Texto: Crepúsculo – Fragmento
Dirigido por Catherine
Hardwicke.
Com: Kristen Stewart, Robert
Pattinson, Billy Burke, Nikki Reed, Ashley Greene, Jackson Rathsbone, Kellan
Lutz, Peter Facinelli, Cam Gigandet, Elizabeth Reaser.
[...]

Crepúsculo acompanha a adolescente
Bella (Stewart), que, obrigada a mudar-se para a pequena cidade do pai, logo se
torna bastante popular em sua nova escola – que, apesar de atender a uma cidade
com apenas 3.120 habitantes, é imensa, conta com aparentemente centenas de
alunos e, claro, é convenientemente diversificada em seu corpo estudantil,
exibindo asiáticos, negros, latinos e qualquer outra minoria que faça os
produtores se sentirem orgulhosos de si mesmos por sua visão globalizada.
Sentindo-se pouco à vontade perto do pai (por motivos que o filme jamais
procura esclarecer), Bella tem seu interesse despertado por Edward (Pattinson),
um rapaz pálido e arredio que vive com os vários irmãos adotivos numa casa
localizada nas montanhas. Contudo, ainda que obviamente encantado pela moça,
Edward insiste que não devem se aproximar – algo que ele reforça de maneira
curiosa ao procurá-la durante o almoço na cantina apenas para repetir, embora
ela tivesse mantido a distância exigida. Esta dinâmica se repete dezenas de
vezes ao longo da projeção até que, finalmente, Bella descobre por que Edward a
teme tanto – o que, claro, não impede que ele continue a dizer que deveriam se
afastar embora jamais o faça. Rapazinho confuso, este.
[...]
Mais preocupado em se estabelecer como
galã do que como ator, Robert Pattinson é auxiliado em sua tarefa pela diretora
Catherine Hardwicke e pelo ótimo compositor Carter Burwell, que, não à toa,
investe num crescendo romântico assim que Edward é visto pela primeira vez com
sua pele pálida, as sobrancelhas cuidadosamente desenhadas, os lábios
destacados por batom e o cabelo milimetricamente despenteado (ele deve passar
horas diante do espelho, despenteando o cabelo. Ainda bem que, como imortal,
tem todo o tempo do mundo.). Infelizmente, como ator, Pattinson se revela um
belo adorno, já que, além de inexpressivo, suas tentativas de atuar soam
embaraçosamente ruins [...]
Por outro lado, Kristen Stewart, uma
atriz interessante, faz o que pode para transformar Bella numa figura
tridimensional, sendo constantemente sabotada pelo roteiro de Rosenberg (que se
saiu muito melhor na série Dexter, diga-se de passagem): obrigada a atuar
em cenas constrangedoramente expositivas – como na montagem em que “deduz” que
Edward é um vampiro, repetindo várias “pistas” em voz alta –, Stewart ainda é
levada a protagonizar um draminha artificial com o pai, magoando-o
propositalmente apenas para “protegê-lo” (o problema, aqui, é ela não precisava
realmente magoá-lo; esta é apenas uma estratégia barata do filme para tentar
criar algum conflito dramático [...]).
Estes conflitos implausíveis, aliás,
formam a base das tentativas do filme em criar algum tipo de tensão ou
incerteza quanto ao final – e, como já dito, frequentemente Edward diz para
Bella que não podem ficar juntos apenas para, na cena seguinte, voltar a
procurá-la para repetir sua decisão. Isto atinge o auge da artificialidade numa
cena ambientada num quarto de hospital, quando, depois de ouvir o amado falar
pela milésima vez que devem se afastar, a moça protesta apenas para escutar, em
resposta, que o outro realmente não consegue se manter distante – ignorando,
assim, o que acabara de dizer. E o que posso falar do vilão, um vampiro
caçador que só é apresentado ao espectador com 80 minutos de projeção (e, mesmo
assim, surgindo como o menos interessante do trio ao qual pertence)?
Possivelmente introduzido na trama depois que a roteirista (ou a autora do
livro, que não li) se deu conta de não ter criado um único antagonista, o tal James
(Gigandet) é um estereótipo de vampiro mau que passa a caçar a mocinha sem
nenhuma razão aparente – e se a resposta para esta obsessão se encontra no
livro, o erro permanece, já que o filme deveria se sustentar sozinho.
