sábado, 18 de maio de 2019

CARTA: NUNCA ANTES, NESTE PAÍS... O ESTADO DE S.PAULO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Carta: Nunca antes, neste país...

        Vivendo em um país onde as pessoas parecem não mais se preocupar em cumprir suas obrigações, testemunho, aos 85 anos, que hoje a ética tem pouco valor e obter vantagens a qualquer custo passou a ser regra. Fui surpreendido por uma conta da [empresa]* [...] cobrando R$ 124,23, por uma ligação para Curitiba, em 21/12, com vencimento em 6/2. Não fizemos tal ligação nem conhecemos ninguém que more lá. Contatei 4 vezes a empresa, sem solução. Na última, o funcionário ameaçou protestar meu nome, se eu não pagar a conta, e que discutiria o ressarcimento após eu pagá-la. Pelo jeito, não são apenas os sequestradores que dão golpes pelo telefone. Não devo e não temo. Me recuso a pagar, já entrei no PROCON e peço ajuda ao jornal.
        A [empresa] responde:
        “Não identificamos irregularidades na cobrança. Os clientes podem nos contatar no [...] (telefonia fixa) e [...] (telefonia móvel). O site do fale conosco é [...]. Ou então devem ir à loja mais próxima.”
        O leitor comenta:
        Além de incompetentes e desonestos, são mentirosos. Até hoje dia (18), ninguém me contatou para esclarecer a cobrança descabida.
        A [empresa] enviou à coluna, no dia 20, resposta igual à enviada no dia 17, ratificando-a. No dia 23, o leitor confirmou que não recebeu telefonemas da empresa e que irá esperar a solução do PROCON. Ele também agradeceu à coluna o envio da queixa a empresa.

                                                (O Estado de S. Paulo, 27/06/2008)

        *Para preservar a identidade dos interlocutores, suprimimos a identificação do remetente e o nome da empresa.

Entendendo a carta:
01 – A carta argumentativa de reclamação, como o nome sugere, apresenta uma reclamação a respeito de algum problema, enquanto a carta argumentativa de solicitação pede a solução de um problema. Quando apresenta simultaneamente uma reclamação e uma solicitação é chamada de carta argumentativa de reclamação e de solicitação. Como você classifica a carta lida? Justifique sua resposta.
      É uma carta argumentativa e de solicitação, pois apresenta uma reclamação (cobrança indevida de ligação) e uma solicitação (pedido de ajuda ao jornal).

02 – As cartas de reclamação ou de solicitação são, normalmente, endereçada a órgãos públicos, como ministérios, secretarias do município, PROCON, etc. Considerando que a carta lida foi publicada em um jornal, que o jornal também publicou a carta da empresa e, ainda, o comentário do leitor à resposta dada, levante hipóteses:

a)   Por que o jornal publica esse tipo de carta e exerce o papel de intermediador entre as partes?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Como forma de tornar públicos problemas que os cidadãos comuns enfrentam no dia-a-dia e que nem sempre são alvo de notícias ou reportagens jornalísticas e/ou para fazer valer os direitos de seus leitores. É exercer o papel de intermediador talvez por conhecer as formas de fazer chegar as cartas aos destinatários e como forma de prestar um serviço aos seus clientes.

b)   Qual a intenção do locutor desse tipo de carta ao se servir do jornal para publicar sua reclamação e/ ou solicitação?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Tornar público um problema que atinge não só a ele mesmo, mas também a outras pessoas; porque confia no jornal e sabe que ele se encarregará de fazer sua reclamação e/ou solicitação chegar ao órgão público para a qual dirige sua carta e que, assim, há possibilidade de receber resposta ou uma solução para seu problema.

c)   No caso da carta lida, por que a parte criticada, a empresa, respondeu ao remetente da carta usando o mesmo veículo que o leitor, isto é, o jornal?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Como forma de retratação perante o público, mostrando que é uma empresa confiável, que atende a seus clientes, que está aberta a críticas, que toma providências, etc.

