, dão informações e conselhos que
não se aplicam à realidade.
06 – Da leitura do texto
depreende-se que, na escola a que se refere o autor, ensinava-se de maneira:
a)
Parcial, pois com base na realidade
socioeconômica.
b)
Equivocada, somente considerando-se a
realidade social e econômica.
c)
Cautelosa, para não despertar comportamentos
de rebeldia social.
d)
Completa, com base em dados científicos.
e)
Incompleta, em razão de o conteúdo
ser apresentado desvinculado da realidade social e econômica.
07 – Assim que você
____________ os livros em ordem e eu _________ que está tudo certo, libero você
para as férias.
a)
Por – vier.
b)
Pôr – vir.
c)
Pôr – ver.
d)
Puser – vir.
e)
Puser – ver.
08 – Nós estamos _________ apressadas,
pois o pessoal ___________ outro compromisso logo após a reunião __________.
a)
Meio – terá – conosco.
b)
Meio – terão – conosco.
c)
Meias – terá – com nós.
d)
Meia – terão – com nós.
e)
Meia – terá – conosco.
Amo esse texto. Conheci na universidade. Os exercícios são ótimos e já gabaritados. Show!
ResponderExcluirConheci esse texto em 08/1990 e dia 31/08/90 me foi solicitado uma interpretação pessoal do texto.(dieta do homem: Desde a infância somos ensinados que a vida saudável depende de uma boa alimentação.Onde ela é escassa a vida é curta.
ResponderExcluirO homem tem sido o produto da sua condição de vida.
Fomos orientados sobre o que devemos ou não comer para um bom crescimento, esqueceram que a maioria não tem condições favoráveis e vivem duramente.
Aprendemos que o oxigênio é vida, o ar que respiramos por isso indispensável, porém não nos ensinaram que não poderíamos tê-lo poluído; há lugares que sufoca por sua escacez. Aprendemos que os minerais são decisivos a vitalidade das células nas não disseram onde encontrá-los.
Falaram da importância da gordura, hidratos de carbono eras vitaminas, que i nosso crescimento e bom desempenho mental depende das mesmas. Mas não disseram que muitos adoecem e morrem por não poderem consumi-las.
Daí quando tomamos consciência do mundo fora da escola, nós deparamos com um mundo com uma mínima condição de sobrevivência humana, poluído, temos uma prova que a fome existe e mata não uma simples dedução. Portanto, o homem não foi bem instruído para as dificuldades do mundo, ele mesmo se anulou. Elisabete. Esse foi meu resumo, hoje o mundo está cheio de informações valiosas, cabe a nós pormos em prática.