Texto: Origens das artes visuais
Artes visuais na pré-história
Ainda não existiam quadros ou museus
para guarda-los, mas, desde a pré-história, nas primeiras manifestações visuais
conhecidas, já se percebe o uso de técnicas bidimensionais e tridimensionais
comuns até hoje, e diferentes formas de usar os elementos visuais, que geram
efeitos diversos.

Nas pinturas rupestres, as cores eram
conseguidas com o uso de pigmentos naturais. Em cada lugar as pinturas
apresentam o uso de materiais diferentes, disponíveis em cada ambiente. E,
Altamira, na Espanha, por exemplo, o preto era conseguido com o uso de carvão,
e os tons avermelhados e os amarelados eram feitos com o uso de pó de óxido de
ferro, puro ou misturado em água. Eles também eram usados para tingir as roupas
das pessoas. A caverna de Altamira foi o primeiro conjunto pré-histórico de
grandes dimensões a ser descoberto, em 1878.
Muitas vezes, as saliências das paredes
das cavernas eram aproveitadas para dar volume às figuras, ou seja, impressão
de tridimensionalidade.
Também é comum, entre as imagens
pré-históricas de várias partes do mundo, a presença de gravuras.
Enquanto a pintura é feita com o uso de
algum pigmento sobre a superfície, a gravura é feita por meio de incisões,
entalhes nas rochas, que criam um relevo.
As imagens conhecidas da pré-história
representam, em sua maioria, animais. Acredita-se que eles eram admirados e
respeitados por possuírem atributos que o ser humano não possui. Além disso, a
caça era uma fonte importante de alimento e recursos materiais para a
sobrevivência: peles, ossos e chifres eram utilizados. O animal possivelmente
era visto como fundamental para a manutenção da existência. O ser humano,
então, associava-se de forma ritual aos animais e espíritos da natureza. As
imagens podem representar uma forma de adoração a esses seres, como também
parte de rituais para garantir a caça. As divindades poderiam assumir a forma
de animais, ou mesmo os xamãs podiam buscar nos espíritos dos animais
orientação e atributos considerados importantes, como força, agilidade,
coragem.
As imagens tridimensionais da
pré-história existem em menor quantidade que as bidimensionais, provavelmente
por terem se perdido ou quebrado com o tempo. As mais antigas são todas
esculturas em osso ou pedra.
Existem duas formas tradicionais de se
fazer imagens tridimensionais: por meio da escultura ou da modelagem. Para
esculpir uma peça, as formas são retiradas e polidas de um material rígido, com
o uso de ferramentas. Já a modelagem é feita com material mole, com as mãos ou
ferramentas, principalmente para o acabamento. É uma técnica que demorou mais
tempo para ser usada pelo ser humano e surgiu com a modelagem da argila, que se
transforma em cerâmica por meio da queima. A mais antiga peça de cerâmica
conhecida foi encontrada na República Tcheca, uma pequena figura feminina,
datada em pelo menos 25 mil anos. Alguns milhares de anos depois, quando os
seres humanos se estabeleceram em ocupações permanentes, o uso da cerâmica para
criar objetos utilitários se disseminou em diversos lugares do mundo.
Pequenas esculturas femininas são um
tipo de objeto que arqueólogos e outros estudiosos descobriram ser comuns no
Paleolítico Superior, encontradas em regiões muito diversas – desde os Pirineus
até a Sibéria – em número muito maior do que representações masculinas.
Essas figuras acabaram sendo chamadas
de Vênus da pré-história, numa associação anacrônica com a deusa da beleza, da
sexualidade e do amor romana na Antiguidade (chamada Afrodite entre os gregos).
Acredita-se que representassem algum tipo de divindade ligada ao feminino.
Embora algumas figuras sejam esbeltas, muitas são representações de mulheres
formas grandes e arredondadas, com seios, ventre e nádegas bastante salientes.
Uma das hipóteses é que essas formas simbolizassem a ideia de sexualidade e
fertilidade, por ser a mulher geradora e nutridora da vida. Muitos estudiosos
inclusive acreditam que essas sociedades fossem matriarcais, ou seja,
organizadas e lideradas pelas mulheres.
Existe também a associação de possíveis
cultos a divindades femininas com os mitos da Deusa Mãe ou Mãe Terra,
personificação da Terra enquanto geradora da vida e da natureza, comum em
várias culturas. As civilizações ancestrais, em sua maioria, cultuavam deusas associadas
à criação da vida e do Universo. Ainda hoje, nos Andes, grupos indígenas
cultuam a Pachamama, divindade associada à Terra, à fertilidade e aos ciclos da
natureza.
Fonte: Livro Arte em
interação. Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – Volume
único – Ensino médio. 1ª edição. São Paulo, 2013. IBEP. p. 47-52.
Entendendo o texto:
01
– Como as primeiras manifestações de artes visuais na Pré-história já
demonstravam o uso de técnicas bidimensionais e tridimensionais, e quais
materiais eram utilizados para as pinturas rupestres?
Desde as
primeiras manifestações visuais na Pré-história, já se percebe o uso de
técnicas bidimensionais (como as pinturas rupestres) e tridimensionais (como as
esculturas). Para as pinturas rupestres, as cores eram obtidas a partir de
pigmentos naturais disponíveis em cada ambiente. Por exemplo, na Caverna de
Altamira, na Espanha, o preto era conseguido com carvão, e os tons avermelhados
e amarelados eram feitos com pó de óxido de ferro, puro ou misturado em água.
