quarta-feira, 7 de novembro de 2018

TEXTO: QUANDO SE É JOVEM E FORTE - AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA - COM QUESTÕES GABARITADAS


Texto: QUANDO SE É JOVEM E FORTE   
    

        Uma vez uma mulher me disse: vocês jovens não sabem a força que têm.
    Ela falava isto como se colocasse uma coroa de louros num herói. Ela falava isto como se não apenas eu, mas todos os jovens fôssemos um grego olímpico ou um daqueles índios parrudões nos rituais da reserva do Xingu.

        De certa maneira ela dizia: vocês têm o cetro na mão. E eu, jovem, tendo o cetro, não o via.
        Aquela frase me fez olhá-la de onde ela falava: do lugar da não-juventude. Ela expressava seu encantamento a partir de uma lacuna. Se colocava propositadamente no crepúsculo e com suas palavras me iluminava.
        Essa frase lançada generosamente sobre minha juventude poderia ter se perdido como tantas outras de que necessito hoje, mas não me lembro. Contudo, ela ficou invisível em alguma dobra da lembrança. Ficou bela e adormecida muitos séculos, encastelada, até que, de repente, despertou e me veio surpreender noutro ponto de minha trajetória.
        Possivelmente a frase ficou oculta esperando-me amadurecer para ela. Só uma pessoa não-mais-jovem pode pronunciá-la com a tensão que ela exige.
        Vocês jovens não sabem a força que têm.
        Pois essa frase deu para martelar em minha cabeça a toda hora que uma adolescente passa com sua floresta de cabelos em minha tarde, toda vez que um rapaz de ombros largos e trezentos dentes na boca sorri com estardalhaço gesticulando nas vitrinas das esquinas.
        Possivelmente é uma frase mais luminosa no verão.
(...)
        Outro dia a frase irrompeu silenciosamente em mim como coroamento de uma cena. Uma cena, no entanto, trivial.
        Estávamos ali na sala de um apartamento e conversávamos. Um grupo, digamos, de pessoas maduras. Cada um com seu copinho de uísque na mão, conversando negócios e banalidades. De repente entra pela sala uma adolescente preparando-se para sair. Entra como faz toda adolescente: pedindo à mãe que veja qualquer coisa em seu vestido ou lhe empreste uma joia. E quando ela entrou tão naturalmente linda, não de uma beleza excepcional, mas de uma beleza que se espera que uma jovem tenha, quando ela entrou, um a um, todos foram murchando suas frases para ficar em contemplação.
        Ali, era disfarçar e contemplar. Parar e haurir.
        Poderia-se argumentar que vestida assim ela parecia uma Grace Kelly, um cisne solicitando adoração. Mas se assim é, por que a mesma cena se repetiu quando a outra irmã, impromptamente, de jeans, vinda da rua, espalhando brilho nos dentes e vida nos cabelos?
        Olhava-se para uma, olhava-se para outra. Olhava-se para os pais que orgulhosos colhiam a mensagem no ar. E surge a terceira filha, também adolescente com aquela roupa displicente que, em vez de ocultar, revela mais ainda juventude.
        Esta experiência se repete quando numa família são apresentados os filhos jovens.    Igualmente quando se entra numa universidade e se vê aquele enxame de camisetas, jeans e tênis gesticulando e rindo entre uma sala e outra, entre um sanduíche e um livro, sentados, displicentes, namorando sob as árvores e na grama, como se dissessem: eu tenho a juventude, o saber vem por acréscimo.
        Infelizmente não vem. E a juventude se gasta. Como as pedras se gastam, como as roupas se gastam, se gasta a pele, embora a alma se torne mais densa ou encorpada.
        Algo semelhante ocorre diante de qualquer criança. Para um bebê convergem todas as atenções na sala. Sorrisos se desenham nos rostos dos adultos e o ambiente é de terna devoção. É a presença da vida, que no jovem parece ter atingido seu auge.
        Por isto, ver um (ou uma) jovem no esplendor da idade é como ver o artista no instante de seu salto mais brilhante e perigoso ou ver a flor na hora em que potencializa toda a sua vida e imediatamente nunca mais será a mesma.
        Claro, há jovens que são foscos e velhos e velhos que são radiosos adolescentes. Não é disto que falo.
        Estou falando de outra coisa desde o princípio. Daquela frase que aquela mulher depositou na minha juventude e que agora renasceu.
        Gostaria de doá-la a alguém. Penso nisto e a porta se abre. Irrompem, lindas, minhas duas filhas. Extasiado lhes dou um beijo e digo:
        Filhas, vocês não sabem que força têm.

