sexta-feira, 10 de março de 2017

CONTO: ZAP - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

CONTO – ZAP
                  Moacyr Scliar

          Não faz muito que temos esta nova TV com controle remoto, mas devo dizer que se trata agora de um instrumento sem o qual eu não saberia viver. Passo os dias sentado na velha poltrona, mudando de um canal para outro – uma tarefa que antes exigia certa movimentação, mas que agora ficou muito fácil. Estou num canal, não gosto – zap, mudo para outro. Não gosto de novo – zap, mudo de novo. Eu gostaria de ganhar em dólar num mês o número de vezes que você troca de canal em uma hora, diz minha mãe. Trata-se de uma pretensão fantasiosa, mas pelo menos indica disposição para o humor, admirável nessa mulher.
          Sofre, minha mãe. Sempre sofreu: infância carente, pai cruel, etc. mas o seu sofrimento aumentou muito quando meu pai a deixou. Já faz tempo; foi logo depois que nasci, e estou agora com treze anos. Uma idade em que se vê muita televisão, e em que se muda de canal constantemente, ainda que minha mãe ache isso um absurdo. Da tela, uma moça sorridente pergunta se o caro telespectador já conhece certo novo sabão em pó. Não conheço nem quero conhecer, de modo que – zap – mudo de canal. “Não me abandone, Mariana, não me abandone!” Abandono, sim. Não tenho o menor remorso, em se tratando de novelas: zap, e agora é um desenho, que eu já vi duzentas vezes, e – zap – um homem falando. Um homem, abraçado à guitarra elétrica, fala a uma entrevistadora. É um roqueiro. Aliás, é o que está dizendo, que é um roqueiro, que sempre foi e sempre será um roqueiro. Tal veemência se justifica, porque ele não parece um roqueiro. É meio velho, tem cabelos grisalhos, rugas, falta-lhe um dente. É o meu pai.
          É sobre mim que fala. Você tem um filho, não tem? Pergunta a apresentadora, e ele, meio constrangido – situação pouco admissível para um roqueiro de verdade -, diz que sim, que tem um filho, só que não o vê há muito tempo. Hesita um pouco e acrescenta: você sabe, eu tinha de fazer uma opção, era a família ou o rock. A entrevistadora, porém, insiste (é chata, ela): mas o seu filho gosta de rock? Que você saiba, seu filho gosta de rock?
          Ele se mexe na cadeira; o microfone, preso à desbotada camisa, roça-lhe o peito, produzindo um desagradável e bem audível rascar. Sua angústia é compreensível; aí está, num programa local e de baixíssima audiência – e ainda tem de passar pelo vexame de uma pergunta que o embaraça e à qual não sabe responder. E então ele me olha. Vocês dirão que não, que é para a câmera que ele olha; aparentemente é isso, aparentemente ele está olhando para a câmera, como lhe disseram para fazer; mas na realidade é a mim que ele olha, sabe que em algum lugar, diante de uma tevê, estou a fitar seu rosto atormentado, as lágrimas me correndo pelo rosto; e no meu olhar ele procura resposta à pergunta da apresentadora: você gosta de rock? Você gosta de mim? Você me perdoa? – mas aí comete um erro, um engano mortal: insensivelmente, automaticamente, seus dedos começam a dedilhar as cordas da guitarra, é o vício do velho roqueiro, do qual ele não pode se livrar nunca, nunca. Seu rosto se ilumina – refletores que se acendem? – e ele vai dizer que sim, que seu filho ama o rock tanto quanto ele, mas nesse momento – zap – aciono o controle remoto e ele some. Em seu lugar, uma bela e sorridente jovem que está – à exceção do pequeno relógio que usa no pulso – nua, completamente nua.

              SCLIAR, Moacyr. Zap. Em: MORICONI, Ítalo. Os cem melhores contos
                        Brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. P.555-556.
Entendendo o texto
a)    O que significa o termo zap, que dá título à história? Corresponde àquilo que você imaginou antes de ler o texto?
O termo zap, no contexto em que foi usado, indica a mudança rápida dos canais de televisão por meio do controle remoto.

b)    Há nesse texto palavras que você não conheça ou que não tenha entendido? Escreva-as aqui e procure no dicionário os significados adequados ao contexto em que estão sendo usadas.
Resposta pessoal.

c)    Sobre o que é essa história? Você gostou dela? Por quê?
A história traz um menino de 13 anos narrando sua relação com a televisão, com sua mãe e seu pai; este, em dado momento, aparece na tela. A segunda parte da resposta é pessoal.

d)    Na história, o narrador vai mudando de canal até que algo surpreendente acontece. Esse é o ponto em que há uma mudança no curso da narrativa. Que fato é esse?
O menino vê seu pai dando uma entrevista em um dos canais de televisão.

e)    Releia este trecho e responda ao que pede a seguir: “Sua angústia é compreensível; aí está, num programa local e de baixíssima audiência – e ainda tem de passar pelo vexame de uma pergunta que o embaraça e à qual não sabe responder”.
1 – A que pergunta o pai do narrador não sabe responder?
Se o filho gosta ou não de rock.

2 – Por que o pai não sabe essa resposta?
Porque não vê o filho há muito tempo e não conhece os gostos do menino.

3 – Como parece ser a relação entre o pai e o filho?
Parece ser distante, fria. Os dois parecem não ter contato algum, e o pai, que é roqueiro, não sabe se seu filho aprecia esse gênero musical.

f)     O texto retrata uma situação que pode ocorrer em algumas famílias. Que situação é essa? Qual é a sua opinião sobre esse assunto?
O texto mostra a situação em que os filhos são criados sem contato com seus pais. A segunda parte da resposta é pessoal.

g)    O garoto espera que o pai lhe diga algumas palavras pela televisão. O que o pai faz e qual é a reação do filho?
O pai começa a dedilhar a guitarra e seu rosto se ilumina, como se ele fosse dizer que sim, que seu filho gosta de rock, mas o garoto muda de canal novamente, sem ver a resposta do pai.

h)   Você conhece histórias parecidas com a relatada no texto lido? Exponha sua opinião sobre esse assunto aos colegas e ouça com atenção o ponto de vista deles.
Resposta pessoal.


24 comentários:

  1. Muito bom saber que podemos contar com a sua colaboração em nossos trabalhos de português, abraço, Elias

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  2. Gostei muito esse texto relata uma história que acontece no dia dia de muita gente!!

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  3. Boa tarde!Nesse texto, como posso saber em que período essa história acontece?

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  4. Gente alguém saber me falar aki Qual Er Aah resposta número:8) Fazendo Favor Da Suas resposta Aer fazendo favor?

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    1. Alguem sabe mim fala qual a resposta do b ir do h por favor

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  5. MUITO OBRIGADA MIM AJUDOU MUITO MESMO 😘😘

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  6. Muito bom gostei, obrigada pela ajuda.

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  7. Não era isso que eu queria mas me ajudou um pouco, obrigado 😘👏👏

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  8. Muito bom o texto e às questões também. Ótimas para trabalhar com os alunos. obrigada!

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