quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

ENTREVISTA: O RAP NA CULTURA BRASILEIRA. ENTREVISTA ESPECIAL COM TITO CAVALCANTI - FRAGMENTO - REVISTA IHU ON-LINE- COM GABARITO

 Entrevista: O Rap na cultura brasileira. Entrevista especial com Tito Cavalcanti – Fragmento

        Apesar da febre que o Rap causou nos jovens brasileiros no final da década de 1990, esse movimento ainda vem se inserindo dentro da cultura brasileira, primeiramente como movimento em prol dos injustiçados e depois como entretenimento da periferia. “A paixão marginal – O RAP precisa de passagem” foi o tema da palestra que o psiquiatra Tito Cavalcanti apresentou no início deste mês na Livraria Cultura – Paulista, em São Paulo. No evento, Tito desvenda a origem e autores desse movimento e responde a questões como: O Rap pode ser considerado música brasileira? A partir desta discussão, Tito fala sobre a complexidade emocional das relações humanas nas grandes cidades.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOZog8YNDfx-ljcxExS6CMV3DPJ2gMMs48hqJYpAAUA04lWYNgxYJAzAcojvMRsIYyWQvlXbFZo-gNNo9BYa4DktNeIfm2RDTQ94m58Fq-QaZDcdTfq8WltOZ75TqFebJAxUo3BKxp2JISV4GG3-4Wg0-DG5oer8VMy2-xA-i8AbAJHTeq3AIem3_h1NQ/s320/hIP.jpg


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        Tito Cavalcanti é médico psiquiatra e analista junguiano pela Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. [...]

        IHU On-Line – O Rap vem de uma cultura marginal que canta e reivindica os direitos e a cidadania de um grupo marginal. Como o senhor analisa o Rap dentro da cultura brasileira?

        Tito Cavalcanti – Considero-o como manifestação social e como música popular brasileira. O Rap, que junto com o grafite (1) e a dança break (2), compõe o movimento Hip-Hop (3), começou nos EUA e logo se tornou meio de reivindicações sociais, principalmente dos negros deste país. Quando migrou para o resto do mundo, tornou-se porta voz de reivindicações da população excluída de cada país. No Brasil, com a injustiça social enorme que temos, o Rap foi logicamente encampado pela população negra das periferias das grandes cidades. Assim, ele tornou-se porta-voz daquilo que acontece nessas periferias e da luta por uma vida mais justa. Como a música brasileira é muito boa e forte, o Rap feito no Brasil sofre grande influência dos ritmos brasileiros. Acredito que já temos o samba rap, o repente (4) rap, a embolada (5) rap.

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        IHU On-Line – O Rap, como outros movimentos semelhantes, pode ser visto como marginal?

        Tito Cavalcanti – Não sei se concordo em chamar o Rap de movimento marginal. Ele, como outros movimentos, não está localizado fora da cultura. Pelo contrário, os autores dos raps demonstram estar bem informados sobre as questões brasileiras. Acredito que é um movimento daqueles que são injustiçados.

        IHU On-Line – Quais são os caminhos que o Rap tem utilizado para se inserir na sociedade?

        Tito Cavalcanti – Para isso, vou te dar um exemplo: acredito que São Paulo possa ser dissociado em dois universos: o da periferia e o do centro. Esses dois universos são tão grandes que é preciso organizar um diálogo urgente. Nas letras de muitos raps, pode-se vivenciar e empatizar o sofrimento humano dos que vivem nas periferias pobres de grandes cidades. A poesia abre caminhos, pois desperta sentimentos que temos em comum, independente de qualquer situação social ou cor de pele.

        IHU On-Line – O Rap seria um movimento provindo daquilo que Freud chama de "mal-estar na civilização"?

        Tito Cavalcanti – O mal-estar na civilização ocorre pela necessidade que temos de reprimir nossos instintos e impulsos para podermos viver civilizadamente. Não tenho dúvidas de que o Rap é um movimento que traz a discussão sobre a justiça, a dignidade do homem, e, nesse sentido, procura conter impulsos primários do ser humano, tais como a ganância e a violência da lei do mais forte. O Rapper, portanto, sente o mal-estar daqueles que estão na civilização.

Notas:

(1) É a designação para a pinturas feitas em muros e paredes na rua. O grafite salta aos olhos nos grandes centros urbanos. É considerado por muitos como um ato de vandalismo. Está ligado a movimentos como o movimento Hip-Hop.