Affonso Romano de Sant’Anna. Porta de colégio, São Paulo: Ática, 1995. p. 39-42    

Entendendo o texto:
01 – Todo o texto se estrutura a partir de uma frase que o narrador ouviu, segundo conta, de certa mulher quando ele era jovem. Qual é essa frase?
      “Vocês jovens não sabem a força que tem.”

02 – No 4° parágrafo, o narrador comenta: "Aquela frase me fez olhá-la de onde ela falava: do lugar da não-juventude". De acordo com o texto:
a)   A mulher é caracterizada como uma pessoa idosa? Jus­tifique a  sua resposta.
Sim, pois ela já passou da juventude.

b)   Considerando-se que o texto reflete sobre a passagem do tempo e sobre as fases da vida, o que significa colo­car-se propositadamente "no crepúsculo"?
Quer dizer que ele está renascendo propositalmente no amanhecer.

c)   Na comparação das fases da vida com a trajetória do sol durante o dia, a que etapa do sol corresponderia a fase da juventude do ser humano?
Corresponderia ao meio dia quando o sol está no auge da sua força.

03 – As palavras da mulher produzem no narrador a impressão de que ele, como os demais jovens, tinha o cetro na mão, embora não tivesse consciência disso.
a)   Por que a fase da juventude é associada à situação de realeza?
Porque ele diz que o jovem é forte, que tem poder, realezas também são poderosas.

b)   Considerando a história pessoal do narrador, você acha que a afirmação de que ele não tinha consciência de sua força era verdadeira? Por quê?
Sim, porque ele só despertou para esta frase depois que já tinha mais idade e entendia o que aquela mulher queria dizer.

04 – Embora a frase dita pela mulher tenha iluminado o nar­rador, ela ficou adormecida por vários anos, até que fosse despertada pela presença das filhas do amigo. Diz o nar­rador que a frase "ficou bela e adormecida muitos séculos, encastelada".
a)   As expressões bela, adormecida e encastelada remetem a um conto de fadas. Qual é ele?
“A Bela Adormecida”.

b)   Em que a condição da personagem principal desse conto de fadas e a condição dessa frase na memória do narrador se assemelham?
Tanto a frase quanto a Bela Adormecida ficaram dormindo por algum tempo para só depois despertar.

05 – O narrador exemplifica o que é, para ele, ser jovem: é ter a beleza jovial das três filhas do amigo e a descontração dos estudantes da universidade. E compara o deslumbramento provocado pela ju­ventude ao deslumbramento que se tem diante de um bebê, ou diante da perfeição de um artista no auge de sua técnica, ou diante da beleza máxima de uma flor na sua curta existência.
      a) Na sua opinião, as filhas do amigo ou os jovens universitários retratados pelo texto demonstram consciência da "força que têm"? Por quê?
      Não, porque eu penso que as filhas do amigo e os jovens só entenderão a força que tem quando forem adultos e mais velhos, porque se preocupam em aproveitar a vida deixando o aprendizado de ado muitas vezes.

      b)Ao comparar a juventude com a flor, o narrador afirma que a flor, depois do momento máximo em que "potencializa toda a sua vida", nunca mais será a mesma. E com as pessoas, isso também acontece? Por quê?
Sim, acontece, porque as pessoas como as folhas envelhecem e perdem a jovialidade e beleza igual a flor.

06 – No 16° parágrafo, o narrador afirma que os jovens universitários agem como se dissessem: "eu tenho a juventude, o saber vem por acréscimo". Em seguida afirma: "Infelizmente não vem". De acordo com o texto:
a)   Qual seria, então, o preço que se paga para obter o saber?
O preço são as experiências que vivemos ao passar dos anos.

b)   Você acha que esse saber envolve apenas o saber universitário? Justifique sua resposta.
Não, envolvem também o saber que se adquire com a vida, com o dia-a-dia e vai se amadurecendo cada vez mais.

c)   Apesar de seus aspectos negativos, que consequências positivas a perda da juventude traz?
Traz um bom trabalho e um bom futuro, mais experiências na vida tendo mais possibilidades de fazer as escolhas certas na vida.

