sábado, 26 de abril de 2025

SONETO: HINO À RAZÃO - ANTERO DE QUENTAL - COM GABARITO

 Soneto: Hino à Razão

             Antero de Quental

Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre só a ti submissa.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisyuUou5HHs2gCewHRkXuCAGx6Y8BAa3lOjui0f634tMKawNR49kUJXEbHjlYl5IvvLZFeRCwbSEHmUqal9ImzwRjrIunmEZ5THho_-MA8a1rM2H343rh1hbE8mxNhtnqkiqHtFAOvW5GV7sQUaWJ94xFAAqMNp_tJNX_ELjbo-5aU2B98eZ5IBImdZyw/s320/deusa.gif



Por ti é que a poeira movediça
De astros, sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.
 

Por ti, na arena trágica, as nações
buscam a liberdade entre clarões;
e os que olham o futuro e cismam, mudos,
 

Por ti podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!

In: Maria Ema T. Ferreira, org., op. cit. p. 173.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 265.

Entendendo o soneto:

01 – A quem o eu lírico se dirige em sua prece no início do soneto e quais qualidades ele atribui a essa entidade?

      O eu lírico se dirige à Razão, a quem ele chama de "irmã do Amor e da Justiça".

02 – De acordo com o eu lírico, qual o papel da Razão na dinâmica do universo físico ("poeira movediça")?

      O eu lírico afirma que é por meio da Razão que a "poeira movediça de astros, sóis e mundos permanece", sugerindo que ela é fundamental para a ordem e a estabilidade cósmica.

03 – Além de sustentar o universo físico, que outros efeitos positivos são atribuídos à Razão nos versos seguintes?

      São atribuídos à Razão o prevalecer da virtude e o crescimento vigoroso da "flor do heroísmo".

04 – Como a Razão se manifesta na esfera social e política, de acordo com o soneto?

      Na "arena trágica", as nações buscam a liberdade "entre clarões" por influência da Razão.

05 – Qual o papel da Razão para aqueles que contemplam o futuro e enfrentam o sofrimento, segundo os versos finais?

      Para aqueles que olham o futuro e cismam, a Razão os capacita a sofrer sem se abater, sendo a "Mãe de filhos robustos que combatem / Tendo o teu nome escrito em seus escudos!", simbolizando a força e a inspiração para a luta.

 

 

POEMA: TERCETOS II - OLAVO BILAC - COM GABARITO

 Poema: Tercetos II

              Olavo Bilac

E, já de manhã, quando ela me pedia

Que do seu claro corpo me afastasse,

Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgB-O2lRxsoye4my4RyOfeYaWTdUVSwPCTitzg90AtqlRlMtwerikjQuEJEEkN2jBshEGuvDlKV5Cvzr8KOY1ftukMj36DIzAj4i8qTxj-g_s08zu3WXXyw-xH77bb7Lv04B1484293Fsfif1J41zP2nYc7N2_VBIb374TnxDNKGXpCzTMhwYYK3tAM4W0/s320/CASAL.jpg

“Não pode ser! Não vês que o dia nasce?

A aurora, em fogo e sangue, as nuvens corta...

Que diria de ti quem me encontrasse?

 

Ah! Nem me digas que isso pouco importa! ...

Que pensariam, vendo-me, apressado,

Tão cedo assim, saindo a tua porta,

 

Vendo-me exausto, pálido, cansado,

E todo pelo aroma do teu beijo

Escandalosamente perfumado?

 

O amor, querida, não exclui o pejo.

Espera! Até que o sol desapareça,

Beija-me a boca! mata-me o desejo!

 

Sobre o teu colo deixa-me a cabeça

Repousar, como há pouco repousava!

Espera um pouco! Deixa que anoiteça!”

 

-- E ela abria-me os braços. E eu ficava.

Melhores poemas de Olavo Bilac. Seleção de Marisa Lajolo. 4. ed. São Paulo: Global, 2003. p. 87-90.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 306.

Entendendo o poema:

01 – Em que momento do dia a mulher pede ao eu lírico para se afastar, e qual a reação emocional dele a esse pedido, similar ao "Tercetos I"?

      A mulher pede ao eu lírico para se afastar pela manhã ("já de manhã"), e a reação emocional dele é novamente de tristeza, expressa pelas lágrimas nos olhos ("Eu, com os olhos em lágrimas, dizia").

02 – Quais argumentos o eu lírico utiliza para persuadir a mulher a deixá-lo ficar, agora durante o dia?

