sábado, 26 de abril de 2025

NOTÍCIA: BEBÊ IMPRESSO - FRAGMENTO - DÉBORA MISMETTI - COM GABARITO

 Notícia: Bebê impresso – Fragmento

             Débora Mismetti – Editora – assistente de “Saúde”

        Os nove meses de gestação não precisam mais terminar para ter o bebê nas mãos. Um exame que entra neste mês no mercado no país oferece a possibilidade de imprimir o feto em três dimensões.

 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSs-VxQUOGpq6c4ovt2ZhvWHuE-a2pxE6mFzKvUxnMZ7l7G1t_gqRCBUIVMyV_MhriSvCF9uJCJ2e6usV3qAUhYRkC59zhHgQx8CS-x7C5P_xePAKx3y3h_8O0Mje9kPro5qr3mhfVkcvKZ9AQ9TPCcZ110fj-mxdu_s-ayk1fejGdlF-XpblqXeggs_k/s320/138940-270x370-1.jpeg


        O resultado é uma réplica do bebê em tamanho real, feita de um material similar ao gesso ou de um tipo de resina – e, a depender da escolha dos pais, até de prata.

        Até agora, afirma o ginecologista Heron Werner Jr., o método estava sendo usado só para pesquisas com foco em malformações, como tumores cervicais, lesões externas, fenda no lábio e problemas nos membros e na coluna. Casos como esses ainda devem ser as principais indicações do exame, que está em testes há mais de cinco anos.

        Um dos objetivos, segundo o especialista em medicina fetal, é entender melhor os problemas do feto. “A ideia é transformar isso numa interface amigável para a equipe. É mais fácil discutir o caso mostrando um modelo físico e não só vê-lo na tela”.

        Algumas malformações podem requerer cirurgias logo após o nascimento, que podem ser mais bem planejadas com o modelo impresso, diz Werner. Outra vantagem é facilitar a comunicação do problema aos pais.

        Mas, assim como aconteceu com a ultrassonografia 3D e a apelidada de 4D (em que é possível ver uma imagem tridimensional do feto se mexendo em tempo real), a nova tecnologia também deve servir para os pais guardarem uma lembrança do período de gestação do filho.

        Da impressão em 3D, leva-se uma réplica que pode virar até pingente de prata. “Não é esse o objetivo inicial, mas acaba pegando carona. A cópia é muito fiel.”

        [...]

Folha de São Paulo, 8/4/2012.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 198-199.

Entendendo a notícia:

01 – De acordo com a notícia, qual o significado das palavras abaixo:

-- Interface: ponto de integração com um usuário.

-- Malformação: má-formação; deformidade ou anomalia congênita.

02 – Qual a principal novidade apresentada na notícia em relação ao acompanhamento da gestação?

      A principal novidade é o lançamento no mercado de um exame que oferece a possibilidade de imprimir o feto em três dimensões, permitindo ter uma réplica física do bebê antes do nascimento.

03 – Qual o material utilizado para criar a réplica do bebê e quais opções são oferecidas aos pais?

      A réplica do bebê é feita de um material similar ao gesso ou de um tipo de resina. Os pais têm a opção de escolher o material e, inclusive, podem optar por uma réplica feita de prata.

04 – Segundo o ginecologista Heron Werner Jr., qual era o uso inicial dessa tecnologia e para quais casos ela ainda é considerada de maior importância?

      Segundo o ginecologista, o método estava sendo usado inicialmente apenas para pesquisas com foco em malformações fetais, como tumores cervicais, lesões externas, fenda no lábio e problemas nos membros e na coluna. Casos como esses ainda são considerados as principais indicações do exame.

05 – De acordo com o especialista em medicina fetal, qual o principal objetivo da utilização da impressão 3D do feto para a equipe médica?

      O principal objetivo para a equipe médica é entender melhor os problemas do feto, transformando a réplica em uma interface amigável para discussão dos casos. Segundo o especialista, é mais fácil debater o caso mostrando um modelo físico do que apenas visualizá-lo na tela.

06 – Quais são as vantagens mencionadas na notícia sobre a utilização do modelo impresso do feto além do auxílio no diagnóstico?

      Além de auxiliar no diagnóstico e entendimento de malformações, o modelo impresso facilita o planejamento de cirurgias que podem ser necessárias logo após o nascimento e também auxilia na comunicação do problema aos pais.

07 – De que forma a nova tecnologia de impressão 3D do feto pode ser utilizada pelos pais, seguindo a tendência de outras tecnologias de imagem?

      Assim como a ultrassonografia 3D e 4D, a nova tecnologia também deve servir para os pais guardarem uma lembrança do período de gestação do filho, podendo a réplica até mesmo se transformar em um pingente de prata.

08 – Qual a ressalva feita na notícia em relação ao uso da impressão 3D como lembrança para os pais?

      A ressalva é que, embora a cópia seja muito fiel e possa ser utilizada como lembrança (como um pingente de prata), esse não é o objetivo inicial da tecnologia, mas sim algo que "acaba pegando carona" no seu desenvolvimento.