07 – O narrador distingue "jovens que são foscos e velhos" de "velhos que são radiosos adolescentes". Em seguida acrescenta: "Não é disto que falo".
a)     Qual é a diferença entre um jovem velho e um velho adolescente?
O autor se refere ao espírito de cada um, podendo o jovem ter o espírito velho e o velho ter o espírito de um jovem.

b)     De que juventude, então, fala o narrador?
Da juventude que todos tem quando ainda não chegaram na fase adulta.

08 – Traçando um movimento circular, o texto termina como se inicia. Estando agora no lugar da não-juventude, é o narrador quem diz às filhas a mesma frase que há tempos ouvira de uma mulher.
a)   Essa frase tem, para ele, o mesmo significado de antes? Por quê?
Não, pois agora ele podia ver que quando se é adolescente pode se aproveitar muito mais a vida.

b)   O texto retrata uma contradição inevitável da vida, existente na relação entre juventude e maturidade. Por que essa relação é contraditória?
Se a pessoa é jovem ela ainda não adquiriu muita maturidade, e se a pessoa já tem maturidade provavelmente não está mais na juventude.

09 – A frase dita pela mulher, depois de ficar adormecida muitos anos na memória do narrador, renasce com outra importância e significado. "Gostaria de doá-la a alguém", pensa ele. É possível dizer que o narrador conseguiu realizar esse desejo? Por quê?
      Sim, porque ele disse as filhas, quando elas crescerem elas vão lembrar do que o pai disse, então vão analisar e querer passar para frente também.


POESIA: SEGREDO - HENRIQUETA LISBOA - COM QUESTÕES GABARITADAS


Poesia: SEGREDO

Andorinha no fio
Escutou um segredo
Foi à torre da Igreja.
Cochichou com o sino.

E o sino bem alto
delém-dem
delém-dem 
delém-dem
delém-dem!

Toda a cidade
Ficou sabendo.
                                         Henriqueta Lisboa

Entendendo a poesia:
01 – Como o sino da Igreja divulga o segredo?
      Tocando o seu badalo.

02 – Quais as palavras cujos SONS procuram reproduzir o badalar do sino?
      Delém e dem.

03 – Chama-se ONOMATOPÉIA o emprego de palavras para reproduzir determinado barulho ou ruído, imitando os sons das coisas e as vozes dos animais. Escreva outras onomatopeias que imitem o som de um sino.
      Dim-dom, blem-blom, ding-dong, prim-plim, etc.

04 – Procure, através de palavras onomatopaicas, reproduzir o cochicho da andorinha.
      Toc-toc-toc-tchibummm...

05 – Que palavra definiria melhor a atitude do sino?
(  ) Altivez.
(  ) Curiosidade.
(  ) Bisbilhotice.
(X) Indiscrição.
(  ) Respeito.

06 – Substitua, de acordo com o texto, o verbo da frase por outro verbo com o mesmo significado: “Foi à torre da Igreja”.
(  ) Andou até a...
(X) Dirigiu-se a...
(  ) Voou até a...

07 – Quantos versos há na estrutura desta poesia?
      Possui 11 versos.

08 – O que está poesia nos mostra sobre o segredo?
      Que segredos, passam de boca-a-boca, que devemos tomar cuidado, para que todo mundo não saiba.





segunda-feira, 5 de novembro de 2018

CRÔNICA: O MISTÉRIO DA CASA ABANDONADA - FERNANDO SABINO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: O mistério da casa abandonada
            Fernando Sabino

