quarta-feira, 13 de abril de 2022

CONTO: NININHO DE ANTÔNIO DE AFONSO - ZÉLIA CAVALCANTI - COM GABARITO

 CONTO: NININHO DE ANTÔNIO DE AFONSO

              Zélia Cavalcanti

    Nininho sou eu. De batismo sou João e de conhecimento sou Nininho de Antônio de Afonso. Antônio que era meu pai, Afonso que era meu avô. Os nomes que a gente vai recebendo na vida.

          De certa feita, fiquei tanto tempo postado aqui nessa beira que o povo saiu dizendo que eu tinha endoidado. Nada. Eu tava na pasmaceira das lembranças da mocidade.

          Água de rio faz assim comigo. Me deixa manso. Me traz recordação do tempo em que andei lá pelas terras de São Paulo. Pela cidade grande. Tempo doido, quando aprendi, de lá de longe, a gostar mais ainda da minha terra, do meu rio, da sombra debaixo da ponte.

           Foi Meu-Tio-Moura quem me guentou um ano e qualquer coisa lá na capital. Tio de verdade, acho que nem era. Só contraparente com casa própria e emprego garantido. Daí que quem se largasse aqui das bandas do Inhambupe pra tentar sorte por lá, levava um anotado que dizia: “Seu Moura – Rua Emerina, 53 – Jabaquara”.

           Antes de ser de maior, nem chegara aos dezessete e ficou acertado que na semana seguinte eu tomava o caminhão de seu Janu. Como não tinha cabeça pra escola, ia tentar a sorte em São Paulo. Era o que meu pai dizia. Não queria que ficasse homem-feito sem profissão. Sem ter do que ganhar a vida, na beira do rio como ele, pescando pra ter do que comer.

          Eu não queria. Tinha medo.

          Ele falou, eu fui.

          Fiquei azoado uns três dias antes de juntar o pouco que tinha de meu, despedir do pai, da mãe e dos manos, e pegar coragem pra subir na boleia do caminhão. Passar pelas roças mais distantes e apanhar os companheiros de viagem. Homem, mulher, criança, velho. Famílias inteiras.

          Dez dias. Em pé, atracado nas grades. Cansava. Sentava nos sacos de farinha de mandioca que seu Janu levava entre os rolos de fumo, a tapioca, os vidros de dendê. Sol a pino. Se chovia a gente abria lona e jogava sobre as traves.

          Era a primeira vez que eu viajava num pau-de-arara. A segunda foi quando voltei pra cá.

         Enquanto o caminho passava pelas rodas do caminhão eu ia pensando, botando a cabeça pra imaginar como era essa tal de São Paulo. Seu Né da farmácia dizia que até a capital era pequena perto dela, mas eu não conseguia acreditar.

           Maior que Salvador da Bahia? Parecia lorota. Mas seu Né não ia inventar, era homem estudado, sabia das coisas, lia nos livros, não ia mentir pra mim.

           Era verdade e eu ia indo.

           Passei toda a viagem calado, acuado num canto, querendo que aquela estrada não acabasse nunca. Vez por outra me subia um frio pela espinha, as pernas ficavam moles, a barriga gasturava.

          Cheguei. Além do chapéu de couro, da alpercata de sola de pneu e da roupa do corpo, o resto dos trens vinha no meu malotão. Daí que Meu-tio-Moura nem precisou alugar um carro. Fomos mesmo de marinete pra casa.

          Fiquei muitos dias sem sair pra rua. Ia só até a ponta da calçada. Tinha medo de me perder naquele mundaréu de cidade!

          [...]

          A casa vivia cheia de gente da gente. Povo que vinha do Norte e trazia farinha, doce cristalizado de cidra, de jenipapo, de caju, de figo miúdo, de araçá-goiaba. A parentada mandava porque sabia que por lá era difícil encontrar dessas coisas que quem é daqui fica triste se não tem. Chegava de um tudo até carne-do-sol, camarão seco, castanha assada na brasa, cocada-puxa.