 

 

MINICONTO: ATRÁS DO ESPESSO VÉU - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

 Miniconto: Atrás do espesso véu

                 Marina Colasanti 

      Disse adeus aos pais e, montada no camelo, partiu com a longa caravana na qual seguiam seus bens e as grandes arcas do dote. Atravessaram deserto, atravessaram montanhas. 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVWgeU3RcbtguFz3jdCxfPT33cw0juaPvG6wwJdQJ9KPbmWRPOTpwcLylQ7whNuWPSbu8tDh_GjS1Akdotn9J5mF9sIx-_KvthZ1S0TSkWOzWdtxCGmd2PT8tfepBlqXRg5FDw67PB9xmKg0Oxj6xvJqf2oQNoQwPSMPdEMdg1-JIpfeUInqdpCMzsww8/s320/photo-1553913861-dc2ce76b856c.jpg


Chegando afinal à terra do futuro esposo, eis que ele saiu de casa e veio andando ao seu encontro. “Este é aquele com quem viverás para sempre”, disse o chefe da caravana à mulher. Então ela pegou a ponta do espesso véu que trazia enrolado na cabeça, e com ele cobriu o rosto, sem que nem se visse os olhos. Assim permaneceria dali em diante. Para que jamais, soubesse o que havia escolhido, aquele que a escolhera sem conhecê-la.

COLASANTI, Marina. Contos de amor rasgados Rio de Janeiro: Rocco, 1986. p. 47.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 140.

Entendendo o miniconto:

01 – Qual a situação inicial apresentada no miniconto e quem são os personagens envolvidos nessa partida?

      A situação inicial apresenta uma mulher que se despede dos pais e parte em uma longa caravana montada em um camelo. Junto com ela, seguem seus bens e o grande dote. Os personagens envolvidos nessa partida são a mulher, seus pais e o chefe da caravana.

02 – Qual o significado da chegada à "terra do futuro esposo" para a protagonista da história?

      A chegada à "terra do futuro esposo" marca o momento do encontro da protagonista com o homem com quem ela viverá para sempre, conforme a designação do chefe da caravana. É o ponto culminante da sua jornada e o início de sua nova vida matrimonial.

03 – Qual a ação da mulher ao ser apresentada ao futuro esposo e qual o simbolismo desse gesto?

      Ao ser apresentada ao futuro esposo, a mulher pega a ponta do espesso véu que trazia e cobre completamente o rosto, de modo que nem mesmo seus olhos ficam visíveis. Esse gesto simboliza uma renúncia à sua própria identidade e individualidade diante do casamento arranjado. O véu a oculta, impedindo que o esposo a conheça antes do matrimônio e, como se revela no final, evitando que ela própria saiba o que escolheu.

04 – Segundo a última frase do miniconto, qual o propósito de a mulher permanecer com o rosto coberto dali em diante?

      A mulher permanece com o rosto coberto para que jamais soubesse o que havia escolhido, aquele que a escolhera sem conhecê-la. Isso sugere uma crítica à falta de escolha e ao casamento arranjado, onde a individualidade e o conhecimento mútuo são suprimidos.

05 – Que reflexão o miniconto pode suscitar sobre temas como casamento arranjado, identidade feminina e conhecimento no contexto das relações?

      O miniconto suscita reflexões sobre a natureza do casamento arranjado e a passividade imposta à mulher, que é escolhida sem ser conhecida e, por sua vez, é impedida de conhecer sua escolha. O véu simboliza a ocultação da identidade feminina e a ausência de conhecimento mútuo como base para o relacionamento, levantando questões sobre liberdade de escolha e a construção de laços afetivos autênticos.

 

 

 

MINICONTO: DESPEDIDA - DALTON TREVISAN - COM GABARITO

 Miniconto: Despedida

                 Dalton Trevisan

        Meu pai leva-me à porta do famoso noturno para a cidade grande:

        -- Cuide-se, meu filho. É um mundo selvagem.

        Esse verbo clamante no teu ouvido. Por delicadeza, perdi a minha voz. Ó profetas ó sermões!

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfUU3UXroL9b6-8ab6ToptXB1sINcOzGW6Jr12jsfkM6WzhW_eHv8tDQILzFl_cXwgYUIJXFZiHZWz501dWO_2LN17XSkw6pitcVRcgElzlzEQDnrORDMUF17W023a1E6bY2qhZkiQAq_wQcvBfgbWqUIRf0UceMp1XuEjL1i_ROxOqgnZ-NhyphenhypheneB427Nc/s320/744cb8866d3fe82d24c4ef658fdbf303-gpMedium.jpg 


        -- Longe da família, será você contra todos.

        Homem não se beija nem abraça, nos apertamos duramente as mãos. Me instalo a uma das janelas, com a vidraça descida. Mais que me esforce, impossível erguê-la. Já não podemos falar. Esse pai dos pais ali na plataforma, mudo e solene. O trem não parte. Fumaça da estação? De repente ei-lo de olhos marejados.

        E, sem querer, também eu comovido. Diante de mim o feroz tirano da família? Ditador da verdade, dono da palavra final? Primeira vez, em tantos anos, vejo um senhor muito antigo. Pobre velhinho solitário. o trem não parte. Meu pai saca o relógio do colete, dois giros na corda. Pressuroso, digo que se vá. Doente, não apanhe friagem. E ele sem escutar.

