segunda-feira, 22 de abril de 2019

CONTO: LONGE COMO O MEU QUERER - (FRAGMENTO) - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

Conto: Longe como o meu querer - Fragmento
                                     Marina Colasanti

        Regressava ao castelo com suas damas, quando do alto do cavalo o viu, jovem de longos cabelos à beira de um campo. E embora fossem tantos os jovens que cruzavam seu caminho, a partir daquele instante foi como se não houvesse mais nenhum. Nenhum além daquele.
        À noite, no banquete, não riu dos saltimbancos, não aplaudiu os músicos, mal tocou na comida. As mãos pálidas repousavam. O olhar vagava distante.
        --- Que tens, filha, que te vejo tão pensativa? – Perguntou-lhe o pai.
        --- Oh! pai, se soubesses! – Exclamou ela, feliz de partilhar aquilo que já não lhe cabia no peito. E contou do rapaz, do seu lindo rosto, dos seus longos cabelos.
        O que o pai pensou, não disse. Mas no dia seguinte, senhor que era daquele castelo e das gentes, ordenou que se decapitasse o jovem e se atirasse seu corpo ao rio. A cabeça entregou à filha em bandeja de prata, ele que sempre havia satisfeito todas as suas vontades.
        --- Aqui tens o que tanto desejavas.
        E sem esperar resposta, sem sequer procurá-la em seus olhos retirou-se.
        Saído o pai, a castelã lavou aquele rosto, perfumou e penteou os longos cabelos, acarinhou a cabeça no seu colo. À noite pousou-a no travesseiro ao lado do seu, e deitou-se para dormir.
        Porém, no escuro, fundos suspiros barraram a chegada seu sono.
        --- Por que suspiras, doce moço? – Perguntou voltando-se para o outro travesseiro.
        --- Porque deixei a terra arada no meu campo. E as sementes preparadas no celeiro. Mas não tive tempo de semear. E no meu campo nada crescerá.
        --- Não te entristeças – respondeu a castelã.  Amanhã semearei teu campo. No dia seguinte chamou sua dama mais fiel, pretextou um passeio, e saíram ambas a cavalo.
        Apearam no campo onde ela o havia visto a primeira vez. A terra estava arada. No celeiro encontraram as sementes. A castelã calçou tamancos sobre seus sapatinhos de cetim, não fosse a lama denunciá-la ao pai. E durante todo o dia lançou sementes nos sulcos.
        À noite deitou-se exausta. Já ia adormecer, quando fundos suspiros a retiveram à beira do sono.
        --- Por que suspiras, doce moço, se já semeei teu campo?
        --- Porque deixei minhas ovelhas no monte, e sem ninguém para trazê-las ao redil serão devoradas pelos lobos.
        --- Não te entristeças. Amanhã buscarei tuas ovelhas.
        No dia seguinte, chamou aquela dama que mais do que as outras lhe era fiel e, pretextando um passeio, saíram juntas além dos muros do castelo.
        Subiram a cavalo até o alto do monte. As ovelhas pastavam. A castelã cobriu sua saia com o manto, não fossem folhas e espinhos denunciá-la ao pai. Depois, com a ajuda da dama reuniu as ovelhas e, levando o cavalo pelas rédeas, desceu com o rebanho até o redil.
        Que tão cansada estava à noite, quando o suspiro fundo pareceu chamá-la!
        --- Por que suspiras, doce moço, se já semeei teu campo e recolhi tuas ovelhas?
        --- Porque não tive tempo de guardar a última palha do verão, e apodrecerá quando as chuvas chegarem.
        --- Não te entristeças. Amanhã guardarei a tua palha.
        Quando no dia seguinte mandou chamar a mais fiel, não foi preciso explicar-lhe aonde iriam. Pretextando desejo de ar livre, afastaram-se ambas do castelo.
        Os feixes de palha, amontoados, secavam ao sol. A castelã calçou os tamancos, protegeu a saia, enrolou tiras de pano nas mãos, não fossem feridas denunciá-la a seu pai. E começou a carregar os feixes para o celeiro. Antes do anoitecer tudo estava guardado, e as duas regressaram ao castelo.
        Nem assim manteve-se o silêncio no escuro quarto da castelã.
        Por que suspiras, doce moço? – Perguntou ela mais uma vez. – Por que suspiras, se já semeei teu campo, recolhi tuas ovelhas, e guardei tua palha?
        --- Porque uma tarefa mais é necessária. E acima de todas me entristece. Amanhã deverás entregar-me ao rio. Só ele sabe onde meu corpo espera. Só ele pode nos juntar novamente antes de entregar-nos ao mar.
        --- Mas o mar é tão longe! – Exclamou a castelã num lamento.
        E naquela noite foram dois a suspirar.
        Ao amanhecer a castelã perfumou e penteou os longos cabelos do moço, acarinhou a cabeça, depois a envolveu em linhos brancos e chamou a dama.
        Os cavalos esperavam no pátio, o soldado guardava o portão. – Vamos entregar alguma comida para os pobres – disseram-lhe. E saíram levando seu fardo.
        Seguindo junto à margem, afastaram-se da cidade até encontrar um remanso. Ali apearam. Abertos os linhos, entregaram ao rio seu conteúdo. Os longos cabelos ainda flutuaram por um momento, agitando-se como medusas. Depois desapareceram na água escura.
        De pé, a castelã tomou as mãos da sua dama. Que lhe fosse fiel, pediu, e talvez um dia voltassem a se ver. Agora, cada uma tomaria um rumo. Para a dama, o castelo. Para ela, o mar.
        --- Mas é tão longe o mar! – exclamou a dama.
        Montaram as duas. A castelã olhou a grande planície, as montanhas ao fundo. Em algum lugar além daquelas montanhas estava o mar. E em alguma praia daquele mar o moço esperava por ela.
        --- A distância até o mar – Disse tão baixo que talvez a dama nem ouvisse – Se mede pelo meu querer.
        E esporeou o cavalo.
                  Marina Colasanti. Longe como o meu querer. São Paulo: Ática, 2001.
Entendendo o conto:
01 – Pelo assunto abordado, é possível dizer que esse texto nunca poderia ser publicado em uma revista como Scientific American Brasil. Por quê?
      Por que trata-se de um texto de ficção, inadequado para uma revista de teor científico.

