quarta-feira, 27 de maio de 2020

CONTO: UMA GALINHA - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

Conto: Uma Galinha
           
              Clarice Lispector

      Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.
    Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.
        Foi, pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto voo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro voo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde está, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa.
        De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.
        Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beirai de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.
        Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga.
        Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.
        Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos.
        Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos.
        Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez àquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal, porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! Ela quer o nosso bem!
        Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave, nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:
        — Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!
        — Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.
        Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.
        Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo – se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.
        Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar.
        Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria, mas ficaria muito mais contente.
        Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.
        Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se os anos.

Fonte: https:// arquivos.gconcursos.com/prova/arquivo.prova/47449/itame-2015-camara-municipal-de-inhumas-go-arquivista-prova-pdf. Acesso: 06 abr. 2020.
Interpretando e analisando o conto:
01 – Assinale a alternativa correta. “A galinha tornara-se a rainha da casa”.
a)   Por ter tido coragem para fugir da morte;
b)   Por cantar como um galo todas as manhãs;
c)   Por ter botado um ovo, começado a chocá-lo e comovido a todos.
d)   Por ter cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.

02 – Se em “Mesmo que ela cante baixinho, fará sucesso” o trecho em negrito fosse substituído por “Mesmo que ela cantasse baixinho”, a continuação correta seria:
a)   Faz sucesso.
b)   Fez sucesso.
c)   Fará sucesso.
d)   Faria sucesso.

03 – Assinale a alternativa em que contém discurso direto:
a)   Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã. Parecia calma.
b)   Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos: – Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! Ela quer o nosso bem!
c)   Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar a beira do telhado, prestes a anunciar.
d)   Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa.

04 – Em todos os trechos citados do texto há adjetivo, exceto em:
a)   [...] não souberam dizer se era gorda ou magra.
b)   Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada.
c)   Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se os anos.
d)   [...] hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo.

05 – Assinale a alternativa correta no que se refere ao uso da vírgula – “O rapaz, porém, era um caçador adormecido”.
a)   Para isolar o vocativo.
b)   Para isolar o aposto.
c)   Para separar conjunções.
d)   Para separar adjuntos adverbiais deslocados.

06 – Por que, afinal, a família desistiu de comer a galinha? E por que, tempos depois, eles decidem comê-la?
      Exemplo de hipóteses interpretativas: A família desistiu de comer a galinha porque percebeu que ela era agora necessária para dar vida ao ovo que ela chocava. Depois eles decidem comê-la porque ela não está mais chocando ovo nenhum.   
  
07 – Às vezes, a narrativa do conto oscila entre a humanização e animalização da galinha. Cite trechos do texto que comprovam essa afirmativa.
      Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

08 – Percebe-se, no conto, que o narrador(a) faz uma projeção da galinha para uma mulher / mãe que gostaria muito de não ter o sentido de sua vida reduzido à maternidade. Não quer (ou não ousa) cantar como o galo (ou cantar de galo), mas ficaria feliz em saber que pode. Qual a relação da projeção feita pelo narrador(a) com as mulheres anuais? Justifique sua resposta.
      As mulheres, atualmente, não gostam de ver suas vidas reduzidas à maternidade. Muitas mulheres amam o papel da maternidade, mas a maioria delas desejam ser vistas, não apenas como mães, mas como pessoas independentes, capazes, boas profissionais, etc.

09 – Qual é a(s) personagens principal do conto?
      A galinha.

10 – Em que tempo e em que lugar se passa essa narrativa? Justifique sua resposta.
      Tempo psicológico – Terceira pessoa. Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã. Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha.
      Na casa da família – na murada do terraço, no terraço do vizinho – Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto voo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou – o tempo da cozinheira dar um grito – e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro voo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé.

11 – Que tipo de narrador está presente nesta narrativa? Justifique sua resposta.
      Narrador observador.

12 – Faça um resumo desse conto em, no máximo, cinco linhas, contando com suas próprias palavras o que você leu.
      Resposta pessoal do aluno.      