        Olha de novo o relógio. Aceno que pode ir, não espere a partida. Quer ver a hora? Exibe o patacão na ponta da corrente dourada. Nosso último encontro, sei lá. E, ainda na despedida, o eterno equívoco entre nós. Maldita vidraça de silêncio a nos separar. Desta vez para sempre.

Dalton Trevisan. Quem tem medo de vampiro? São Paulo: Ática, 1998. p. 75-76.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 161.

Entendendo o miniconto:

01 – Qual o cenário e a situação inicial apresentada no miniconto?

      O cenário é a plataforma de uma estação de trem, onde o pai leva o filho para se despedir antes de sua partida para a cidade grande em um "famoso noturno". A situação inicial é o momento da despedida entre pai e filho.

02 – Quais conselhos o pai oferece ao filho antes da partida e como o narrador reage a essas palavras?

      O pai oferece dois conselhos ao filho: "Cuide-se, meu filho. É um mundo selvagem" e "Longe da família, será você contra todos". O narrador descreve o primeiro conselho como um "verbo clamante" que o silencia ("Por delicadeza, perdi a minha voz. Ó profetas ó sermões!").

03 – Como a relação entre pai e filho é retratada no momento da despedida, especialmente em relação à demonstração de afeto e à comunicação?

      A relação é retratada como formal e distante em termos de afeto físico ("Homem não se beija nem abraça, nos apertamos duramente as mãos"). A comunicação se torna progressivamente mais difícil devido à vidraça que não se abre, simbolizando uma barreira de silêncio entre eles.

04 – Que transformação na percepção do filho em relação ao pai ocorre durante a despedida e qual o motivo dessa mudança?

      Durante a despedida, o filho tem uma nova percepção do pai. Ele o vê pela primeira vez como um "senhor muito antigo", um "pobre velhinho solitário", em contraste com a imagem anterior de "feroz tirano da família" e "ditador da verdade". Essa mudança ocorre ao perceber a emoção do pai (olhos marejados) e sua aparente fragilidade e preocupação.

05 – Qual o significado da insistência do pai em mostrar o relógio e da menção ao "eterno equívoco" e à "maldita vidraça de silêncio"?

      A insistência do pai em mostrar o relógio pode simbolizar a preocupação com o tempo do filho na cidade grande ou talvez uma tentativa de compartilhar um último gesto significativo. O "eterno equívoco" e a "maldita vidraça de silêncio" representam a dificuldade de comunicação e a distância emocional que sempre existiu entre eles, culminando nessa despedida que o narrador pressente ser definitiva ("Desta vez para sempre"). A vidraça se torna uma metáfora da incomunicabilidade que os separou ao longo da vida e que persiste no derradeiro encontro.

 

 

REPORTAGEM: PLANTAR ÁRVORES DÁ MAIS PRAZER DO QUE FAZER FILMES - MARIA DA PAZ TREFAUT - COM GABARITO

 Reportagem: Plantar árvores dá mais prazer do que fazer filmes

          O cineasta paulista Fernando Meirelles concilia o cinema com o ativismo em defesa das florestas e dedica boa parte do seu tempo a acompanhar as questões ecológicas. Atualmente, anda pouco entusiasmo com os eventos do setor no Brasil.

Por Maria da Paz Trefaut

    

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheR_1jxn9zzdnH8KSRvM3fni6GwEpYgWST0I25pAuhyO4OcrVwFl-2H-rrs1PRq8CEd4oGdJCR1EMUQP-84PZ9iJftQUqwwCH43xDMC_nuDXJ8yvraf525Hi3yhMsYzwGc5iDFYYh2CHEkapwwY-uPmZOkWgIVJbZtrJ8chbsQYeMSAoDjdSyyRse18H4/s320/24b53750e82c9e4f97b2301175fd417d.jpeg

    

Aos 56 anos, o cineasta Fernando Meirelles integra a galeria dos melhores diretores do cinema brasileiro. Entusiasta de filmes experimentais na juventude, criou programas para a televisão, trabalhou com publicidade e dirigiu sucessos como Cidade de Deus, em que usou a estética dos videoclipes para retratar a violência no Rio de Janeiro – obra que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2004. Depois, vieram O jardineiro fiel e Ensaio sobre a cegueira, com atores e produtores internacionais. Seu filme mais recente, 360, [...] foi filmado em Viena com os atores Jude Law, Raquel Weisz e Anthony Hopkins. Em 2012, o cineasta iniciará um longa baseado no livro Nêmesis, do inglês Peter Adams, sobre a vida do multimilionário grego Aristóteles Onasis.

        Tanto quanto [por] cinema, Meirelles sempre se interessou por ecologia. No ano passado, chegou a ir ao Senado para se posicionar contra o novo Código Florestal. Há cinco anos vem se dedicando a um projeto de reflorestamento das matas ciliares da sua Fazenda Rifaina, em Rifaina, no interior de São Paulo. Já replantou 2,8 hectares com 3 mil mudas de 32 espécies de árvores nativas, das quais muito se orgulha, e vai continuar plantando. “Continuo melhorando meu viveiro de mudas nativas. Isso me dá mais satisfação do que fazer filmes”, afirma. Nesta entrevista, Meirelles revela que não está nada satisfeito com os rumos do Brasil.

