quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

CRÔNICA: UMA LIÇÃO INESPERADA - JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA - COM GABARITO

 Crônica: Uma lição inesperada

                 João Anzanello Carrascoza

  No último dia de férias, Lilico nem dormiu direito. Não via a hora de voltar à escola e rever os amigos. Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às pressas, pegou sua mochila e foi ao encontro deles. Abraçou-os à entrada da escola, mostrou o relógio que ganhara de Natal, contou sobre sua viagem ao litoral. Depois ouviu as histórias dos amigos e divertiu-se com eles, o coração latejando de alegria.

      Aos poucos, foi matando a saudade das descobertas que fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes, daquele burburinho à beira do portão. Sentia-se como um peixe de volta ao mar. Mas, quando o sino anunciou o início das aulas, Lilico descobriu que caíra numa classe onde não havia nenhum de seus amigos.

      Encontrou lá só gente estranha, que o observava dos pés à cabeça, em silêncio. Viu-se perdido e o sorriso que iluminava seu rosto se apagou. Antes de começar, a professora pediu que cada aluno se apresentasse. Aborrecido, Lilico estudava seus novos companheiros. Tinha um japonês de cabelos espetados com jeito de nerd. Uma garota de olhos azuis, vinda do Sul, pareceu-lhe fria e arrogante. Um menino alto, que quase bateu no teto quando se ergueu, dava toda a pinta de ser um bobo. E a menina que morava no sítio? A coitada comia palavras, olhava-os assustada, igual a um bicho-do-mato. O mulato, filho de pescador, falava arrastado, estalando a língua, com sotaque de malandro. E havia uns garotos com tatuagens umas meninas usando óculos de lentes grossas, todos esquisitos aos olhos de Lilico. A professora? Tão diferente das que ele conhecera... Logo que soou o sinal para o recreio, Lilico saiu a mil por hora, à procura de seus antigos colegas. 

      Surpreendeu-se ao vê-los em roda, animados, junto aos estudantes que haviam conhecido horas antes. De volta à sala de aula, a professora passou uma tarefa em grupo. Lilico caiu com o japonês, a menina gaúcha, o mulato e o grandalhão. Começaram a conversar cheios de cautela, mas paulatinamente foram se soltando, a ponto de, ao fim do exercício, parecer que se conheciam há anos. Lilico descobriu que o japonês não era nerd, não: era ótimo em Matemática, mas tinha dificuldade em Português. A gaúcha, que lhe parecera tão metida, era gentil e o mirava ternamente com seus lindos olhos azuis. O mulato era um caiçara responsável, ajudava o pai desde criança e prometeu ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria. O grandalhão não tinha nada de bobo. Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele.       

       Lilico descobriu mais. Inclusive que o haviam achado mal-humorado quando ele se apresentara, mas já não pensavam assim. Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la. Devia saber tudo de passarinhos. Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto nas pessoas. Se ele descobrira aquilo no primeiro dia de aula, quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro? E, como um lápis deslizando numa folha de papel, um sorriso se desenhou novamente no rosto de Lilico.

João Anzanello Carrascoza

(Nova Escola, dez 2000.)

Fonte: Livro- Ler, entender, criar – Língua Portuguesa – 6ª série – Ed.Ática,2003.p.179/180.

Entendendo a crônica

1)   A leitura do texto permite identificar a expectativa de um menino no seu retorno ao primeiro dia de aula.

A palavra que contradiz essa expectativa é

         A) tédio.

         B) ansiedade.

         C) excitação.

         D) euforia.

         E) alegria.

 

2)Tomando como base o texto “Uma lição inesperada”, considere as afirmativas abaixo:

 I - É uma narrativa que possui como protagonista um menino.

 II – É um texto essencialmente descritivo, como se pode comprovar na passagem “Aos poucos, foi matando a saudade das descobertas que fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes...”

 III - Há predomínio de narrador personagem com características de onisciência.

 IV - As ações se desenvolvem num tempo cronológico e num espaço físico marcado por ambiente escolar e de relações interpessoais.

 Acerca das afirmações, observa-se que

A) apenas II é correta.

B) I, II e IV são corretas.

C) I e IV são corretas.

