Crônica: A casa de madrinha –
Fragmento
Lygia Bojunga Nunes
[...]
-- Onde
você mora?
-- No Rio,
e você?
-- De
Janeiro?!
-- É. Moro em Copacabana. Mas fim de
semana eu passo em Ipanema.
Vera ficou olhando espantada para ele.
É claro que ela tinha visto que ele não era do lugar, mas nunca tinha imaginado
que ele era garoto de Copacabana. Alexandre olhou pra ela:
-- Conhece Copacabana?
-- Não. Mas minha prima foi pra lá. Ela
morava aqui na roça, o pai dela também plantava flor que nem o meu.
-- Que flor ele planta?
-- Cravo, zínia, agapanto e margarida,
conhece?
-- Não.
-- Depois eu mostro. Mas aí o pai dela
vendeu o sítio e foi pra lá. Mora na rua Siqueira Campos, perto de um túnel,
conhece?
-- Conheço.
-- Pois é. E aí ela me escreveu dizendo
que tudo quanto é colega da escola dela nunca viu nem coelho, nem tatu e muito
menos uma paca, já pensou? Disse que o garoto que senta do lado dela nunca viu
nem uma galinha. Só assada na mesa já pronta para comer. E que ele nunca tinha
pensado que antes a galinha andava e voava. E porco também nunca viram.
-- Lá onde eu moro tem porco.
-- Em Copacabana?
-- É.
-- Mas tem?
-- Tem uns lugares que tem, sim.
-- E tatu, coelho e paca, também tem?
-- Isso eu nunca vi. Aqui tem?
-- Assim. Depois eu mostro.
-- E você onde é que mora?
Vera apontou uma plantação de flor.
-- A casa é no fundo. Tem um quintal
superlegal: vai até o rio.
-- E o rio também é teu?
-- Não, é dele mesmo.
Alexandre riu. Vera não tinha falado
pra fazer graça: encabulou; ficou olhando uma formiga no chão. “Será que esse
pessoal que nunca viu tatu nem coelho nem galinha viva é assim que nem eu?
pensa igual a mim?” Espiou Alexandre de rabo de olho. Ele era mais queimado do
que ela, mais alto, falava mais gostoso, tinha roupa velha e pé no chão. Mas o
resto não estava parecendo assim tão diferente, não. “Bom, mas ele não é que
nem os colegas da minha prima: tem um porco lá onde ele mora”.
[...].
A
casa da madrinha. Lygia Bojunga Nunes.
Fonte: Livro –
Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed.
Moderna, 2005 – p.137-9.
Entendendo a crônica:
01 – Alexandre mora em
Copacabana. E Vera, onde parece morar? Justifique sua resposta.
O texto indica
que Vera mora no interior, pois mora perto de um rio, de flores e em um local
em que há vários animais.
02 – “De Janeiro?!” O que indica a associação entre um ponto de
interrogação e um ponto de exclamação?
Indica espanto.
03 – “E aí ela me escreveu dizendo que tudo quanto é colega da escola dela
nunca viu nem coelho, nem tatu e muito menos uma paca, já pensou?”.
a)
O que indica a expressão grifada?
Indica espanto.
b)
A partir da expressão grifada, podemos
concluir que Vera achou comum ou raro o fato de as crianças não conhecerem os
animais?
Achou incomum.
c)
Por que Vera teve essa reação em relação ao
comportamento dos colegas de sua prima?
Porque, para ela, a convivência com os animais é parte da vida.
04 – “Alexandre riu”.
a)
Por que Alexandre riu?
Porque achou que Vera estivesse fazendo piada ao afirmar que o rio
pertencia a ele mesmo.
b)
Por que Vera ficou encabulada?
Porque não tinha tentado ser engraçada.
c)
Por que Alexandre achou engraçado o
comentário que Vera fez a sério?
Porque os dois têm maneiras diferentes de ver a vida.
05 – “Será que esse pessoal
que nunca viu tatu nem coelho nem galinha viva é assim que nem eu?”
a)
O que provocou a reflexão de Vera?
O fato de Alexandre ter rido de sua observação sobre o rio.
b)
Por que Vera achou que ele não era diferente
quanto os amigos de sua prima?
Porque havia um porco onde Alexandre morava.
c)
A vida na cidade e a vida no campo são
diferentes? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: As diferenças de hábitos,
costumes, maiores ou menores facilidades para a sobrevivência, diferentes tipos
de laser, níveis de violência, poluição, acesso à informação.
06 – A experiência da prima
de Vera era diferente da experiência de seus colegas. Assim como eles não
conheciam os animais, certamente havia coisas que ela não conhecia.
a)
O conhecimento da prima de Vera podia ser
importante para os seus colegas?
Sim, pois ela estava oferecendo novas informações e mostrando a eles
a existência de um mundo que não conheciam.
b)
O conhecimento dos colegas da prima de Vera
podia ser importante para ela?
Sim, pois poderiam ajudá-la a viver melhor na cidade.
c)
Alexandre mostrou ter uma experiência
diferente da experiência de Vera, da experiência de sua prima e também da
experiência das crianças da escola. Por quê?
Porque ele tinha visto um porco, um animal que as crianças na escola
não tinham jamais visto de perto.
07 – Por ter uma experiência
de vida diferente, Alexandre achou a frase de Vera engraçada. Reflita: a
interpretação de um texto, assim como a interpretação da vida, pode variar de
acordo com a experiência de cada pessoa? Por quê?
Porque as pessoas
diferentes veem de maneira diferente o mundo e que por isso mesmo o texto nunca
tem uma só interpretação possível.
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