CRÔNICA: O DIAMANTE - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO


Crônica: O DIAMANTE  

                 Luís Fernando Veríssimo

       Um dia, Maria chegou em casa da escola muito triste.
        -- O que foi? – Perguntou a mãe de Maria.
        Mas Maria nem quis conversa. Foi direto para o seu quarto, pegou o seu Snoopy e se atirou na cama, onde ficou deitada, emburrada.
        A mãe de Maria foi ver se Maria estava com febre. Não estava.
        Perguntou se Maria estava sentindo alguma coisa. Não estava.
        Perguntou se estava com fome. Não estava. Perguntou o que era, então.
        -- Nada – disse Maria.
        A mãe resolveu não insistir. Deixou Maria deitada na cama, abraçada com o seu Snoopy, emburrada. Quando o pai de Maria chegou em casa do trabalho, a mãe de Maria avisou:
        -- Melhor nem falar com ela.
        Maria estava com cara de poucos amigos. Pior. Estava com cara de amigo nenhum.
        Na mesa do jantar, Maria de repente falou:
        -- Eu não valo nada.
        O pai de Maria disse:
        -- Em primeiro lugar, não se diz "Eu não valo nada". É "Eu não valho nada". Em segundo lugar, não é verdade. Você valhe muito.
        Quer dizer: vale muito.
        -- Não valho.
        -- Mas o que é isso? – Disse a mãe de Maria. – Você é a nossa filha querida. Todos gostam de você. A mamãe, o papai, a vovó, os tios, as tias. Para nós, você é uma preciosidade.
        Mas Maria não se convenceu. Disse que era igual a mil outras pessoas. A milhões de outras pessoas.
        -- Só na minha aula tem sete Marias!
        -- Querida... – Começou a dizer a mãe. Mas o pai interrompeu.
        -- Maria – disse o pai –, você sabe porque um diamante vale tanto dinheiro?
        -- Porque é bonito.
        -- Porque é raro. Um pedaço de vidro também é bonito. Mas o vidro se encontra em toda parte. Um diamante é difícil de encontrar. Quanto mais rara é uma coisa, mais ela vale. Você sabe porque o ouro vale tanto?
        -- Por quê?
        -- Porque tem pouquíssimo ouro no mundo. Se o ouro fosse como areia, a gente ia caminhar no ouro, ia rolar no ouro, depois ia chegar em casa e lavar o ouro do corpo para não ficar suja. Agora, imagina se em todo o mundo só existisse uma pepita de ouro.
        -- Ia ser a coisa mais valiosa do mundo.
        -- Pois é. E em todo o mundo só existe uma Maria.
        -- Só na minha aula são sete.
        -- Mas são outras Marias.
        -- São iguais a mim. Dois olhos, um nariz...
        -- Mas esta pintinha aqui nenhuma delas tem.
        -- É...
        -- Você já se deu conta de que em todo o mundo só existe uma você?
        -- Mas, papai...
        -- Só uma. Você é uma raridade. Podem existir outras parecidas. Mas você, você mesma, só existe uma. Se algum dia aparecer outra você na sua frente, você pode dizer: é falsa.
        -- Então eu sou a coisa mais valiosa do mundo.
        -- Olha, você deve estar valendo aí uns três trilhões...
        Naquela noite a mãe de Maria passou perto do quarto dela e ouviu Maria falando com o Snoopy:
        -- Sabe um diamante...
                                           Luís Fernando Veríssimo
Entendendo a crônica:

01 – Maria chegou em casa triste.
a)   O que ela fez que comprova essa afirmação?
Ela chegou da escola e não quis conversar com sua mãe indo direto para seu quarto.

b)   Qual o motivo da tristeza de Maria?
Disse que não valia nada, e que era igual a mil outras pessoas.

02 – Como os pais de Maria tentaram ajuda-la?
      Dizendo que ela era uma filha querida, que todos a amavam. A mamãe, o papai, a vovó, os tios, as tias.

03 – Por que os pais de Maria usaram a comparação da menina com o diamante?
      Para mostra-la que era única e especial; que era uma raridade.

04 – Por que Maria achava que não valia nada?
      Porque só na sala de aula dela tinha sete Marias.