02 – A narrativa trata de um fato possível no plano real ou só possível como ficção? Como você chegou à sua resposta?
      O fato é apenas ficção. Entre os índices mais importantes dessa ficcionalidade estão a possibilidade de a cabeça do moço manter-se viva depois de desligada do resto do corpo e a posterior reintegração do corpo, que se supõe acontecer.

03 – De todas as tarefas que o camponês solicitou à castelã, uma foi a que mais o entristeceu.
a)   Qual foi essa tarefa?
Que ela entregasse a cabeça dele ao rio para que encontrasse o resto do corpo.

b)   Por que essa tarefa teria feito o camponês ficar tão triste?
Porque ele sabia que, realizada a tarefa, ficaria para sempre longe da castelã.

04 – Cada ação oculta da castelã, se descoberta, poderia comprometê-la perante o pai. Por isso, ela elimina os indícios das tarefas que realizava para o moço.
a)   Identifique esses indícios.
Lama; folhas e espinhos; ferimentos (feridas).

b)   Por que esses indícios seriam estranhos no dia-a-dia de uma castelã?
Porque se relacionam com o trabalho braçal, realizado no campo, impensável para um nobre.

05 – Releia: “Amanhã deverás entregar-me ao rio. Só ele sabe onde meu corpo espera. Só ele pode nos juntar novamente antes de entregar-nos ao mar.”
        A que(m) se referem os pronomes destacados?
      Ao corpo e à cabeça, que, novamente juntos, comporiam a pessoa do jovem.

06 – Resuma o que acontece com a castelã e sua dama no final da história.
      A castelã vai para o mar procurar o camponês. A dama volta ao castelo.

07 – Qual dos provérbios seguintes se relaciona mais diretamente com o final da história?
a)   No amor e na guerra tudo vale.
b)   O fim da paixão é o começo do arrependimento.
c)   É o amor que faz o mundo girar.
d)   O amor não conhece distâncias.

08 – Não teria sido mais fácil simplesmente a princesa e o jovem se casarem? Por que a história precisou de tantas peripécias?
      Porque o rei certamente não autorizaria o casamento da filha com um camponês.