03 – Para ser atendido, o remetente de uma carta argumentativa de reclamação ou de solicitação necessita apresentar argumentos convincentes. Na carta lida:
a)   De que argumentos o remetente se serve para convencer seu interlocutor?
Ele afirma que vive em um país onde as pessoas não se preocupam com o cumprimento de suas obrigações e onde a ética tem pouco valor; argumenta não ter feito a ligação telefônica cobrada, porque não conhece ninguém em Curitiba, cidade para onde a ligação foi feita; argumenta que não são apenas os sequestradores que dão golpes por telefone; e, ainda, diz que se recusa a pagar a conta porque não teme a cobrança, já que ela é indevida.

b)   Releia a resposta dada pela empresa. A argumentação do remetente foi suficiente para que a carta atingisse seu objetivo?
Não, pois a empresa responde que não há irregularidade na conta.

04 – Considerando o comentário que o remetente fez à resposta da empresa, responda: A resposta satisfez o remetente? Justifique sua resposta.
      Não. Ele diz que a empresa, além de incompetente, é desonesta e mentirosa, pois até a data da carta de resposta do leitor não havia entrado em contato com ele para prestar esclarecimentos.

05 – A carta de reclamação ou de solicitação tem estrutura semelhante à da carta pessoal. A carta lida, porém, não se mostra de acordo com esse padrão Por que algumas dessas partes das cartas foram suprimidas?
      Porque não há no jornal espaço para publicação integral da carta e, por isso, publica-se somente o essencial.

06 – Observe a linguagem empregada no texto:
a)   Que variedade linguística predomina?
A variedade padrão.

b)   Em que pessoa se coloca o autor da carta?
Na 1ª pessoa do singular.

07 – Agora conclua: Quais são as principais características das cartas argumentativas de reclamação e de solicitação? Responda, levando em conta os critérios a seguir: finalidade do gênero, perfil dos interlocutores, suporte/veículo, tema, estrutura, linguagem.
      Apresentar a autoridades uma reclamação e/ou solicitar a solução de um problema, empregando argumentos com intenção persuasiva. O locutor são os cidadãos m gral; o destinatário são os órgãos públicos e autoridades em geral. Normalmente são veiculadas m papel e sites da internet; às vezes são publicadas em jornais e revistas. Os temas são problemas que dizem respeito a uma pessoa, a um grupo de pessoas ou à população em geral. Apresentam estrutura semelhante à das cartas em geral, com local e data, vocativo, corpo de texto (assunto) despedida e assinatura. Apresentam um ou mais argumentos. Predomina a variedade padrão da língua. Há emprego de pronomes e verbos na 1ª pessoa e formas verbos do presente do indicativo.

POEMA: CANTIGA PARA NÃO MORRER - FERREIRA GULLAR - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Cantiga para não morrer
        
     Ferreira Gullar

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.


Ferreira Gullar. Os melhores poemas. Seleção de Alfredo Bosi.
São Paulo: Global, 2002. p. 120.
Entendendo o poema:
01 – Identifique o tema central do poema.
      O término de um relacionamento amoroso.

02. O texto "Cantiga pra não morrer" diz respeito a relacionamento amoroso.

     a)   Que tipo de situação é imaginada pelo eu lírico do texto?

Uma situação de separação entre o eu lírico e a "menina branca de neve", provavelmente a mulher amada.

 b)   Que apelo o eu lírico faz à "moça branca como a neve"?

O eu lírico faz um apelo para não ser esquecido, ou para que ela, de alguma forma, leve-o consigo.

 c)   Dê ao menos duas interpretações ao título do texto.

Entre outras possibilidades, o texto seria uma forma de canto, e cantar seria uma maneira de não morrer, talvez porque o canto possa aliviar a dor do eu lírico; o texto constitui um pedido insistente do eu lírico para não ser esquecido pela amada, o que para ele seria morrer.


03 – Observe a primeira estrofe do poema:
a)   Que circunstância expressa a oração: Quando você for Embora?
Expressa tempo.

b)   O que essa circunstância conota em relação à continuidade do amor?
Conota o término do amor, sinalizando um tempo não muito preciso.

04 – O poema apresenta uma construção paralelística, principalmente se considerarmos o início das estrofes. Observe:
        “Se acaso você não possa”.
        “Se no coração não possa”.
        “E se aí também não possa”.
a)   Qual a circunstância expressa nos três versos?
Condição.

b)   Considerando-se que paralelismo são estruturas de repetição, o que as repetições sugerem no plano do relacionamento entre o eu lírico e a mulher amada?
Sugerem hipóteses para não ser esquecido, no caso de o relacionamento terminar.