D) II e III são corretas.

E) todas as afirmativas são corretas.

 

3) A partir de uma leitura atenta do texto base, chega-se à conclusão de que há uma caracterização errônea das personagens em

A) o japonês - cabelos espetados com jeito de nerd.

B) a gaúcha - gentil e possuía lindos olhos azuis.

C) o mulato - um caiçara responsável.

D) o grandalhão – raciocínio rápido.

E) Lilico - mal humorado.

4) O narrador, ao descrever a menina que morava no sítio, além de utilizar a expressão “bicho do mato” diz que ela ‘comia palavras’. O objetivo pretendido pelo narrador, ao se utilizar desses recursos, foi de

A) mostrar a ignorância da menina.

B) demonstrar o medo sentido pela menina.

C) evidenciar o ambiente assustador da sala de aula.

D) enfatizar o comportamento dos colegas.

E) precisar o caráter tímido e calado da menina.

 

5) A opção que ilustra, adequadamente, o espaço físico em que se desenrola a narrativa é

A) “No último dia de férias...”

B) “De volta à sala de aula, a professora passou uma tarefa em grupo...”

C) “Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às pressas...”

D) “Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la”

E) “...quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro?”

 

6) Em “Sentia-se como um peixe de volta ao mar.”, a comparação grifada tem o mesmo valor de

A) em casa.

B) fora de casa.

C) um peixe.

D) desorientado.

E) como o mar.

7) Ao expressar a ideia no período “Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto nas pessoas.”, o narrador

A) demonstra sua aversão aos diferentes colegas de turma.

B) exulta as diferenças e sua aceitação no relacionamento com os colegas.

C) mostra que as diferenças eram um empecilho nas relações com os colegas.

D) mostra que o encanto dos colegas não está nas diferenças.

E) demonstra repúdio e asco contra os colegas.

 

8) No trecho: “Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la.”, os verbos destacados possuem correspondência semântica em

A) virou, memorizou.

B) refletiu, viu.

C) observou, refletiu.

D) virou, observou.

E) refletiu, memorizou.

9) Lilico descobriu que todos tinham características positivas e, portanto, cada um tinha uma contribuição importante no grupo.

A) O que menina que morava no sítio tinha a oferecer para a turma?

      Ensinar tudo sobre os passarinhos.

B) E o colega alto?

     Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele.

C) E o mulato, filho de pescadores, o que poderia dar aos meninos da turma?

    Ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria.

D) O que o surpreendeu na garota gaúcha?

      Que não era metida, e sim gentil e o mirava ternamente com seus lindos olhos.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

POEMA: O BOI - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 POEMA: O BOI

  Carlos Drummond de Andrade

Ó solidão do boi no campo,
ó solidão do homem na rua!
Entre carros, trens, telefones,
entre gritos, o ermo profundo.

Ó solidão do boi no campo,
ó milhões sofrendo sem praga!
Se há noite ou sol, é indiferente,
a escuridão rompe com o dia.

Ó solidão do boi no campo,
homens torcendo-se calados!
A cidade é inexplicável
e as casas não têm sentido algum.

Ó solidão do boi no campo!
O navio-fantasma passa
em silêncio na rua cheia.
Se uma tempestade de amor caísse!
As mãos unidas, a vida salva…
Mas o tempo é firme. O boi é só.
No campo imenso a torre de petróleo.

Carlos Drummond de Andrade


Entendendo o poema

1)   Observe os versos:

“Se há noite ou sol, é indiferente,

a escuridão rompe com o dia.”

A expressão que, empregada para ligar esses versos, expressa noção adequada ao contexto

a)   portanto, com sentido de conclusão.

b)   desde que, com sentido de condição.

c) embora, com sentido de concessão.

d) pois, com sentido de explicação.

e) que, com sentido de consequência.

 

                 2 - Qual é o sentimento que está sendo abordado nesse poema?

               Tristeza e solidão

3 - Quais são os efeitos sonoros que o poeta utiliza para tratar do sentimento em questão?

Ele se utiliza do antecanto (verso que se repete no princípio de cada estrofe).

4 - Quais são as possíveis relações entre o homem e o animal citado no poema?
Ele diz que o mesmo sofrimento do animal, o homem também sofre.

