Poema: O poeta e a poesia – Fragmento
Cora Coralina
Não é o poeta que cria a poesia.
E sim, a poesia que condiciona o poeta.

Poeta é a sensibilidade acima do
vulgar.
Poeta é o operário, o artífice da palavra.
E com ela compõe a ourivesaria de um verso.
Poeta, não somente o que
escreve.
É aquele que sente a poesia,
se extasia sensível ao achado
de uma rima, à autenticidade de um verso.
Poeta é ser ambicioso,
insatisfeito,
procurando no jogo das palavras,
no imprevisto texto, atingir a perfeição inalcançável.
O autêntico sabe que jamais
chegará ao prêmio Nobel.
O medíocre se acredita sempre perto dele.
Alguns vêm a mim.
Querem a palavra, o incentivo, à apreciação.
Que dizer a um jovem ansioso na sede precoce de lançar um livro…
Tão pobre ainda a sua bagagem
cultural,
tão restrito seu vocabulário,
enxugando lágrimas que não chorou,
dores que não sentiu,
sofrimentos imaginários que não experimentou.
Falam exaltados de fome e
saudades, tão desgastadas
de tantos já passados.
Primário nos rudimentos de sua escrita
e aquela pressa moça de subir.
Alcançar estatura de poeta, publicar um livro,
Oriento para a leitura,
reescrever,
processar seus dados concretos.
Não fechar o caminho, não negar possibilidades.
É a linguagem deles, seus sonhos.
A escola não os ajudou, inculpados, eles.
[...]
Vintém de cobre – Meias confissões de Aninha. Editora da Universidade
Federal de Goiás, 1983.
Fonte: Português – 1º
grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia
Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 105.
Entendendo o poema:
01 – De acordo com a autora,
qual é a verdadeira relação entre o poeta e a poesia?
Para Cora
Coralina, não é o poeta que cria a poesia. É a poesia que "condiciona o
poeta", sugerindo que a poesia é uma força maior que molda e define quem o
poeta é.
02 – Como a autora define um
poeta em relação à sua sensibilidade e ao seu ofício?
Ela o define como
uma "sensibilidade acima do vulgar" e o compara a um "operário,
o artífice da palavra". O poeta usa a palavra para criar a
"ourivesaria de um verso".
03 – Segundo o texto, quem é o
verdadeiro poeta?
O verdadeiro
poeta não é apenas aquele que escreve. É também aquele que sente a poesia, que
se emociona com a rima e a autenticidade de um verso.
04 – Qual a diferença que a
autora aponta entre o poeta autêntico e o medíocre?
O poeta autêntico
é ambicioso e insatisfeito, buscando uma perfeição inalcançável e sabendo que
jamais alcançará um prêmio Nobel. Já o medíocre "se acredita sempre perto dele",
mostrando uma falta de autocrítica.
05 – O que a autora observa
nos jovens poetas que a procuram?
Ela nota que
muitos jovens têm uma "sede precoce de lançar um livro" e uma
"pressa moça de subir". No entanto, a autora percebe que eles têm uma
"pobre... bagagem cultural" e um vocabulário restrito, escrevendo
sobre sentimentos e dores que não vivenciaram de fato.
06 – Que tipo de sentimentos
esses jovens poetas costumam abordar em suas obras?
Eles escrevem sobre temas como "fome
e saudades", que a autora considera "desgastadas" de tanto serem
exploradas por poetas de outras épocas.
07 – Qual é o conselho que a
autora dá aos jovens escritores?
A autora os
orienta a ler mais, reescrever seus textos e a processar seus "dados concretos",
ou seja, a escrever sobre suas próprias experiências. Ela também ressalta a
importância de não negar as possibilidades de cada um, mesmo que a "escola
não os ajudou".
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