05 – Como você justificaria o título do poema?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Além de o poema sugerir à mulher amada várias formas de não ser esquecido, ele próprio é uma forma de não esquecer a mulher amada, nem ser esquecido por ela, é uma forma de não deixar morrer o amor, imortalizando-o na cantiga.

MENSAGEM ESPÍRITA - LIBERTAÇÃO DA CONSCIÊNCIA - JOANNA DE ÂNGELIS(DIVALDO FRANCO)- LIVRO DOS ESPÍRITOS - OBJETIVO DA ENCARNAÇÃO - PARA REFLEXÃO

Libertação da Consciência
          
                 Joanna de Ângelis

        Não aguardemos que o aplauso do mundo coroe as nossas expectativas.
        Não esperemos que as alegrias nos adornem de louros ou que uma coroa de luz desça sobre a nossa cabeça, vestindo-nos de festa. 
        Quem elegeu Jesus, não pode ignorar a cruz da renúncia. 
        Quem O busca, não pode desdenhar a estrada áspera do Gólgota. 
        Quem com Ele se afina, não pode esquecer que, Sol de primeira grandeza como é, desceu à sombra da noite, para ser o porto de segurança luminosa, no qual atracaremos a barca de nosso destino. 
        Jesus é o nosso máximo ideal humano, Modelo e Guia seguro. 
        Aquele que travou contato com a Sua palavra nunca mais O esquece. 
        Quem com Ele se identifica, perdeu o direito à opção, porque a sua, passa a tornar-se a opção d’Ele, sem o que, a vida não tem sentido. 
        Não é esta a primeira vez que nos identificamos com o Seu verbo libertador. Abandoná-lo é infidelidade, que O troca pelos ouropéis e utopias do mundo, de breve duração. 
        Não é esta a nossa experiência única no santuário da fé, que abraçamos desde a treva medieval, erguendo monumentos ao prazer, distantes da convivência com a dor. 
        Voltamos à mesma grei, para podermos, com o Pensamento Divino vibrando em nós, lograr uma perfeita identificação. 
        Lucigênitos, procedemos do Divino Foco, para o qual marchamos. 
        Seja, pois, a nossa caminhada assinalada pelas pegadas de claridade na Terra, a fim de que, aquele que venha após os nossos passos, encontre as setas apontando o caminho. 
        Jesus não nos prometeu os júbilos vazios dos tóxicos da ilusão. Não nos brindou com promessas vãs, que nos destacassem no cenário transitório da Terra. Antes, asseverou, que verteríamos o pranto que precede à plenitude, e teríamos a tristeza e a solidão que antecedem à glória solar. 
        Não seja, pois, de surpreender que, muitas vezes, a dificuldade e o opróbrio, o problema e a solidão caracterizem a nossa marcha. Não seja de surpreender, portanto, que nos vejamos em solidão com Ele, já que as Suas, serão as mãos que nos enxugarão o pranto, enquanto nos dirá, suavemente: Aqui estou! 
        Perseveremos juntos, cantando o hino da alegria plena na ação que liberta consciências, na atividade que nos irmana e no amor que nos felicita. 

Autor: Joanna de Ângelis
Psicografia de Psicografia de Divaldo Franco. Obra: Momentos Enriquecedores



Mensagens Espírita: O livro dos Espíritos
ALLAN KARDEC – Tradução Matheus R. Camargo
Perguntas e respostas
                      Livro Segundo
MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
                       Capítulo II

        ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS

OBJETIVO DA ENCARNAÇÃO

132 – Qual é o objetivo da encarnação dos Espíritos?
      -- Deus lhes impõe a encarnação com a finalidade de leva-los à perfeição: para uns, é uma expiação; para outros, uma missão. Para chegar a essa perfeição, eles devem sofrer todas as vicissitudes da existência corpórea: nisto consiste a expiação. A encarnação ainda em outra finalidade, que é a de pôr o Espírito em condições de encarregar-se de sua parte na obra da Criação. É para realiza-la que ele toma, em cada mundo, um instrumento que esteja em harmonia com a matéria essencial desse mundo, para, a partir desse ponto de vista, executar as ordens de Deus; e dessa maneira, em sintonia com a obra geral, ele próprio progride.
      A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo; porém, Deus, em sua sabedoria, quis que eles encontrassem nessa mesma ação um meio de progredir e de aproximar-se d’Ele. É assim que, por uma admirável lei de sua providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza.