      O eu lírico argumenta sobre o nascimento do dia e o espetáculo da aurora. Ele se preocupa com a opinião alheia, questionando o que pensariam ao vê-lo sair apressado e exausto da casa dela tão cedo, marcado pelo aroma dos beijos. Ele também afirma que o amor não exclui o pudor ("o pejo") e pede para ficar até o anoitecer, buscando matar o desejo com mais beijos e repousar em seu colo.

03 – Que elementos da natureza são mencionados no início do poema para contrastar com a situação íntima dos amantes?

      No início do poema, são mencionados o dia que nasce e a aurora que corta as nuvens "em fogo e sangue", criando uma imagem vívida e pública que contrasta com a intimidade do encontro noturno.

04 – Qual a preocupação principal do eu lírico em relação a ser visto saindo da casa da mulher pela manhã?

      A principal preocupação do eu lírico é com a reputação de ambos. Ele se importa com o que as pessoas pensariam ao vê-lo sair da casa dela tão cedo, com uma aparência exausta e o forte aroma dos beijos dela, considerando isso um escândalo.

05 – Qual a reação final da mulher ao apelo do eu lírico no "Tercetos II", mantendo a mesma conclusão do "Tercetos I"?

      A reação final da mulher é a mesma: "-- E ela abria-me os braços. E eu ficava.", indicando novamente que ela cede ao seu pedido e o permite permanecer, mesmo durante o dia.

 

 

 

POEMA: TERCETOS I - OLAVO BILAC - COM GABARITO

 Poema: Tercetos I

             Olavo Bilac

Noite ainda, quando ela me pedia
Entre dois beijos que me fosse embora,
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPw78KaS99-QxJ8QOAMp5xhLssqNVYqfLx654pSY08f2EQU5KkfbigUoUMy6Zc4mThWVYPkOeGRUBEWtXvjqoauH7pQztO907YSJEOi9V9OOaa6UvceMFvDBRacMPY36etVfnZjNqN1H9OAOr2nVKF3Th6LHY4N41EvK7ZyvJsZcEV5NR0eOk9wUKnfwo/s320/depositphotos_149723978-stock-photo-shadows-bride-and-groom-kiss.jpg



"Espera ao menos que desponte a aurora!
Tua alcova é cheirosa como um ninho...
E olha que escuridão há lá por fora!

Como queres que eu vá, triste e sozinho,
Casando a treva e o frio de meu peito
Ao frio e à treva que há pelo caminho?!

Ouves? é o vento! é um temporal desfeito!
Não me arrojes à chuva e à tempestade!
Não me exiles do vale do teu leito!

Morrerei de aflição e de saudade...
Espera! até que o dia resplandeça,
Aquece-me com a tua mocidade!

Sobre o teu colo deixa-me a cabeça
Repousar, como há pouco repousava...
Espera um pouco! deixa que amanheça!"

— E ela abria-me os braços. E eu ficava.

Melhores poemas de Olavo Bilac. Seleção de Marisa Lajolo. 4. ed. São Paulo: Global, 2003. p. 87-90.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 306.

Entendendo o poema:

01 – Em que momento do dia a mulher pede ao eu lírico para ir embora, e qual a reação emocional dele a esse pedido?

      A mulher pede ao eu lírico para ir embora durante a noite, "quando ela me pedia / Entre dois beijos". A reação emocional dele é de tristeza e súplica, expressa pelas lágrimas nos olhos e pelo pedido para que ela espere.

02 – Quais argumentos o eu lírico utiliza para persuadir a mulher a deixá-lo ficar até o amanhecer?

      O eu lírico usa vários argumentos, incluindo a beleza e o conforto do quarto dela ("Tua alcova é cheirosa como um ninho"), a escuridão e o frio do exterior, o temporal que se anuncia, o medo de ir sozinho e triste, e o risco de morrer de aflição e saudade. Ele também pede o calor da mocidade dela e o conforto de seu colo.

03 – Que elementos da natureza são invocados pelo eu lírico para reforçar seu pedido de permanência?

      O eu lírico invoca a escuridão ("que escuridão há lá por fora!"), o frio ("ao frio e à treva que há pelo caminho?!"), o vento e o temporal ("é o vento! é um temporal desfeito!"), a chuva e a tempestade.

04 – Qual o significado da comparação que o eu lírico faz entre seu estado emocional e o ambiente externo ("Casando a treva e o frio de meu peito / Ao frio e à treva que há pelo caminho?!")?

      Essa comparação sugere uma profunda sintonia entre a tristeza e a solidão que ele sente e a escuridão e o frio da noite lá fora, intensificando seu desejo de permanecer no calor e na companhia da amada.