        Quando chegamos em frente à casa abandonada, ouvimos o sino da Igreja de Lourdes das pausadamente doze badaladas, meia-noite! [...]. Fazia frio e vi que Anairan tremia tanto quanto eu, mas ainda assim levamos em frente a nossa aventura.
        Não foi difícil transpor o portão: um ligeiro empurrão e ele se abriu, devagar, rinchando nas dobradiças. Fomos avançando por entre o mato do jardim. Alguma coisa deslizou junto a meus pés – um rato, certamente, ou mesmo um lagarto. Engoli em seco e prossegui a caminhada ao lado de minha companheira, seguido dos outros dois agentes.
        Ao chegar a varanda, ordenei a ambos que ficassem ali e nos esperassem. Não convinha entrarmos todos ao mesmo tempo. Alguém tinha de ficar de sentinela do lado de fora.
        Subimos os degraus de pedra em plena escuridão e tateamos pela parede à procura da porta. Tínhamos trazido conosco uma caixa de fósforos e uma vela, mas não era prudente acendê-la ali: poderíamos chamar a atenção de alguém na rua, algum guarda-noturno rondando por lá.
        Encontramos a porta e forçamos o trinco. Estava trancada por dentro, não houve jeito de abrir. Era tão fraca, a madeira parecia podre, e eu seria capaz de arromba-la com um pontapé, só que faria muito barulho. Preferimos forçar a janela que dava também para a varanda. Era só quebrar o vidro, meter a mão e puxar o trinco.
        Tirei o sapato e bati fortemente com o salto no vidro, que se espatifou num tremendo ruído. Assustando, Hindemburgo latiu no jardim, por sua vez nós assustando tanto, que nosso primeiro impulso foi fugir correndo.
        Como não acontecesse nada, ao fim de algum tempo resolvemos continuar a nossa missão. Aberta a janela, fui o primeiro a pular. Depois ajudei Anairan a entrar também. Só então, já dentro de casa, nos arriscamos a acender a vela.
        Era uma sala grande, onde não tinha nada, a não ser poeira e manchas de mofo pelas paredes forrados de papel estampado. A chama da vela, trêmula, projetava sombras que se mexiam, pelos cantos, ameaçadoras, enquanto avançávamos.
        Em pouco vimos que ali embaixo só havia uma cozinha, onde várias baratas fugiram correndo pelo chão de ladrilhos encardidos, um quartinho e com janelões dando para rua, mais nada.
        Restava subir as escadas e investigar o que havia nos quartos lá em cima.
        Subimos devagarinho, eu na frente, conduzindo a vela, a agente Anairan se agarrando na minha blusa. Procurava não fazer barulho, mas os degraus de madeira da escada, já meio podres, rinchavam, dando estalinhos debaixo de nossos pés.
        No segundo andar, empurramos a porta do primeiro quarto no corredor e entramos. Era um quarto grande, mas a vela não dava para ver nada, a não ser a nossa própria sombra, projetada na parede. Foi quando, de súbito, a luz acendeu e tudo se iluminou.
        No primeiro instante ficamos deslumbrados com aquela claridade e nós voltamos para ver quem tinha acendido a luz. Soltamos junto um grito de pavor – parado junto a porta estava um velho horrendo, alto barba suja, cabelos desgrenhados, a nos olhar, mãos na cintura:
        --- Que é que vocês dois estão fazendo aqui? Quem são vocês?
                                                                   Fernando Sabino.
Entendendo a crônica:
01 – Em: “O mistério da casa abandonada”, as ações das personagens e a maneira como elas são caracterizadas ajudam a compor o clima de suspense e de aventura da narrativa.
a)   Que ações do narrador-personagem e de seus companheiros ajudam na construção desse clima?
Que eles faziam parte de uma sociedade secreta e de encararem muitos mistérios.
b)   Qual é o papel assumido pelo narrador-personagem e por seus companheiros nessa aventura?
A de ir visitar uma casa que diziam ser mal assombrada.
02 – Uma missão secreta de investigação a uma casa abandonada é o tema da narrativa.
a)   Qual o termo usado, isto é, como era chamado, quando o narrador-personagem se refere:
- Ao grupo de amigos
- A  Mariana, Hindemburgo .
Agentes.

- Aos nomes Odnanref e Anairan.
Que Odnanref era o seu nome de guerra e Anairan era de Mariana.

- À casa abandonada.
A misteriosa casa na Avenida João Pinheiro.

b)   Encontre no texto o emprego de outros termos relacionados à situação de investigação e mistérios dessa narrativa.
O velho.

c)   Se você fosse escrever uma história, cujo tema fosse uma aventura na selva, que palavras escolheria para compor o clima de sua narrativa?
Escura, sombria, ar denso, plantas mortas e barulhos estranhos.

03 – De acordo com a narrativa, o casarão é tido como mal assombrado. A descrição que faz dele no texto destaca exatamente os aspectos sinistros do lugar.
a)   Releia o trecho em que o casarão é descrito e escreve as características de cada parte destacada
·        As paredes: Era estampada, tinha manchas de mofo, paredes descascando.
·        O portão: Rinchava nas dobradiças e se abria devagar, enferrujado.
·        A fachada: Hera subindo pela fachada.
·        A varanda: Teias de aranha.
·        O telhado: Morcegos vivam na frinchas do telhado.
·        As janelas: Apodrecidas e desconjuntadas.

b)   Na sua opinião, que impressões a descrição do casarão provoca no leitor?
Medo.