05 – Escreva nos parêntese que personagem do texto disse a afirmação:
·        “... Para nós você, é uma preciosidade”. (A mãe).
·        “... Quanto mais rara é uma coisa, mais ela vale”. (O pai).
·        “Você já se deu conta que em todo mundo só existe uma você?” (O pai).
·        “Então eu sou a coisa mais valiosa do mundo”. (A Maria).

Gramática

01 – Que substantivos foram usados pelo pai, na conversa com Maria, para que a menina compreendesse o seu valor:
(   ) Bonito, precioso.
(   ) Raro, ouro.
(X) Diamante, único.
(   ) Ouro, diamante.
(   ) Valioso, único.

02 – Classifique os substantivos em:
(A) Substantivo simples.
(B) Substantivo composto.

(A) Diamante.
(A) Escola.
(B) Guarda-roupa.
(B) Arroz-doce.
(B) Couve-flor.
(A) Vidro.

03 – Reescreva as frases abaixo colocando as palavras grifadas no diminutivo:
a)   O cão brincou com a bola e a menina achou uma graça.
O cãozinho brincou com a bolinha e a menina achou uma gracinha.

b)   A mãe comprou o presente para a filha.
A mãezinha comprou o presente para a filhinha.

04 – Transforme as palavras abaixo em adjetivos utilizando os sufixos oso, osa:
a)   Delícia: deliciosa.
b)   Cheiro: cheirosa.
c)   Coragem: corajosa.
d)   Cuidado: cuidadoso.
e)   Atenção: atencioso.

05 – Escreva os adjetivos pátrios correspondentes a cada país:
a)   França: francês.
b)   Argentina: argentino.
c)   Chile: chileno.
d)   Brasil: brasileiro.
e)   Portugal: português.

domingo, 24 de maio de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): A CIDADE - CHICO SCIENCE & NAÇÃO ZUMBI - COM QUESTÕES GABARITADAS

Música(Atividades): A Cidade

                                   Chico Science &  Nação Zumbi

O sol nasce e ilumina
As pedras evoluídas
Que cresceram com a força
De pedreiros suicidas
Cavaleiros circulam
Vigiando as pessoas
Não importa se são ruins
Nem importa se são boas

E a cidade se apresenta
Centro das ambições
Para mendigos ou ricos
E outras armações
Coletivos, automóveis,
Motos e metrôs
Trabalhadores, patrões,
Policiais, camelôs

A cidade não pára
A cidade só cresce
O de cima sobe
E o de baixo desce
A cidade não pára
A cidade só cresce
O de cima sobe
E o de baixo desce

A cidade se encontra
Prostituída
Por aqueles que a usaram
Em busca de uma saída
Ilusora de pessoas
De outros lugares,
A cidade e sua fama
Vai além dos mares

E no meio da esperteza
Internacional
A cidade até que não está tão mal
E a situação sempre mais ou menos
Sempre uns com mais e outros com menos

A cidade não pára
A cidade só cresce
O de cima sobe
E o de baixo desce
A cidade não pára
A cidade só cresce
O de cima sobe
E o de baixo desce

Eu vou fazer uma embolada,
Um samba, um maracatu
Tudo bem envenenado
Bom pra mim e bom pra tu
Pra gente sair da lama e enfrentar os urubus

Num dia de sol, recife acordou
Com a mesma fedentina do dia anterior.
                                                    Composição: Chico Science.
Entendendo a canção:

01 – A canção protesta contra as diferenças de classes sociais. O verso que reforça essa ideia é:
a)   “A cidade até que não está tão mal”.
b)   “Eu vou fazer uma embolada”.
c)   “Sempre uns com mais e outros com menos”.
d)   “Bom pra mim e bom pra tu”.
e)   “Num dia de sol, Recife acordou”.

02 – Em que verso localiza o lugar de onde se fala?
      “Num dia de sol, Recife acordou”.

03 – No verso: “Eu vou fazer uma embolada”. Refere-se a quê?
      Refere-se a arte de cantar e rimar, em duplas, rapidamente.

