quarta-feira, 8 de abril de 2020

ARTIGO DE OPINIÃO: OS CLÁSSICOS REBELDES - FERNANDO DE BARROS - COM GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO: Os clássicos rebeldes
                                               Fernando de Barros

     Algumas peças de roupa foram decisivas para a transformação de uma geração no século XX. Uma delas foi a calça jeans, que Jacob Davis criou em 1853 com um pano geralmente usado para cobrir carroças. Outra foi a minissaia, nascida da imaginação e audácia da estilista inglesa Mary Quant.
        O pano que deu origem ao jeans, começou a ser fabricado em Nimes, na França, no final do século XVII. No século XVIII, já era produzido em Halifax, na Inglaterra, onde ficou conhecido como De Nimes, que deu origem ao seu nome: Denim. Da Europa ele seguiu para os Estados Unidos, junto com imigrantes, como o alemão Lévi-Strauss, que foi para a Califórnia em 1847 e abriu uma distribuidora de tecidos importados em San Francisco, com seu cunhado.
        Na mesma época, o alfaiate Jacob Davis fazia calças para os mineiros que trabalhavam nas minas da Califórnia. A clientela não estava muito satisfeita, pois a roupa se estragava com facilidade, no seu tipo de trabalho. Para resolver esse problema, Davis foi a San Francisco procurar um pano mais resistente. Lévi-Strauss então lhe vendeu um lote de tecido de sarja marrom, usado geralmente para cobrir tendas e carroças. Foi com ele que Davis fez as novas calças, reforçadas nos bolsos com rebites e fechadas na braguilha por botões de metal. O negócio foi melhorando devagar. Faltava a Davis o capital necessário para desenvolvê-lo, com um bom sistema de fabricação e distribuição. Ele então escreveu a Lévi-Strauss, que continuava a ser seu fornecedor de tecidos, e propôs lhe dar 50 por cento dos lucros se a firma fizesse registrar comercialmente o modelo de calça e fornecesse mais tecido. Strauss aceitou sua proposta. Em 1873 a marca e o feitio das calças estavam registrados. Assim foi criada a primeira grife de roupas jeans.
        A partir daí começou a existir dois panos. Como o escritor John Hayes já observava numa obra em 1942, um deles era o próprio jeans, um pano sarjeado de algodão com fios da mesma cor utilizado em calças rancheiras, camisas para trabalhar e macacões. O outro era o denim, uma versão na qual o sarjeado compreendia fios de algodão azuis e fios de algodão cru, tecido mais caro utilizado nas roupas de trabalho. No século XIX as calças de Lévi-Strauss já eram de tecido azul com fios de algodão cru e o tecido na cor marrom tinha sumido de circulação.
        No campo, nas indústrias e nas ferrovias que rasgavam o território americano, o jeans começava a fazer parte da paisagem. Quem usava uma camisa, um blusão ou uma rancheira jeans era identificado como trabalhador – não só os mineiros, como os trabalhadores do campo, os caubóis e os ferroviários. O jeans começou a se popularizar ainda mais no começo do século XX, com o lançamento dos filmes com o caubói Tom Mix, que se tornaram sucesso no mundo inteiro. Em No tempo das diligências, do diretor John Ford, filmado em 1939, John Wayne usava jeans. O filme que mais lançou o jeans no cinema, contudo, foi As vinhas da ira, 1940. Baseado no romance de John Steinbeck, tinha como personagem principal Henry Fonda no papel de um agricultor. A figura dos heróis do cinema com jeans se tornou quase uma marca nos filmes que Hollywood passou a produzir. Elvis Presley usou jeans em seu primeiro filme, Ama-me com ternura, 1956. Marlon Brando, em Uma rua chamada pecado, também. Marilyn Monroe em O rio das almas perdidas, de Otto Preminger, estava de jeans. James Dean, o astro rebelde do cinema americano, era tão associado ao jeans que os fabricantes passaram a utilizar sua imagem em material publicitário.
        Na Segunda Guerra, aquelas calças de sarja grossa deixaram de ser usadas apenas no trabalho das fábricas para ganhar destaque no dia-a-dia. As mulheres que trabalhavam como operárias não só usavam roupas jeans como as mesmas roupas jeans dos homens. Descobriram rápido a praticidade daquela roupa sem grandes pretensões e de preço acessível.
        O jeans se tornou o espírito da América que estava saindo da guerra. Começavam naqueles anos as mudanças que iriam influenciar as gerações seguintes. Depois disso, as pessoas e o modo como elas se vestiam nunca mais seriam os mesmos.
        Era o princípio também de um período delirante em que se buscava um novo estilo, e o jeans era o material favorito para essa transformação.
        Não bastava usar calça jeans; era preciso ser rebelde como ela. Aqueles tempos da moda nos pós-guerra procuravam novas afirmações. E o jeans, que nada mais era do que uma roupa popular, boa para o trabalho e o lazer, começou a se transformar em elemento de estilo.

Barros, Fernando de. O Homem casual. São Paulo: Mandarim, 1998. p. 54-9.
Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 38-42.
Entendendo o texto:

01 – Na sua origem, as calças jeans surgiram para resolver uma insatisfação dos clientes do alfaiate Jacob Davis. Explique.
      As calças jeans surgiram como roupa de trabalho. Por serem confeccionadas num tecido resistente e muito durável, resolveram o problema do desgaste fácil das roupas, de que se queixavam os mineiros da Califórnia.

02 – O tecido jeans, originalmente marrom, deixou de circular em que época?
      No século XIX.

03 – Assim como o tecido, os detalhes metálicos das calças jeans tinham, originalmente, uma finalidade prática. Qual?
      Os detalhes em metal – rebites dos bolsos e botões – eram um reforço na estrutura da roupa.

04 – O quinto parágrafo do texto é quase inteiramente dedicado ao papel exercido pelo cinema na divulgação do jeans.
a)   Que papel foi esse, segundo o texto?
O cinema foi um dos responsáveis pela transformação do jeans em moda, pois a roupa foi utilizada por personagens de  muitos filmes marcantes, representadas por atores famosos.

b)   A que veículo de comunicação você atribuiria, hoje, esse papel na divulgação de determinadas modas? Exemplifique.
A televisão sem dúvida.

05 – “O jeans se tornou o espírito da América que estava saindo da guerra.” Que roupa, na sua opinião, revela o espírito de nossa época?
      Resposta pessoal do aluno.

06 – “Não bastava usar a calça jeans; era preciso ser rebelde como ela.” Compare essa afirmação com a resposta que você deu à questão 1. A função e o significado do jeans mudaram ao longo do tempo? Explique.
      Sim, pois a questão da resistência e durabilidade do tecido ficou em segundo plano quando a roupa adquiriu um significado simbólico: expressar rebeldia.

07 – O uso desse tipo de roupa tem ainda hoje esse significado social?
      Não, pois o uso muito amplo de determinada moda esvaziam seu significado original, fato que ocorreu com o jeans.

08 – Há algum tipo de roupa que você usa não porque “está na moda” simplesmente, mas porque revela seu estado de espírito diante das pessoas? Descreva essa roupa para os colegas e explique por que ela expressa sua maneira de ser.
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Na sua opinião, nó somos livres para usar a roupa que quisermos? Justifique.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A adequação/ inadequação da vestimenta a determinadas situações, além das imposições da moda




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