        Precisamos mudar de cultura para adequar nossa civilização aos limites do planeta?

        Sabemos que precisaríamos dos recursos de três planetas para a população atual alcançar os padrões de consumo do Primeiro Mundo. Esse parece ser o objetivo de todos os governos e habitantes. Mas está claro que essas aspirações não cabem no espaço que temos. Apesar de muitos estudos anunciando a falta iminente de minérios, de peixes ou de água potável, nossa sociedade não sabe existir sem crescer. A mim parece óbvio que, mesmo contando com a ciência para tornar mais eficiente o uso de energia e de recursos naturais, uma hora vamos ter de inventar outra maneira de viver que não dependa do crescimento.

        Você integra o grupo Floresta Faz Diferença. O que essa causa representa para você?

        O www.florestafazdiferenca.org.br é o site de uma associação de 144 ONGs criada para informar o debate sobre o Código Florestal. Nele há informações a respeito das mudanças nocivas propostas para o código e alternativas elaboradas pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência ou pela Academia Brasileira de Ciência. Há, também, depoimentos de artistas, cientistas e técnicos. Tentamos iluminar a cabeça dos congressistas, embora muitos pareçam ser à prova de luz. Esse novo Código Florestal pode vir a ser um dos maiores erros já cometidos pelo Congresso, pois autoriza a derrubada de uma quantidade de mata que dificilmente será recuperada um dia. A visão de alguns ruralistas é estreita: eles não apresentam nenhum argumento que não seja o lucro de curto alcance.

        Há pessimismo sobre o esforço para se controlar as mudanças climáticas. Estamos numa corrida contra o tempo?

        Alguns cientistas dizem que estamos quase no ponto em que o processo de aquecimento se torna irreversível. Outros, que já ultrapassamos. Em 2000 estava claro que para o planeta não esquentar 2º centígrados até 2050 as emissões de carbono teriam que ser reduzidas em 2% ao ano, ao longo da década. Não aconteceu. Há indícios claros de que algo está mudando muito mais rapidamente do que se previa.

        Que exemplos o preocupam?

        No norte do Canadá existe a chamada Passagem do Nordeste, que era atravessada por barcos quebra-gelo no verão. Desde 2007 ela fica completamente aberta durante o verão e, para a alegria dos cargueiros, não há mais gelo. Em 2011 houve o maior degelo já registrado na região. Quando essa passagem deixar de se fechar no inverno, a água aquecida vai acelerar o degelo do Ártico. Isso pode causar um tal aumento do nível dos oceanos que a rua Ataulfo de Paiva, no Leblon, no Rio, poderá se transformar num embarcadouro mais cedo do que imaginamos. Mesmo assim o Brasil investe toda sua energia em mais extração de óleo e tenta acelerar o crescimento. Maluco, não?

        O desenvolvimento da China, da Índia e do Brasil diminui a pobreza global, mas aumenta os impactos socioambientais. Dá para desarmar o impasse?

        Uma hora não será uma questão de querer ou não desarmar o impasse. Não haverá mais recursos naturais e ponto. Segundo a ONU, há 1,1 bilhão de pessoas sem acesso a água potável. Massas de refugiados estão começando a se deslocar no norte da África. Isso pode provocar mudanças geopolíticas e conflitos entre países. a China tem planos para ampliar a dessalinização da água do mar. Como essa água é mais cara, será usada de maneira mais racional. É pena que só assim consigamos ser mais racionais.

        Você acha que há empenho em mudar o modelo de vida consumista que temos?

        Muito pouco. Ambientalista ainda é sinônimo de chato, quando não de hippie maconheiro. “É gente contra o progresso, que acredita que comida nasce em supermercado”, diz a inacreditável senadora Kátia Abreu. Em curto prazo entendo por que se associa crescimento a bem-estar. O problema é que a visão de longo prazo não cabe no sistema visual dos homens públicos: eles trabalham com horizontes que vão, no máximo, até as próximas duas ou três eleições.

        A mensagem ambiental prega comprar menos, gastar menos, dirigir menos, compartilhar recursos, sacrifícios e severidade. É avessa à abundância e ao desfrute. Dá para mudar essas percepções?

        Não acho que haveria menos desfrute num mundo que consumisse menos bens. Desfruto mais da minha vida quando uso meu dinheiro e meu tempo para ler, estudar, ir ao cinema, praticar esporte, encontrar os amigos ou ouvir música. Essas atividades são sustentáveis e mais desfrutáveis do que achar vaga em estacionamento de shopping para comprar bugigangas que não preciso e que entopem armários.

        Qual é sua atitude diante do automóvel, da bicicleta e dos meios de transporte urbanos?

        Moro fora da cidade de São Paulo, num lugar que, infelizmente, não tem opção de transporte público. Organizei minha vida para não ter que sair de casa todos os dias. Quando tenho que ir ao centro, deixo meu carro próximo a uma estação e vou de metrô. Quase não uso ônibus, devido à falta de qualidade do serviço – não há corredores de trânsito, as viagens são muito demoradas, há poluição –, mas seria um usuário assíduo se houvesse opção melhor. Fora do Brasil, raramente tomo táxi. Só uso bicicleta ou transporte público. Em Los Angeles sou obrigado a alugar carro, pois, como aqui, as opções de transporte público são pouco eficientes.

