Notícia: A tal da outra história – Fragmento
De tanto ver livros, filmes ou matérias
que alardeiam revelar uma parte da história “que você nunca aprendeu na
escola”, nossa colunista fala sobre como o ensino da disciplina mudou – e
lembra aos adultos que muito da história que aprenderam ficou no passado.
A história do Brasil está na moda. Ou,
pelo menos, na mídia. Na televisão, novelas e minisséries retratam diversos
momentos do passado; nos cinemas, filmes com tramas históricas já são comuns;
até CDs – estou lembrando do Noites do Norte, do Caetano (2000), inspirado
na obra de Joaquim Nabuco – incorporaram temas da história do Brasil em suas
composições.
[...]

Isso sem contar as agências de viagem,
que começam a explorar o turismo eco-histórico, as exposições dos museus e
centros culturais e as vitrines de livrarias, repletas de lançamentos, coleções
e dicionários de história do Brasil. Até parece que, de repente, todo mundo
passou a se interessar pela história do Brasil. O que é ótimo.
Ainda assim, são comuns anúncios de
livros e filmes do tipo “você vai conhecer a história que seu professor nunca
lhe ensinou”. Quem, ao se deparar com uma novidade interessante na livraria,
nunca pensou: mas por que eu nunca aprendi isto na escola?
Pois bem, se você não frequenta mais a
escola, aí vai uma novidade: é bem possível que seus filhos, ou os filhos de
seus filhos, estejam familiarizados com aquele assunto sobre o qual você nunca
ouviu falar. E mais: é provável que eles tenham aprendido isso justamente na
escola.
[...]
Noção
simplista
Que não me entendam mal: em princípio,
nada contra o livro. Não sou daquelas historiadoras que acham que a história
pertence aos historiadores. Também não engrosso o coro – comum no meio
acadêmico – de que livros de história escritos por jornalistas não prestam,
pelo contrário.
O ensino de história do Brasil nas
escolas passou, nas últimas décadas, por uma quase revolução – ainda que
silenciosa
Boa parte dos historiadores
profissionais volta as costas para a divulgação do conhecimento histórico e
deixa de aprender com aqueles que fazem textos de história serem agradáveis,
saborosos – e até lidos! – sem que isso envolva a simplificação de suas
análises.
Vejam o Império à deriva: a corte
portuguesa no Rio de Janeiro, 1808-1821 (Objetiva, 2005), um ótimo livro
de história escrito por um jornalista, o australiano Patrick Wilcken.
A implicância aqui é com a estratégia
de divulgação. Que, no caso, revela um grande desconhecimento acerca do ensino
de história do Brasil nas escolas do ensino médio e fundamental, que passou,
nas últimas décadas, por uma quase revolução – ainda que silenciosa.
A sucessão de nomes e datas pela qual o
ensino da disciplina é conhecido ainda hoje foi substituída, nas décadas de
1960 e 1970, por um ensino que privilegiava as grandes transformações
econômicas.
No primeiro modelo, reis e rainhas,
grandes líderes e generais, eram responsáveis pelas mudanças no rumo das vidas
de populações inteiras; no segundo, a luta de classes – o embate entre as
formas da revolução e as forças da reação, como se dizia então – era
considerada o motor do movimento na história.
Se esta última era uma história
militante, que representava o combate ao regime militar no país para muitos
docentes, do ponto de vista de quem aprendia elas eram, ambas as histórias,
pouco interessantes – principalmente por serem distantes de seus referenciais
cotidianos.
[...]
Disponível em: http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/a-tal-da-outra-historia.
Acesso em: 7 maio 2015.
Fonte: Universos –
Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 6º ano – Camila Sequetto
Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª
edição, 2015. p. 324-325.
Entendendo a notícia:
01 – De acordo com o
fragmento, qual é uma das principais razões para o aparente aumento do
interesse do público pela história do Brasil?
A – A falta de interesse dos historiadores profissionais na divulgação
do conhecimento histórico.
B – Uma "quase
revolução" silenciosa no ensino de história nas escolas.
C – A obrigatoriedade da
disciplina de história no currículo escolar.
D – A crescente popularidade
de livros, filmes e programas de TV sobre a história do Brasil.
02 – Qual é a crítica
principal da colunista em relação a "boa parte dos historiadores
profissionais" mencionada no texto?
A – Geralmente ignoram
a divulgação do conhecimento histórico, perdendo a oportunidade de aprender com
abordagens mais atraentes.
B – Consideram que a
simplificação das análises históricas é fundamental para que os textos sejam
lidos e apreciados pelo público em geral.
C – Acreditam que a história
pertence exclusivamente aos historiadores, sem espaço para a divulgação por
outros profissionais.
D – São críticos aos livros de
história escritos por jornalistas, mas aprovam a forma como a disciplina é
divulgada.
03 – Segundo a colunista, qual
é a "implicância" revelada pela estratégia de divulgação de alguns
livros e filmes de história?
A – O fato de os livros de
história serem escritos por jornalistas e não por historiadores profissionais.
B – A supervalorização de
datas e nomes em detrimento das grandes transformações econômicas no ensino de
história.
C – A estratégia de
divulgação que alardeia revelar uma história "nunca aprendida na
escola", revelando desconhecimento sobre o ensino atual.
D – A falta de interesse dos
alunos do ensino médio e fundamental pela disciplina de história.
04 – Como o ensino da história
do Brasil se caracterizou nas décadas de 1960 e 1970, de acordo com o texto?
A – Uma abordagem focada no
turismo eco-histórico e em exposições de museus.
B – Eventos históricos
distantes do cotidiano dos alunos, sem relevância para suas vidas.
C – As grandes
transformações econômicas e a luta de classes.
D – Apenas nomes e datas
importantes, com foco em reis, rainhas e grandes líderes.
05 – Na perspectiva de quem
aprendia, qual era a principal característica comum aos dois modelos de ensino
de história (o da sucessão de nomes e datas e o das grandes transformações
econômicas)?
A – O segundo modelo era mais
interessante por ser "história militante" e combater o regime
militar.
B – Ambos os modelos eram considerados
muito interessantes, pois abordavam temas importantes do passado do Brasil.
C – O primeiro modelo era mais
interessante, pois focava em personagens, enquanto o segundo era muito abstrato
para os alunos.
D – Tanto o primeiro
modelo (nomes e datas) quanto o segundo (grandes transformações econômicas)
eram pouco interessantes, por serem distantes dos referenciais cotidianos dos
alunos.
06 – Qual "grande
desconhecimento" sobre o ensino de história no Brasil é apontado pela
colunista em relação à estratégia de divulgação de alguns materiais?
A – Que a história pertence
exclusivamente aos historiadores profissionais.
B – Que livros de história
escritos por jornalistas não possuem valor acadêmico.
C – Que o interesse do público
pela história do Brasil é um fenômeno passageiro e sem importância.
D – Que o ensino de
história do Brasil nas escolas de ensino médio e fundamental não mudou
significativamente nas últimas décadas.
07 – Qual autor e obra são
citados no fragmento como um exemplo de "ótimo livro de história escrito
por um jornalista"?
A – Patrick Wilcken,
com o livro "Império à deriva: a corte portuguesa no Rio de Janeiro,
1808-1821".
B – Joaquim Nabuco, autor que
inspirou o CD "Noites do Norte" de Caetano Veloso.
C – A colunista, que é uma historiadora
e autora do próprio fragmento.
D – Caetano Veloso, por
incorporar temas da história do Brasil em suas composições.
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