           Fim de semana sempre parecia de festa. Almoço grande, sábado e domingo.

           Na vitrola, tia botava música que me ajudava a não esquecer dos arrasta-pés aqui da terra. O Rei do Baião Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Almira. Era uma alegria. Parecia que eu tinha saído de casa. A comida cheirava à cozinha de minha avó. Moqueca, vatapá. Cururu pra Cosme e Damião. Sarapatel. Carne-seca com jerimum. Baião-de-dois. Cada domingo uma gostosura.

            [...]

            Vez por outra tinha carta até pra mim. Era a tia Dá quem lia porque eu não me acertava direito com o dizer das letras.

            Ouvindo as notícias do meu povo eu nem dava pó mim, esquecido que tinha ido pra São Paulo me fazer na vida.

             Se fazer na vida! Tá aí uma coisa difícil. De estudo, tinha pouco. De conhecimento na vida, um pouco de motor de caminhão, outro tanto de plantar mandioca, colher e enrolar fumo.

             Olhando meu pai, desde que me entendi por gente, aprendi de um tudo, pouco. Mas, disso tudo, nada me ajudou na cidade grande.

            Já tinha seis meses da minha chegada.

           Tio me pôs pra trabalhar num campo de futebol de time grande, importante. Eu ficava ali apanhando as bolas nos jogos de treino. Fiquei pouco tempo. Arranjaram um outro moleque mais “ligeiro e menos matuto”, disse o diretor.

           Sem emprego, voltei a passar os dias limpando os canteiros do jardinzinho da tia, olhando as brincadeiras dos meninos na rua, preparando as leiras de verdura e cuidando das árvores de frutas que tio mantinha no quintal da casa. Eu gostava de ficar ali dentro do pedaço da minha terra que cabia dentro da cidade grande.

            A lufa-lufa no comércio me punha azoado.

            Se ia cumprir um mandado de tia, mesmo que fosse num lugar bem conhecido, na casa de uma amizade dela ou dos meninos, ia e vinha correndo.

           Quando tinha de ir pelas ruas cheias, seguia as passadas de tio que nem um busca-pé. Nem apreciava os passantes. Nem arriscava o olho nas coisas que as lojas mostravam. Queria logo voltar pra casa. Tinha medo de me perder, de ficar sozinho no meio de tanto desconhecimento.

            Quanto mais o tempo andava mais eu sentia que não ia dar certo pra mim, ficar na cidade grande. Vivia de susto em susto, acanhado, desassossegado.

            Tudo que aprendia, nada que eu via, fazia deixar de pensar na minha terra, na calmaria do rio, na minha beira.

            A cidade grande não me ensinou do trabalho, nem das palavras, nem das riquezas. Do medo que sentia das coisas que não conhecia, aprendi que fui feito homem pra viver aqui, pra roça e pro rio. Pra comer carne-do-sol de manhãzinha, quentar sol na escadaria da igreja, ouvir os causos de seu Pedrito lá na rua do Comércio, trabalhar no que sei e no que posso.

            Tem homem que a vida faz pra viver na cidade grande.

             Não eu.

 

(In: Heloísa Pietro, org. O livro dos medos. São Paulo, Companhia das Letrinhas, 2001)

 

Vieira, Maria das Graças – Ler, entender, criar: Língua portuguesa: 5ª série -manual do professor / São Paulo: Ática, 2005. p.58-63.

 Compreensão do texto

 01. Logo no primeiro parágrafo, Nininho, o narrador-personagem, se apresenta:

“De batismo sou João e de conhecimento sou Nininho de Antônio de Afonso.”

O que você entende pela expressão de conhecimento?

Que o nome pelo qual ele era conhecido por todos era Nininho de Antônio de Afonso.