5 - Qual é a solução proposta pelo eu lírico para acabar com o problema posto no poema? 

Que o amor é a salvação. Como vimos nesse verso:

“Se uma tempestade de amor caísse!
As mãos unidas, a vida salva…”

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

TEXTO: A IMPORTÂNCIA DE UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL NA INFÂNCIA - REVISTA PAIS E FILHOS - COM GABARITO

 TEXTO: A importância de uma alimentação saudável na infância(Fragmento)

[...] Para crescer esbanjando saúde é muito importante ter hábitos saudáveis desde cedo, com alimentos in natura como frutas, verduras, legumes, arroz, feijão e carne e evitar os alimentos ultraprocessados.

Vamos começar do início. A mãe gestante que tem uma alimentação saudável corre menos riscos de ter hipertensão, diabetes e outras doenças na gravidez. [...]


Unhééééé! Pronto, o bebê nasceu. Mas o cuidado com a alimentação saudável continua. Bom lembrar mais uma vez: essa atenção precisa se tornar um hábito, fazer parte naturalmente da vida da família. Um bom exemplo disso é a amamentação. Sabia que amamentar é um direito da mãe e ser amamentada é um direito da criança? Pois é. A amamentação é recomendada até os dois anos de idade ou mais e precisa ser exclusiva até os 6 meses.

PAIS E FILHOS. A importância de uma alimentação saudável na infância. 2019. Disponível em: . Acesso em: 28 set. 2020. Fragmento. (P090538I7_SUP)

1 - Nesse texto, no trecho “Mas o cuidado com a alimentação saudável continua.” (3º parágrafo), o termo destacado foi usado para

a) estabelecer oposição.
b) indicar duração.
c) marcar conclusão.
d) sugerir comparação.

 2- No trecho “Sabia que amamentar é um direito da mãe e ser amamentada é direito da criança? (3º parágrafo), o ponto de interrogação foi usado para

a)   apontar surpresa.

b)   indicar desconfiança.

c)   marcar interação com o leitor.

d)   mostrar interação com o leitor.

3- Nesse texto, a expressão “Unhééééé (3º parágrafo) foi usado para

a)   indicar o ruído do processo da digestão dos bebês”.

b)   marcar o barulho de um recém-nascido se alimentando.

c)   mostrar a melodia das canções de ninar para bebês.

 d) reproduzir  o som do choro de um recém-nascido

domingo, 20 de dezembro de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): ANDAR COM FÉ - GILBERTO GIL - COM GABARITO

 MÚSICA(Atividades): Andar com fé

                                                    Gilberto Gil/Caetano Veloso

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá

Que a fé 'tá na mulher
A fé 'tá na cobra coral
Oh oh
Num pedaço de pão

A fé 'tá na maré
Na lâmina de um punhal
Oh oh
Na luz, na escuridão
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá olêlê
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Olálá

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Oh menina
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá

A fé 'tá na manhã
A fé 'tá no anoitecer
Oh oh
No calor do verão

A fé 'tá viva e sã
A fé também 'tá prá morrer
Oh oh
Triste na solidão

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Oh menina
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá

Andá com fé eu vou
Que a fé não…


Entendendo a canção

1 – As palavras abreviadas e expressões populares utilizadas na letra da canção provocam efeito de:

a)   formalidade.

b)   comicidade.

c)   descrença.

d)   informalidade.

 2 – Antítese é a figura da linguagem em que ideias contrárias são colocadas lado a lado. Na letra da canção, há antítese em:

a)   “Triste na solidão/Andá com fé eu vou.”

b)   “A fé tá na maré/Na lâmina de um punhal.”

c)   “A fé tá viva e sã/A fé também tá pra morrer.”

d)   “Que a fé não costuma faiá/Que a fé tá na mulher.”

 

3 – De que se trata a canção?

      Ela aponta para o horizonte na busca da ressignificação do eu.

 4 – A primeira estrofe o eu lírico entoa-se o mantra “Andá com fé eu vou/que a fé não costuma faiá/Andá com fé eu vou/que a fé não costuma faiá”, e assim repete-se até o próximo verso, intercalando-se.