09 – Identifique o sentido que o verbo vagar adquire no segundo parágrafo de “Longe como o meu querer”. Em seguida, escreva uma frase utilizando o mesmo verbo com sentido diferente.
      Tem o sentido de percorrer vagando, ao acaso. Resposta pessoal do aluno.

10 – Releia este trecho com atenção: “No dia seguinte, chamou sua dama mais fiel, pretextou um passeio, e saíram ambas a cavalo.”
O verbo destacado aparece mais uma vez no conto. Pelo contexto, qual é o significado desse verbo?
       Dar como pretexto ou desculpa; dissimular o motivo real para algum feito ou ação.

11 – Compare: “... acarinhou a cabeça no seu colo. À noite pousou-a no travesseiro ao lado do seu...”. “Ao posar para a foto, segurava o queixo.”
Os verbos pousar e posar têm formas parecidas, mas significados diferentes. São parônimos.
a)   Procure no dicionário o significado adequado de pousar e posar nas frases acima.
Pousar: pôr, colocar. Posar: ficar imóvel em determinada posição, para ser fotografado.

b)   Procure no dicionário as palavras seguintes e leia seu significado. Você encontrará também os parônimos dessas palavras. Procure-os, observe seu significado e, no caderno, escreva frases com eles.
Emergir: trazer ou vir à tona. Imergir: estar imerso, mergulhar.
Pião: brinquedo geralmente de madeira. Peão: Aquele que anda a pé; homem da plebe.

12 – No castelo havia muitas damas a serviço da castelã, mas uma delas sobressaía no conjunto por uma característica. Empregando apenas um substantivo abstrato, indique essa característica.
      É a palavra fidelidade.

13 – No trecho abaixo, observe a palavra destacada, um coletivo: “Os feixes de palha, amontoados, secavam ao sol.” Nos itens a seguir, trocamos nessa frase a palavra palha por outras. Com essa mudança, que substantivo você precisa colocar no lugar de feixes para manter a coerência? Reflita e copie no caderno as frases completando-as com o coletivo adequado:
a)   As réstias/enfiadas de alho, amontoadas, secavam ao sol.

b)   Os cachos de uva, amontoados, secavam ao sol.

c)   Os buquês/ramalhetes de flores, amontoados, secavam ao sol.

14 – “Longe como o meu querer” é uma narrativa que chamamos de conto. Identifique nesse conto:
a)   As personagens.
A castelã, o moço decapitado, a dama fiel e o pai da castelã.

b)   A ação principal de cada uma dessas personagens.
A castelã: realiza os desejos do moço decapitado. A dama: acompanha a castelã e a ajuda. O moço decapitado: diz à castelã o que deseja que seja feito. O pai: manda decapitar o moço.

15 – A partir de que ação (ações) indicada(s) na resposta anterior a narrativa avança, evolui?
      A partir da ação do moço decapitado: é pelo fato de a castelã fazer o que ele diz que a narrativa caminha / evolui para o desfecho.

16 – Dentre as personagens, indique aquela cuja ação desencadeia todas as outras ações no conto.
      O pai da castelã: sua ação é o ponto de partida para as demais.

17 – Em muitas narrativas, há uma busca: as personagens agem de modo a (re)encontrar seu objeto do desejo. A respeito desse conto de Marina Colasanti, responda no caderno.
a)   O que buscam as personagens?
A castelã busca o amor, representado pelo moço decapitado.
O moço busca cumprir suas tarefas cotidianas, as quais se vê impossibilitado de realizar.
O pai da castelã busca realizar o desejo da filha.
A dama busca acompanhar sua senhora.

b)   Qual é, na sua opinião, a busca mais importante, aquela que mais contribui para que a narrativa atinja o seu desfecho?
É a da castelã, cuja busca a leva a abandonar o castelo, ação essa que contribui o desfecho da narrativa.

18 – Antagonista é a personagem (ou um outro elemento da narrativa) que retarda o desenrolar dos fatos, agindo contra a busca principal. Na sua opinião, quem ou o que seria o antagonista desse conto?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão; O antagonista mais evidente é a distância que separa a castelã do moço decapitado.
  