04 – Ao entrarem no primeiro quarto, no andar superior, algo surpreendeu os agentes secretos. Releia o trecho que corresponde a essa passagem – do 21° parágrafo ao 26° em voz alta, de maneira que o tom da fala da personagem seja coerente com a situação descrita e a intenção de surpreender, ameaçar, assustar as crianças.
a)   Para transmitir o tom ameaçador da personagem e aumentar a tensão da narrativa, que recurso foi empregado no texto?
O de usar palavras que indicasse coisas feias.

b)   Que outras informações sobre a personagem ajudam a transmitir a tensão no momento?
As suas caraterísticas.

c)   A aparência e a voz dessa personagem podem nos remeter a que outras personagens da história de ficção?
A de um cientista doido, a um mendigo, a um guarda, um bruxo.

05 – Por que será que as crianças ficaram quietas e sem se encontrarem no dia seguinte ao do episódio narrado? Levante hipóteses.
      Elas ficaram quietas e nem se encontraram para não causar suspeitas.

SIMULADO - ROMANTISMO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Simulado – Romantismo

01 – “Quantas coisas (...) brotam ainda hoje, modas, bailes, livros, painéis, primores de toda casta, que amanhã já são pó ou cisco? Em um tempo em que não mais se pode ler, pois o ímpeto da vida mal consente folhear o livro, que à noite deixou de ser novidade e caiu na voga; no meio desse turbilhão que nos arrasta, que vinha fazer uma obra séria e refletida? Perca pois a crítica esse costume em que está de exigir, em cada romance que lhe dão, um poema."
As proposições anteriores, de José de Alencar, fazem alusão a um problema característico do movimento romântico. Aponte-o:
a) o movimento romântico, afeito ao lirismo e á sentimentalidade, busca realizar uma prosa fundamentalmente impregnada de valores poéticos.
b) o autor preocupa-se com satisfazer o gosto de um público pouco exigente no que diz respeito a obras de acabamento literário mais sofisticado.
c) tendo em vista a caracterização da sociedade burguesa, o romance deve conter preferencialmente ação, que seja o retrato dos agitados tempos modernos.
d) o autor, já que se reconhece gênio, e pelo público, é aceito como tal e deve nortear as multidões que o leem com sua palavra sábia e simples.

02 – Segundo o texto abaixo, para os românticos:
"O problema da nacionalidade literária foi colocado, dentro da atmosfera do Romantismo, em termos essencialmente políticos. Misturadas literatura e política, a autonomia política transferia-se para literatura, e confundiram-se independência política e independência literária."
a) a autonomia política e a autonomia literária foram duas faces de um mesmo processo de emancipação.
b) autonomia política e autonomia literária mantiveram entre si uma relação de causa e efeito.
c) a autonomia literária sempre se seguiu à emancipação política.
d) emancipação política e emancipação literária foram processos que se concretizaram independentemente um do outro.

03 – Ainda segundo o texto acima:
a) Romantismo foi uma escola literária de atmosfera essencialmente política.
b) no Romantismo, literatura e política interpenetram-se e exercem influência mútua, numa interdependência dialética.
c) pode-se dizer que a política usou a literatura em suas campanhas, mas o inverso não é válido, pois a literatura não se valeu da política.
d) independência política e independência literária são fenômenos distintos, que só se misturam em consequência de um erro de interpretação.

04 – Qual o poema de Gonçalves Dias que apresenta a temática indianista?
      I-Juca Pirama.

05 – O lirismo social da poesia de Castro Alves:
a) tematiza a liberdade dentro, principalmente, de um enfoque individualista.
b) tematiza a liberdade exclusivamente referenciada ao negro escravizado.
c) tematiza a liberdade tanto com um enfoque individualista como coletivo; e, em especial, referenciada ao negro escravizado.
d) tematizava a liberdade de modo geral, e apenas acidentalmente referenciada ao negro escravizado.

06 – Poema Castro-Alvino que aborda a temática social e antiescravorata, por excelência, intitula-se:
     Navio Negreiro.

07 – Assinale a alternativa falsa. O Romantismo:
a) procura o elemento nacional.
b) propõe ruptura com o passado.
c) foi introduzido no Brasil por Gonçalves de Magalhães.
d) é a valorização do que é "nosso".

