Enigma: O incrível caso do videogame
Jacob dos Santos Biziak
Depois de tanto trabalho e tanto ter
suas histórias divulgadas pelo mundo, em diversas línguas, Sherlock Homes se
aposentou. Inúmeros mistérios foram resolvidos com sua ajuda. No entanto, o
maior mistério de sua vida continua em aberto: Seria possível ter sossego um
dia? Pensando nisso, resolveu viajar para longe de Londres. O destino escolhido
foi o Brasil. A ideia não era conhecer somente um lugar do país, mas vários.
Decidiu, então, que poderia ser interessante começar de baixo para cima, do mais
frio ao mais quente. Resolveu, também, que iria sozinho, sem seu fiel
companheiro Watson. Afinal, acreditava que, assim, seria mais difícil ser
reconhecido. A viagem, enfim, começou e seguiu uma ordem: Porto Alegre,
Florianópolis, Curitiba, São Paulo... eis que, de repente, o descanso acabou.
Batendo pernas pelo parque Ibirapuera
em São Paulo, observando árvores e pássaros, ouviu algo que se parecia com
“senhor Holmes”. Como não tinha certeza sobre ter, de fato, ouvido seu nome,
resolveu ignorar. Não era possível que alguém ali o reconhecesse. Passados
alguns segundos, novamente escutou:
-- Senhor Holmes, muito prazer,
detetive Silveira.
Sherlock olhou para os céus, apertou
bem os olhos e não conseguiu acreditar. Voltou-se para o homem que lhe estendia
a mão e disse:
-- Como é possível o senhor ter me
reconhecido?! Estou de férias, algo que nunca fiz na vida. Como me descobriu e
justamente aqui?!
-- Ora, senhor Holmes, eu também sou um
bom detetive. Não é porque não consigo encontrar um ladrão de videogame que não
conseguiria rastrear o senhor! Na verdade, mesmo em um caso como esse, eu não o
chamaria diretamente de Londres para cá. Mas nossas câmeras no aeroporto
registraram sua entrada no país. Os policiais ficaram tão curioso com a suposta
coincidência do nome até descobrirem que o Holmes que estava chegando ao Brasil
era exatamente o mesmo famosíssimo da Inglaterra. Isso tem sido comentado na
polícia brasileira há dias. Estamos acompanhando e protegendo o senhor desde
sua chegada. Afinal, não queremos que nada de ruim lhe aconteça. Quando eu
soube que o senhor estaria em São Paulo, tratei de rastreá-lo. E, agora, cá
estamos. Preciso muito de um palpite do senhor sobre um caso. Não quero que se
desligue totalmente de suas férias, mas que me dê, ao menos, uma dica. Seria
possível?
-- O que se passa? É urgente?
-- Não, não é urgente, mas é
intrigante. Poderia me acompanhar? Assim lhe ponho a par da ocorrência.
No caminho, Silveira resumiu o que vinha
acontecendo. De fato, o caso não era urgente. Ainda assim, durava meses. A
polícia estava sendo fortemente cobrada por uma solução, já que envolvia um
poderoso empresário, viúvo, que viajava sempre a trabalho por diversos países.
O filho desse viúvo, toda semana, sem
falta, tem um videogame roubado. Sem deixar vestígios, um aparelho sempre some
no espaço de sete dias. Assim, que desaparece, o pai trata – mesmo distante -
de repor com um novo eletrônico ainda melhor que o anterior. Assim, aparelhos
de todos os lugares do mundo começaram a chegar.
Nunca foram encontradas marcas de
arrombamentos, invasões, sujeiras, pedaços de qualquer coisa quebrada. Todos os
funcionários da casa são antigos, antes de o menino nascer. Foram interrogados
e descartados como suspeitos, por enquanto, em função de seu ótimo histórico de
convivência com a família.
Nas últimas vezes, até fios de cabelos
diferentes que frequentam a casa foram procurados: mais uma vez, sem sucesso. A
cada sumiço de videogame, o menino ligava para o pai, chorando, dizendo o
quanto se sentia inseguro e uma queixa era feita à polícia. Parecia que os
aparelhos simplesmente evaporavam. Em um dia, quando o fim de mais um ciclo de
semana se aproximava, a casa foi inteiramente cercada por policiais escondidos,
esperando a hora de o ladrão sair com o aparelho. As câmeras, os detetives,
nada e nem ninguém capazes de ver qualquer movimentação estranha. Logo pela
manhã, os gritos: o novo aparelho tinha sumido também.
-- Me levem à cena, à casa do
empresário. Não vamos perder mais tempo. Se há algo a ser descoberto, é lá. –
pediu Sherlock.
-- Mesmo a casa já tendo sido revirada?
– perguntou Silveira.
-- Talvez exista algo menos óbvio que
ainda não tenha sido buscado. Os mistérios, quase sempre, dependem de
acreditarmos em determinadas soluções. Por isso, preciso saber se todos estão
prontos para o que pode ser descoberto.