CRÔNICA: UMA TIA - DANUZA LEÃO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: Uma tia
      
        DANUZA LEÃO 

        Uma tia. Só que não estou falando de uma tia qualquer; estou falando daquela tia de antigamente, que nem sei se ainda existe.
        Ela era assim: magrinha, já nascida com cerca de 75 anos e com os ombros curvados; era tão discreta que nunca ficava doente – e, se ficava, não dizia (para não dar despesa); por ser a mais velha de uma escadinha de 12 ou 13 irmãos, ficou combinado que nunca se casaria. Naquele tempo, era assim: o destino da mais velha era ajudar a criar os mais novos e cuidar da mãe na velhice.
        Como não tinha renda de nenhuma natureza, depois que a mãe morreu, passou a morar ora com uma irmã, ora com outra, fazendo a única coisa que sabia: ajudar. Um parente estava no hospital? Lá ia ela. Alguém da família teve um bebê? Lá estava ela, firme, dormindo num colchonete para que a mãe pudesse dormir. Se se apegava à criança, ninguém estava interessado. Depois de cumprida a missão, voltava para casa e não se falava mais naquilo.
        Dizem que as mães fazem tudo pelos filhos – e até fazem –, mas essas tias são diferentes. Talvez por não terem nunca perdido tempo pensando em homens canalizam seus sentimentos para as sobrinhas e têm sempre uma predileta. No caso, era eu.
        Por mim ela fazia tudo e, de vez em quando, me dava um presente: uns dois palmos de renda amarelecida pelo tempo, que eu adorava – restos do enxoval de um vago noivado que não chegou ao casamento. O noivo desapareceu, nunca mais se tocou no assunto, e as pulseiras e broches de ouro com flores de coral foram devolvidas, como faziam as moças direitas.
        Essa tia não possuía um só bem material, mas era sempre muito cheirosa; cheirava a água-de-colônia, que usava pouco, para economizar. E, quando dei a ela – que já beirava os 90 anos – um casaquinho rosa de tricô, banal, trazido de Paris, ela só o usava em ocasiões muito especiais, para não gastar.
        Em qualquer idade, ficar doente e ter uma tia dessas é uma bênção. Com o quarto em penumbra, ela se sentava numa cadeira em silêncio total e só se levantava – isso várias vezes ao dia – para botar as costas da mão na testa para ver como estava a febre. E isso, falando bem baixinho. Uma mãe faz isso? Faz, mas, quando a febre baixa, aproveita para dar um pulinho ao cabeleireiro para estar linda no jantar da noite.
        Com essa tia, é diferente; você pode contar com ela para rigorosamente tudo, e esse amor não pede nada em troca. Nem mesmo agradecimento.
        É doloroso, mas faz parte da vida não dar valor às pessoas que temos certeza de que nos amam. Quantos domingos eu fiquei lendo e relendo os jornais, sem chamá-la para almoçar fora, coisa de que ela teria gostado tanto (sempre pedindo os pratos mais baratos, claro)? Quantas vezes deixei de levar para ela uma caixinha com três sabonetes ou um frasco de lavanda que nem precisava ser francesa? Pois é.
      O tempo passou, ela morreu, e eu – que não a via muito porque tinha o trabalho, os filhos, o dia-a-dia, a maldita ginástica que não podia perder – nem sofri tanto assim. Passou.
        As reações às vezes são lentas; uns quatro ou cinco anos depois, tive uma cólica renal e, no meio da dor, lembrei-me dela. Dela, que teria ficado sentada no chão do banheiro, passando a mão pelos meus cabelos, só de carinho, enquanto eu tomava aqueles longos banhos quentes para melhorar a dor; dela, que fazia a bainha de meu vestido cinco minutos antes da festa, se fosse preciso; dela, a única que lembrava e contava episódios de minha infância que só ela sabia. Dela, que gostava de mim como nunca, jamais, ninguém gostou nem gostará, e eu só soube depois. Dela, que quando me via em algum sufoco, sempre terminava dizendo: "Vou rezar muito por você, e a Nossa Senhora vai te ajudar", sem tentar me convencer a ir à missa ou a acreditar em Deus.
        E eu, que nunca disse o quanto gostava dela.

                 Danuza Leão. As aparências enganam. São Paulo: Publifolha, 2004.
Entendendo a crônica:

01 – Na crônica, a autora fala de uma tia “que nem sei se ainda existe”. Você tem uma tia assim?
      Resposta pessoal do aluno.