04 – Por que a letra desta canção é considerada um texto literário?
      Porque tem caráter artístico, explora a linguagem conotativa ou poética e que, geralmente, têm o objetivo de emocionar o leitor.

05 – Que temas são abordados na canção?
      Há uma grandiosidade de repertório, percorrem temas como cidadania, direito das famílias, combate à corrupção, exclusão social, etc.

06 – A exclusão social tratada na canção, como é gerada?
      É gerada pelo sistema urbano (cidade), marcante na divisão desigual os espaços urbanos.

07 – Na canção os valores democráticos são exaltados, pois estão contidos onde?
      Estão contidos na cultura popular.

08 – A competição pelo solo urbano, tem gerado efeitos sociais muitos fortes. Quais?
      A expansão das favelas que contribui para uma segregação cada vez maior. Desta forma, a exclusão do acesso a habitações dignas compromete direitos básicos dos cidadãos, os quais deveriam ser respeitados promovidos por todos.



FÁBULA: DO LEÃO E DOS BÊBADOS - COM QUESTÕES GABARITADAS

Fábula: Do leão e dos bêbados


    Decrépito o leão, terror dos bosques, e saudoso de sua antiga fortaleza, espairecia um deles ao entardecer à sombra do parque onde o prenderam.
    Assim levava a vida, ou assim esperava a morte.
    Sua missão não era valorosa; incumbia-lhe, todos os dias, e de preferência aos sábados e domingos, fingir que era de fato um leão feroz e assustar os visitantes com pálidos rugidos.
        Em troca, recebia três fartas refeições ao dia (fora o breakfast), água fresca, sombra, agradável companhia, e o título honorífico de rei das selvas, que na verdade era o que mais o comovia.
        Mas não era de fato um leão de verdade; faltavam-lhe a certeza de sua intrepidez, o horizonte aberto, a liberdade, que não ia além do arame farpado entre as sebes disfarçado.
        Tratava-se de um jogo previamente combinado: em troca do alimento e da tranquilidade, o mísero leão, rugindo apenas, aceitava digerir todas as afrontas.
        Um belo dia aconteceu, porém, que três bebuns, enganando-se de boteco, erraram o atalho e foram cair, por puro acaso, nos domínios reservados ao leão domesticado. E tão bebuns estavam os três-loucados que nem se deram fé do risco que corriam: a moita onde dormiam desmaiados nada mais era que a juba da fera enjaulada.
        Surpreendeu-se o leão com tamanha audácia, que não constava nas cláusulas contratuais que assinara com o empresário-empregador. E logo lhe veio à mente, num impulso atávico, o justo desejo de provar daquele banquete que se oferecia assim de mão-beijada. De fato, há muito o leão não saboreava um prato humano, como nos velhos tempos de antanho.
        Já se lambia o bicho, com sua língua áspera e salivada.
        Mas a civilização também cobra os seus tributos – e o leão, que conhecia algo de Direito, antes de se lançar ao ataque, resolveu reler o seu contrato, a ver se nas entrelinhas (sábio leão!) não constava algo que o prejudicasse: pois não queria o rei das selvas perder o emprego por justa causa. Pra tanto procurou um leão mais velho – e presumidamente mais experiente – e lhe propôs a delicada questão: se era lícito, naquela conjuntura, devorar os três bebuns incautos, que haviam invadido o parque e ali dormiam.
        O velho leão examinou o contrato, verificou se não era falso, e concluiu que, pelo escrito, nada impedia legalmente que o leão mais novo os devorasse. Mas enquanto consultavam a lei, corria o tempo, de sorte que, por sorte, os três bebuns, passada a carraspana despertaram para a vida. Sobressaltados, antes que o leão, apoiado na lei, voltasse e os atacasse, trataram os três de fazer o que a situação impunha: mandar-se.
        E foi desta maneira que o leão perdeu o acepipe, frustrando-se o ensejo de fartar-se com carne de primeira, tenra e fresquinha (ainda por cima regada a canjebrina). 
        Amuado, foi novamente ao leão mais velho (e mais experiente) queixar-se de que o excesso de escrúpulo contratual o havia feito perder o nobre prato. 
        Ao que o mais velho respondeu, com a sabedoria própria dos leões fabulosos:
        -- Queixas-te de barriga cheia, o que é um mal. Se de fato estivesses com fome, certamente primeiro os teria devorado, e só depois te lembrarias do contrato. Mas não te lastimes: quem faz o bem sempre o tem. Nenhum leão está livre neste mundo de, amanhã, por acaso, adormecer num parque e ser comido de surpresa por três bebuns esfomeados. A vida não está difícil só para os animais, rapaz.
        Moral: Não te lastimes: quem faz o bem sempre o tem.