08 – Relacione os textos às características:

Texto A = Indianismo. (Evasão pelo tempo)
“Eu amo a noite taciturna e queda!
Amo a doce nudez que ela derrama,
E a fresca aragem pelas densas folhas
Do bosque murmurando.
Então malgrado o véu que envolve a terra,
A vista, do que vela, enxerga mundos,
E apesar do silêncio, o ouvido escuta
notas de etéreas harpas."

                                             Gonçalves Dias

Texto B = Imaginação criadora, fantasia.
"Já sinto a geada dos sepulcros
o pavoroso frio enregelar-me...
A campa vejo aberta e lá no fundo
Um esqueleto em pé vejo acenar-me..
Entremos. Deve haver nestes lugares
mudança grave na mundana sorte;
Quem sempre a morte achou no lar da vida,
Deve a vida encontrar no lar da morto.”
                                              Laurindo Rabelo

Texto C = Evasão pela morte.

"Não achei na vida amores
Que merecessem os meus.
Não tenho um ente no mundo
A quem diga o meu-adeus.
Não posso da vida à campa
Transportar uma saudade.
Cerro meus olhos contente
Sem um ai de ansiedade.
Por isso, ó morte, eu amo-te e não temo:
Por ísso, ó morte, eu quero-te comigo.
Leva-me à região da paz horrenda
Leva-me ao nada, leva-me contigo."
                                           Junqueira Freire


Texto D = Sonoridade.

“Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques, têm mais-vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá,

Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá,
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o sabiá.”

                                  Gonçalves Dias

Texto E = Consciência de solidão.

“Passei como D. Juan entre as donzelas,
Suspirei as canções mais doloridas
E ninguém me escutou...
Oh! nunca à virgem flor das faces belas
Sorvi o mel nas longas despedidas...
Meu Deus! ninguém me amou!
..................................................................
Vivi na solidão - odeio o mundo
E no orgulho embucei meu rosto pálido
Como um astro na treva...
Senti a vida um lupanar imundo -
Se acorda o triste profanado, esquálido
--- A morte fria o leva.”
                                     Álvares de Azevedo

Texto F = Saudosismo.
“Minh'alma é triste como a flor que morre
Pendida à beira do riacho ingrato.
Nem beijos dá-lhe a viração que corre,
Nem doce canto o sabiá do mato!
E como a flor que solitária pende
Sem ter carícias no voar da brisa,
Minh'alma murcha, mas ninguém entende
Que a pobrezinha só de amor precisa!”

                                      Casimiro de Abreu

Textos – Características.
A (6) - (l) Saudosismo
B (4) - (2) Evasão pela morte
C (2) - (3) Consciência de solidão
D (5) - (4) Imaginação criadora, fantasia
E (3) - (5) Sonoridade
F (1) - (6) Indianismo (evasão pelo tempo) 

09 – Releia a poesia “Canção do Exílio” (Texto D, questão anterior) e responda:
a) Onde é lá?
      Brasil.

b) Onde é cá?
      Portugal.

10 – O poeta encontra-se saudoso de sua terra natal, pelo exílio sofrido em Portugal. Transcreva abaixo dois elementos da natureza ligados ao Brasil:
      Sabiá e Palmeiras.

11 – Observe as afirmações abaixo e responda ao que se pede:
I. Preferência pela realidade exterior sobre a interior.
II. Anteposição da fé à razão, com valorização da mística e da intuição.
III. Poesia descritiva de representação dos fenômenos da natureza. Detalhismo.
IV. Gosto pelo pitoresco, pela descrição de ambientes exóticos.
V. Atenção do escritor aos detalhes para retratar fielmente o que descreve.
        Das características gerais acima expostas, justifique uma que pertença à estética literária do Romantismo:
      Resposta pessoal do aluno.

12 – Não é próprio do Romantismo:
a) Explorar assuntos nacionais como história, tradições, folclore;
b) Idealizar a mulher, tornando-a perfeita em todos os sentidos; 
c) Explorar assuntos ligados à antiguidade clássica, imitando-lhe os poetas e prosadores; 
d) Valorizar temas fúnebres e soturnos. 