02 – No texto inteiro, há trechos que descrevem a tia. Mas, em certa passagem, essa descrição é bastante evidente.
a)   Que passagem é essa?
Está descrito no 2° parágrafo.

b)   Como essa tia é descrita pela autora?
É descrita física e psicologicamente.

c)   Localize a expressão que introduz esse trecho explicitamente descritivo.
A expressão é: “Ela era assim”.

03 – Que papel ela desempenhava na família?
      O de cuidar dos irmãos mais novos e da mãe na velhice.

04 – A característica principal dessa tia é que ela ajudava sempre que necessário. Indique passagens do texto que explicitam isso.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Há várias passagens que indicam isso, às vezes de forma melancólica, às vezes de forma bem-humorada.

05 – Com que outro membro da família a tia é comparada? Na sua opinião, por que a autora faz essa comparação?
      Com a mãe. A mãe é associada ao zelo e ao cuidado para com os filhos, características principais dessa tia.

06 – Embora a autora fale de uma tia em especial, é possível afirmarmos que ela buscou descrever um tipo de tia que pode existir em qualquer família. Esse procedimento de linguagem é o que chamamos de generalização. Indique passagens do texto que evidenciem a generalização. 
      Ela generaliza por meio do uso de determinadas expressões como “ter uma tia dessas”, ou “essas tias são diferentes. O tempo todo, há essa dicotomia no texto: a tia em especial, e a generalização dessa figura da parentela.

07 – Todo o texto é percorrido por um sentimento da sobrinha para com a tia.
a)   Que sentimento é esse?
A saudade da tia perdida é o que marca o texto, do começo ao fim.

b)   Localize uma passagem que justifica sua resposta ao item anterior.
No parágrafo que começa em “As reações às vezes são lentas [...]”, esse sentimento fica explícito.

08 – Ao fim da crônica, a autora declara seu arrependimento por não ter sido mais generosa com a tia da seguinte forma: “E eu, que nunca disse o quanto gostava dela”. Na sua opinião, por que Danuza Leão termina o texto dessa forma?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Uma crônica é um texto em que o autor, a partir da observação de um fato corriqueiro, um evento singular, um hábito ou uma situação usual do quotidiano, leva seus leitores a refletirem. O fato observado por Danuza Leão é de qual natureza: um fato corriqueiro, um evento singular ou uma situação habitual do quotidiano? Explique.
      É uma situação habitual. Há indícios no texto que apontam para isso, por exemplo o uso do procedimento da generalização, indicado na questão 6 desta seção.

10 – Ao escrever sua crônica, a autora mistura diferentes níveis de linguagem. Observe: “E, quando dei a ela – que já beirava os 90 anos – um casaquinho rosa de tricô, banal, trazido de Paris, ela só o usava em ocasiões muito especiais, para não gastar.”
a)   Qual é p sentido do verbo beirar nessa passagem?
Nessa passagem, significa “aproximar-se de”.

b)   Consulte o dicionário e verifique que significados ele registra para essa palavra.
O dicionário registra entre outros, os seguintes significados: “costear, ladear, ir pela margem de”; “fazer limite com”.

c)   Por que o uso do verbo beirar, nesse trecho pode ser considerado um indício de que há mistura de níveis de linguagem no texto?
Na linguagem formal, o uso de “aproximar-se” é mais usual.

11 – Releia o trecho a seguir: “Com essa tia, é diferente; você pode contar com ela para rigorosamente tudo, e esse amor não pede nada em troca. Nem mesmo agradecimento.”
        A quem se refere o pronome você nessa passagem? Justifique sua opinião.
      A primeira impressão é que ela se refere ao leitor. Mas, ao ler o trecho com mais atenção, percebe-se que o pronome generaliza a ideia, ou seja, “você pode contar com ela” é o mesmo que dizer “é possível contar com ela” ou “pode-se contar com ela”. O pronome então funciona como índice de indeterminação do sujeito.

12 – Releia esta passagem da crônica: “O tempo passou, ela morreu, e eu – que não a via muito porque tinha o trabalho, os filhos, o dia-a-dia, a maldita ginástica que não podia perder – nem sofri tanto assim. Passou.”
a)   No início e no fim desse parágrafo, emprega-se o verbo passou. O sentido é o mesmo nas duas ocorrências? Explique.
Na primeira ocorrência, o verbo refere-se à passagem do tempo, sendo sinônimo de “transcorrer”.
Na segunda ocorrência, o sentido é outro: “deixar de ocorrer”, “cessar”, “terminar”.

b)   Qual é o sujeito de passou na segunda ocorrência? Explique.
O sujeito – não expresso – pode ser subentendido pelo contexto o sofrimento passou.