133 – Os Espíritos que desde o princípio seguiram a rota do bem têm necessidade da encarnação?
      -- Todos são criados simples e ignorantes; instruem-se através das lutas e das tribulações da vida corpórea. Deus, que é justo, não poderia conceder a felicidade a uns, sem sofrimento e trabalho e, por conseguinte, sem mérito.

133 a) Mas então de que adianta aos Espíritos terem seguido a rota do bem, se isso não os isenta dos sofrimentos da vida corpórea?
      -- Eles assim chegam mais rapidamente ao objetivo. Além disso, os sofrimentos da vida muitas vezes são consequência da imperfeição do Espírito; quanto menos imperfeições tem, menos tormentos sofrerá. Aquele que não for invejoso, ciumento, avarento, nem ambicioso, não sofrerá os tormentos decorrentes desses defeitos.

TEXTO: POR QUE AS CÉLULAS-TRONCO SÃO O CAMINHO? - REVISTA DA SEMANA - COM GABARITO


Texto: Por que as células-tronco são o caminho?
         
Das pesquisas com elas virão tratamentos para doenças degenerativas e lesões da medula hoje incuráveis

        Na quarta-feira, 29, o Supremo Tribunal Federal (STF) voltou a julgar a constitucionalidade das pesquisas com células-tronco embrionárias. Em seu voto o ministro Carlos Alberto Menezes Direito, que em março havia pedido vista da ação, suspendendo o julgamento, admitiu a continuidade dos estudos, desde que satisfeitas algumas exigências, como a modificação do artigo 5°, de forma que sejam permitidas apenas pesquisas com células-tronco embrionárias retiradas do embrião, sem destruí-lo, segundo a Folha Online. A ministra Carmem Lúcia, ao votar “sim”, afirmou que não se tratava de julgar “o momento em que se inicia a vida”, mas “a legalidade da ação”. As terapias com células-tronco embrionárias são a mais promissora revolução da medicina. Como têm a capacidade de se transformar em células de qualquer tipo de tecido do corpo humano, são a esperança real de cura para milhares de pacientes. Não será uma vitória a curto prazo. As pesquisas ainda estão em estágio inicial e existem diversos obstáculos a serem vencidos – entre eles a tendência que algumas células têm de produzir tumores malignos. Os obstáculos justificam a pressa em legalizar as pesquisas. Quanto mais rapidamente começarem os estudos, mais cedo virão as soluções. Economicamente elas também são amplamente justificadas. As terapias, se importadas, podem custar caro ao país. Liberar as pesquisas representa também a reafirmação do estado laico e da liberdade de expressão – no caso científica.

                                     Revista da Semana. 2/6/2008. Editora Abril.
Entendendo o texto:

01 – O que são as células-tronco embrionárias?
      Encontradas somente nos primeiros estágios da formação de um organismo, em embriões, elas têm potencial par adquirir características de vários tipos de tecido. As células-tronco adultas já estão direcionadas para a produção de tecidos ou órgãos específicos.

02 – Onde podem ser obtidas?
      A Lei de Biossegurança, aprovada em 2005, prevê a utilização de células retiradas em embriões criados por fertilização in vitro, congelados há mais de três anos e inviáveis para a implantação no útero.

03 – Como podem ser úteis?
      Como são capazes de dar origem a quase todos os tipos de tecido, os cientistas esperam ganhar tempo em avanços hoje inalcançáveis, em especial no tratamento de doenças degenerativas. Em teoria as células-tronco embrionárias podem assumir as características do ponto onde são inseridas, gerando novos órgãos e tecidos. Seria como ter uma oficina com um estoque infinito para reparo do corpo humano.

04 – Que doenças elas podem tratar?
      Doenças degenerativas como Parkinson e mal de Alzheimer são os alvos mais cobiçados. São boas as chances de surgirem tratamentos também para artrite, diabete, doenças renais, hepáticas e pulmonares. Os danos da medula espinhal, esclerose lateral amiotrófica, distrofia muscular e doenças autoimunes são o objetivo terapêutico mais valioso - e mais difícil de ser alcançado.

