terça-feira, 30 de março de 2021

REPORTAGEM: ESTUDO DE GENE DE LINGUAGEM REFORÇA TEORIA DA SEPARAÇÃO ENTRE HOMENS E CHIMPANZÉS - COM GABARITO

 Reportagem: Estudo de gene de linguagem reforça teoria da separação entre homens e chimpanzés

                  Nicholas Wade (traduzido do jornal The New York Times)

        Um estudo dos gnomas dos seres humanos e chimpanzés forneceu novas ideias sobre a origem da linguagem. Um dos atributos humanos mais distintos, a linguagem foi um passo fundamental na cadeia evolutiva. Segundo esse estudo, a linguagem foi, na escala de tempo evolucionária, um desenvolvimento muito recente, algo que ocorreu nos últimos 100.000 anos.

        A descoberta reforça uma teoria inovadora, proposta pelo Dr. Richard Klein, arqueólogo da Universidade Stanford (EUA). O pesquisador argumenta que o surgimento do comportamento humano moderno, há cerca de 50.000 anos, deu-se por importante modificação genética, provavelmente aquela que levou ao desenvolvimento da linguagem pela espécie.

        O novo estudo, desenvolvido pelo Dr. Svant Paabo e colaboradores, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária (Leipzig – Alemanha), se baseia na descoberta no ano passado do primeiro gene humano envolvido especificamente na linguagem.

        O gene foi identificado por meio de estudos em uma grande família londrina, famosa entre os linguistas. De seus 29 membros, 14 não conseguem articular a fala, mas são, de outra forma, normais.

        Uma equipe de biólogos moleculares, liderada pelo Dr. Anthony P. Monaco, da Universidade de Oxford (Inglaterra), identificou, em 2001, o gene que estava causando os problemas da família. Chamado de Foxp2, o gene regula a atividade de outros genes durante o desenvolvimento do cérebro. Presume-se, portanto, que tenha um papel no estabelecimento de um circuito neural para a linguagem, mas o mecanismo ainda não foi compreendido.

        A equipe de Paabo estudou a história evolucionária do Foxp2. Para isso, comparou sequências de DNA das versões do gene em camundongos, chimpanzés e outros primatas.

        Em artigo publicado on-line, na quinta-feira 8 de agosto, pela revista Nature, Paabo diz que o gene Foxp2 permaneceu basicamente inalterado durante a evolução dos mamíferos, mas sofreu súbita mudança nos seres humanos, depois que a linha de hominídeos separou-se da linha dos chimpanzés.

        As mudanças do gene humano, segundo os autores, afetam em dois pontos a estrutura da proteína que codifica. Um deles altera ligeiramente a forma da proteína; o outro dá a ela um novo papel no circuito de sinalização das células humanas.

        As mudanças indicam que o gene tem estado sob forte pressão evolucionária nos seres humanos. A forma humana do gene, com suas duas modificações, também parece ter se tornado universal na população, sugerindo que confere alguma vantagem essencial.

        Paabo alega que os humanos já deviam ter alguma forma de linguagem rudimentar antes de o Foxp2 ter sofrido as mutações. Ao conferir a habilidade de rápida articulação, o gene aprimorado pode ter se difundido na população, dando o toque final à linguagem verbal. “Talvez esse gene tenha conferido o aperfeiçoamento final da linguagem, tornando-a totalmente moderna”, disse Paabo.

        Os membros afetados da família londrina na qual a versão defeituosa do Foxp2 foi descoberta possuem alguma linguagem rudimentar. Sua principal dificuldade parece estar na falta de controle mais fino dos músculos da garganta e da boca, necessários para a fala rápida. No entanto, os membros afetados apresentam muitas dificuldades tanto em testes escritos, quanto nos orais, sugerindo que o gene defeituoso causa problemas gramaticais, além dos de controle muscular.

        O genoma humano acumula constantemente, por mutações randômicas, modificações de DNA, que, contudo, raramente afetam a estrutura dos genes. Quando um novo gene difunde-se pela população, a diversidade genômica no período é reduzida por certo tempo, já que todo mundo possui o mesmo pedaço de DNA transferido com o novo gene. Ao medir a diversidade reduzida e outras características de um gene de vital importância, Paabo estimou a idade da versão humana do Foxp2 em menos de 120.000 anos.