05 – Qual a reação final da mulher ao apelo do eu lírico, expressa no último verso do poema?

        A reação final da mulher é acolhedora: "— E ela abria-me os braços. E eu ficava.", indicando que ela cede ao seu pedido e o permite permanecer.

 

 

CRÔNICA: EXAGEROS DE MÃE - FRAGMENTO - MILLÔR FERNANDES - COM GABARITO

 Crônica: Exageros de Mãe – Fragmento

              Millôr Fernandes

        Já te disse mais de mil vezes que não quero ver você descalço. Nunca vi uma criança tão suja em toda a minha vida. Quando teu pai chegar você vai morrer de tanto apanhar. Oh, meu Deus do céu,
esse menino me deixa completamente maluca. Estou aqui há mais de um século esperando e o senhor não vem tomar banho. Se você fizer isso outra vez nunca mais me sai de casa. Pois é, não come nada: é por isso que está aí com o esqueleto à mostra. Se te pegar outra vez mexendo no açucareiro, te corto a mão. Oh, meu Deus, eu sou a mulher mais infeliz do mundo. Não chora desse jeito que você vai acordar o prédio inteiro.

 [...] 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixUrnPsCkhuZ5C6McKawTw4etZWnatJz8fYZU-XaFhZAb5MglXXMGwtw-hNmop6iGy4uyIYNJ62ZerHGRhkIqsutZBZ0aiJRZHKA_OJ8wkjKp9pXtESHCm2DO27KQQnnA4SFsadAVm11fqm6T3miDXQPlb4U-oAisBuyrn2Bnicm8vgHTzoG61zlky95Y/s1600/A_velha_brava.jpg


Mas, furou de novo o sapato: você acha que seu pai é dono de sapataria, pra lhe dar um sapato novo todo dia? Onde é que você se sujou dessa maneira? Acabei de lhe botar essa roupa não faz cinco minutos! Passei a noite toda acordada com o choro dele. Eu juro que um dia eu largo isso tudo e nunca ninguém mais me vê. Não se passa um dia que eu não tenha que dizer a mesma coisa. Não quero mais ver você brincando com esses moleques, esta é a última vez que estou lhe avisando.

10 em Humor. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1968, p. 15.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 281.

Entendendo a crônica:

01 – Quais são algumas das reclamações repetitivas da mãe dirigidas ao filho no fragmento da crônica?

      Algumas das reclamações repetitivas incluem não querer ver o filho descalço, considerá-lo excessivamente sujo, ameaçá-lo com a punição do pai, reclamar da demora para o banho, proibi-lo de sair de casa, criticar sua falta de apetite, ameaçá-lo por mexer no açucareiro e repreendê-lo por chorar alto.

02 – Que hipérboles (exageros) a mãe utiliza para expressar seus sentimentos e a situação?

      A mãe utiliza hipérboles como "já te disse mais de mil vezes", "nunca vi uma criança tão suja em toda a minha vida", "estou aqui há mais de um século esperando", "se você fizer isso outra vez nunca mais me sai de casa", "está aí com o esqueleto à mostra", "se te pegar outra vez mexendo no açucareiro, te corto a mão" e "não chora desse jeito que você vai acordar o prédio inteiro".

03 – Qual a reação da mãe em relação aos sapatos furados do filho e o que essa reação revela sobre sua perspectiva?

      A mãe reage com indignação ao sapato furado, questionando se o pai do filho é dono de uma sapataria para dar sapatos novos diariamente. Isso revela sua frustração com os gastos e o descuido do filho.

04 – Como a mãe expressa seu cansaço e frustração com a rotina de cuidados com o filho?

      A mãe expressa seu cansaço ao dizer que passou a noite toda acordada com o choro do filho e manifesta seu desejo de "largar isso tudo" e sumir, indicando um sentimento de exaustão e sobrecarga.

05 – Qual a atitude da mãe em relação aos amigos do filho e o que essa atitude sugere?

      A mãe demonstra uma atitude negativa em relação aos amigos do filho, afirmando que não quer mais vê-lo brincando com "esses moleques" e que aquela é a última vez que o avisa. Isso sugere que ela os considera uma má influência ou responsáveis pelo comportamento do filho.

