A CRÔNICA
Carlos Drummond de Andrade
“Crônica tem esta vantagem:
não obriga ao paletó-e-gravata do editorialista, forçado a definir uma posição
correta diante dos grandes problemas; não exige, de quem a faz, o nervosismo
saltitante do repórter, responsável pela apuração do fato na hora mesma em que
ele acontece; dispensa a especialização suada em economia, finanças, política
nacional e internacional, esporte, religião e o mais que imaginar se possa. Sei
bem que existem o cronista político, o esportivo, o religioso, o econômico,
etc., mas a crônica de que estou falando é aquela que não precisa entender de
nada ao falar de tudo. Não se exige do cronista geral a informação ou o
comentário precisos que cobramos dos outros. O que lhe pedimos é uma espécie de
loucura mansa, que desenvolva determinado ponto de vista não ortodoxo e não
trivial, e desperte em nós a inclinação para o jogo da fantasia, o absurdo e a
vadiação de espírito. Claro que ele deve ser um cara confiável, ainda na
divagação. Não se compreende, ou não compreendo, cronista faccioso, que sirva a
interesse pessoal ou de grupo, porque a crônica é território livre da
imaginação, empenhada em circular entre os acontecimentos do dia, sem procurar
influir neles. Fazer mais que isto seria pretensão descabida de sua parte. Ele
sabe que seu prazo de atuação é limitado: minutos no café da manhã ou à espera
do coletivo.
Entendendo
o texto
Com base no texto, assinale a única alternativa correta.
1. Segundo o que se depreende do texto, para Drummond, a crônica poderia ser
caracterizada como:
a. uma atividade literária em prosa, veículo de notícias sobre fatos da
atualidade.
b. uma atividade jornalística, isto é, noticiário científico ou literário,
apresentado em linguagem simples e agradável.
c. uma atividade literária que visa menos à
especificidade e profundidade do assunto e mais ao entretenimento do leitor.
d. uma reportagem disfarçada, pois nela não se percebe “o nervosismo saltitante
do repórter”.
e. uma reportagem, embora camuflada em atividade literária, na qual o
jornalista não deve ser faccioso.
2. Segundo Drummond, não é exato
afirmar que:
a. a crônica (geral) deve ser fruto da fantasia e da vadiagem de espírito do
cronista, embora não deva tratar de trivialidades.
b. o cronista geral não é obrigado a posicionar-se corretamente diante dos
grandes problemas.
c. embora haja cronistas especializados em economia,
finanças, etc., o cronista geral não é obrigado a ser especialista em determinado
assunto.
d. o cronista geral não pode ser confundido com repórter, porque este
visa à apuração de fatos, enquanto aquele deve “circular entre os acontecimentos
do dia”.
e. o cronista geral deve ser confiável, embora não precise entender de nada, ao
falar de tudo.
3. Assinale a alternativa em que as duas expressões dadas, não se relacionam
com o modelo de crônica apresentada por Drummond:
a. paletó-e-gravata; ponto de vista não ortodoxo.
b. nervosismo saltitante; território livre da imaginação.
c. prazo de atuação limitado; ponto de vista não trivial.
d. informação ou comentário preciso; apuração imediata
do fato.
e. inclinação para o jogo da fantasia; especialização suada.
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