Vocabulário:                                                                                         
Decrépito: velho, caduco
Espairecer: entreter-se
Honorífico: honroso
Intrepidez: coragem
Sebe: arbusto
Juba: crina
Audácia: coragem
Cláusula: artigo; preceito
Atávico: reaparecimento de uma característica dos ascendentes
Antanho: antigamente
Incauto: imprudente
Carraspana: bebedeira
Acepipe: guloseima
Ensejo: oportunidade
Canjebrina: cachaça
Escrúpulo: cuidado


Entendendo a fábula:

01 – O texto que você acabou de ler apresenta os elementos essenciais da narrativa: personagens, fato, tempo, lugar (espaço), narrador.
a)   Quem são as personagens?
O leão novo, o leão velho e os três bêbados.

b)   O que acontece?
Os bêbados foram dormir no domínio do leão novo.

c)   Onde acontece a história?
Num parque.

d)   Quem narra a história: um narrador-personagem ou um narrador-observador? Justifique.
Um narrador-observador. Porque conta a história presenceada por ele.

02 – O que seria necessário para que o animal desta fábula fosse “um autêntico leão”?
      Ele precisava ser feroz, viver solto a natureza e ter os instintos selvagem.

03 – Por que o leão não devorou os bêbados? Copie a alternativa mais acertada. Justifique sua escolha.
a)   Porque as cláusulas contratuais o proibiam.
b)   Porque, enquanto ele e o leão mais velho consultavam o contrato, os três bêbados, conscientes do risco que corriam, fugiram.
c)   Porque, além de não querer perder o emprego, não estava faminto.

04 – Explique o uso da expressão destacada na frase:
“E tão bebuns estavam os três-loucados que nem se deram fé do risco que corriam [...]”.
      Significa que a pessoa perdeu o juízo ou o bom senso = alucinado, desvairado, doido, louco.

05 – Inverossimilhante é tudo aquilo que não tem aparência de verdadeiro. Releia o último parágrafo e transcreva um trecho inverossímil.
      “Nenhum leão está livre neste mundo de, amanhã, por acaso, adormecer num parque e ser comido de surpresa por três bebuns esfomeados. A vida não está difícil só para os animais, rapaz.”

06 – De onde provém a comicidade do texto? Escolha a alternativa correta.
a)   Do fato de um leão estar preso.
b)   Do fato de dois leões conversarem com humanos.
c)   Da presença de um animal renegar seus instintos em nome de um contrato.
     d) Do fato de um leão pedir ajuda a um amigo mais velho.

07 – No texto alteram-se termos próprios de uma linguagem formal e termos característicos de uma linguagem bem coloquial (informal).
a)   Procure alguns exemplos de uso mais formal da linguagem.
“Decrépito o leão, terror dos bosques, e saudoso de sua antiga fortaleza, espairecia...”.

b)   Procure exemplos de uso coloquial.
“Mão-beijada”; “pra”; “canjebrina”; “amuado”.

08 – Para reproduzir as falas das personagens, o autor utiliza dois tipos de discurso: o discurso direto e o discurso indireto. Localize trechos em que aparecem exemplos desses dois tipos de discurso. Justifique sua resposta.
      Discurso direto: “-- Queixas-te de barriga cheia, o que é um mal. Se de fato estivesses com fome, certamente primeiro os teria devorado, e só depois te lembrarias do contrato.”

      Discurso indireto: “Tratava-se de um jogo previamente combinado: em troca do alimento e da tranquilidade, o mísero leão, rugindo apenas, aceitava digerir todas as afrontas.”