 

 

POEMA: SOBRE UM MAR DE ROSAS QUE ARDE - PEDRO KILKERRY - COM GABARITO

 Poema: Sobre um mar de rosas que arde

             Pedro Kilkerry

Sobre um mar de rosas que arde
Em ondas fulvas, distante,
Erram meus olhos, diamante,
Como as naus dentro da tarde.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjneZ70x7DwqSSzjenLFHafavsp0ahp-v6MwDlFsArvqe3MTyOaKxsRjwalUMhhMnjQOnSs0Srg4H_CISuj14ZTEVpuviqq39akyRO2FkNOYAkC54dtbK6mw86rNK37fBllUVO-idQrrOI7zJP0LLZS_sSCqtR5qu472EF5LVGJAlmac_INuQ9jwZgkz9g/s1600/images.jpg



Asas no azul, melodias,
E as horas são velas fluidas
Da nau em que, oh! alma, descuidas
Das esperanças tardias.

Pedro Kilkerry. In: Ítalo Moricone. Os cem melhores poemas brasileiros do século. São Paulo: Objetiva.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 325.

Entendendo o poema:

01 – Qual a imagem central que abre o poema de Pedro Kilkerry?

      A imagem central que abre o poema é a de um "mar de rosas que arde", sugerindo uma beleza intensa e talvez paradoxalmente dolorosa ou efêmera.

02 – Como o eu lírico descreve o movimento de seus olhos nesse "mar de rosas"?

      O eu lírico descreve seus olhos como um "diamante" que erra distante sobre esse mar, comparando seu movimento ao das "naus dentro da tarde", evocando uma sensação de viagem melancólica e contemplativa.

03 – Quais elementos da natureza são utilizados na segunda estrofe para evocar sensações e a passagem do tempo?

      A segunda estrofe utiliza as imagens de "asas no azul" para sugerir liberdade ou elevação, "melodias" para evocar sons suaves e a passagem do tempo é metaforizada por "horas" que são como "velas fluidas" de uma embarcação.

04 – A quem o eu lírico se dirige com a interjeição "oh!" na segunda estrofe e qual a ação que ele associa a essa entidade?

      O eu lírico se dirige à sua própria "alma" com a interjeição "oh!". Ele associa a essa alma o ato de descuidar das "esperanças tardias", sugerindo talvez um certo abandono ou resignação em relação a desejos que demoraram a se concretizar.

05 – Qual a sensação geral transmitida pela comparação da alma a uma nau que descuida das esperanças tardias?

      A comparação da alma a uma nau que descuida das esperanças tardias transmite uma sensação de melancolia, de deixar passar oportunidades ou de um certo cansaço diante da espera. Sugere uma jornada da alma onde as esperanças, como velas fluidas, podem se esvair sem a devida atenção.

 

 

POEMA: MORTE DE CLARICE LISPECTOR - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

 Poema: MORTE DE CLARICE LISPECTOR

             Ferreira Gullar

Enquanto te enterravam no cemitério judeu

do Caju

(e o clarão de teu olhar soterrado

resistindo ainda)

o táxi corria comigo à borda da Lagoa

na direção de Botafogo

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeXX98kMpfzBpSb5AJrcLpDyF8mAR2vjWLM82eGlc5gDfVlYndIm8YLyT_wRzkb4juqtFtKRqVvQu4wgr4IU8azWpBMj7wiXBHunAsl6HeVgFp4zwxHxNVXrbv-Ou_FrzgtHfsWAWj8H0Fh6Dzb-Ct2rWR1BzEXHJORZNOKVL6m9aVuQIw0pbiafo91tA/s320/1952-061331_restaurada_002-1-798x1024.jpg

as pedras e as nuvens e as árvores

no vento

mostravam alegremente

que não dependem de nós.

Melhores poemas de Ferreira Gullar. 7. ed. Seleção de Alfredo Bosi. São Paulo: Global, 2004. p. 153.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 285.

Entendendo o poema:

01 – Onde Clarice Lispector foi enterrada, de acordo com o poema?

      De acordo com o poema, Clarice Lispector foi enterrada no cemitério judeu do Caju.

02 – Que imagem o poeta evoca para descrever a persistência da presença de Clarice mesmo após sua morte?

      O poeta evoca a imagem do "clarão de teu olhar soterrado / resistindo ainda", sugerindo que sua essência ou impacto ainda permanecia presente.

03 – Para onde o táxi levava o eu lírico enquanto o enterro acontecia?

      O táxi levava o eu lírico à borda da Lagoa, na direção de Botafogo.

04 – O que os elementos da natureza (pedras, nuvens, árvores) pareciam expressar para o eu lírico naquele momento?

      Os elementos da natureza mostravam alegremente ao eu lírico que não dependem de nós, ou seja, que a vida e o mundo seguem seu curso independentemente da presença ou ausência de um indivíduo.

05 – Qual a possível reflexão ou contraste que o poema estabelece entre o evento da morte e a observação da natureza?

