Crônica: Teresa – Fragmento
Álvaro Cardoso Gomes
A Teresa voltou da praia, e estive a
pique de lhe dizer que queria acabar nosso namoro. Mas ela estava tão contente,
contando as novidades, que terminei ficando com dó e adiei a decisão. Sem
contar que o sol lhe tinha feito muito bem. Os olhos da Teresa pareciam mais
bonitos com a pele bronzeada.

A Teresa não parava de falar, e eu só
escutando, com vontade de estar longe dali. Mas chegou uma hora em que ela
percebeu que eu estava triste e perguntou por quê.
-- Estou triste por sua causa.
-- Por minha causa? Por quê?
Hesitei um pouco. Dizia ou não dizia
que não gostava mais dela?
-- Estava com saudades.
Na hora em que disse aquilo, me senti o
pior sujeito do mundo. Mas o que podia fazer, se já tinha falado?
-- Mas eu estou aqui, Sérgio.
-- Pois é, você voltou.
-- O que você está querendo dizer com
isto?
-- Nada, Teresa, nada...
-- Serginhooô...
O difícil era que a Teresa não entendia
nada do que lhe dizia. Ainda por cima, vinha com aquele jeito enjoado de dizer
“Serginhooô”, que me deixava com mais raiva. Mas ela logo esqueceu do que
estávamos falando e começou a contar do biquíni que havia comprado, das praias
de Santos, do novo carro do pai etc. E eu com a cabeça em outro lugar, só
pensando na Cybelle e nas coisas que ela tinha me dito. “Você tem razão,
garota, eu não presto mesmo. Não mereço você”, falei baixinho.
-- O que foi que você disse? – Teresa
me perguntou.
-- Nada não...
Fiquei torcendo para que ela dissesse
que eu não estava prestando atenção na conversa. Seria mais um motivo para uma
briga. E dessa vez eu terminaria com aquele namoro que já me chateava. Mas a
Teresa não disse nada e continuou a falar de Santos, dos passeios na praia. E
eu ali a seu lado com a cabeça nas nuvens, que tomavam a forma da Cybelle, do
corpo da Cybelle, do sorriso da Cybelle. “Tão bela...”
-- Serginho, você ficou maluco?
-- Maluco por quê?
-- Você não para de falar sozinho.
Olhei bem para a Teresa, para aqueles
olhos verdes, e dei-lhe um beijo.
-- Tem razão, Teresa, estou
completamente maluco.
Amor & cuba-libre. São
Paulo, FTD, 1980.
Fonte: Português – 1º
grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia
Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 82.
Entendendo a crônica:
01 – Qual era a intenção
inicial de Sérgio, o narrador, no início do texto?
A intenção
inicial de Sérgio era terminar o namoro com Teresa.
02 – Por que Sérgio adia sua
decisão de terminar com Teresa?
Ele adia a
decisão porque ela estava muito feliz, contando as novidades da praia. Ele
sentiu dó e achou que o sol a tinha deixado ainda mais bonita, com a pele
bronzeada e os olhos mais bonitos.
03 – Quando Teresa percebe a
tristeza de Sérgio, o que ele responde de forma evasiva?
Quando Teresa
pergunta por que ele está triste, Sérgio hesita em dizer a verdade e, em vez
disso, responde que estava com saudades dela.
04 – Quem é Cybelle e qual o
papel dela na história?
Cybelle é a
pessoa em quem Sérgio está pensando o tempo todo. Ele tem uma conversa mental
com ela, dizendo que não a merece, e a imagina como se estivesse nas nuvens,
mostrando que está apaixonado por ela e por isso quer terminar o namoro com
Teresa.
05 – O que Teresa estava
fazendo enquanto Sérgio estava com a cabeça em outro lugar?
Teresa estava
falando sem parar sobre sua viagem à praia, contando sobre o biquíni que
comprou, as praias de Santos e o carro novo do pai dela.
06 – O que Sérgio fala
baixinho que surpreende Teresa?
Sérgio fala
baixinho: "Você tem razão, garota, eu não presto mesmo. Não mereço
você". Ele estava falando consigo mesmo, pensando em Cybelle, mas Teresa
ouve a fala.
07 – No final da crônica, o
que acontece entre Sérgio e Teresa?
Teresa percebe
que ele está "maluco" por falar sozinho. Sérgio a olha, dá um beijo
nela e concorda que está "completamente maluco". O texto termina sem
que ele de fato termine o namoro, deixando a decisão em aberto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário