quarta-feira, 8 de abril de 2020

POEMA: CONVÍVIO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Poema: Convívio

          Carlos Drummond de Andrade

Cada dia que passa incorporo mais esta verdade, de que eles não vivem senão em nós
e por isso vivem tão pouco; tão intervalado; tão débil.
Fora de nós é que talvez deixaram de viver, para o que se chama tempo.

E essa eternidade negativa não nos desola.
Pouco e mal que eles vivam, dentro de nós, é vida não obstante.
E já não enfrentamos a morte, de sempre trazê-la conosco.
Mas, como estão longe, ao mesmo tempo que nosso atuais habitantes
e nossos hóspedes e nossos tecidos e a circulação nossa!
A mais tênue forma exterior nos atinge.
O próximo existe. O pássaro existe,
E eles também existem, mas que oblíquos! e mesmo sorrindo, que disfarçados…
Há que renunciar a toda procura.
Não os encontraríamos, ao encontrá-los.
Ter e não ter em nós um vaso sagrado,
um depósito, uma presença contínua,
esta é nossa condição, enquanto,
sem condição, transitamos
e julgamos amar
e calamo-nos.
Ou talvez existamos somente neles, que são omissos, e nossa existência,
apenas uma forma impura de silêncio, que preferiram.

Carlos Drummond de Andrade, em “A família que me dei”, no livro
“Carlos Drummond de Andrade – Antologia poética” [organizada pelo autor].
54ª ed., Rio de Janeiro: Record, 2004, p. 98.
Entendendo o poema:
01 – De que se trata o poema?
        Fala da percepção da relação do Ser com os seres na existência.

02 – Que verso do poema nota-se a marca da 1ª pessoa? Copie e sublinhe-o.
       “Cada dia que passa incorporo mais esta verdade, de que eles não vivem senão em nós.”

03 – Paradoxo é uma figura que se forma a partir da associação de ideias ou conceitos que resulta em contradições. Que verso do poema contêm um paradoxo e reforçam o caráter melancólico do poema?
        “Há que renuncia a toda procura.
         Não os encontraríamos, ao encontra-los.
         Ter e não ter em nós um vaso sagrado...”

04 – Como o olhar do autor aparece no poema? Cite um verso.
        Revela a percepção do relacionamento do Ser com os seres na existência.
         “O próximo existe. O pássaro existe.”


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