Reportagem: A longa lista dos condenados
Um quarto dos mamíferos corre
o risco de extinção por culpa da ação humana. Um estudo mostra que é possível
evitar essa catástrofe
Roberta de Abreu Lima
A extinção de animais faz parte da evolução da vida na Terra, mas, desde que o bicho homem resolveu dar sua contribuição a esse processo, o desaparecimento de espécies tem se acelerado de forma preocupante. Nos primeiros dias de outubro, foi divulgado o mais completo estudo sobre a situação dos mamíferos no planeta. O quadro que emerge da pesquisa é o mais sombrio já desenhado sobre essa classe de animais. Um quarto das 5487 espécies de mamíferos classificadas pela ciência se encontra em risco de desaparecer. Isso significa 1141 espécies, quinze vezes mais do que o número de mamíferos extintos nos últimos cinco séculos.
O estudo foi realizado pela
União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), uma instituição
composta de 11000 cientistas de 160 países. Alguns dos animais relacionados
estão ameaçados de desaparecer por causas naturais. É o caso do
diabo-da-tasmânia, um marsupial carnívoro que lembra um urso pequeno, que
desenvolveu um tipo de câncer fatal que contagia os exemplares da espécie através
do contato físico. Segundo os cientistas, porém, a grande maioria dos animais
ameaçados é vítima da ação humana. "O perigo de extinção das espécies,
hoje, decorre quase que exclusivamente do desmatamento, que destrói os habitats,
e da caça", disse a VEJA o biólogo sul-africano Mike Hoffmann, do
departamento de biodiversidade da IUCN.
Calcula-se que o desmatamento atinja
40% dos mamíferos do mundo. As florestas são destruídas para dar lugar à
expansão urbana e à agricultura, o que explica os altos índices de animais sob risco
no sul e no sudeste da Ásia, onde as populações crescem em ritmo acelerado.
Nessas regiões, 80% dos primatas podem desaparecer. A população de
orangotangos-de-bornéu que habitam florestas da Malásia e da Indonésia
resume-se a 14% da existente em meados do século XX. A outra grande ameaça às espécies,
a caça indiscriminada, frequentemente é praticada por total desconhecimento da
importância da preservação desses animais. “Moradores de regiões remotas, que
matam primatas e cervos para comê-los, não fazem ideia de que estão caçando
espécies ameaçadas de extinção”, explica a primatologia inglesa Liza Viega, que
vive em Belém e participou do estudo da IUCN fornecendo informações sobre
animais da Amazônia. “O caxiú-preto, um macaco já próximo de desaparecer, é
caçado para que seu pelo seja usado na fabricação de espanadores”, ela relata. O
Brasil, com 82 espécies em perigo, está entre os países com o maior número de
mamíferos ameaçados – perde apenas para a Indonésia, o México e a Índia.
Os mamíferos aquáticos encontram-se em
situação ainda mais grave do que os terrestres: 35% das espécies correm perigo.
Os especialistas acreditam que a proporção seja ainda maior. Isso porque
estudar esses animais não é tarefa fácil. Os biólogos precisam passar longos
períodos navegando. Hoje existem informações insuficientes sobre um terço dos
mamíferos aquáticos. O declínio populacional de animais como golfinhos e
baleias passa despercebido em 70% dos casos. Os principais fatores que levam os
mamíferos aquáticos à morte são os acidentes ocasionados durante a pesca de
outras espécies – eles são capturados e feridos nas redes – e a poluição das
águas, geralmente causada pelo crescimento das cidades nas regiões costeiras.
Outras ameaças aos mamíferos aquáticos são a destruição dos corais, que abrigam
espécies que lhes servem de alimento, e os ruídos provocados por embarcações e
sonares, que afetam seu sistema nervoso e interferem em sua comunicação.
Embora as cifras mais alarmantes
produzidas pela IUCN digam respeito aos mamíferos, o estudo contempla também
pássaros, anfíbios, peixes, répteis, crustáceos, corais e plantas. No total 38%
das espécies do planeta correm o risco de desaparecer. O cenário futuro pode
ser ainda pior, já que o grau de ameaça foi determinado, na maioria dos casos,
sem levar em conta o aquecimento global, apontado como o grande vilão ambiental
das próximas décadas. “A mudança climática ficou fora do cálculo porque, com
exceção de alguns animais muito dependentes do gelo, como o urso-polar, as
espécies ainda não sofrem seus efeitos”, disse a VEJA o biólogo americano
Thomas Lacher, da Universidade Texas A&M e colaborador da IUCN. O relatório
deixa claro que é possível reverter o destino dos animais ameaçados. Alguns,
entre eles o elefante africano, que até recentemente estava sob grau elevado de
ameaça de extinção, foram reclassificados em categorias de risco menores,
graças aos esforços de instituições que trabalham para preservá-los. São
esforços que necessitam ser empreendidos em escala global.
Roberta de Abreu Lima –
Revista Veja – 15-10-2008. Editora Abril.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 6º ano. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães.
7ª edição reformulada – São Paulo: ed. Saraiva, 2012. p. 234-235.
Entendendo a reportagem:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Marsupial: que possui uma espécie de bolsa no abdome.
·
Primata: mamífero de cérebro e membros desenvolvidos; macaco,
chimpanzé, orangotango, gorila, etc.
·
Sonar: equipamento eletrônico que, através do som, identifica
objetos e dá a medida de distâncias no fundo do mar.
02
– Qual o principal problema abordado na reportagem?
A reportagem
aborda a crescente ameaça de extinção enfrentada por um quarto das espécies de
mamíferos no planeta, principalmente devido à ação humana.
03
– Quais são as principais causas da extinção de mamíferos?
As principais causas são o
desmatamento para expansão urbana e agrícola, a caça indiscriminada, a poluição
das águas, os acidentes com redes de pesca e a destruição de habitats como os
corais.
04
– Qual o papel da ação humana na extinção das espécies?
A ação humana é
apontada como a principal responsável pelo acelerado processo de extinção,
através de atividades como o desmatamento, a caça e a poluição.
05
– Quais as regiões mais afetadas pelo problema?
As regiões mais
afetadas são o sul e o sudeste da Ásia, onde a expansão urbana e a agricultura
têm destruído grandes áreas de floresta, colocando em risco um grande número de
espécies, especialmente primatas.
06
– Qual a importância dos estudos sobre a biodiversidade?
Os estudos sobre
a biodiversidade são essenciais para entender a gravidade do problema,
identificar as espécies mais ameaçadas e direcionar os esforços de conservação.
07
– Quais as possíveis consequências da extinção de espécies para o planeta?
A extinção de
espécies pode levar ao desequilíbrio dos ecossistemas, à perda de recursos
genéticos e à redução da qualidade de vida para os seres humanos.
08
– O que pode ser feito para reverter esse quadro?
A reportagem
destaca a importância de esforços globais para a conservação das espécies, como
a criação de áreas protegidas, o combate ao desmatamento e à caça ilegal, e a
conscientização da população sobre a importância da biodiversidade.
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