terça-feira, 19 de dezembro de 2023

CRÔNICA: VALE POR DOIS - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

 CRÔNICA: VALE POR DOIS

                   Fernando Sabino

         Pela manhã, ao sair de casa, olha antes à janela:

        - Estará fazendo frio ou calor?

        Veste um terno de casimira, torna a tirar, põe um de tropical. Já pronto para sair, conclui que está frio, devia ter ficado com o de casimira. Enfim... Consulta aflitivamente o céu nublado: será que vai chover?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh5W4203htdmgZaGIS4oSWjWIFIZIUZaX62LgkWaBDlfdr1rbMEvPtelo0ujG3pj4CPMgCnQuZmbNhbJ4a3PvkgkSRGmuPcbf4oyf-oqsM-TT4K-a4MHN7XleTiKkdCkE1SxAI_83t7theo4gMaIFhONnuNZcKkX9PcR89bSD62kg3rVemZSFxnESL5R4/s1600/CAFE.jpg


        Volta para pegar o guarda-chuva — um homem prevenido vale por dois: pode ser que chova. Já no elevador, resolve mudar de ideia: mas também pode ser que não chova. Carregar esse trambolho! Torna a subir, larga em casa o guarda-chuva.

        Já na esquina, coça a cabeça, irresoluto: de ônibus ou de táxi? Se passar um lotação jeitoso eu tomo. Eis que aparece um: não é jeitoso. Vem em disparada, quase o atropela para deter-se ao sinal que lhe fez. Não, não entro: esse é dos doidos, que saem alucinados por aí.

        Deixa que os outros passageiros entrem — quando afinal se decide — também a entrar, é barrado pelo motorista: não tem mais lugar. De táxi, pois. Logo virá outro — pensa, irritado, e se vê de súbito entrando num lotação. Ainda bem não se sentara, já se arrependia: é um absurdo, são desvairados esses motoristas, como é que deixam gente assim tirar carteira? Assassinos — assassinos do volante. Melhor saltar aqui, logo de uma vez. Poderia esperar ainda dois ou três quarteirões, ficaria mais perto...

Deu o sinal: salto aqui, decidiu-se. O lotação parou.
— Pode tocar, foi engano — balbuciou para o motorista.

        Já de pé na calçada, vacila entre as duas ruas que se oferecem: uma, mais longa, sombreada; outra, direta, castigada pelo sol. Não iria chover, pois: sua primeira vitória neste dia.

         — Se for por esta rua, chego atrasado, mas por esta outra, com tanto calor...

         Só então se lembra que ainda não tomou café: entra no bar da esquina e senta-se a uma das mesas.
              - Um
             O garçom lhe informa que não servem cafezinho nas mesas, só no balcão. Pensa em sair, chega mesmo a empurrar a cadeira para trás, mas reage: pois então tomaria outra coisa ora essa. Como também pode simplesmente sair do bar sem tomar nada, não é isso mesmo?

         — Me traga uma média — ordena, com voz segura que a si mesmo espantou. Interiormente sorri de felicidade — mais um problema resolvido.

         —     Simples ou com leite? Pergunta o garçom, antes de servir. Ele ergue os olhos aflitos para o seu algoz, e sente vontade de chorar.

Entendendo o texto

01. O tema da crônica de Fernando Sabino é:
a) o protesto contra a violência.
b) a prevenção de acidentes.
c) a indecisão humana.
d) a modernização das grandes cidades.

02. Apenas uma, entre as frases abaixo, confirma sua resposta à questão 1:
a) "Só então se lembra que não tomou café."
b) "Vem em disparada, quase o atropela, para deter-se ao sinal que lhe fez."
c)" - Me traga uma média - ordena, com voz segura que a si mesmo espantou."
d) "Já na esquina, coça a cabeça, irresoluto: de ônibus ou de táxi?"

03.Pode-se considerar como símbolo de homem prevenido:
a) o táxi         

b) o terno de casimira           

c) o cafezinho         

d) o guarda-chuva

04. "Coçar a cabeça" é um gesto característico de quem:
a) já tomou uma decisão.
b) não está pensando no assunto.
c) está em algum dilema.
d) se sente aborrecido.

05. "Não iria chover, pois: sua primeira vitória neste dia." Por que o autor afirma que a personagem conseguiu uma vitória?

O autor afirma que a personagem conseguiu uma vitória porque decidiu não levar o guarda-chuva, acreditando que não iria chover, o que se mostrou verdadeiro.

06. A personagem teve um rápido momento de decisão quando:
a) pensa sobre qual das duas ruas iria escolher.
b) deixa passar um táxi vazio.
c) ordena ao garçom que lhe traga uma média.
d) olha à janela, antes de sair de casa, pela manhã.

07. O autor faz uma crítica a alguém. Transcreva a passagem que reproduz a crítica.

"Assassinos — assassinos do volante."

08. A personagem passa por todos os estados de espírito citados abaixo, exceto:
a) aflição           b) irritação          c) desespero         

d) satisfação     e) revolta

09. O que o protagonista faz ao sair de casa pela manhã para decidir sobre a roupa que usará?

O protagonista olha pela janela para avaliar o clima, veste um terno de casimira, troca por um de tropical, e, ao concluir que está frio, volta para pegar o guarda-chuva.

10. Por que o protagonista decide levar o guarda-chuva, mesmo indeciso sobre o tempo?

O protagonista decide levar o guarda-chuva porque acredita que "um homem prevenido vale por dois" e teme que possa chover. No entanto, muda de ideia e deixa o guarda-chuva em casa.

11. Como o protagonista decide sobre o meio de transporte para chegar ao seu destino?

O protagonista fica indeciso entre pegar um ônibus ou um táxi. Ele cogita entrar em um ônibus lotação, mas desiste ao considerá-lo perigoso. Finalmente, decide pegar um táxi.

12. O que acontece quando o protagonista entra no bar da esquina para tomar café?

O garçom informa ao protagonista que não servem café nas mesas, apenas no balcão. Inicialmente, o protagonista pensa em sair, mas decide ficar e pedir uma média, resolvendo mais um problema.

13. Qual é a reação do protagonista quando o garçom pergunta se a média deve ser simples ou com leite?

O protagonista, interiormente surpreso com sua própria voz segura, pede uma média. No entanto, ao ser questionado sobre se deseja a média simples ou com leite, ele sente vontade de chorar e olha aflito para o garçom.

 

 

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