   Com que sentido o eu lírico usa do artifício da repetição?

    Ele puxa o sentido da reza, oração, vozes incessantes evocando, chamando, para a materialização do pedido. Vá com fé, gana, graça, acredite.

 5 – Por que o eu lírico usa a expressão “Faiá”?

       Ele personifica o pedido da pessoa humilde, desprovida de bens, a fé e a certeza da oração, por ser quem é, do jeito que é.

 6 – No verso: “Na luz, na escuridão”. Que sentido tem na canção referente a fé?

      Que em todas as situações a fé não o abandona, na alternância contínua de momentos.

7 – Após analisar a letra da canção responda: a temática é positiva ou negativa. Em seguida, explique por quê?

       Positiva. Porque a fé é algo tão pessoal, tem vários significados, distintos a cada pessoa, um artifício para o caminho parecer menos amargo, para dar sentido, o farol distante que nos guia, uma doce ilusão, a verde esperança... Contudo, andá com fé meu povo... entoa este canto, a fé não costuma faiá.


8 – Que tipo de linguagem há nessa canção?

       Apresenta uma linguagem sociocultural marcado pelo regionalismo.

9 – Que mensagem traz essa canção em tempos atuais, diante da Pandemia?

     Neste momento independente de religiões, através da prece tentamos ouvir a serena voz e o som do silêncio que nem sempre tão claro e de fácil compreensão; em tempos sombrios, de mudanças, crises e de certa desesperança, o remédio é andar com fé, pois esta não costuma falhar, jamais.





sábado, 19 de dezembro de 2020

CONTO: O EMBONDEIRO QUE SONHAVA PÁSSAROS - MIA COUTO - COM GABARITO

 Conto: O embondeiro que sonhava pássaros                    


Mia Couto

Esse homem sempre vai ficar de sombra: nenhuma memória será bastante para lhe salvar do escuro. Em verdade, seu astro não era o Sol. Nem seu país não era a vida. Talvez, por razão disso, ele habitasse com cautela de um estranho. O vendedor de pássaros não tinha sequer o abrigo de um nome. Chamavam-lhe o passarinheiro. Todas manhãs ele passava nos bairros dos brancos carregando suas enormes gaiolas. Ele mesmo fabricava aquelas jaulas, de tão leve material que nem pareciam servir de prisão. Parecia eram gaiolas aladas, voláteis. Dentro delas, os pássaros esvoavam suas cores repentinas. À volta do vendedeiro, era uma nuvem de pios, tantos que faziam mexer as janelas: - Mãe, olha o homem dos passarinheiros! E os meninos inundavam as ruas. As alegrias se intercambiavam: a gritaria das aves e o chilreio das crianças. O homem puxava de uma muska e harmonicava sonâmbulas melodias. O mundo inteiro se fabulava. Por trás das cortinas, os colonos reprovavam aqueles abusos. Ensinavam suspeitas aos seus pequenos filhos - aquele preto quem era? Alguém conhecia recomendações dele? Quem autorizara aqueles pés descalços a sujarem o bairro? Não, não e não. O negro que voltasse ao seu devido lugar. Contudo, os pássaros tão encantantes que são - insistiam os meninos. Os pais se agravavam: estava dito. Mas aquela ordem pouco seria desempenhada. [...] O homem então se decidia a sair, juntar as suas raivas com os demais colonos. No clube, eles todos se aclamavam: era preciso acabar com as visitas do passarinheiro. Que a medida não podia ser de morte matada, nem coisa que ofendesse a vista das senhoras e seus filhos. O remédio, enfim, se haveria de pensar. No dia seguinte, o vendedor repetiu a sua alegre invasão. Afinal, os colonos ainda que hesitaram: aquele negro trazia aves de belezas jamais vistas. Ninguém podia resistir às suas cores, seus chilreios. Nem aquilo parecia coisa deste verídico mundo. O vendedor se anonimava, em humilde desaparecimento de si: - Esses são pássaros muito excelentes, desses com as asas todas de fora. Os portugueses se interrogavam: onde desencantava ele tão maravilhosas criaturas? onde, se eles tinham já desbravado os mais extensos matos? O vendedor se segredava, respondendo um riso. Os senhores receavam as suas próprias suspeições - teria aquele negro direito a ingressar num mundo onde eles careciam de acesso? Mas logo se aprontavam a diminuir-lhe os méritos: o tipo dormia nas árvores, em plena passarada. Eles se igualam aos bichos silvestres, concluíam. Fosse por desdenho dos grandes ou por glória dos pequenos, a verdade é que, aos pouco-poucos, o passarinheiro foi virando assunto no bairro do cimento. Sua presença foi enchendo durações, insuspeitos vazios. Conforme dele se comprava, as casas mais se repletavam de doces cantos. Aquela música se estranhava nos moradores, mostrando que aquele bairro não pertencia àquela terra. Afinal, os pássaros desautenticavam os residentes, estrangeirando-lhes? [...] O comerciante devia saber que seus passos descalços não cabiam naquelas ruas. Os brancos se inquietavam com aquela desobediência, acusando o tempo. [...] As crianças emigravam de sua condição, desdobrando-se em outras felizes existências. E todos se familiavam, parentes aparentes. [...]

Os pais lhes queriam fechar o sonho, sua pequena e infinita alma. Surgiu o mando: a rua vos está proibida, vocês não saem mais. Correram-se as cortinas, as casas fecharam suas pálpebras.

 COUTO, Mia. Cada homem é uma raça: contos/ Mia Couto - 1ª ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p.63 - 71. (Fragmento).

Entendendo o conto

1)   Qual a temática do conto?

O racismo, a rejeição aos negros, ou seja, a segregação racial.

2)   Onde ocorreram os fatos?

Todas manhãs ele passava nos bairros dos brancos carregando suas enormes gaiolas.

3)   Qual a história contada? Resuma os fatos que compõem a ação narrada.

Um vendedor de pássaros que circula em um bairro de brancos com suas aves exóticas muda todo o cotidiano daquele bairro do cimento, pois as casas se repletavam de doces cantos. Aquela música se estranhava nos moradores, mostrando que aquele bairro não pertencia àquela terra.

4)   O enredo desse conto está centrado em que período da história mundial?

Está centrado no período da colonização em Moçambique.

5)   Se pudesse alterar alguma situação nesse conto, qual seria? Por quê?

Resposta pessoal.

6)   Sobre os elementos destacados do fragmento “Em verdade, seu astro não era o Sol. Nem seu país não era a vida.”, leia as afirmativas.

 I. A expressão EM VERDADE pode ser substituída, sem alteração de sentido por COM EFEITO.

         II. ERA O SOL formam o predicado verbal da primeira oração.

        III. NEM, no contexto, é uma conjunção coordenativa. Está correto apenas o que se afirma em:

        a) I e III.

        b) III.

       c) I e II.

       d) I.

       e) II e III.

7) Do ponto de vista da norma culta, a única substituição pronominal realizada que feriu a regra de colocação foi:

 a) " Os brancos se inquietavam com aquela desobediência” = Os brancos inquietavam-se com aquela desobediência.

 b) " O remédio, enfim, se haveria de pensar." = O remédio, enfim, haver-se-ia de pensar.

c) " Eles se igualam aos bichos silvestres, concluíam” = Eles igualam-se aos bichos silvestres, concluíam.

d) "O mundo inteiro se fabulava." = O mundo inteiro fabulava-se.

e) "Chamavam-lhe o passarinho."= Lhe chamavam o passarinheiro.






sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

POEMA: O DOUTÔ E A CIÊNCIA - MÁRCIA CORRALES - COM GABARITO

 POEMA: O doutô e a ciência

                      Márcia Corrales

 

 Adispôs de estudá

No colégio da cidade

Toda ciência que havia,

O menino vira doutô

E de nóis vai cuidá

Ora, sucedeu um dia

Que a fia adoeceu

Por uma moléstia horrível

Que quase ela morreu

Nóis fiquemo desesperado

Até a muié ficou prostrada

Acabei com tudo o que tinha

Por dez ano juntado

A vida vale mais

Que dez mil réis guardado

O doutô da ciência

Curou toda a moléstia,

Hoje a fia e a muié tão sardavi

E de modo muito cortez

Saudemo o doutô,

Agradecido outra vez!