05 – Por que tanta polêmica?
      Seu uso envolve não somente questões técnicas e científicas, mas religiosas – e daí a briga entre os que são contra e aqueles a favor. Como acarreta a morte do embrião, faz com que muitos vejam impedimentos éticos. Para a Igreja, a morte do embrião é um aborto.

06 – O que argumentam os defensores?
      Do ponto de vista ético: os embriões são inviáveis, produzidos apenas para pesquisa e destruídos antes de completar 14 dias quando ainda são invisíveis a olho nu. Da necessidade: as células adultas não têm o mesmo poder de diferenciação das embrionárias e suas perspectivas de terapias são reduzidas.

07 – O que argumentam os críticos?
      Consideram os embriões, mesmo com poucos dias de vida, como seres humanos, já que para eles a vida começa na concepção. A pesquisa fere o princípio constitucional da inviolabilidade do direito à vida e à dignidade da pessoa humana. Temem também a criação de um mercado negro de embriões humanos, onde mulheres pobres seriam levadas a produzi-los.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

MÚSICA(ATIVIDADES): OS PASSISTAS - CAETANO VELOSO - COM GABARITO

Música(Atividades): Os Passistas

                                   Caetano Veloso
Vem,
Eu vou pousar a mão no teu quadril
Multiplicar-te os pés por muitos mil
Fita o céu,
Roda:
A dor
Define nossa vida toda
Mas estes passos lançam moda
E dirão ao mundo por onde ir.
Ás vezes tu te voltas para mim
Na dança, sem te dares conta enfim
Que também
Amas
Mas, ah!
Somos apenas dois mulatos
Fazendo poses nos retratos
Que a luz da vida imprimiu de nós.

Se desbotássemos, outros revelar-nos-íamos no Carnaval.
Roubemo-nos ao deus Tempo e nos demos de graça "a beleza total, vem.

Nós,
Cartão Postal com touros em Madri,
O Corcovado e o Redentor daqui,
Salvador,
Roma
Amor,
Onde quer que estejamos juntos
Multiplicar-se-ão assuntos de mãos e pés
E desvãos do ser.
                                     Composição: Caetano Veloso

Entendendo a canção:

01 – Nessa canção, o eu lírico dirige-se a um interlocutor, tratando-o por tu, como se nota pela pessoa dos verbos (voltas) e dos pronomes (teu, multiplicar-te).
a)   Quem são o eu lírico e seu interlocutor?
São dois passistas, provavelmente um casal de passistas.

b)   Que tipo de convite é feito ao interlocutor?
O eu lírico convida seu interlocutor para dançar.

02 – Nessa canção, a colocação dos pronomes oblíquos assume uma importância decisiva na construção do sentido do texto. Considere estas situações:
          “Multiplicar-te os pés”.
          “Tu te voltas para mim”.
          “Sem te dares conta”.
          “Outros revelar-nos-íamos”.
          “Roubemo-nos ao deus”.
          “Multiplicar-se-ão assuntos”.

a)   No geral, a colocação do pronome oblíquo átono nessas situações sugere o desejo do autor de escrever de acordo com a variedade padrão da língua ou com a variedade popular? Por quê?
De acordo com a variedade padrão formal, como comprova o emprego da mesóclise e da construção “Roubemo-nos”.

b)   Dessas situações, indique a única em que a colocação pronominal não está perfeitamente de acordo com a variedade padrão. Em seguida, tente explicar tal fato. Na sua opinião, trata-se de um descuido do autor ou de uma infração consciente, em busca de maior expressividade? Justifique seu ponto de vista.
Em “Tu te voltas”, a próclise está mais de acordo com a prosódia brasileira do que com a lusitana. “Tu voltas-te” soaria mal aos ouvidos brasileiros, além de prejudicar a expressividade do texto.

c)   Considerando-se que os passistas normalmente são pessoas do povo, quase sempre sem muita instrução, o nível de linguagem empregado é coerente com a suposta identidade do eu lírico?
Não.

03 – Releia e compare estes dois trechos da canção:
        “Somos apenas dois mulatos
         Fazendo poses nos retratos
         Que a luz da vida imprimiu de nós.”
        “Nós,
         Cartão Postal com touros em Madri,
         O Corcovado e o Redentor daqui”.

a)   Que verso atesta a simplicidade das duas personagens?
“Somos apenas dois mulatos”, em que a palavra apenas conota simplicidade.

b)   Em contrapartida, que sonho ou desejo de grandeza o eu lírico manifesta ter?
O desejo de ser o tema de um cartão-postal que tivesse como cenário Madri, Rio.