        No passado todos se diziam democratas. Agora todas as empresas e todos os países se dizem sustentáveis. A palavra está desgastada?

        Virou um ponto de venda, uma questão de marketing, mais do que uma efetiva preocupação com os processos de produção e uso de energia e de recursos. Mesmo assim, é louvável que a sustentabilidade tenha se tornado um valor desejável. Ao anunciar um apartamento sustentável, mesmo que o imóvel não seja de fato lá essas coisas, vende-se a ideia de responsabilidade ambiental como um valor desejável.

        [...]

        Você é contra o eucalipto?

        Não. Acho que serve como combustível e para a produção de celulose. Mas querer usar plantação de eucalipto como reserva legal de floresta é palhaçada. Quantos passarinhos você já ouviu num bosque de eucaliptos? Não é por ser árvore que vamos acreditar que lavoura de eucalipto seja floresta. Floresta tem que ter diversidade.

        O cinema pode mitigar as emissões de carbono?

        Como toda forma de comunicação, o cinema pode ajudar a mudar comportamentos ao informar e tocar as pessoas. Lembro que fiquei extremamente impactado ao assistir a filmes como o francês Home – nosso Planeta, nossa casa ou o norte-americano Food Inc. São filmes sensacionais a respeito dos temas desta entrevista.

Planeta, nº 472. 

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 240-241.

Entendendo a reportagem:

01 – Quem é Fernando Meirelles e qual a sua principal atividade profissional mencionada na reportagem?

      Fernando Meirelles é um cineasta paulista, conhecido por dirigir filmes como "Cidade de Deus", "O Jardineiro Fiel" e "Ensaio sobre a Cegueira".

02 – Além do cinema, qual outra área de interesse e atuação é destacada em relação a Fernando Meirelles?

      Além do cinema, Meirelles demonstra um grande interesse e atuação na área da ecologia e do ativismo em defesa das florestas.

03 – Qual projeto de reflorestamento Meirelles está desenvolvendo e onde ele está localizado?

      Meirelles está dedicando-se a um projeto de reflorestamento das matas ciliares de sua Fazenda Rifaina, localizada em Rifaina, no interior de São Paulo.

04 – Segundo Meirelles, o que lhe proporciona mais satisfação atualmente: plantar árvores ou fazer filmes?

      Segundo Meirelles, melhorar seu viveiro de mudas nativas e plantar árvores lhe dá mais satisfação do que fazer filmes.

05 – Qual a crítica de Meirelles em relação ao novo Código Florestal brasileiro?

      Meirelles critica o novo Código Florestal por considerar que ele autoriza a derrubada de uma grande quantidade de mata que dificilmente será recuperada, e por perceber uma visão estreita dos ruralistas focada apenas no lucro de curto alcance.

06 – Qual exemplo geográfico preocupa Meirelles em relação ao aquecimento global e suas consequências?

      Meirelles se preocupa com o degelo da Passagem do Nordeste, no norte do Canadá, que está ficando completamente aberta durante o verão, acelerando o degelo do Ártico e podendo causar um aumento significativo no nível dos oceanos.

07 – Qual a visão de Meirelles sobre o modelo de vida consumista e o empenho em mudá-lo?

      Meirelles acredita que há pouco empenho em mudar o modelo de vida consumista, e que ambientalista ainda é visto de forma negativa por muitos, com uma visão de curto prazo prevalecendo entre os homens públicos.

08 – Como Meirelles descreve suas preferências de lazer em relação ao consumo de bens materiais?

      Meirelles afirma que desfruta mais da vida ao investir seu tempo e dinheiro em atividades como leitura, estudo, cinema, esportes, amigos e música, considerando-as mais sustentáveis e prazerosas do que o consumo excessivo de bens desnecessários.

09 – Qual a opinião de Meirelles sobre a palavra "sustentabilidade" no contexto atual?

      Meirelles acredita que a palavra "sustentabilidade" se tornou um ponto de venda e marketing, muitas vezes sem uma preocupação efetiva com os processos de produção e uso de recursos, embora reconheça que é positivo que tenha se tornado um valor desejável.

10 – Qual a ressalva de Meirelles em relação ao plantio de eucalipto como reserva legal de floresta?

      Meirelles não é contra o eucalipto para certos fins, como combustível e celulose, mas considera um erro utilizá-lo como reserva legal de floresta, pois um bosque de eucaliptos não possui a diversidade de uma floresta nativa.

 

CRÔNICA: CONVERSA CONTEMPORÂNEA - FRAGMENTO - FABRÍCIO CORSALETTI - COM GABARITO

 Crônica: Conversa contemporânea – Fragmento

              FABRÍCIO CORSALETTI

        -- Hmmm, Renata, tá uma delícia!

        -- Que bom que vocês gostaram.

        -- Fantástico!

        -- Incrível!

        -- Ma-ra-vi-lho-so!

        -- Genial, Renatinha!