13 – De acordo com a posição romântica, é correto afirmar que:
a) A natureza é expressiva no Romantismo e decorativa no Arcadismo. 
b) Com a liberdade criadora implantada no Romantismo, as regras fixas do Classicismo caem e "o poema começa onde começa a inspiração e termina onde termina esta". 
c) A visão do mundo romântica é centrada no sujeito, no "eu" do escritor, daí a predominância da função emotiva na linguagem do Romantismo. 
d) Todas as alternativas anteriores estão corretas. 

14 – Poderíamos uma das características do Romantismo pela seguinte aproximação de opostos:
a) Cultivando o passado, procurou formas de compreender e explicar o presente. 
b) Pregando a liberdade formal, manteve-se preso aos modelos legados pelos clássicos. 
c) Embora marcado por tendências liberais, opôs-se ao nacionalismo político. 
d) Voltado para temas nacionalistas, desinteressou-se do elemento exótico, considerando-o incompatível com exaltação da pátria. 

15 – A visão do mundo, nostálgica nos românticos, explica-se:
a) Pelas inúmeras guerras havidas na época do Romantismo.
b) Pela inadaptação aos valores absolutistas implantados pela monarquia brasileira. 
c) Pelo descontentamento da nobreza, que deixa o poder, e de parte da burguesia, que ainda não havia assumido ou que tivesse ficado à margem dele. 
d) Pela contemplação de um Brasil conservador, baseado no latifúndio, no escravismo e na monarquia. 

16 – “Deus! Oh, Deus! Onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu'estrelas tu t'escondes Embuçado no céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, Que embalde desde então corre o infinito... Onde estás, senhor Deus? ..."
Complete: Esta é a primeira estrofe de um poema que é exemplo de angústia, da autoria do poeta condoreiro, o Poeta dos Escravos, Castro Alves. O título dessa poesia se refere à denúncia de um ato recém criminoso, à época: Navio Negreiro.

17 – Assinale a alternativa que traz apenas características do Romantismo:
a) idealismo, religiosidade, objetividade, escapismo, temas pagãos.
b) predomínio do sentimento, liberdade criadora, temas cristãos, natureza convencional, valores absolutos. 
c) egocentrismo, predomínio da poesia lírica, relativismo, insatisfação, idealismo.
d) idealismo, insatisfação, escapismo, natureza convencional, objetividade. 

18 – UM ÍNDIO

"um índio descerá de uma estrela colorida brilhante
de uma estrela que virá numa velocidade estonteante
e pousará no coração do hemisfério sul na américa
num claro instante
(...)
virá
impávido que nem muhammad ali
virá que eu vi
apaixonadamente como peri
virá que eu vi
tranquilo e infalível como bruce lee
virá que eu vi
o aché do afoxé filhos de ghandi virá"
                                               (Caetano Veloso)

        O trecho anterior mostra, com uma visão contemporânea, determinado tipo de tratamento dado ao índio brasileiro em certo período de nossa literatura. 
O nome do poeta indianista que manifestou tal tendência é Gonçalves dias autor do longo e famosos poema indianista I-Juca Pirama.

19 – Complete: "A verdadeira poesia deve inspirar-se num entusiasmo natural e exprimir-se com naturalidade, sendo simples, pastoril, bucolicamente ingênua e inocente."
Esta afirmação caracteriza a estética árcade uma vez que exalta elementos ligados à natureza, opondo-se ao culto do interior que identifica o romantismo.

20 – (PUC-RS / adaptada) Complete:
        A estrofe abaixo demonstra que a mulher aparece frequentemente na poesia de Alvares de Azevedo, poeta ultra romântico, como figura inacessível. Outra característica da segunda geração romântica é o mal-do-século.
“Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embaladas!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!”. 






POEMA: NÃO HÁ VAGAS - FERREIRA GULLAR - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Não há Vagas
                               Ferreira Gullar


O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite 


da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira
                              Ferreira Gullar, in 'Antologia Poética' 

Entendendo o poema:


01 – Onde é comum encontrar a expressão “não há vagas”, que dá nome ao poema?
      Expressão típica do mundo do emprego, das relações patrão e empregado, indica falta de oportunidade.

02 – Que imagem esse título ajuda a construir no poema?
      À falta de oportunidades no mercado de trabalho.

03 – Como você interpretaria no poema a expressão “o homem sem estômago”?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Aquele, remediado ou rico, cujas preocupações não se voltam para as questões básicas de subsistência.

04 – Que artigos de primeira necessidade aparecem na primeira estrofe?
      Os itens: feijão, arroz, gás, luz, telefone, leite, carne, açúcar e pão.  