13 – No penúltimo parágrafo do texto, que começa em “As reações às vezes são lentas [...]”, repete-se várias vezes a palavra dela após ponto e vírgula ou ponto final. Na sua opinião, o que a autora consegue com essas repetições?
      Essas repetições marcam a insistência na figura da tia. Essa palavra, repetida assim, cria um ritmo semelhante à batida de martelo, o que comunica a ideia de que ela, a autora, não mais se esquecerá dessa tia.

14 – A última palavra do texto é dela. Na sua opinião, por que a autora finaliza o texto com essa palavra?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Volta-se na insistência sobre a figura da tia e a autora consegue terminar o texto de forma circular, como se fechasse um ciclo.




MENSAGEM ESPÍRITA: DIA NOVO, OPORTUNIDADE RENOVADA - O LIVRO DOS ESPÍRITOS - ESPÍRITOS PUROS - PARA REFLEXÃO

Mensagem: Dia novo, oportunidade renovada
                  
                      Joanna de Ângelis

        Dia novo, oportunidade renovada.
        Cada amanhecer representa divina concessão que não podes nem deves desconsiderar.
        Mantém, portanto, atitude positiva em relação aos acontecimentos que devem ser enfrentados; otimismo diante das ocorrências que surgirão; coragem no confronto das lutas naturais; recomeço de tarefa interrompida; ocasião de realizar o programa planejado.
        Cada amanhecer é convite sereno à conquista de valores que parecem inalcançáveis.
        À medida que o dia avança, aproveita os minutos, sem pressa nem postergação do dever.
        Não te aflijas ante o volume de coisas e problemas que tens pela frente.
        Dirige cada ação à sua finalidade específica.
        Após concluir um serviço, inicia outro e, sem mágoa dos acontecimentos desagradáveis, volve à lição com disposição, avançando, passo a passo, até o momento de conclusão dos deveres planejados.
        Não tragas do dia precedente o resumo das desditas e dos aborrecimentos.
        Amanhecendo, começa o teu dia com alegria renovada e sem passado negativo, enriquecido pelas experiências que te constituirão recurso valioso para a vitória que buscas.
                                                                            Joanna de Ângelis

Mensagens Espírita: O livro dos Espíritos

ALLAN KARDEC – Tradução Matheus R. Camargo
Perguntas e respostas
                      Livro Segundo
MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
                       Capítulo I
        SOBRE OS ESPÍRITOS
PRIMEIRA ORDEM- ESPÍRITOS PUROS

112 – Características gerais – Nenhuma influência da matéria. Absoluta superioridade moral e intelectual em relação aos Espíritos das outras ordens.

113 – Primeira classe. Classe única – Os Espíritos dessa classe percorrem todos os graus da escala e se livraram de todas as impurezas da matéria. Por terem atingido o grau máximo de perfeição de que uma criatura é suscetível, não têm mais que sofrer provações nem expiações. Por não estarem mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, vivem a vida eterna, plenamente realizados no seio de Deus.
        Desfrutam de uma felicidade inalterável, porque não estão sujeitos nem às necessidades nem às vicissitudes da vida material; no entanto, essa felicidade não é a de uma ociosidade monótona vivida em contemplação perpétua. Eles são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para a manutenção da harmonia universal. Comandam todos os Espíritos que lhes são inferiores, ajudando-os a se aperfeiçoarem e designando suas missões. Assistir os homens em suas aflições, incitá-los ao bem ou à expiação das faltas que os afastam da felicidade suprema é, para eles, uma agradável ocupação. Às vezes, são chamados de anjos, arcanjos ou serafins.
        Os homens podem comunicar-se com esses Espíritos, mas muito presunçoso seria quem pretendesse tê-los constantemente às suas ordens.