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqyQ_6MtBTvAxbHZ_FIt4Saf2DDpw1as2r0_gRgZou3DZ_9frcBfdWE1j1lRlG8hyqIFzCvXVLdOYTHnIDVOfYYAeyobPpbZ-NmCP5rgjnaIYp7SHakvMSAK3B-NwA7gXbOJRrYj5NTcg8GUXBCFOI6Qzy_ZdV3UuO6itSnEPYUIdjXpi2xFuKRhR-vu8/s1600/images.png


        -- É fácil de fazer. É só escolher bem os olhos de tatu, temperar com capacetes frescos...

        -- De motoboy?

        -- Não. Tem que ser de motocross.

        -- Tá. E que mais?

        -- Aí afogam-se as folhas de manjericão em azeite de lágrimas, e forno!

        -- Eu disse que era azeite de lágrimas!

        -- E essa torta, como você conseguiu essa textura?

        -- Me passa o vinho, por favor?

        -- Simples. Vai no Santa Bárbara, compra picanha de grilo moída e mistura com polvilho alemão. Pronto. Se quiser, joga umas presilhas por cima que fica ótimo. O Túlio não gosta. Né, amor?

        -- Demais, Renatinha, demais!

        -- Mano, ontem fui no Le Bateau, ou Le Manteau, não lembro agora...

        -- É Le Manteau.

        -- Tá, não importa. Comi uma quiche que foi a melhor quiche que comi na vida. De cebolinha com fios de cabelo de albinos calvos. Coisa de louco.

        [...]

        -- Ixe, esqueci a sobremesa no fogo. Já volto.

        -- Ela tá feliz, né?

        -- Super!

        -- E como ela tá mandando bem!

        -- As suas massas também são ótimas, Marcos.

        -- Por que cê tá me falando isso? Não precisa me comparar com a Renata. Parece que eu tô com inveja dela.

        -- Tá um pouquinho...

        -- Era só o que me faltava.

        -- Abram espaço que eu tô chegando... Licença! Licençaaa...

        -- Uhu!

        -- Aêêê!

        -- O que é?

        -- Doce de leite de baby camelo com pêssegos frígidos aquecidos em banho josé maria.

        -- Hmmmmm...

        -- Arrasou!

        -- Me passa o vinho? Ei, me passa o vinho aí!

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/1076377-conversa-contemporanea.shtml. Acesso em: 27/4/2012.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 205.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a atmosfera geral da conversa inicial entre os personagens e como eles avaliam a comida de Renata?

      A atmosfera inicial da conversa é bastante efusiva e elogiosa. Os personagens utilizam exclamações e adjetivos como "delícia", "fantástico", "incrível", "maravilhoso" e "genial" para expressar que gostaram muito da comida de Renata.

02 – Qual é o tom predominante nas "receitas" apresentadas por Renata e qual o efeito desse tom na conversa?

      O tom predominante nas "receitas" de Renata é claramente irônico e absurdo. Ela descreve ingredientes e preparações surreais, como "olhos de tatu temperados com capacetes frescos de motocross" e "folhas de manjericão afogadas em azeite de lágrimas". Esse tom cria um efeito cômico e de estranhamento na conversa, contrastando com os elogios exagerados e revelando uma possível crítica à superficialidade dos comentários.

03 – Como os outros personagens reagem às descrições inusitadas dos pratos de Renata?

      Inicialmente, os outros personagens parecem não notar a estranheza das descrições de Renata, seguindo com seus elogios entusiásticos. Há uma breve confusão sobre o tipo de capacete ("de motoboy?" / "Não. Tem que ser de motocross."), mas logo a conversa prossegue sem questionamentos sobre a veracidade dos ingredientes.

04 – Qual a reação de Marcos ao elogio feito às suas massas e o que essa reação sugere sobre seus sentimentos em relação a Renata?

      Marcos reage com irritação ao elogio de suas massas, interpretando-o como uma comparação desfavorável com Renata e insinuando que ele estaria com inveja dela ("Por que cê tá me falando isso? Não precisa me comparar com a Renata. Parece que eu tô com inveja dela."). Essa reação sugere que Marcos se sente inseguro ou competitivo em relação ao sucesso culinário de Renata.

05 – Qual a natureza da sobremesa trazida pelo último personagem a chegar e como os outros reagem a ela?

      A sobremesa trazida pelo último personagem é descrita de forma igualmente extravagante e incomum: "Doce de leite de baby camelo com pêssegos frígidos aquecidos em banho josé maria". A reação dos outros é positiva e entusiástica, com exclamações como "Hmmm..." e "Arrasou!".

06 – Que elemento se repete ao longo da conversa, indicando talvez um certo foco ou desejo dos personagens?

      A pergunta "Me passa o vinho?" se repete ao longo da conversa, sugerindo que a bebida é um elemento importante e presente no encontro, talvez indicando um desejo de descontração ou um acompanhamento constante da refeição.

07 – Qual a possível crítica ou reflexão que a crônica pode estar levantando sobre as conversas contemporâneas a partir desse fragmento?