      O poema estabelece um contraste entre a solenidade e a perda da morte de Clarice e a continuidade despreocupada e vibrante da natureza. Sugere uma reflexão sobre a transitoriedade da vida humana em contraposição à perenidade do mundo natural.

 

 

CONTO: O CORTIÇO - CAP. III - FRAGMENTO - ALUÍSIO DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Conto: O CORTIÇO Cap. III – Fragmento

            Aluísio de Azevedo

        Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.

        Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVV0kvKmQgxCkgJmuCTr05mp2XmIbvNcLLhmLkLbCLxLHxpGlz-D654EPXvC1Ok73qNOip5ky-QJv7q7-dJT-E7zfU760MlV7FVFjEIAHLNGePPiM40Zf6zHI2XDJu2IGtFs58dn3JLibxGdZa7EEaYY6DYWUpD2NHQMe1CMqhVYhXdlExRQ_wT9IcA0A/s320/maxresdefault.jpg

        A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas.

        Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saiam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.

        Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.

        O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e resingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.

        [...]

Aluísio Azevedo. O cortiço. 9. ed. São Paulo: Ática,1970. p. 28-29.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 230-231.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

      - Altercar: discutir com ardor.

      - Casco: o couro cabeludo; o conjunto formado pelos ossos do crânio; unha de certos paquidermes e mamíferos.

      - Coradouro: o mesmo que quaradouro; lugar onde se põe a roupa para corar ou quarar.

      - De uma assentada: de uma só vez.

      - Ensarilhar: emaranhar, enredar.

      - Fartum: mau cheiro.

      - Indolência: preguiça.

      - Latrina: recinto da casa com vaso sanitário ou escavação para receber dejetos.

      - Rezinga: discussão, rixa.

02 – Como o narrador descreve o despertar do cortiço, utilizando uma linguagem sensorial?

      O narrador descreve o despertar do cortiço através de uma rica linguagem sensorial. Em vez de dizer que as pessoas acordam, ele personifica o cortiço, afirmando que ele "acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas". Sons como o dissolver das últimas notas da guitarra, o acre do sabão, os bocejos "fortes como o marulhar das ondas", o tilintar das xícaras e o cheiro quente do café são destacados. Além disso, o narrador menciona o "confuso rumor" com risos, vozes altercando, grasnidos e cantos de animais, criando uma atmosfera sonora vibrante.

03 – Que detalhes indicam as condições de vida precárias e a falta de privacidade dos moradores do cortiço logo ao amanhecer?

      Vários detalhes apontam para as condições precárias e a falta de privacidade. A menção das roupas lavadas umedecendo o ar com cheiro de sabão ordinário, as pedras do chão sujas pelas lavagens, e as portas das latrinas que não "descansavam" com o constante entrar e sair, ilustram a falta de higiene e instalações sanitárias adequadas. A cena das mulheres prendendo as saias para não molhar-se nas bicas e das crianças fazendo suas necessidades no capinzal expõe a ausência de privacidade e o ambiente insalubre.

04 – Qual a impressão que o narrador transmite sobre a relação dos moradores com a higiene pessoal nas bicas?

      A impressão é de uma higiene apressada e coletiva. A descrição da "aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas" em volta das bicas, lavando o rosto "incomodamente" sob um fio d'água baixo, sugere a falta de recursos e a necessidade de compartilhar o espaço. Enquanto as mulheres se preocupam em não molhar as saias, os homens são descritos de forma mais animalesca, esfregando o rosto com vigor, sem se importar em molhar os pelos.

05 – Como a natureza é integrada na descrição do despertar do cortiço e qual efeito essa integração produz?

      A natureza é integrada de diversas formas. A aurora é comparada a "um suspiro de saudade perdido em terra alheia", conferindo uma delicadeza melancólica ao início do dia. Os sons dos animais, como o grasnar dos marrecos, o cantar dos galos e o cacarejar das galinhas, compõem a cacofonia matinal. A "gula viçosa de plantas rasteiras" e a imagem dos pés mergulhados na "lama preta e nutriente da vida" associam os moradores a uma força vital e instintiva da natureza. Essa integração reforça a ideia do cortiço como um organismo vivo e pulsante, onde a vida humana se mistura com o ambiente natural de forma intensa e por vezes selvagem.

06 – Qual a mudança observada no "rumor" do cortiço à medida que a manhã avança?

      Inicialmente, o "confuso rumor" do cortiço é composto por sons distintos, como risos, vozes altercando e barulhos de animais. No entanto, à medida que a manhã avança, esse rumor cresce e se condensa, deixando de ter vozes dispersas para se tornar "um só ruído compacto" que preenche todo o cortiço. Essa mudança reflete o aumento da atividade e da interação entre os moradores, culminando em um ambiente barulhento e agitado.