Fonte: SP FAZ ESCOLA- Caderno do Professor – Língua Portuguesa – Ensino Fundamental – 7ºAno – Vol.4 – p.90-91.


 Depois de apreciar o poema, responda:

1-   Podemos dizer que o título do poema está escrito no:

     (   ) Dialeto popular.

     ( X ) Dialeto regional (caipira/sertanejo).

          (   ) Dialeto culto.

 

2-    O vocabulário usado no poema indica traços do dialeto sertanejo/caipira. Encontre cinco exemplos no poema e escreva.

“doutô”, “adispôs”, “muié”, “sardavi”, “saudemo”, “fiqueno”, “nóis”.

 

3-    Transcreva os cinco primeiros versos do poema na norma-padrão da língua.

“Depois de estudar

No colégio da cidade

Toda ciência que havia,

O menino vira doutor

E de nós vai cuidar”.

 

4-    No poema existe uma história. Explique essa história com suas palavras, usando apenas a norma-padrão da língua.

Resposta pessoal.

   

CRÔNICA: O CELULAR - LUCY CARVALHAR - COM GABARITO

 Crônica: O Celular

               Lucy Carvalhar

1990. Eu estava assistindo ao telejornal e vi uma reportagem sobre o telefone do próximo milênio, um aparelho de telefone chamado “celular”.

“Celu, o quê?” – pensei.

 - Celular – repetiu a jornalista.

Fui dormir pensando no assunto. Aprendi, em biologia celular, que as células são as menores unidades dos seres vivos, com formas e funções definidas. Então, por que celular? Será que ele também é composto por células? Será que está surgindo uma nova organização celular no planeta?

Como naquele tempo, eu não tinha internet, perguntei para alguns colegas de classe se eles sabiam do que era feito um celular, e o porquê deste nome. Mas eles também não sabiam, e não conseguindo encontrar a resposta, resolvi cuidar da minha vida e de coisas mais importantes.

1993. No banheiro da faculdade, vi minha amiga Susana segurando o tal celular. Quando ela me viu, disse que havia acabado de descarregar a sua caixa postal. Então, pensei que ela estivesse se referindo às suas necessidades fisiológicas, e perguntei se ela estava passando bem. Susana, sem entender a minha pergunta, respondeu que estava bem, e que na caixa postal não havia recados de seu noivo. Fiquei sem graça e, naquele momento, entendi que a caixa postal se tratava da caixa de mensagens do estranho aparelho chamado “celular”. “Que vergonha!” – pensei, mas não falei nada. Fiquei apenas observando aquele objeto, que estava nas mãos da minha amiga e que recebia ligações.

Procurei uma desculpa para me livrar da vexatória situação.

- Susana, já volto. Vou até o orelhão, preciso falar com minha mãe. Susana, muito solícita, entregou-me o seu celular, para que eu não precisasse ficar na fila do telefone público. Eu aceitei e fiquei alguns minutos com aquele objeto no meu ouvido, até que ela perguntou: - Você não vai apertar as teclas para ligar para sua mãe? - Não tem linha...está mudo – respondi.

A moça não aguentou, deu uma gargalhada, e disse:

- Você só tem que apertar as teclas com o número do telefone da sua mãe!

“Mais uma vergonha com o tal aparelho”, pensei, com o rosto enrubescido.

Então, apertei as teclas do tal aparelho e falei com a minha mãe, dizendo-lhe que estava usando um celular. Claro, que ela não entendeu nada e, mesmo assim, continuei a falar.

Os anos passaram. Um novo século chegou. A tecnologia evoluiu e, com ela, surgiram redes sociais, inúmeros aplicativos de mensagens.

Hoje, convivemos fiel e obsessivamente com a presença desse aparelho, que tem sua caixa postal sendo descarregada não somente nos banheiros, mas em todos os lugares.

Não pesquisei a origem do nome “celular”, mas sei que, atualmente, ele se tornou a unidade fundamental para o convívio de todos os seres humanos da nossa sociedade tecnológica.

 Viva o CELULAR!

Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1192085.Adaptado. Acesso em: 30 jun. 2020.

