quarta-feira, 10 de novembro de 2021

POEMA: MENINO DO MATO (FRAGMENTO) - MANOEL DE BARROS - COM GABARITO

 Poema: Menino do mato (Fragmento)

             Manoel de Barros

Eu queria usar palavras de ave para escrever.

Onde a gente morava era um lugar imensamente e sem nomeação.

Ali a gente brincava de brincar com palavras tipo assim:

Hoje eu vi uma formiga ajoelhada na pedra!

A Mãe que ouvira a brincadeira falou:

Já vem você com suas visões!

Porque formigas nem têm joelhos ajoelháveis e nem há pedras de sacristias por aqui.

Isso é traquinagem da sua imaginação.

O menino tinha no olhar um silêncio de chão e na sua voz uma candura de Fontes.

O Pai achava que a gente queria desver o mundo para encontrar nas palavras novas coisas de ver assim: eu via a manhã pousada sobre as margens do rio do mesmo modo que uma garça aberta na solidão de uma pedra.

Eram novidades que os meninos criavam com as suas palavras.

Assim Bernardo emendou nova criação:

Eu hoje vi um sapo com olhar de árvore.

Então era preciso desver o mundo para sair daquele lugar imensamente e sem lado.

A gente queria encontrar imagens de aves abençoadas pela inocência.

O que a gente aprendia naquele lugar era só ignorâncias para a gente bem entender a voz das águas e dos caracóis.

A gente gostava das palavras quando elas perturbavam o sentido normal das ideias.

Porque a gente também sabia que só os absurdos enriquecem a poesia.

[...]

Manoel de Barros. Menino do mato. São Paulo: Leya, 2010. p. 9-10.

Fonte: Língua Portuguesa – Português – Apoema – Editora do Brasil – São Paulo, 2018. 1ª edição – 6° ano. p. 117-8.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Candura: pureza; simplicidade.

·        Sacristia: lugar de uma igreja em que são guardados objetos sagrados e as vestimentas sacerdotais.

02 – De que brincadeira fala o poema? Como seria essa brincadeira?

      Brincadeira com palavras. As crianças fariam jogos brincando com as palavras, inventando frases, combinando sons.

03 – Releia o verso abaixo do poema.

        “Isso é traquinagem da sua imaginação.”

a)   Quem fala e a quem se dirige?

A mãe fala, dirigindo-se ao filho.

b)   De acordo com o sentido geral do texto, o que significa traquinagem?

Brincadeira; travessura; coisa de menino levado.

c)   Qual foi a frase criada pelo menino e considerada pela mãe uma “traquinagem” da imaginação dele?

“Hoje eu vi uma formiga ajoelhada na pedra!”

d)   Por que a mãe considerou a frase uma “traquinagem da sua imaginação”?

Porque ela disse que formigas não se ajoelham e que o menino estaria inventando coisas.

e)   Quais eram as “traquinagens” feitas pelo menino?

Inventar frases, brincar com as palavras.

04 – Releia os versos abaixo:

        “O Pai achava que a gente queria desver o mundo

        para encontrar nas palavras novas coisas de ver.”

a)   Observe o verbo desver em um contexto bem diferente: um meme que circulou na internet em que a personagem faz um pedido dirigindo à rede social. Que sentido tem o verbo nesse caso?

Nesse caso, o verbo significa que não se quer ver determinada coisa desagradável ou desinteressante. Assim como há coisas para curtir e comentar, deveria haver outras para não ver, deixar de ver.

b)   Uma formiga ajoelhada numa pedra seria uma “nova coisa de ver”? Por quê?

Sim, porque, na realidade, uma formiga não se ajoelha. No poema, as palavras criaram essa possibilidade, essa “nova coisa de ver”.

c)   No contexto geral do poema, o que pode significar a expressão “desver o mundo”?

Pode significar ver o mundo de outro modo, de um modo diferente do habitual.

 

 

Um comentário:

  1. Foi um por acaso encontrar seu blog... tão poucos ainda mantem blogs, e principalmente com poemas, literatura, análise, opinião, resenhas, mais raro ainda... parabéns! Desculpe, mas não li as partes que me parecem ensinar a quem vai enfrentar provas.. rsrs
    Bom mesmo é ler a poesia, ela fala por si. E falando em solidão, sou.
    Não achei o botão para acompanhar.. uma pena. Abraços.

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