História: O Segredo da Cobra
Aconteceu assim:
A mãe e o pai do menino saíram para
tirar mudubim. O menino ficou com o avô em casa, flechando cobra pequena para
amansar. Ele ficou flechando e a cobra foi crescendo, levantando devagarzinho.
─ Ah, o menino quer me matar! Eu vou é
criar ele.
A
cobra carregou o menino, descendo no igarapé. Lá ficou à ruma.
Chegaram o pai e a mãe do menino,
caçaram ele e não encontraram. Caçaram a cobra que tinha descido no igarapé.
─ Pronto, então a cobra engoliu o
menino.
Já era tarde quando a cobra chegou com
o menino. Então, disse:
─ Bem, menino, você quer me matar?
Vamos matar o Jaminawa, né? Chama Kukuxinawa. O Kukuxinawa é valente para
matar. Vamos embora!
A cobra matou cutia e comeu. Na manhã
seguinte foi baixando igarapé, igarapé, igarapé. De tarde, disse:
─ Vamos dormir aqui!
No dia seguinte, matou namhu e comeu
mais o menino. Dormiu. Quando o dia amanheceu, partiu de novo, mais ele. E o
menino ia crescendo a cada dia. E eles foram baixando, baixando até chegar na
boca do igarapé.
─ Chegamos no rio grande. Agora está
perto para matar um Jaminawa, Kukuxinawa. Eles andam de noite, assim como
lanterna.
─ Vamos ficar aqui. E vamos fazer
flecha para matar.
E foram ajeitando flecha e prepararam
arpão para matar. Três dias passaram até ajeitarem flecha.
─ Agora nós vamos matar Kukuxinawa.
Eles baixaram devagarinho e pararam
para dormir. Kukuxinawa, diz, que vem passando de noite mesmo, caçando de noite
mesmo. Dormiram em cima do uricuri novo, sentados, atrepados no pau.
─ Não conversa, senão Kukuxinawa nos
mata de manhã.
─ Vamos embora. Vamos matar Kukuxinawa.
Chegaram lá. Kukuxinawa estava dormindo
de dia. Todos nus. Mulher mijando assim, com o filho nu. Outro bocado, todos
pinicando. Eles ficaram espiando. De dia mesmo, pois diz que Kukuxinawa não
enxergava como de noite.
─ Como nós fazemos?
─ Deixa. Quando dormirem, nós matamos.
Os Kukuxinawa deitaram e dormiram.
Então, a cobra e o menino mataram eles com cacete e com flecha. Mataram
tudinho.
O menino já estava um homão. Cresceu,
cresceu... E ficou homem.
─ Bom, você já está matando gente.
Agora nós vamos subir no outro igarapé. Nós vamos por aqui, subindo, subindo,
subindo, bem na cabeceira.
Passaram perto da boca e depois
seguiram uma perna do igarapé.
─ Agora, nós vamos matar rancho para
levar para sua mie.
Ficaram no tapiri, matando veado, anta,
porco... todos os bichos que passaram. Então muquiaram, muquiaram bem as
carnes.
─ Agora, vamos fazer uma peira para
levar as carnes dentro.
Fizeram uma peira bem grande.
─ Cadê todas as carnes muquiadas? Onde
você botou?
─ Está tudo aqui.
─ Você não pode com o peso.
A cobra botou a peira nas costas e
saíram andando, andando. Até que chegaram num campo bem perto da casa da mãe do
menino.
─ Bem, vou deixar você aqui. Agora eu
dou ao meu filho um arpão para matar caça. Vou ensinar o segredo. Você não vai
contar para ninguém. Vou ensinar só para você. Faz assim como eu estou
ensinando, mesmo! Pegue assim!
─ Tá.
─ Não vai dizer para ninguém, senão eu
tomo de volta o arpão e você fica panema.
─ Tá.
─ Eu vou ficar por aqui, escutando. Não
vou sair daqui.
─ Tá.
─ Quer levar tua carne? Pode levar.
Entrega a tua mãe.
O menino pegou a peira e carregou nas
costas até sua mãe.
─ A mãe dele andava chorando, chorando,
já com a cara inchada. Chorava, chorava.
Mamãe, mamãe!
─ Você não é meu filho. Eu quero meu
filho mesmo.
─ Sou eu mesmo, mamãe!
─ Não, filho de outro eu não quero. Eu
quero meu filho mesmo. Não sei onde foi o meu filho. Estou com saudades.
E continuou chorando de tarde,
chorando. Pouco mais, a mãe virou e disse:
─ E ele! Meu filho, onde você andou?
Como apareceu assim, meu filho?
─ Ah, mãe, foi cobra que me carregou.
Eu fui com ela matar Kukuxinawa e matei.
─ E mesmo!?
─
Eu trouxe carne pra senhora poder comer.
Diz que trouxe tanta carne que a mãe
dele admirou. Guisou toda a carne e, todos que quiseram, comeram. Com dois dias
de festas, acabou a carne.
─ Bem, mamãe, eu vou matar mais caça.
─
Vai.
─ Vi um rastro de anta e de porco.
Matou de arpão. Matou seis porcos. Não
andava muito não. Só no rastro mesmo, fazendo feito folha.
─ Mamãe, matei porco e anta.
─ Então teu pai vai buscar. Eu não vou.
Vou só preparar a carne.
Então o cunhado dele, diz que era o cunhado
dele, foi mais ele buscar anta, veado, porco.
O cunhado disse:
─ Rá, rá!! Como eu não sou feliz assim
para matar veado, anta, rá, rá!
Mangou do menino, o cunhado dele.
O pai do menino viu:
─ Como foi que você matou tanta caça?
─ Como foi? Foi que a cobra me deu
urucum para ficar feliz.
─ Foi?
─ Foi.
─ Então, corno a gente faz?
─ A gente passa o urucum e urna ruma de
folha e mata com arpão.
─ Então me ensina, tá? Vamos embora.
─ Vou ensinar.
Ele foi na frente. Lá, encontrou rastro
de anta. Passou o urucum. E, cheio de folha no corpo, atirou o arpão. A anta
não morreu, não. A cobra já tinha levado dele o segredo do urucum.
Organização dos
professores indígena do Acre. Shenipabu Miyui. História dos antigos.
Entendendo a história:
01 – Quem ficou responsável
pelo menino quando seus pais saíram?
O avô ficou
responsável pelo menino enquanto seus pais estavam fora.
02 – Qual foi a ocorrência da
cobra quando viu que o menino estava flechando?
A cobra decidiu
criar o menino, em vez de matá-lo.
03 – Para onde a cobra levou o
menino?
A cobra levou o
menino para o igarapé.
04 – Quem procurou e encontrou
o menino?
Os pais do menino
procuraram por ele e resgataram a cobra no igarapé.
05 – O que a cobra propôs ao
menino quando finalmente o trouxe de volta?
A cobra fez com
que eles matassem Jaminawa, chamando Kukuxinawa, um caçador valente.
06 – Como a cobra e o menino
mataram os Kukuxinawa?
Eles os mataram
com cacete e flecha enquanto os Kukuxinawa dormiram durante o dia.
07 – O que a cobra ensinou ao
menino antes de se separarem?
A cobra ensinou ao
menino o segredo do arpão e do urucum para caçar.
08 – Qual foi a ocorrência da
mãe quando o menino voltou depois de ter sido carregado pela cobra?
Inicialmente, a mãe não conheceu o menino
e decidiu que era ele. Depois, ficou emocionado ao ver que era seu filho.
09 – Como o menino conseguiu
caçar tanta carne depois que a cobra partiu?
Usando o
conhecimento da cobra sobre o urucum para atrair a caça e o segredo do arpão
para caçar.
10 – Por que o pai do menino
não teve sucesso ao tentar usar o urucum para caçar?
A cobra havia
levado embora o segredo do urucum, então quando o pai o usou, não teve sucesso
na caçada.
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