02. A respeito da cidade onde Nininho morava, responda:

a)   É uma cidade grande ou pequena? Como você chegou a essa conclusão?

Conclui que é uma cidade pequena, já que todos se conhecem pelo nome. Além disso, a reação de Nininho diante do tamanho da cidade de São Paulo revela que ele vivia em um lugar bem menor.

b)   Em que estado brasileiro ela se localiza?

Bahia.

c)   Copie o trecho de onde você tirou essas informações.

“Seu Né da farmácia dizia que até a capital era pequena perto dela [...] Maior que Salvador da Bahia.”

03. Por que Nininho deixou sua cidade e partiu para a cidade grande?

Porque “não tinha cabeça pra escola”, e seu pai não queria que ele se tornasse um adulto sem profissão, pescando para ter o que comer.

04. Leia:

“Era a primeira vez que eu viajava num pau-de-arara”.

a)   O que é um pau-de-arara? Se não conseguirem chegar a uma conclusão, consultem o dicionário.

Caminhão coberto. Com varas longitudinais na carroceria, nas quais os passageiros se seguram. Meio de transporte comumente usado pelos retirantes nordestinos.

 

b)   O que o fato de Nininho ter viajado em um pau-de-arara revela sobre a situação financeira de sua família?

Resposta pessoal.

Sugestão: A família era pobre.

c)   Por que vocês acham que as pessoas viajam nas condições mostradas pelo texto?

Resposta pessoal.

05.  Observe:

“Nininho sou eu.”

a)   Quem é o autor do texto?

Zélia Cavalcanti.

b)   Em que pessoa gramatical o texto está escrito?

Na primeira pessoa do singular.

c)   Quem narra os acontecimentos?

Nininho.

d)   Quem é a principal personagem?

Nininho.

06. Nininho partiu para São Paulo para “se fazer na vida”. Ele conseguiu alcançar esse objetivo? Em que trechos isso fica claro?

Não. “Quando mais o tempo andava [...] desassossegado”; “A cidade grande não me ensinou do trabalho [...] pra roça e pra rio”.

 

07. O que, principalmente, Nininho aprendeu em sua viagem a São Paulo?

Aprendeu a gostar mais ainda de sua terra e que não fora feito para viver na cidade grande.

08. Nininho sentia muito medo na cidade grande. Você costuma sentir medos? Isso impede você de fazer alguma coisa?

Resposta pessoal.

 

 

 

 

 

 

 

POEMA: CORDEL DO PLANETA COLORIDO - JOSÉ PAES DE LIRA - COM GABARITO

 

CORDEL DO PLANETA COLORIDO

                        José Paes de Lira


 A cidade de Serginho

Fica na beira do mar

Lá tem barco, peixe e coco

E areia pra brincar

Na cidade de João

Tem prédio, tem caminhão

E parque pra passear

 

Na cidade de Elvira

Tem bichos, plantas e lua

Raí mora na fazenda

E corre com a pele nua

Já o menino sem nome

Vivendo morrendo de fome

E sua casa é a rua

 

Todos moram no planeta

Numa galáxia crescida

Pendurada no espaço

Uma bola colorida

Água, fogo, terra e ar

Nunca para de rodar

A grande casa da vida

 

                                  (Folha de S.Paulo, 30/11/2002.)

Vieira, Maria das Graças – Ler, entender, criar: Língua portuguesa: 5ª série -manual do professor / São Paulo: Ática, 2005. p. 105/106.

 

Entendendo o texto

01. De que se trata o poema?

Mostra que todos nós moramos no mesmo planeta. 

02. Quantas estrofes e quantos versos tem o Cordel?

Três estrofes e vinte e um versos. 

03. Quem são os personagens?

Serginho, João, Elvira, Raí e o menino sem nome. 

04.  O texto não dá muitas informações sobre Serginho, João, Elvira, Raí e o menino sem nome.

O que diferencia?

O lugar onde eles vivem. 