05 – De acordo com o contexto do poema, qual o significado de sonegar?
      Pressupõe furtar, fraudar, desviar.

06 – Na segunda estrofe são destacados dois sujeitos que também não cabem no poema. Quem? Por quê?
      O funcionário público e o operário. O primeiro, com seu “salário de fome” tem a “vida fechada / em arquivos”. O operário por sua vez, ao esmerilar o seu “dia de aço” nas “oficinas escuras”.

07 – O que o poeta quis dizer com:
·        “Mulher de nuvens”?
      A mulher idealizada, objeto de abstração. 

·        “Fruta sem preço”?
Aquela apenas admirada nas formas, se exposta na obra de arte, e não aquela comprada nos tablados da feira.

08 – Na última estrofe: “O poema, senhores, 
                                       não fede 
                                       nem cheira.”
O que o poeta afirma?
      Afirma que o poema apenas idealiza a vida – tanto faz existir ou não, é indiferente.

09 – Quem é o autor do poema?
      Ferreira Gullar.

10 – Como o poeta se refere aos operários da fábrica?
      Como não cabe no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão nas oficinas escuras.

11 – Você concorda com as ideias do poeta? Explique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

12 – Em sua opinião, o que o autor quis dizer com a expressão “Não há vagas”?
      Resposta pessoal do aluno.

13 – Você conhece pessoas que exercem atividades citadas no poema?
      Resposta pessoal do aluno.

14 – Sobre o poema Não há vagas, de Ferreira Gullar, é correto afirmar:
a) Ao ser aproximada de um ato lúdico como o fazer poesia, a crítica social é atenuada e perde força.
b) A ruptura com o verso tradicional situa o poema no contexto da primeira geração modernista.
c) Nota-se uma conjunção entre a reflexão sobre o fazer poético e a preocupação com a realidade social adversa.
d) A crítica política e a reflexão sobre a literatura presentes no poema configuram exceção na produção poética de Ferreira Gullar.
e) Trata-se de texto poético que destoa do conjunto da obra Toda poesia por utilizar redondilhas maiores e menores. 

15 – Sobre a obra de Ferreira Gullar estão corretas as seguintes proposições:
I. Uma das principais características da obra de Ferreira Gullar é a reflexão sobre a criação artística. Para o poeta, a poesia é fruto de um trabalho árduo, racional, que implica fazer e desfazer o texto até que ele alcance a sua forma mais adequada.
II. Ferreira Gullar integrou o grupo de poetas religiosos que se formou no Rio de Janeiro entre as décadas de 1930 e 40. Sua poesia é dividida em duas fases: a fase transcendental e a fase material.
III. A poesia de Ferreira Gullar destaca-se pelo engajamento político. Essa produção poética engajada ganhou força a partir dos anos de 1960, quando o poeta rompeu com a poesia de vanguarda, aderindo ao Centro Popular de Cultura (CPC).
IV. Explorando propriedades gráficas e vocais das palavras, rompendo com a ortografia e com as convenções da lírica tradicional, Ferreira Gullar integrou de maneira circunstancial o movimento concretista, do qual se afastou em virtude de discordâncias em relação às suas propostas teóricas.
V. Propôs um corte profundo entre a poesia romântica e a poesia moderna, criando um novo conceito de poesia ao dessacralizar a chamada “poesia profunda”, ou seja, a poesia em que predominam os versos de sentimentos ou de abordagem introspectiva.
 Sua poesia é anti-lírica, presa ao real e direcionada ao intelecto, não às emoções.
a) I, II e V estão corretas.
b) III e IV estão corretas.
c) III e V estão corretas.
d) I e IV estão corretas.
e) II, III e IV estão corretas.

16 – O poema de Ferreira Gullar tem um tom de polêmica. A quem se dirige a voz que fala no poema? Justifique sua resposta com elementos do texto.
      A voz que fala no poema aparentemente se dirige a uma plateia, como se percebe pelo vocativo “senhores” da terceira e da última estrofes.

17 – Que tipo de linguagem o autor imita com o tom eloquente do poema?
      Ele imita a linguagem dos discursos de protestos políticos.

18 – Como você classificaria o poema de Gullar?
      O poema de Gullar faz parte da literatura engajada.

19 – Segundo Gullar, o que não cabe no poema?
      A dura realidade em que vive a maioria das pessoas não cabe no poema.