07 – Que sentimento ou sensação final o narrador busca transmitir ao descrever o despertar do cortiço?

      O narrador busca transmitir um sentimento de vitalidade animalesca e um "prazer animal de existir". A descrição da "fermentação sanguínea" e da "gula viçosa" sugere uma energia bruta e instintiva que impulsiona a vida no cortiço. A "triunfante satisfação de respirar sobre a terra" enfatiza a força da vida em meio às condições adversas, transmitindo uma sensação paradoxal de vigor e intensidade em um ambiente de aparente precariedade.

 

NOTÍCIA: BEBÊ IMPRESSO - FRAGMENTO - DÉBORA MISMETTI - COM GABARITO

 Notícia: Bebê impresso – Fragmento

             Débora Mismetti – Editora – assistente de “Saúde”

        Os nove meses de gestação não precisam mais terminar para ter o bebê nas mãos. Um exame que entra neste mês no mercado no país oferece a possibilidade de imprimir o feto em três dimensões.

 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSs-VxQUOGpq6c4ovt2ZhvWHuE-a2pxE6mFzKvUxnMZ7l7G1t_gqRCBUIVMyV_MhriSvCF9uJCJ2e6usV3qAUhYRkC59zhHgQx8CS-x7C5P_xePAKx3y3h_8O0Mje9kPro5qr3mhfVkcvKZ9AQ9TPCcZ110fj-mxdu_s-ayk1fejGdlF-XpblqXeggs_k/s320/138940-270x370-1.jpeg


        O resultado é uma réplica do bebê em tamanho real, feita de um material similar ao gesso ou de um tipo de resina – e, a depender da escolha dos pais, até de prata.

        Até agora, afirma o ginecologista Heron Werner Jr., o método estava sendo usado só para pesquisas com foco em malformações, como tumores cervicais, lesões externas, fenda no lábio e problemas nos membros e na coluna. Casos como esses ainda devem ser as principais indicações do exame, que está em testes há mais de cinco anos.

        Um dos objetivos, segundo o especialista em medicina fetal, é entender melhor os problemas do feto. “A ideia é transformar isso numa interface amigável para a equipe. É mais fácil discutir o caso mostrando um modelo físico e não só vê-lo na tela”.

        Algumas malformações podem requerer cirurgias logo após o nascimento, que podem ser mais bem planejadas com o modelo impresso, diz Werner. Outra vantagem é facilitar a comunicação do problema aos pais.

        Mas, assim como aconteceu com a ultrassonografia 3D e a apelidada de 4D (em que é possível ver uma imagem tridimensional do feto se mexendo em tempo real), a nova tecnologia também deve servir para os pais guardarem uma lembrança do período de gestação do filho.

        Da impressão em 3D, leva-se uma réplica que pode virar até pingente de prata. “Não é esse o objetivo inicial, mas acaba pegando carona. A cópia é muito fiel.”

        [...]

Folha de São Paulo, 8/4/2012.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 198-199.

Entendendo a notícia:

01 – De acordo com a notícia, qual o significado das palavras abaixo:

-- Interface: ponto de integração com um usuário.

-- Malformação: má-formação; deformidade ou anomalia congênita.

02 – Qual a principal novidade apresentada na notícia em relação ao acompanhamento da gestação?

      A principal novidade é o lançamento no mercado de um exame que oferece a possibilidade de imprimir o feto em três dimensões, permitindo ter uma réplica física do bebê antes do nascimento.

03 – Qual o material utilizado para criar a réplica do bebê e quais opções são oferecidas aos pais?

      A réplica do bebê é feita de um material similar ao gesso ou de um tipo de resina. Os pais têm a opção de escolher o material e, inclusive, podem optar por uma réplica feita de prata.

04 – Segundo o ginecologista Heron Werner Jr., qual era o uso inicial dessa tecnologia e para quais casos ela ainda é considerada de maior importância?

      Segundo o ginecologista, o método estava sendo usado inicialmente apenas para pesquisas com foco em malformações fetais, como tumores cervicais, lesões externas, fenda no lábio e problemas nos membros e na coluna. Casos como esses ainda são considerados as principais indicações do exame.

05 – De acordo com o especialista em medicina fetal, qual o principal objetivo da utilização da impressão 3D do feto para a equipe médica?

      O principal objetivo para a equipe médica é entender melhor os problemas do feto, transformando a réplica em uma interface amigável para discussão dos casos. Segundo o especialista, é mais fácil debater o caso mostrando um modelo físico do que apenas visualizá-lo na tela.