05.  E o que essas personagens têm em comum e que as iguala?

O fato de viverem no mesmo planeta, a Terra. 

06.  A qual planeta e a qual galáxia o poeta se refere nos dois primeiros versos da terceira estrofe?

Ao planeta Terra, que faz parte da galáxia chamada Via Láctea.

 

 

 

quarta-feira, 6 de abril de 2022

TEXTO: A ORIGEM DO TEATRO - LINDOMAR DA SILVA ARAÚJO - SUJEITO E PREDICADO - COM GABARITO

     TEXTO: A origem do teatro

    O teatro teve sua origem no século VI a.C., na Grécia, surgindo das festas dionisíacas realizadas em homenagem ao deus Dionísio, deus do vinho, do teatro e da fertilidade. Essas festas, que eram rituais sagrados, procissões e recitais que duravam dias seguidos, aconteciam uma vez por ano, na primavera, períodos em que se fazia a colheita do vinho naquela região.

      O teatro grego que hoje conhecemos surgiu, segundo historiadores, de um acontecimento inusitado. Quando um participante desse ritual sagrado resolve vestir uma máscara humana, ornada com cachos de uvas, sobe em seu tablado em praça pública e diz: “Eu sou Dionísio!”. Todos ficam espantados com a coragem desse ser humano de colocar-se no lugar de um deus, ou melhor, de fingir ser um deus, coisa que até então não havia acontecido, pois um deus era para ser louvado, era um ser intocável. Esse homem chamava-se Téspis, considerado o primeiro ator da história do teatro ocidental.

      Ele arriscou transformar o sagrado em profano, a verdade em faz de conta, o ritual em teatro; pela primeira vez, diante de outros, mostrou que poderíamos representar o outro. Esse acontecimento é o marco inicial da ação dramática.

    Paralelos a esse acontecimento sociocultural, vão surgindo os prédios teatrais gregos, que eram construções ao ar livre, formadas em encostas para facilitar o escalonamento das arquibancadas. O prédio teatral grego era formado, basicamente, da seguinte estrutura: arquibancada, orquestra, thumelê, proscênio e palco.

       A arquibancada era feita de pedras e sua utilização pelos cidadãos gregos era democrática, dali todos podiam assistir com a mesma qualidade de visão às tragédias, às comédias e às sátiras. A orquestra era o espaço central circular onde o coro, formado por dançarinos, se apresentava. O thumelê era uma pedra fincada no centro da orquestra destinada às oferendas para o deus Dionísio. O proscênio destinava-se ao corifeu, líder do coro, era o espaço entre o palco e a orquestra, e o palco, construído inicialmente de madeira e mais tarde em pedra, era o espaço destinado à exposição dos cenários e para troca de figurinos e máscaras. Podemos encontrar diferentes vestígios dessa cultura artística em nosso teatro contemporâneo, bastando um estudo aprofundado por diferentes olhares estéticos.

 ARAÚJO, Lindomar da Silva. História do teatro. Disponível em: . Acesso em: 15 nov. 2017

Fonte: Maxi: ensino fundamental 2:multidisciplinar:6 º ao 9º ano/obra coletiva: Thais Ginicolo Cabral. 1.ed. São Paulo: Maxiprint,2019.7º ano p.83/84.

Entendendo o texto

01. Segundo o texto, o teatro grego que hoje conhecemos surgiu de um acontecimento inusitado. Considere o prefixo in-, cujo significado você já conhece, e assinale o sentido que a palavra inusitado apresenta no texto.

a) Que não é comum.

b) Que não é incomum.

c) Que não está dentro da lei.

d) Que está dentro do que é comum.

e) Que está dentro do que é incomum.

02. Explique por que a atitude de Téspis foi considerada inusitada.      Os deuses eram seres intocáveis, assim, quando Téspis colocou-se no lugar deles, todos ficaram espantados com sua coragem, pois alguém fingir ser um deus era algo que nunca havia acontecido, não era comum.