NOTÍCIA: A INDÚSTRIA CAÇA-TALENTOS - O ESTADO DE S. PAULO - COM GABARITO

NOTÍCIA: A indústria caça-talentos
     
      Cresce o número de programas que prometem fama instantânea a uma multidão de anônimos

        A onda de atrações caça-talentos está em alta. Multiplicam-se como nunca as promessas de estrelato em programas de TV: há concurso para atuar em novelas, competição de calouros e até disputa de sósias. Em comum, as atrações exploram o deslumbramento de anônimos pela fama. É um vale-tudo por 15 minutos via satélite.
        [...]
                                       O Estado de São Paulo, edição on-line, 9/9/2001.
Entendendo o texto:
01 – No primeiro parágrafo, há trecho em que o enunciador do texto explica alguma coisa. O que ele explica?
      O aumento das promessas de estrelato na TV.

02 – Nesse parágrafo, há alguma(s) palavra(s) ou expressão(ões) que expressa(m) opinião? Explique.
      O trecho opinativo do parágrafo é “as atrações exploram o deslumbramento de anônimos pela fama. É um vale-tudo por 15 minutos via satélite”. É opinativo porque exprime um julgamento, uma tomada de posição do enunciador: ao caracterizar a situação ele projeta no texto sua opinião.

03 – Dê sua opinião sobre as atrações caça-talentos comentadas no texto.
      Resposta pessoal do aluno.

04 – Nos trechos seguintes da matéria jornalística, registra-se a opinião de três pessoas. Localize os trechos em que o enunciador expõe a opinião dessas pessoas. Observe o que têm em comum.
      As opiniões aparecem claramente nos trechos em discurso direto (em comum: os trechos estão entre aspas).

sábado, 20 de abril de 2019

POEMA: DESENCONTRÁRIOS - PAULO LEMINSKI - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Desencontrários
              
           Paulo Leminski

Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.

                          LEMINSKI, Paulo. Melhores poemas. São Paulo: Global, 1997.
Entendendo o poema:

01 – Como se sente o eu lírico em relação ao trabalho poético?
      Segundo o texto, a criação poética exige muita paciência e empenho. O eu lírico se sente impotente e frustrado, pois não encontra a palavra certa, adequada, na produção de seus versos. Há um desacordo entre o que ele pensa e o que consegue expor, poia as palavras não se agrupam de forma harmônica.

02 – Retire do texto um pronome pessoal oblíquo átono e um tônico.
      Me, se (átonos); si (tônico).

03 – Em que verso o pronome pessoal foi usado apenas como realce, podendo ser retirado?
      “E ela se foi num labirinto”.

04 – Explique por que o pronome pessoal é reflexivo nestes versos:
        “Parecia fora de si,
        A sílaba silenciosa.”
      Pode-se reforçar a ação reflexiva, colocando-se a expressão de si mesma. O sujeito (a sílaba) pratica e sofre a ação de estar fora de.

05 – Corrija as frases em que houver redundância no emprego do pronome possessivo.
a)   O atleta ergueu seus braços e lançou seu corpo com grande impulso.
O atleta ergueu os braços e lançou o corpo com grande impulso.

b)   Após a cirurgia, pus colírio em meus olhos por vários dias, conforme recomendação do meu médico.
Após a cirurgia, pus colírio nos olhos por vários dias, conforme recomendação do médico.

c)   A moça tinha suas mãos e seus pés feridos, mas recusava nossa ajuda.
A moça tinha as mãos e os pés feridos, mas recusava nossa ajuda.

d)   Com medo, a criança escondeu sua cabeça por baixo da coberta, encolheu suas pernas e aquietou-se.
Com medo, a criança escondeu a cabeça por baixo da coberta, encolheu as pernas e aquietou-se.





POEMA: DESPROPÓSITO GERAL - PAULO LEMINSKI - COM GABARITO

Poema: Despropósito geral
              Paulo Leminski

Esse estranho hábito,
Escrever obras-primas,
Não me veio rápido.
Custou-me rimas.
Umas, paguei caro,
Liras, vidas, preços máximos.
Umas, foi fácil.
Outras, nem falo.
Me lembro duma
Que desfiz a socos.
Duas, em suma.
Bati mais um pouco.
Esse estranho abuso,
Adquiri, faz séculos.
Aos outros, as músicas.
Eu, senhor, sou todo ecos.
                            Paulo Leminski. Melhores poemas.
                         São Paulo: Global, 1997.
Entendendo o poema:

01 – Leminski, em “Despropósito geral”, trata da composição de poemas, segundo o eu lírico, obras-primas. Essa função da linguagem – no caso, a poesia que fala do fazer poético – denomina-se Função:
     a) Fática.
     b) Poética.
     c) Referencial.
     d) Metalinguística.