      A crônica pode estar levantando uma crítica à superficialidade e à falta de profundidade em algumas conversas contemporâneas, onde elogios vazios e descrições absurdas são aceitas sem questionamento. A ausência de uma reação genuína às "receitas" de Renata e a preocupação de Marcos com a comparação sugerem uma sociedade focada na aparência e na competição, em vez de uma comunicação autêntica e atenta aos detalhes. A crônica utiliza o humor e o absurdo para satirizar essa dinâmica social.

 

 

POEMA: CARTA DE UM CONTRATADO - ANTÔNIO JACINTO - COM GABARITO

 Poema: Carta de um contratado

              Antônio Jacinto

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que dissesse
deste anseio
de te ver
deste receio
de te perder
deste mais bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue...

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8znEm0QsYCVZxs6EAQI66CtSBXT-4_sxOXYf7-BUpkAzzIEuOvvISTRN9Dqq9xsEy27ar64f93wsPN18IREuyUvPirrnJhyphenhyphenF7pbyur0gMVLFLerQXsh_q3TrX-6P9SdZc0BkXyQvZN67Pc8Apo8qhcFD0MCzo2hWn0qnAEv0i23ZLkJXFwpPEsipOf6o/s320/p000007339.jpg


Eu queria escrever-te uma carta
amor,

uma carta de confidências íntimas,
uma carta de lembranças de ti,
de ti
dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como diloa
dos teus olhos doces como maboque
do teu andar de onça
e dos teus carinhos
que maiores não encontrei por aí...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que recordasse nossos tempos a capopa
nossas noites perdidas no capim
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
o luar que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura
da nossa paixão
e a amargura da nossa separação...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que a não lesses sem suspirar
que a escondesses de papai Bombo
que a sonegasses a mamãe Kieza
que a relesses sem a frieza
do esquecimento
uma carta que em todo o Kilombo
outra a ela não tivesse merecimento...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que ta levasse o vento que passa
uma carta que os cajus e cafeeiros
que as hienas e palancas
que os jacarés e bagres
pudessem entender
para que o vento a perdesse no caminho
os bichos e plantas
compadecidos de nosso pungente sofrer
de canto em canto
de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar
te levassem puras e quentes
as palavras ardentes
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor....

Eu queria escrever-te uma carta...

Mas ah meu amor, eu não sei compreender
por que é, por que é, por que é, meu bem
que tu não sabes ler
e eu – Oh! Desespero! – não sei escrever também!

Antônio Jacinto. In: Manuel Ferreira, org. no reino de Caliban. Lisboa: Serra Nova, 1976. p. 133-135.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 132-133.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o principal desejo expresso pelo eu lírico ao longo de quase todo o poema?

      O principal desejo expresso pelo eu lírico é o de escrever uma carta para o seu amor. Essa vontade é repetida em diversos momentos, evidenciando a intensidade do seu sentimento e a necessidade de comunicação.

02 – Que tipo de conteúdo o eu lírico gostaria de incluir em sua carta, mencionando exemplos específicos presentes no poema?

      O eu lírico gostaria de escrever uma carta de confidências íntimas e de lembranças do seu amor. Ele cita especificamente os lábios vermelhos como tacula, os cabelos negros como diloa, os olhos doces como maboque, o andar de onça e os carinhos inesquecíveis. Também deseja recordar os tempos a capopa, as noites perdidas no capim, a sombra dos jambos, o luar das palmeiras, a loucura da paixão e a amargura da separação.

03 – Quais são os pedidos incomuns que o eu lírico faz em relação à leitura da carta?

      O eu lírico pede que a amada não leia a carta sem suspirar, que a esconda de figuras como "papai Bombo" e "mamãe Kieza", e que a releia sem a frieza do esquecimento. Ele também expressa o desejo de que nenhuma outra carta em todo o "Kilombo" tenha tanto merecimento quanto a sua.

04 – De que maneira o eu lírico idealiza a viagem de sua carta até a amada?

      O eu lírico idealiza que a carta seja levada pelo vento que passa e que até mesmo elementos da natureza, como cajus, cafeeiros, hienas, palancas, jacarés e bagres, pudessem entender a mensagem. Ele espera que, compadecidos do seu sofrimento, esses elementos da natureza transmitam as palavras ardentes e magoadas da sua carta através de seus próprios sons e movimentos.

05 – Qual é a frustrante revelação que surge no final do poema e qual o seu impacto na mensagem transmitida?

      A frustrante revelação no final do poema é que o eu lírico não sabe escrever e a amada não sabe ler. Essa constatação final causa um impacto profundo, pois torna o desejo de comunicação expresso ao longo do poema inatingível, intensificando a sensação de saudade, separação e desespero.

06 – Como a repetição da frase "Eu queria escrever-te uma carta, amor" contribui para a expressividade do poema?

      A repetição da frase "Eu queria escrever-te uma carta, amor" enfatiza o anseio profundo e constante do eu lírico em se comunicar com a amada. Essa repetição cria um ritmo melancólico e reforça a intensidade do seu desejo, mesmo diante da impossibilidade final.

07 – Que elementos da cultura e da natureza parecem importantes para o eu lírico em suas lembranças e na idealização da carta?