06 – Quais são as vantagens mencionadas na notícia sobre a utilização do modelo impresso do feto além do auxílio no diagnóstico?

      Além de auxiliar no diagnóstico e entendimento de malformações, o modelo impresso facilita o planejamento de cirurgias que podem ser necessárias logo após o nascimento e também auxilia na comunicação do problema aos pais.

07 – De que forma a nova tecnologia de impressão 3D do feto pode ser utilizada pelos pais, seguindo a tendência de outras tecnologias de imagem?

      Assim como a ultrassonografia 3D e 4D, a nova tecnologia também deve servir para os pais guardarem uma lembrança do período de gestação do filho, podendo a réplica até mesmo se transformar em um pingente de prata.

08 – Qual a ressalva feita na notícia em relação ao uso da impressão 3D como lembrança para os pais?

      A ressalva é que, embora a cópia seja muito fiel e possa ser utilizada como lembrança (como um pingente de prata), esse não é o objetivo inicial da tecnologia, mas sim algo que "acaba pegando carona" no seu desenvolvimento.

 

 

MINICONTO: ATRÁS DO ESPESSO VÉU - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

 Miniconto: Atrás do espesso véu

                 Marina Colasanti 

      Disse adeus aos pais e, montada no camelo, partiu com a longa caravana na qual seguiam seus bens e as grandes arcas do dote. Atravessaram deserto, atravessaram montanhas. 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVWgeU3RcbtguFz3jdCxfPT33cw0juaPvG6wwJdQJ9KPbmWRPOTpwcLylQ7whNuWPSbu8tDh_GjS1Akdotn9J5mF9sIx-_KvthZ1S0TSkWOzWdtxCGmd2PT8tfepBlqXRg5FDw67PB9xmKg0Oxj6xvJqf2oQNoQwPSMPdEMdg1-JIpfeUInqdpCMzsww8/s320/photo-1553913861-dc2ce76b856c.jpg


Chegando afinal à terra do futuro esposo, eis que ele saiu de casa e veio andando ao seu encontro. “Este é aquele com quem viverás para sempre”, disse o chefe da caravana à mulher. Então ela pegou a ponta do espesso véu que trazia enrolado na cabeça, e com ele cobriu o rosto, sem que nem se visse os olhos. Assim permaneceria dali em diante. Para que jamais, soubesse o que havia escolhido, aquele que a escolhera sem conhecê-la.

COLASANTI, Marina. Contos de amor rasgados Rio de Janeiro: Rocco, 1986. p. 47.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 140.

Entendendo o miniconto:

01 – Qual a situação inicial apresentada no miniconto e quem são os personagens envolvidos nessa partida?

      A situação inicial apresenta uma mulher que se despede dos pais e parte em uma longa caravana montada em um camelo. Junto com ela, seguem seus bens e o grande dote. Os personagens envolvidos nessa partida são a mulher, seus pais e o chefe da caravana.

02 – Qual o significado da chegada à "terra do futuro esposo" para a protagonista da história?

      A chegada à "terra do futuro esposo" marca o momento do encontro da protagonista com o homem com quem ela viverá para sempre, conforme a designação do chefe da caravana. É o ponto culminante da sua jornada e o início de sua nova vida matrimonial.

03 – Qual a ação da mulher ao ser apresentada ao futuro esposo e qual o simbolismo desse gesto?

      Ao ser apresentada ao futuro esposo, a mulher pega a ponta do espesso véu que trazia e cobre completamente o rosto, de modo que nem mesmo seus olhos ficam visíveis. Esse gesto simboliza uma renúncia à sua própria identidade e individualidade diante do casamento arranjado. O véu a oculta, impedindo que o esposo a conheça antes do matrimônio e, como se revela no final, evitando que ela própria saiba o que escolheu.

04 – Segundo a última frase do miniconto, qual o propósito de a mulher permanecer com o rosto coberto dali em diante?

      A mulher permanece com o rosto coberto para que jamais soubesse o que havia escolhido, aquele que a escolhera sem conhecê-la. Isso sugere uma crítica à falta de escolha e ao casamento arranjado, onde a individualidade e o conhecimento mútuo são suprimidos.

05 – Que reflexão o miniconto pode suscitar sobre temas como casamento arranjado, identidade feminina e conhecimento no contexto das relações?

      O miniconto suscita reflexões sobre a natureza do casamento arranjado e a passividade imposta à mulher, que é escolhida sem ser conhecida e, por sua vez, é impedida de conhecer sua escolha. O véu simboliza a ocultação da identidade feminina e a ausência de conhecimento mútuo como base para o relacionamento, levantando questões sobre liberdade de escolha e a construção de laços afetivos autênticos.

