Fábula: Dos
Dois Leões
Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)
Diz que eram dois leões que fugiram do
Jardim Zoológico. Na hora da fuga cada um tomou um rumo, para despistar os
perseguidores. Um dos leões foi para as matas da Tijuca e outro foi para o
centro da cidade.
Procuraram os leões de todo jeito, mas ninguém encontrou.
Tinham sumido, que nem o leite.
Vai daí, depois de uma semana, para
surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que fugira para as matas da
Tijuca. Voltou magro, faminto e
alquebrado. Foi preciso pedir a um
deputado do PTB que arranjasse vaga para ele no Jardim Zoológico outra vez,
porque ninguém via vantagem em reintegrar um leão tão carcomido assim. E, como
deputado do PTB arranja sempre colocação para quem não interessa colocar, o
leão foi reconduzido à sua jaula.
Passaram-se oito meses e ninguém mais
se lembrava do leão que fugira para o centro da cidade quando, lá um dia, o
bruto foi recapturado. Voltou para o Jardim Zoológico gordo, sadio, vendendo
saúde. Apresentava aquele ar próspero do
Augusto Frederico Schmidt que, para certas coisas, também é leão.
Mal ficaram juntos de novo, o leão que
fugira para as florestas da Tijuca disse pro coleguinha:
— Puxa, rapaz, como é que você
conseguiu ficar na cidade esse tempo todo e ainda voltar com essa saúde? Eu,
que fugi para as matas da Tijuca, tive que pedir arrego, porque quase não
encontrava o que comer, como é então que você... vá, diz como foi.
O outro
leão então explicou:
— Eu meti os peitos e fui me esconder
numa repartição pública. Cada dia eu
comia um funcionário e ninguém dava por falta dele.
— E por que
voltou pra cá? Tinham acabado os funcionários?
— Nada disso. O que não acaba no Brasil
é funcionário público. É que eu cometi um erro gravíssimo. Comi o diretor, idem
um chefe de seção, funcionários diversos, ninguém dava por falta. No dia em que
eu comi o cara que servia o cafezinho... me apanharam.
Fonte: “Primo
Altamirando e Elas”, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1961, pág. 153.
Entendendo a fábula:
01 – O texto de Stanislaw
Ponte Preta (Sérgio Porto) mostra implicitamente um hábito comum nas
repartições públicas do país que perdura há décadas:
a)
A importância de se tomar café como relaxamento
em horários de rotina por parte dos servidores públicos.
b)
A falta de qualificação profissional por
parte do serviço público quanto ao cumprimento dos serviços.
c)
O desrespeito por parte dos
servidores em estarem tomando café em horário de expediente.
d)
A discriminação dos servidores públicos graduados
quanto ao serviço de um contínuo (Auxiliar de Serviços Gerais que providencia o
café).
e)
A escassez de servidores públicos nas
repartições públicas, principalmente as de órgãos municipais.
02 – Sobre o texto de
Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto), a expressão alquebrado pode ser substituída sem alteração contextual
por:
a) Vigoroso.
b) Forte.
c) Desconfiado.
d) Abatido.
e) Cego.
03 – Entre os fragmentos
textuais abaixo, assinale a alternativa em que a expressão grifada corresponde
a um termo adjetivo.
a)
Um dos leões foi para as matas da Tijuca e outro
foi para o centro da cidade.
b)
Procuraram os leões de todo jeito mas ninguém
encontrou.
c) Voltou magro, faminto e alquebrado.
d)
Apresentava aquele ar próspero do
Augusto Frederico Schmidt que, para certas coisas, também é leão.
e)
— Eu meti os peitos e fui me esconder
numa repartição pública.
04 – Assinale, entre os fragmentos textuais abaixo o que apresenta
nitidamente uma linguagem figurada denominada prosopopeia.
a) Diz
que eram dois leões que fugiram do Jardim Zoológico.
b) Tinham
sumido, que nem o leite.
c) Voltou para o Jardim Zoológico gordo,
sadio, vendendo saúde.
d) Apresentava aquele ar próspero do
Augusto Frederico Schmidt que, para
certas coisas, também é leão.
e) O outro leão
então explicou: — Eu meti os peitos e fui me esconder numa repartição pública.
05 – No trecho: ― Vai daí,
depois de uma semana, para surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que
fugira para as matas da
Tijuca ‖, temos:
a) Uma
conjugação verbal no afirmativo do imperativo.
b) Uma
conjugação verbal no presente do indicativo.
c) Uma
conjugação verbal no futuro do subjuntivo.
d) Uma conjugação verbal
no pretérito mais-que-perfeito do indicativo.
e) Uma
conjugação verbal no pretérito imperfeito do indicativo.
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