      Elementos da cultura e da natureza africana são importantes para o eu lírico. Ele menciona a "tacula" e a "diloa" para descrever a cor dos lábios e cabelos, o "maboque" para a doçura dos olhos, o "andar de onça", o tempo "a capopa", o "capim", os "jambos", as "palmeiras", o "Kilombo", os "cajus", os "cafeeiro", as "hienas", as "palancas", os "jacarés" e os "bagres". Esses elementos enriquecem as lembranças e a idealização da carta, enraizando o sentimento do eu lírico em seu contexto cultural e natural.

 

 

CONTO: GERMNINAL - FRAGMENYO - ÉMILE ZOLA - COM GABARITO

 Conto: Germinal – Fragmento

           Émile Zola

        Por pouco Etienne não fora esmagado. Seus olhos habituavam-se, já podia ver no ar a corrida dos cabos, mais de trinta metros de fita de aço que subiam velozes à torre, onde passavam em roldanas para, em seguida, descer a pique ao poço e prenderem-se nos elevadores de extração. […]

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEha2oax5_wHVssxwrZprH_ob4jsWRvXPE6wWnOHZRSsviu3BZEw6cWEirkU9tsjjGUX7SnPgIFpSnppwC616TqRY7Ky1v3vyX9QbxDS4qV0qt-80495qHq8Ht5lYOySxgcPUX1AwlRGN7WwjG54MfmfRmsyQUPkKFz2WN3x00XBu3QBRmkxeECTFNOqVpg/s320/Germinal_first_edition_cover.jpg


        Só uma coisa ele compreendia perfeitamente: que o poço engolia magotes de vinte e de trinta homens, e com tal facilidade que nem parecia senti-los passar pela goela. Desde as quatro horas os operários começavam a descer; vinham da barraca, descalços, lâmpada na mão, e esperavam em grupos pequenos até formarem número suficiente. Sem ruído, com um pulo macio de animal noturno, o elevador de ferro subia do escuro, enganchava-se nas aldravas, com seus quatro andares, cada um contendo dois vagonetes cheios de carvão. Nos diferentes patamares, os carregadores retiravam osvagonetes, substituindo-os por outros vazios ou carregados antecipadamente com madeira em toros. E era nesses carros vazios que se empilhavam os operários, cinco a cinco, até quarenta de uma vez, quando ocupavam todos os Compartimentos. Uma ordem partia do megafone, um tartamudear grosso e indistinto, enquanto a corda, para dar o sinal embaixo, era puxada quatro vezes, convenção que queria dizer “aí vai carne” e que avisava da descida desse carregamento de carne humana. Em seguida, depois de um ligeiro solavanco, o elevador afundava silencioso, caía como uma pedra, deixando atrás de si apenas a fuga vibrante do cabo.

        — É muito fundo? — perguntou Etienne a um mineiro com ar sonolento que esperava perto dele.

        — Quinhentos e cinquenta e quatro metros — respondeu o homem. […]

Émile Zola. Germinal. 2. ed. São Paulo: Círculo do Livro, 1976. p. 26-8.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 229-230.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

      -- Aldrava: pequena tranca metálica que fecha a porta.

      -- Magote: ajuntamento de coisas ou pessoas; amontoado, porção.

      -- Tartamudear: falar com dificuldade, gaguejar, balbuciar.

02 – Qual o perigo imediato que Etienne quase enfrenta ao chegar ao local descrito no início do fragmento?

      Etienne quase foi esmagado pela corrida dos cabos de aço que subiam velozmente à torre, utilizados para movimentar os elevadores de extração da mina.

03 – Como o narrador descreve o processo de entrada dos mineiros no poço da mina e qual a quantidade de homens que geralmente eram "engolidos" de uma vez?

      O narrador descreve o poço como algo que "engolia magotes" de vinte a trinta homens com facilidade. Os operários chegavam descalços, com suas lâmpadas, e esperavam em pequenos grupos até formar um número suficiente para descer no elevador.

04 – Descreva o elevador utilizado para transportar os mineiros e como ele operava no processo de descida e subida, incluindo a convenção utilizada para sinalizar a descida de pessoas.

      O elevador de ferro subia silenciosamente do escuro com quatro andares, cada um contendo dois vagonetes de carvão. Nos patamares, os vagonetes eram trocados. Os operários se empilhavam nos carros vazios, até quarenta de uma vez. Para sinalizar a descida de pessoas, a corda era puxada quatro vezes, uma convenção que significava "aí vai carne". Após um solavanco, o elevador afundava silenciosamente.

05 – Que pergunta Etienne faz a um dos mineiros e qual a resposta que ele recebe sobre a profundidade do poço?

      Etienne pergunta a um mineiro com ar sonolento que esperava perto dele: "É muito fundo?". O mineiro responde que o poço tem quinhentos e cinquenta e quatro metros de profundidade.

06 – Que impressão geral o fragmento transmite sobre o trabalho na mina e a relação dos mineiros com o ambiente subterrâneo?

      O fragmento transmite uma impressão de um trabalho perigoso e rotineiro, onde os mineiros são tratados quase como uma carga ("carregamento de carne humana"). A descrição do poço como algo que "engole" os homens e a profundidade mencionada reforçam a ideia de um ambiente hostil e imponente, onde a vida humana parece ser apenas mais um elemento a ser transportado para as profundezas da terra.