 

 

 

MINICONTO: DESPEDIDA - DALTON TREVISAN - COM GABARITO

 Miniconto: Despedida

                 Dalton Trevisan

        Meu pai leva-me à porta do famoso noturno para a cidade grande:

        -- Cuide-se, meu filho. É um mundo selvagem.

        Esse verbo clamante no teu ouvido. Por delicadeza, perdi a minha voz. Ó profetas ó sermões!

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfUU3UXroL9b6-8ab6ToptXB1sINcOzGW6Jr12jsfkM6WzhW_eHv8tDQILzFl_cXwgYUIJXFZiHZWz501dWO_2LN17XSkw6pitcVRcgElzlzEQDnrORDMUF17W023a1E6bY2qhZkiQAq_wQcvBfgbWqUIRf0UceMp1XuEjL1i_ROxOqgnZ-NhyphenhypheneB427Nc/s320/744cb8866d3fe82d24c4ef658fdbf303-gpMedium.jpg 


        -- Longe da família, será você contra todos.

        Homem não se beija nem abraça, nos apertamos duramente as mãos. Me instalo a uma das janelas, com a vidraça descida. Mais que me esforce, impossível erguê-la. Já não podemos falar. Esse pai dos pais ali na plataforma, mudo e solene. O trem não parte. Fumaça da estação? De repente ei-lo de olhos marejados.

        E, sem querer, também eu comovido. Diante de mim o feroz tirano da família? Ditador da verdade, dono da palavra final? Primeira vez, em tantos anos, vejo um senhor muito antigo. Pobre velhinho solitário. o trem não parte. Meu pai saca o relógio do colete, dois giros na corda. Pressuroso, digo que se vá. Doente, não apanhe friagem. E ele sem escutar.

        Olha de novo o relógio. Aceno que pode ir, não espere a partida. Quer ver a hora? Exibe o patacão na ponta da corrente dourada. Nosso último encontro, sei lá. E, ainda na despedida, o eterno equívoco entre nós. Maldita vidraça de silêncio a nos separar. Desta vez para sempre.

Dalton Trevisan. Quem tem medo de vampiro? São Paulo: Ática, 1998. p. 75-76.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 161.

Entendendo o miniconto:

01 – Qual o cenário e a situação inicial apresentada no miniconto?

      O cenário é a plataforma de uma estação de trem, onde o pai leva o filho para se despedir antes de sua partida para a cidade grande em um "famoso noturno". A situação inicial é o momento da despedida entre pai e filho.

02 – Quais conselhos o pai oferece ao filho antes da partida e como o narrador reage a essas palavras?

      O pai oferece dois conselhos ao filho: "Cuide-se, meu filho. É um mundo selvagem" e "Longe da família, será você contra todos". O narrador descreve o primeiro conselho como um "verbo clamante" que o silencia ("Por delicadeza, perdi a minha voz. Ó profetas ó sermões!").

03 – Como a relação entre pai e filho é retratada no momento da despedida, especialmente em relação à demonstração de afeto e à comunicação?

      A relação é retratada como formal e distante em termos de afeto físico ("Homem não se beija nem abraça, nos apertamos duramente as mãos"). A comunicação se torna progressivamente mais difícil devido à vidraça que não se abre, simbolizando uma barreira de silêncio entre eles.

04 – Que transformação na percepção do filho em relação ao pai ocorre durante a despedida e qual o motivo dessa mudança?

      Durante a despedida, o filho tem uma nova percepção do pai. Ele o vê pela primeira vez como um "senhor muito antigo", um "pobre velhinho solitário", em contraste com a imagem anterior de "feroz tirano da família" e "ditador da verdade". Essa mudança ocorre ao perceber a emoção do pai (olhos marejados) e sua aparente fragilidade e preocupação.

05 – Qual o significado da insistência do pai em mostrar o relógio e da menção ao "eterno equívoco" e à "maldita vidraça de silêncio"?

      A insistência do pai em mostrar o relógio pode simbolizar a preocupação com o tempo do filho na cidade grande ou talvez uma tentativa de compartilhar um último gesto significativo. O "eterno equívoco" e a "maldita vidraça de silêncio" representam a dificuldade de comunicação e a distância emocional que sempre existiu entre eles, culminando nessa despedida que o narrador pressente ser definitiva ("Desta vez para sempre"). A vidraça se torna uma metáfora da incomunicabilidade que os separou ao longo da vida e que persiste no derradeiro encontro.