-- Do jeito como o senhor fala, chego a
sentir um pequeno medo.
-- Vamos logo à casa. Em minha cabeça,
pelo que você conta, só há uma possibilidade.
Chegando à mansão, em uma região
distante do centro de São Paulo, Sherlock foi logo apresentado ao pai – que,
por coincidência, também estava no Brasil naqueles dias – e ao menino. O famoso
detetive inglês perguntou ao empresário:
-- Lamento pela pergunta, mas há quanto
tempo a mãe do garoto faleceu?
-- Há cerca de seis meses – ele
respondeu.
Com isso, Sherlock pediu para ver o
quarto do menino. Sem entenderem muita coisa, o detetive Silveira, o pai e o
filho levaram Holmes até o local. Lá, Sherlock começou a bater nas superfícies
de madeira que formavam os móveis, mesmo nos locais mais escondidos. Fez isso
por diversos minutos. Ninguém entendia nada.
Após cerca de quase uma hora, o detetive
inglês abriu o armário de roupas. Algo lhe chamou aa atenção. Conforme batia
nas paredes da parte de trás do armário, uma delas parecia oca. Bateu novamente
três vezes. Após isso, apertou a parede e percebeu que ela estava bamba. Sem
muito esforço, ela caiu, e um vão atrás dela foi revelado. Iluminado com a luz
advinha da câmera do celular, o segredo se fez luz! Todos os videogames
roubados estavam lá, uns sobre os outros. Sherlock olhou para o pai, que estava
incrédulo. Depois, olhou para o menino, de cujos olhos desciam lágrimas.
-- Como o senhor chegou com tanta
facilidade a isso? – perguntou o detetive Silveira.
-- Elementar, meu caro Silveira. A casa
nunca foi arrombada, e ninguém nunca foi visto saindo com algum aparelho: só
podia ser alguém de dentro da mansão, logo. Todos os funcionários são antigos
e, de início, não teriam motivos para isso, a não ser que alguém tivesse
sofrido alguma mudança recente em sua vida, a ponto de precisar roubar. Para
minha surpresa, o único que teve a vida drasticamente mudada foi o próprio
garoto, dono dos eletrônicos. Sempre que algum some, ele liga para o pai,
clamando por sua segurança. Logo, não foi difícil pensar: o próprio menino
desaparece com os aparelhos. Com isso, ele não busca ainda mais segurança
contratada para a casa, mas, sim, a única que lhe pode salvar neste momento: a
do próprio pai. Incapaz de dizer isso, o roubo de cada videogame, ao longo do
tempo, poderia chamar a atenção de seu pai e trazê-lo de volta,
permanentemente, à casa...
Biziak, Jacob dos
Santos.
Entendendo o enigma:
01
– Por que Sherlock Holmes decidiu viajar para o Brasil?
Para tentar ter
um tempo de sossego e paz longe de Londres, viajando por vários lugares do
país, começando de baixo para cima, do mais frio ao mais quente.
02
– Quem foi a primeira pessoa a reconhecer Holmes no Brasil e onde isso
aconteceu?
O detetive
Silveira, no parque Ibirapuera em São Paulo.
03
– Qual era o caso que o detetive Silveira queria que Holmes ajudasse a
resolver?
O roubo semanal
de videogames da casa de um poderoso empresário viúvo.
04
– Como Holmes foi identificado ao entrar no Brasil?
Pelas câmeras no
aeroporto, que registraram sua entrada no país e despertaram a curiosidade dos
policiais brasileiros.
05
– Qual era a reação de Holmes ao ser reconhecido e abordado por Silveira?
Ele ficou
surpreso e incrédulo por ter sido reconhecido, especialmente enquanto estava de
férias.
06
– O que fez Holmes aceitar acompanhar Silveira e se envolver no caso?
Embora estivesse
de férias, ele se interessou pelo caráter intrigante do caso e decidiu ajudar.
07
– Como o pai do menino reagia a cada vez que um videogame era roubado?
Mesmo estando
distante, ele rapidamente substituía o aparelho roubado por um novo, ainda
melhor que o anterior.
08
– O que Holmes fez ao chegar à mansão do empresário?
Ele examinou o
quarto do menino, batendo nas superfícies de madeira e investigando
cuidadosamente.
09
– Como Holmes descobriu o esconderijo dos videogames?
Ele percebeu que
uma parede do armário de roupas parecia oca e bamba. Após apertar e derrubá-la,
encontrou um vão escondido onde estavam todos os videogames roubados.
10
– Qual foi a dedução de Holmes sobre o motivo do menino roubar os videogames?
O menino estava
buscando atenção e segurança do pai. Os roubos constantes eram uma maneira de
chamar a atenção do pai e tentar trazê-lo de volta para casa permanentemente.
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