        Paabo diz que sua estimativa aproximada encaixa-se com a teoria de Klein. Justificando o rápido aparecimento de novos comportamentos há 50.000 anos, incluindo arte, ornamentação e comércio de longa distância. Esqueletos humanos desse período são fisicamente iguais aos de 100.000 anos atrás, levando Klein a propor que alguma mudança cognitiva de base genética deve ter estimulado os novos comportamentos. A única mudança de magnitude suficiente, em sua opinião, teria sido a aquisição da linguagem pela espécie.

WADE, Nicholas. Estudo de gene de linguagem reforça teoria da separação entre homens e chimpanzés. Disponível em: http://www.uol.com.br/noticias Acesso em: 15 ago. 2002. Tradução de Deborah Weinberg.

Fonte: Português – Língua e Cultura. Carlos Alberto Faraco. Volume 1. 2. Ed. – Curitiba: Base Editorial, 2010. P. 95-7.

Entendendo a reportagem:

01 – Observe novamente como o texto é, no geral, bastante cauteloso nas afirmações que faz. Isso decorre das próprias características do trabalho científico. No fundo, todos os achados da ciência estão sempre sob o crivo da dúvida, isto é, eles podem ser modificados ou reinterpretados e até mesmo abandonados com o desenrolar das pesquisas.

Esse grau de incerteza e de abertura para novas possibilidades, característico do pensamento cientifico, é uma grande conquista histórica da humanidade. Com ele, foi possível assentar as bases de um pensamento não dogmático e definir um dos direitos fundamentais da pessoa humana – a liberdade de pensamento.

Muitas vezes esse grau de incerteza do trabalho cientifico não é percebido pelas pessoas. Resultado: toma-se uma afirmação cientifica como definitiva e inquestionável, como se o produto da ciência fosse um saber pronto e acabado.

Claro que as afirmações científicas têm uma certa força. Isso decorre do fato de que, na ciência, as afirmações têm de ser sustentadas com dados (não basta apenas afirmar). E mais: temos que apresentar dados que possam ser verificados por outros cientistas independentemente. Assim, as afirmações valem e sobrevivem (e têm força, portanto) enquanto é possível sustenta-las.

Isso posto, releia o texto identificando os vários elementos que expressam a cautela nas afirmações.

      2° / 5° / 8° / 10° / 13° parágrafos (provavelmente, presume-se, segundo os autores, parece, sugerindo, talvez, propor...).

02 – O texto é uma reportagem e, nesse sentido, é basicamente informativo. Ele nos traz informações sobre estudos de dois grupos de pesquisadores: o liderado pelo Dr. Anthony Monaco e liderado pelo Dr. Svant Paabo. Vamos localizar essas afirmações.

·        Sobre o grupo liderado pelo Dr. Anthony Monaco:

a)   Em que instituição o grupo trabalha?

5° parágrafo.

b)   Que tipo de profissionais compõe o grupo?

5° parágrafo.

c)   O grupo estudou uma determinada família londrina. Por quê?

4° parágrafo.

d)   Qual o resultado da pesquisa?

5° parágrafo.

e)   Que característica tem o gene Foxp2?

10° parágrafo.

f)    Em que ano a equipe chegou ao resultado?

5° parágrafo.

·        Sobre o grupo liderado pelo Dr. Svant Paabo:

a)   Em que instituição trabalha?

3° parágrafo.

b)   O grupo, partindo da descoberta da equipe do Dr. Monaco, buscou estabelecer o quê?

6° parágrafo.

c)   Como foi feita a pesquisa? E quais foram seus resultados?

6° parágrafo.

d)   Como a equipe do Dr. Paabo chegou à estimativa de idade da versão humana do Foxp2?

13° parágrafo.

e)   O texto diz que os resultados da pesquisa reforçam uma teoria proposta pelo Dr. Richard Klein. Qual é esta teoria; o que levou o seu autor a propô-la; e de que modo a pesquisa lhe dá reforço?

2° e 13° parágrafos.

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