(2) Break Dance é um tipo de dança de originada na década de 1960, quando a onda de música negra assolou os Estados Unidos. A população das grandes cidades sentiu, a partir desse movimento, uma maior proximidade com os artistas produtores dessa cultura, principalmente por sua maneira verdadeira de demonstrar a alma em suas canções.

(3) O Hip-Hop emergiu no final da década de 1960 nos subúrbios negros e latinos de Nova Iorque. Estes subúrbios enfrentaram todo tipo de problemas: pobreza, violência racismo tráfico, carências de infraestrutura, de educação etc. Os jovens encontravam na rua o único espaço de lazer, e geralmente entravam num sistema de gangues, as quais se confrontavam de maneira violenta na luta pelo domínio territorial.

(4) É uma tradição folclórica brasileira, cuja origem remonta aos trovadores medievais. Especialmente forte no nordeste brasileiro, é uma mescla entre poesia e música na qual predomina o improviso – a criação de versos "de repente". O repente possui diversos modelos de métrica e rima, e seu canto costuma ser acompanhado de instrumento musical – normalmente o dedilhar de uma viola de sete ou dez cordas.

(5) Tipo de repente nordestino em que o cantador toca pandeiro ou ganzá.

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O Rap na cultura brasileira. Entrevista especial com Tito Cavalcanti. Revista IHU On-Line, 25 maio 2007. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/159-noticia/entrevista/7315-o-rap-na-cultura-brasileira-entrevista-especial-com-tito-cavalcanti. Acesso em: 21 set. 2020.

Fonte: Coleção Rotas. Língua Portuguesa. Ensino fundamental. Anos finais. 8º ano/Sandra Moura Severino (org.) – Brasília – Editora Edebê Brasil, 2020. p. 10-11.

Entendendo a entrevista:  

01 – Qual foi a trajetória do Rap no Brasil desde sua chegada até se firmar na cultura brasileira?

      Segundo o texto, o Rap inicialmente causou uma "febre" nos jovens brasileiros no final da década de 1990. Sua inserção na cultura brasileira se deu, primeiramente, como um movimento em prol dos injustiçados e, posteriormente, como entretenimento da periferia.

02 – O que o psiquiatra Tito Cavalcanti considera que o Rap representa dentro da cultura e música do Brasil?

      Tito Cavalcanti considera o Rap tanto uma manifestação social quanto uma forma de Música Popular Brasileira (MPB). Ele destaca que, devido à forte e boa música brasileira, o Rap feito no país sofre grande influência de ritmos locais, dando origem a subgêneros como o samba rap, o repente rap e a embolada rap.

03 – Quais são os três elementos, além do Rap, que compõem o movimento Hip-Hop?

      O Rap, junto com o grafite (1) e a dança break (2), compõe o movimento Hip-Hop (3).

04 – Como a migração do Rap dos EUA para o Brasil afetou seu papel social?

      Nos EUA, o Rap começou como meio de reivindicações sociais, principalmente dos negros. Quando migrou para o resto do mundo, tornou-se porta-voz das reivindicações da população excluída de cada país. No Brasil, dada a "injustiça social enorme", foi encampado pela população negra das periferias das grandes cidades para lutar por uma vida mais justa.

05 – Por que Tito Cavalcanti discorda da classificação do Rap como um movimento puramente "marginal"?

      Ele discorda porque o Rap e movimentos semelhantes não estão localizados fora da cultura. Pelo contrário, os autores dos raps demonstram estar bem informados sobre as questões brasileiras. Ele defende que é um movimento daqueles que são injustiçados, e não meramente marginal.

06 – Como as letras do Rap funcionam como uma ponte ou caminho para a inserção do movimento na sociedade, citando o exemplo de São Paulo?

      Tito Cavalcanti usa o exemplo da dissociação entre o centro e a periferia de São Paulo para ilustrar a necessidade de um "diálogo urgente". Ele afirma que, nas letras, pode-se vivenciar e empatizar o sofrimento humano dos que vivem nas periferias, e que a poesia do Rap abre caminhos ao despertar sentimentos que são comuns a todos, independentemente da situação social ou cor de pele.

07 – O Rap pode ser relacionado ao conceito freudiano de "mal-estar na civilização"? Se sim, de que forma?

      Sim, Tito Cavalcanti concorda com a relação. Ele explica que o Rap é um movimento que traz a discussão sobre a justiça e a dignidade do homem, e, nesse sentido, procura conter impulsos primários do ser humano (como a ganância e a violência da lei do mais forte). Assim, o Rapper "sente o mal-estar daqueles que estão na civilização".

 

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