domingo, 18 de agosto de 2024

CRÔNICA: TABOÃO DOS PALMARES - SÉRGIO VAZ - COM GABARITO

 Crônica: Taboão dos Palmares

               Sérgio Vaz

        Taboão da Serra é uma cidade de mil faces e não há como decifrá-las sem devorá-las. Impossível pensá-la sem suas ladeiras, seus becos e suas vielas. Cada quebrada é um município no meu estado de espírito. As calçadas são irregulares, por isso, nossa gente anda no meio da rua, desafiando a arrogância dos carros, buzina pra você ver…

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikqxa94zmpCl551_wpaa5otIkSel0ceuBsbCwKHCjMIjXPRljFib42EHWUFiHcak65i_bQUKYFrnb9031IzaAaX0n89TE66CmWJ_0l7mtm965sm51EpAHUL9wwTfEFMhI88CaWLowMcATRM-nxzYDYxC__XgsQ_slVPu2gcVyeJznYwHqAKbxxUdpML0c/s985/TABO%C3%83O.jpeg
 

        Uma das faces mais bonitas da cidade é a nossa gente, e da nossa gente, umas das faces mais bonitas é a do João Barraqueiro, da Kika e da sua família. Gente da pele preta que tem o suor como marca registrada no rosto.

        Não importa o evento, nem o local, é lá que eles estão. É comum vê-los nas Praças, campos de futebol, shows, favela, comícios, etc. desfilando a grandeza dos que não se entregam, e se recusam a ser escravos do parasitismo.

        A barraca é o Quilombo dos Palmares dessa família, tamanha liberdade com que constroem o pão de cada dia. Da mesma barraca lutam como quem faz uma prece ao céu, ou a terra, adorando um deus chamado dignidade.

        A coragem que exalam das mãos é de assustar qualquer senhor de engenho ou capitão do mato. Trazem no olhar o desprezo pela chibata, e no coração, o fogo brando que aquece o caldeirão da liberdade. Valeu Zumbi!

        Com todo o respeito às ancestralidades, que a mãe África me perdoe, mesmo, mas mãe é aquela que cria, o João e a Kika são filhos de Taboão da serra, e não por acaso são nossos irmãos. Axé!  

        Para aqueles que acreditam que o caráter independe da cor, uma poesia:

        “Que a pele escura não seja escudo para os covardes que habitam na senzala do silêncio.

        Porque nascer negro é consequência, ser é consciência”.

VAZ, Sérgio. Taboão dos Palmares. In: VAZ, Sérgio. Literatura, pão e poesia. São Paulo: Global, 2012. E-book.

Fonte: Linguagens em Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 34.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é o tema principal da crônica "Taboão dos Palmares"?

      O tema principal é a celebração da comunidade de Taboão da Serra, especialmente a resistência, dignidade e força das pessoas negras que habitam o local, simbolizados na figura de João Barraqueiro, Kika e sua família.

02 – Como Sérgio Vaz descreve a cidade de Taboão da Serra na crônica?

      Sérgio Vaz descreve Taboão da Serra como uma cidade de "mil faces", com ladeiras, becos e vielas que moldam o estado de espírito dos moradores. Ele ressalta a irregularidade das calçadas e a coragem das pessoas que andam no meio da rua, desafiando os carros.

03 – Quem são João Barraqueiro e Kika na crônica, e o que eles representam?

      João Barraqueiro e Kika são descritos como pessoas de pele preta, trabalhadores que sustentam sua família com dignidade. Eles representam a resistência, a força e a liberdade, sendo comparados a figuras de um quilombo, como o de Palmares.

04 – O que a barraca de João Barraqueiro e Kika simboliza na crônica?

      A barraca é simbolizada como um "Quilombo dos Palmares", um espaço de liberdade e resistência onde a família luta para garantir o sustento diário com dignidade e coragem, enfrentando as dificuldades da vida.

05 – Qual é a visão do autor sobre a relação entre cor da pele e caráter?

      O autor defende que o caráter não depende da cor da pele. Ele sugere que ser negro vai além de uma condição biológica; é uma questão de consciência e postura diante da vida.

06 – Que elementos da crônica mostram a valorização da ancestralidade africana?

      A crônica faz referência a figuras históricas de resistência, como Zumbi dos Palmares, e reverencia a mãe África. Apesar disso, o autor também reconhece que João e Kika são "filhos de Taboão da Serra", valorizando suas raízes e identidade locais.

07 – Qual mensagem a poesia no final da crônica transmite?

      A poesia no final da crônica transmite uma mensagem de resistência e orgulho negro. Ela destaca que a pele escura não deve ser usada como um escudo para a covardia, mas sim ser carregada com consciência e orgulho.

 

 

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