Abusando das câmeras lentas e de planos
que beiram o ridículo em sua obviedade [...], Catherine Hardwicke ainda peca
por não perceber a qualidade pedestre dos efeitos visuais que retratam a
velocidade e a força dos vampiros e que seriam mais apropriados a uma produção
de tevê da década de 70. E o que dizer de diálogos como “Então o leão se
apaixonou pelo cordeiro”, que parecem ter saído de uma fotonovela?
Embora ganhe alguns pontos pelo
conceito interessante da família de vampiros que tenta levar uma vida
razoavelmente normal ainda que a simples visão de sangue humano pareça levar
seus integrantes a um quase frenesi, Crepúsculo merece mesmo
distinção por sua profunda incoerência: apesar de roteirizado e dirigido por
mulheres a partir de um livro escrito por outra, o filme é surpreendentemente
machista ao transformar em heroína uma garota disposta a abrir mão de tudo para
seguir um homem, abandonando família, seus projetos pessoais e até mesmo a vida
apenas para poder contar com o privilégio de ser a esposa de um macho-alfa.
[...]
Disponível em: http://200.170.174.159/critica_Detalhe.aspx?ID_CRITICA=7392&tipo=1&id_filmes=4566.
Acesso em: 27 jan. 2015. (Adaptado).
Fonte: Universos –
Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 6º ano – Camila Sequetto
Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª
edição, 2015. p. 134-135.
Entendendo o texto:
01 – Qual é a principal
crítica do autor em relação à atuação de Robert Pattinson como Edward?
O autor critica a
atuação de Robert Pattinson, afirmando que ele está "mais preocupado em se
estabelecer como galã do que como ator", sendo "inexpressivo" e
tendo "tentativas de atuar [que] soam embaraçosamente ruins". O texto
o descreve como um "belo adorno".
02 – Como o texto descreve a
abordagem de Catherine Hardwicke em relação à direção do filme?
O texto aponta
que Catherine Hardwicke "peca por não perceber a qualidade pedestre dos
efeitos visuais" e abusa de "câmeras lentas e de planos que beiram o
ridículo em sua obviedade". Ela também é criticada por auxiliar Pattinson
em sua tarefa de "se estabelecer como galã" em vez de focar na
atuação.
03 – Que inconsistências o
autor aponta na dinâmica entre Bella e Edward?
O autor destaca
que Edward "insiste que não devem se aproximar" e "reforça de
maneira curiosa ao procurá-la durante o almoço na cantina apenas para repetir,
embora ela tivesse mantido a distância exigida". Essa dinâmica se repete
"dezenas de vezes", com Edward "continuando a dizer que deveriam
se afastar embora jamais o faça", caracterizando-o como um "rapazinho
confuso".
04 – Quais são as críticas do
autor ao roteiro de Rosenberg, mesmo reconhecendo seu trabalho em "Dexter"?
O autor critica o
roteiro de Rosenberg por "sabotar" a atuação de Kristen Stewart,
forçando-a a atuar em "cenas constrangedoramente expositivas" (como a
da "dedução" de que Edward é um vampiro) e por criar um
"draminha artificial com o pai" de Bella, que serve apenas como uma
"estratégia barata do filme para tentar criar algum conflito
dramático".
05 – Por que o autor considera
o filme "surpreendentemente machista", apesar de ter sido roteirizado
e dirigido por mulheres e baseado em um livro escrito por uma mulher?
O autor considera o filme machista porque
ele "transforma em heroína uma garota disposta a abrir mão de tudo para
seguir um homem, abandonando família, seus projetos pessoais e até mesmo a vida
apenas para poder contar com o privilégio de ser a esposa de um
macho-alfa."
06 – Que crítica é feita à
introdução do vilão, James (Cam Gigandet)?
O autor critica a
introdução tardia do vilão, James, que só é apresentado "com 80 minutos de
projeção" e surge como "o menos interessante do trio ao qual
pertence". Ele sugere que James foi "possivelmente introduzido na
trama depois que a roteirista (ou a autora do livro) se deu conta de não ter
criado um único antagonista", e que ele caça a mocinha "sem nenhuma
razão aparente".
07 – Além das atuações e do
roteiro, quais outros elementos técnicos do filme são criticados pelo autor?
O autor critica
os efeitos visuais, descrevendo-os como de "qualidade pedestre" e
mais apropriados para uma "produção de tevê da década de 70". Ele também
menciona a "obviedade" dos planos de câmera e a artificialidade de
alguns diálogos, como "Então o leão se apaixonou pelo cordeiro", que
parecem ter saído de uma "fotonovela".
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