As saliências das paredes das cavernas eram frequentemente aproveitadas para
criar a impressão de volume, ou seja, tridimensionalidade.
02
– Qual a diferença entre pintura e gravura, conforme descrito no texto, e como
as gravuras eram produzidas na Pré-história?
O texto distingue
pintura e gravura da seguinte forma: a pintura é realizada com o uso de algum
pigmento sobre uma superfície, enquanto a gravura é feita por meio de incisões
e entalhes nas rochas, que criam um relevo. Na Pré-história, as gravuras eram,
portanto, produzidas entalhando-se as superfícies rochosas para criar imagens
em relevo, em contraste com a aplicação de pigmentos.
03
– Qual tipo de imagem predominava nas representações pré-históricas e quais são
as principais hipóteses para a escolha desses temas?
A maioria das
imagens conhecidas da Pré-história representa animais. As principais hipóteses
para essa predominância são diversas. Acredita-se que os animais eram admirados
e respeitados por possuírem atributos que os seres humanos não tinham. Além
disso, a caça era crucial para a sobrevivência, fornecendo alimento e recursos
como peles, ossos e chifres. O animal era visto como fundamental para a
manutenção da existência. As imagens poderiam, então, representar uma forma de
adoração a esses seres, parte de rituais para garantir a caça, ou mesmo
simbolizar divindades que assumiam formas animais, ou ainda, auxiliar xamãs na
busca por orientação e atributos importantes dos espíritos animais, como força
e agilidade.
04
– Compare as duas formas tradicionais de se fazer imagens tridimensionais,
escultura e modelagem, explicando suas diferenças e como a modelagem se
desenvolveu historicamente.
As duas formas
tradicionais de fazer imagens tridimensionais são a escultura e a modelagem. A
escultura envolve a retirada e o polimento de formas de um material rígido com
o uso de ferramentas. Já a modelagem é feita com material mole, utilizando as
mãos ou ferramentas para moldar e dar acabamento. Historicamente, a modelagem
demorou mais tempo para ser utilizada pelo ser humano e surgiu com a modelagem
da argila, que, por meio da queima, se transforma em cerâmica. A peça de
cerâmica mais antiga conhecida é uma figura feminina datada em pelo menos 25
mil anos, encontrada na República Tcheca. Milhares de anos depois, com o
estabelecimento de ocupações permanentes, o uso da cerâmica para objetos
utilitários se difundiu globalmente.
05
– O que são as "Vênus da pré-história"? Qual a principal
característica física dessas figuras e qual a hipótese mais aceita para o seu
simbolismo e para o tipo de sociedade que elas representavam?
As "Vênus da
pré-história" são pequenas esculturas femininas comuns no Paleolítico
Superior, encontradas em diversas regiões, de Pirineus à Sibéria, em número
maior que representações masculinas. Foram chamadas de "Vênus" em uma
associação anacrônica com a deusa romana da beleza. A principal característica
física de muitas dessas figuras são as formas grandes e arredondadas, com
seios, ventre e nádegas bastante salientes. A hipótese mais aceita é que essas
formas simbolizassem a ideia de sexualidade e fertilidade, por ser a mulher
geradora e nutridora da vida. Muitos estudiosos acreditam, inclusive, que as
sociedades que as produziram eram matriarcais, ou seja, organizadas e lideradas
por mulheres.
06
– Como as "Vênus da pré-história" e as possíveis sociedades
matriarcais se associam aos mitos da Deusa Mãe ou Mãe Terra? Dê um exemplo de
culto contemporâneo mencionado no texto.
As "Vênus da
pré-história" e a ideia de sociedades matriarcais se associam aos mitos da
Deusa Mãe ou Mãe Terra porque essas figuras femininas com formas exuberantes
simbolizam a sexualidade e a fertilidade, remetendo à Terra como geradora da vida
e da natureza. Em muitas culturas ancestrais, deusas associadas à criação da
vida e do Universo eram cultuadas. O texto menciona que, ainda hoje, nos Andes,
grupos indígenas cultuam a Pachamama, uma divindade associada à Terra, à
fertilidade e aos ciclos da natureza, o que reforça a continuidade dessa
ligação entre o feminino, a fertilidade e a Terra desde os tempos
pré-históricos.
07
– Além de representações de animais, o texto menciona o aproveitamento de
saliências nas paredes das cavernas e a presença de gravuras. Como esses
elementos contribuem para a compreensão das habilidades artísticas e simbólicas
dos povos pré-históricos?
O aproveitamento
das saliências nas paredes das cavernas para dar volume às figuras demonstra a
capacidade dos povos pré-históricos de manipular o espaço tridimensional e
criar ilusões visuais, revelando uma sofisticação na técnica e na percepção
artística. A presença de gravuras, feitas por incisões e entalhes, indica a
diversidade de técnicas e o domínio de ferramentas para trabalhar diferentes
superfícies. Juntos, esses elementos – a representação de animais, o uso
inteligente do ambiente e as diversas técnicas – revelam não apenas a
habilidade artística desses povos, mas também sua profunda relação simbólica
com a natureza e o ambiente ao redor, onde a arte servia tanto para a expressão
quanto para rituais e crenças ligadas à sobrevivência e ao divino.
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