03. Indique o sujeito e o predicado das orações a seguir.

a)   O teatro teve sua origem no século VI a.C.

Sujeito: O teatro.

Predicado: teve sua origem no século VI. a.C.

b)   Essas festas duravam dias seguidos.

 Sujeito: Essas festas.

Predicado: duravam dias seguidos.

c)   Ele transformou o teatro.

Sujeito: Ele.

Predicado: transformou o teatro.

d)   Esse acontecimento é o marco inicial da ação dramática.

Sujeito: Esse acontecimento.

Predicado: é o marco inicial da ação dramática.

e)   O proscênio destinava-se ao líder do coro.

Sujeito: O proscênio.

Predicado: destinava-se ao líder do coro.

f)     Assim, surgiram os prédios teatrais gregos.

Sujeito: os prédios teatrais gregos.

Predicado: Assim, surgiram.

CRÔNICA: PEÇA INFANTIL - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: Peça infantil

              Luís Fernando Veríssimo

          A professora começa a se arrepender de ter concordado (“Você é a única que tem temperamento para isso”) em dirigir a peça quando uma das fadinhas anuncia que precisa fazer xixi. É como um sinal. Todas as fadinhas decidem que precisam, urgentemente, fazer xixi.

      — Está bem, mas só as fadinhas — diz a professora.

      — E uma de cada vez! Mas as fadinhas vão em bando para o banheiro.

     — Uma de cada vez! Uma de cada vez! E você, aonde é que pensa que vai?

     — Ao banheiro.

     — Não vai não.

     — Mas tia.

     — Em primeiro lugar, o banheiro já está cheio. Em segundo lugar, você não é fadinha, é caçador. Volte para o seu lugar. Um pirata chega atrasado e com a notícia de que sua mãe não conseguiu terminar a capa. Serve a toalha?

      — Não. Você vai ser o único de capa branca. É melhor tirar o tapa-olho e ficar de anão. Vai ser um pouco engraçado, oito anões, mas tudo bem. Por que você está chorando?

      — Eu não quero ser anão.

      — Então fica de lavrador.

      — Posso ficar com o tapa-olho?

      — Pode. Um lavrador de tapa-olho. Tudo bem.

      — Tia, onde é que eu fico?

      É uma margarida.

      — Você fica ali.

      A professora se dá conta de que as margaridas estão desorganizadas.

      — Atenção, margaridas! Todas ali. Você não. Você é coelhinho.

       -  Mas o meu nome é Margarida.

     — Não interessa! Desculpe, a tia não quis gritar com você. Atenção, coelhinhos. Todos comigo. Margaridas ali, coelhinhos aqui. Lavradores daquele lado, árvores atrás. Árvore, tira o dedo do nariz. Onde é que estão as fadinhas? Que xixi mais demorado.

      — Eu vou chamar.

      — Fique onde está, lavrador. Uma das margaridas vai chamá-las.

      — Já vou.

      — Você não, Margarida! Você é coelhinho. Uma das margaridas. Você. Vá chamar as fadinhas. Piratas, fiquem quietos.

      — Tia, o que é que eu sou? Eu esqueci o que eu sou.

         — Você é o sol. Fica ali que depois a tia... Piratas, por favor! As fadinhas começaram a voltar. Com problemas. Muitas se enredaram nos seus véus e não conseguem arrumá-los. Ajudam-se mutuamente, mas no seu nervosismo só pioraram a confusão.

        — Borboletas, ajudem aqui — pede a professora. Mas as borboletas não ouvem. As borboletas estão etéreas. As borboletas fazem poses, fazem esvoaçar seus próprios véus, não ligam para o mundo. A professora, com a ajuda de um coelhinho amigo, de uma árvore e de um camponês, desembaraça os véus das fadinhas.