Fonte: SP FAZ ESCOLA-Caderno do Professor - Língua Portuguesa - Ensino Fundamental - 6º Ano - Vol. 4 - p. 21-24.

Fonte da imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fgartic.com.br%2Fkamillalovatic%2Fdesenho-livre%2Fcelular&psig=AOvVaw1QcIrtsMsCRfTfVPG8uzPd&ust=1608413825612000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCOC398y-2O0CFQAAAAAdAAAAABAD

1 – Você acabou de ler uma crônica. Vamos ver as suas características? Observe o quadro a seguir:

Relata fatos do cotidiano das pessoas, situações que presenciamos e até prevemos o desenrolar dos fatos.

Pode conter elementos descritivos.

Mescla a tipologia narrativa com trechos reflexivos e, em alguns casos, argumentativos.

A crônica também se utiliza da ironia, humor e, às vezes, do sarcasmo.

 Possui marcadores espaciais e temporais.

 O foco narrativo pode ser em primeira ou terceira pessoa.

 O tempo é cronológico.

Pode haver o uso do discurso direto, discurso indireto ou discurso indireto livre.

 (Elaborado por Lucifrance Elias Carvalhar especialmente para esse material.)

2 - O texto “O celular” é uma crônica porque

a) possui clímax.

b) relata situações do cotidiano.

c) apresenta um conflito.

d) nenhuma das alternativas anteriores.

3 – O texto “O celular” retrata uma situação vivida pela personagem. O foco narrativo está em:

( x ) primeira pessoa

( ) terceira pessoa

Explique. A personagem relata uma situação que foi vivenciada por ela e utiliza o pronome “eu”.

4 - Se a crônica “O celular” tivesse sido narrada em 3ª. pessoa e o narrador não soubesse sobre os sentimentos das personagens, ele seria chamado de narrador-  observador.

 

5 – A protagonista ficou esperando o celular dar linha. A que ela o associou?

Ela associou o celular ao telefone fixo, que possui linha.

6 – No texto, em cinco momentos, aparecem discursos indiretos: três, na fala da protagonista e dois, na fala de Susana. Grife e passe-os para o discurso direto. Lembre-se de utilizar o travessão, os dois-pontos e o ponto final.

Discurso indireto (protagonista): Perguntei para alguns colegas de classe se eles sabiam do que era feito um celular, e o porquê deste nome.

Discurso direto (protagonista): Perguntei para alguns colegas de classe: - Vocês sabem do que é feito um celular e por que ele recebe este nome?

Discurso indireto (protagonista): “Perguntei se ela estava passando bem.”

Discurso direto (protagonista): Perguntei para Susana: - Você está passando bem?

Discurso indireto (protagonista): “Falei com a minha mãe, dizendo-lhe que estava usando um celular.

Discurso direto (protagonista): Falei para minha mãe: - Estou usando um celular.

Discurso indireto (Susana): “Susana disse que havia acabado de descarregar a sua caixa postal.”

Discurso direto: Susana disse: - Acabei de descarregar a minha caixa postal.

Discurso indireto (Susana): “Susana, sem entender a minha pergunta, respondeu que estava bem, e que na caixa postal não havia recados de seu noivo.”

Discurso direto (Susana): Susana respondeu: - Não entendi a sua pergunta, mas estou bem! Na caixa postal não tem recados do meu noivo.

7 – No quarto parágrafo há três frases com ponto de interrogação. De acordo com o texto, por que a autora utilizou este ponto?

A autora utilizou o ponto de interrogação porque desconhecia o que era um celular.

8 – Na frase “Que vergonha!”, foi utilizado o ponto de exclamação. Por quê?

O ponto de exclamação foi utilizado porque a protagonista expressou-se de forma vexatória diante do fato, sentindo-se envergonhada por não saber o que era a caixa postal de um celular.

9 – Observe: “- Não tem linha...está mudo.” Nessa frase houve o emprego das reticências, marcando uma suspensão da frase. Essa suspensão na frase aconteceu porque:

a) a personagem estava com dúvidas sobre como teclar no celular. b) a personagem estava esperando a linha do celular para teclar os números.

c) a personagem estava com vergonha de falar que não sabia usar o celular.

d) a personagem estava cansada de segurar o celular.