     

POEMA: SÓ O TER FLORES PELA VISTA FORA - RICARDO REIS - COM GABARITO

Poema: Só o ter flores pela vista fora
         
     Ricardo Reis

Só o ter flores pela vista fora
Nas áleas largas dos jardins exatos
        Basta para podermos
        Achar a vida leve.
De todo o esforço seguremos quedas
As mãos, brincando, pra que nos não tome
        Do pulso, e nos arraste.
        E vivamos assim.
Buscando o mínimo de dor ou gozo,
Bebendo a goles os instantes frescos,
        Translúcidos como água
        Em taças detalhadas,
Da vida pálida levando apenas
As rosas breves, os sorrisos vagos,
        E as rápidas caricias
        Dos instantes volúveis.
Pouco tão pouco pesarei nos braços
Com que, exilados das supernas luzes,
        Escolhermos do que fomos
        O melhor pra lembrar
Quando, acabados pelas Parcas, formos,
Vultos solenes de repente antigos,
        E cada vez mais sombras,
        Ao encontro fatal
Do barco escuro no soturno rio,
E os nove abraços do horror estígio,
        E o regaço insaciável
        Da pátria de Plutão.

Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e
Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994). - 26.
Entendendo o poema:

01 – O poema apresenta um conteúdo filosófico, desenvolvendo reflexões acerca de como viver. De acordo com a concepção do eu lírico:
a)   De que forma deve ser o relacionamento com a pessoa amada? Retire do poema um trecho que comprove sua resposta.
Não deve ser um envolvimento profundo. “Seguremos quedas / As mãos brincando”; “E vivamos assim, / Buscando o mínimo de dor ou gozo”.

b)   O que se leva da vida? Retire do poema um trecho que comprove sua resposta.
Levam-se as boas lembranças: “Escolhermos do que fomos / O melhor pra lembrar”; “Levando apenas / As rosas breves, os sorrisos vagos”.

02 – Algumas das características da poesia clássica são: racionalismo, universalismo, linguagem culta, mitologia pagã, controle das emoções e rigor formal. Reconheça as presentes no texto.
·        Achar a vida fácil.
·        Buscando o mínimo de dor ou gozo.
·        Da vida pálida levamos apenas as rosas breves, os sorrisos vagos.
·        Quando acabados pelas Parcas.
·        Do barco escuro no soturno rio.
·        Horror estígio.

03 – As três últimas estrofes fazem referência à morte. Como o eu lírico se posiciona perante ela?
      Ricardo Reis se posiciona diante da morte como algo inevitável:
      -- Tudo o que cessa é a morte.
      -- A morte é nossa.
      -- Com tudo quanto vô, se passa, passo.

04 – Ao refletir sobre a avida, o eu lírico acaba por expressar também seu ponto de vista sobre a morte. Qual é o significado da morte para o eu lírico?
      A morte é vista como algo natural, como se fosse determinação do destino. Sua filosofia de “viver bem” pressupõe uma forma de “morrer bem”.

05 – O poema apresenta várias características que podem ser relacionadas com a tradição da cultura clássica greco-latina. Identifique, no poema, atitudes, trechos ou ideias que exemplifiquem as seguintes características da tradição clássica.
a)   Racionalismo.
O controle das emoções e dos impulsos: “Buscando o mínimo de dor ou gozo”.

b)   Universalismo.
Suas reflexões sobre vida e morte transcendem o plano individual; o eu lírico defende uma concepção de vida e morte que diz respeito a todos, que é universal.

c)   Mitologia pagã.
Referências à Estige, às Parcas e a Plutão.

06 – No plano das ideias, como se vê, o poema se filia à tradição clássica. Observe-o agora no plano da expressão: a estrofação, a métrica, o vocabulário e as construções sintáticas dos versos. Esses aspectos formais estão em sintonia com o plano das ideias? Por quê?
      Sim, formalmente o poema apresenta características da tradição clássica: estrofação rígida, versos brancos e metrificados (dísticos de 10 e de 6 sílabas poéticas se alternando), vocabulário e sintaxe cultos.