       — Piratas, parem. O próximo que der um pontapé vai ser anão. Desastre: quebrou uma ponta da lua.

       — Como é que você conseguiu fazer isso? — perguntou a professora sorrindo, sentindo que o seu sorriso deve parecer demente.

       — Foi ela! A acusada é uma camponesa [...] que gosta de distribuir tapas entre os seus inferiores.

       — Não tem remédio. Tira isso da cabeça e fica com os anões.

       — E a minha frase? A professora tinha esquecido. A Lua tem uma fala.

       — Quem diz a frase da Lua é, deixa eu ver... O relógio.

       — Quem?

       — O relógio. Cadê o relógio?

       — Ele não veio.

       — O quê?

       — Está com caxumba.

      — Ai, meu Deus. Sol, você vai ter que falar pela Lua. Sol, está me ouvindo?

       — Eu?

       — Você, sim senhor. Você sabe a fala da Lua?

       — Me deu uma dor de barriga.

       — Essa não é frase da Lua.

       — Me deu mesmo, tia. Tenho que ir embora.

       — Está bem, está bem. Quem diz a frase da Lua é você.

       — Mas eu sou caçador.

       — Eu sei que você é caçador! Mas diz a frase da Lua! E não quero discussão!

       — Mas eu não sei a frase da Lua.

       — Piratas, parem!

       — Piratas, parem. Certo.

       — Eu não estava falando com você. Piratas, de uma vez por todas... A camponesa [...] resolve tomar a justiça nas mãos e dá um croque num pirata. A classe é unida e avança contra a camponesa, que recua, derrubando uma árvore. As borboletas esvoaçam. Os coelhinhos estão em polvorosa. A professora grita: — Parem! Parem! A cortina vai abrir. Todos a seus lugares. Vai começar!

       — Mas, tia, e a frase da Lua?

       — “Boa noite, Sol”.

       — Boa noite.

       — Eu não estou falando com você!

       — Eu não sou mais o Sol?

       — É. Mas eu estava dizendo a frase da Lua. “Boa noite, Sol.”

       — Boa noite, Sol. Boa noite, Sol. Não vou esquecer. Boa noite, Sol...

      — Atenção, todo mundo! Piratas e anões nos bastidores. Quem fizer um barulho antes de entrar em cena, eu ... Coelhinhos nos seus lugares. Árvores, para trás. Fadinhas, aqui. Borboletas, esperem a deixa. Margaridas, no chão.

        Todos se preparam.

        — Você não, Margarida! Você é coelhinho!

        Abre o pano.

VERISSIMO, Luís Fernando. Peça infantil. In: Para Gostar de Ler Júnior. São Paulo: Ática, 2005. (Adaptado.)

Fonte: Maxi: ensino fundamental 2:multidisciplinar:6 º ao 9º ano/obra coletiva: Thais Ginicolo Cabral. 1.ed. São Paulo: Maxiprint,2019.7º ano p.68 a 71.

Entendendo o texto

01.  Releia a crônica e aponte:

a)   os personagens.

São as crianças e a professora.

b)   o espaço.

Apresenta a escola como espaço.

c)   o tempo.

O tempo é cronológico, pois os fatos acontecem em sequência.

d)   à situação inicial.

É a preparação para apresentação de uma peça na escola.

e)   o conflito.

O conflito é vivido pela professora, que se arrepende em ter concordado em dirigir a peça, já que é difícil controlar a organização das crianças.

f)     o clímax.

O clímax se mistura ao desfecho no momento em que as cortinas se abrem. Não é possível saber o resultado da apresentação da peça.

g)   o desfecho.

Não é possível saber o desfecho.

02.  O que promove o humor do texto Peça infantil?

   As várias situações provocadas pelas crianças (típicas da idade em que estão) e o fato de a professora perder o controle da turma e se desesperar minutos antes de a peça começar.

03.  Esse texto é composto por

 a) linguagem verbal.

 b) linguagem não verbal.

 c) linguagem verbal e não verbal.

   


segunda-feira, 4 de abril de 2022

TEXTO/DISSERTAÇÃO EM PROSA: PRECISA-SE DE CIDADÃOS - COM QUESTÕES GABARITADAS

 TEXTO/DISSERTAÇÃO EM PROSA: PRECISA-SE DE CIDADÃOS

         Cientistas políticos notaram que a consolidação das instituições democráticas acaba diminuindo a frequência de plebiscitos ou outras formas de participação política popular extraeleitoral. O fato foi tomado, incorretamente, por muitos, como a superação gradual da participação política, que nos levaria ao surgimento de tecnocracias; a realidade, porém, é outra: não há diminuição da relevância da participação política, ocorre que a solidificação democrática refina essa participação, aumentando o poder e a importância do voto, claramente indicando a indispensabilidade das eleições.

          Em uma realidade globalizada, neoliberal, vemos emergir o capital como dirigente da organização social, seja através da política “tradicional” com os “lobbies” promovidos por grandes corporações, ou pela influência midiática dos anunciantes. A incapacidade dos governos atuais de balancear os interesses do bem comum, equilibrando as liberdades capitalistas com as necessidades das camadas sociais mais baixas cria uma população cética perante as instituições políticas em geral.

           A “despolitização” (Brecht chamaria de “analfabetização”) da sociedade aumenta o vácuo entre as ações estatais e a vontade do povo, deixando o homem médio à mercê do corporativismo: afastado da política, ele perde sua única possibilidade de defender seus interesses e direitos, bem como sua última chance de alterar (ou ao menos discutir) a ordem vigente e, consequentemente, sua realidade diária.

            Entendendo-se a política como busca do bem comum, como a defesa dos pequenos contra os maiores, da supremacia do justo sobre o injusto, como desejo do equilíbrio entre interesses e direitos diversos, rejeitando estender um laissez-faire a todas as questões sociais e a barbárie a que seríamos levados, vislumbra-se a participação política não apenas como um direito cada vez mais importante, mas também como uma necessidade imprescindível, um dever.

Faraco, Carlos Emílio Língua portuguesa:linguagem e interação / Faraco, Moura, Maruxo Jr. -- 3. ed. -- São Paulo : Ática, 2016.p.287/288.

  COMPREENSÃO DO TEXTO

 01.               Você já tirou seu título eleitoral? Já exerceu o direito de voto alguma vez?

Resposta pessoal.

 02.               Você concorda com as ideias do enunciador do texto de que o voto é indispensável para garantir a participação política? Por quê?

Resposta pessoal.

 03.               Além do voto, quais outras maneiras de participação social e política você vislumbra existirem na sociedade brasileira?

Resposta pessoal.

 04.Alguns termos do texto referem-se a conceitos específicos de ciência política. Valendo-se de seus conhecimentos, da leitura do texto e da observação atenta dos diferentes contextos de utilização das palavras indicadas abaixo, tente formular para cada uma delas uma definição que funcione no contexto em que foram empregadas. Caso não consiga formular essa explicação para algum termo, deixe-o de lado por enquanto.

 a)   Plebiscito

 Consulta feita diretamente ao povo, por meio de uma pergunta que exige como resposta sim ou não.

b)   Extraeleitoral

Que está além ou fora do processo eleitoral.

c)   Tecnocracia

Sistema de organização baseado nos técnicos.

d)   Neoliberal

Referente ao neoliberalismo, doutrina que prevê liberdade de mercado e intervenção mínima do Estado nas relações econômicas e de produção.

e)   Lobbies

Forma de pressão de grupos organiza[1]dos da sociedade sobre agentes da esfera pública.

f)     Despolitização

Eliminação do caráter político.

g)   Corporativismo

Defesa dos próprios interesses profissionais.

h)   Laissez-faire

Não intervenção absoluta.