02 – Como o eu lírico analisa sua experiência como escritor?
       Segundo o eu lírico, a arte de versejar foi um trabalho penoso para ele. Ironicamente ele fala sobre a difícil composição das rimas, muitas vezes forçada e artificial, sem nenhum propósito, sem que valesse realmente a pena tanto sacrifício. De maneira crítica, ele condena o poema tecnicamente elaborado e considera musical a poesia espontânea. 

03 – Em que verso há um pronome relativo? Que palavra ele substitui?
      No 10° verso: “Que desfiz a socos.” O pronome que substitui a palavra rima. (“Me lembro duma [rima] que desfiz a socos”.)

04 – Classifique os demais pronomes presentes no texto.
      Esse: pronome demonstrativo adjetivo.
      Me: pronome pessoal oblíquo, átono, substantivo.
      Umas, outras, outros: pronomes indefinidos substantivos.
      Que: pronome relativo.
      Eu: pronome pessoal reto.
      Senhor: pronome de tratamento, substantivo.

05 – Identifique as funções sintáticas dos pronomes relativos nas frases a seguir.
a)   Os acordos que foram firmados entre os países da América Latina continuam em vigor.
Sujeito.

b)   A maneira firme como defendeu os direitos humanos causou admiração entre os jurados.
Adjunto adverbial de modo.

c)   Carlos Drummond de Andrade, poeta mineiro, nasceu em Itabira, cujas lembranças lhe foram constantes.
Adjunto adnominal.

d)   O presidente viajou para a Argentina, onde participará de um debate sobre Sociologia.
Adjunto adverbial de lugar.

e)   Visitamos a cidade de Bilbao, na Espanha, local em que se construiu um belíssimo museu de arte.
Adjunto adverbial de lugar.

f)    A substituição a que os torcedores eram favoráveis, finalmente foi feita.
Complemento nominal.

g)   O anúncio publicitário ao qual se referiu nesta reportagem ganhou prêmio por criatividade.
Objeto indireto.

h)   Alguns produtos perecíveis que compramos no supermercado, não tinham prazo de validade.
Objeto direto.

i)     A doce criança que ainda és parece-me eterna.
Predicativo do sujeito.

j)     Todas quantas desfilaram esta noite vestiam modelos da linha Versage.
Sujeito.

k)   Apresentou-me os pais, por quem demonstrava um afeto profundo.
Objeto indireto.

l)     A companhia aérea pela qual viajamos oferece um excelente serviço de bordo.
Adjunto adverbial de modo.

m)  O médico selecionou as pessoas por quem seria feita a doação de sangue.
Agente da passiva.


NOTÍCIA: MORTE E MISTÉRIO EM SÃO PAULO - REVISTA ISTO É - COM GABARITO

NOTÍCIA: Morte e mistério em São Paulo

        Um crime ocorrido na noite do domingo 28, num casarão do bairro de Perdizes, em São Paulo, está intrigando a polícia. O publicitário C. R., 40 anos, e a mulher, A. T., 33 anos, foram mortos a tiros. Não se trata de um roubo, já que nada foi levado da casa, onde também funcionava a produtora de comerciais de C. R. Tudo indica que o crime teria sido cometido por alguém conhecido do casal, já que A. foi achada morta de pijama na entrada da casa, um indício de que teria aberto a porta para o matador. Já C. R. foi encontrado no corredor. Ele teria tentado se refugiar na sala de tevê, cuja porta foi arrombada. A polícia investiga um desfalque de R$ 100 mil que teria sido sofrido recentemente por C. R.

                                                                 Revista Isto É, 7/4/2004.
Entendendo o conto:
01 – De que acontecimento(s) o texto trata?
      Trata de um crime ocorrido em São Paulo no qual duas pessoas foram assassinadas.

02 – Quais as circunstâncias desse acontecimento (onde, quando, como e por quê)?
      Ocorreu em São Paulo, no dia 28 de março de 2004; o crime foi cometido, pelo que tudo indica, por um conhecido do casal e não se sabe o porquê.

03 – O texto narra um fato já acontecido ou algo ainda em andamento? Retire do texto elementos que comprovem sua resposta.
      Um fato já acontecido. Os verbos no pretérito e as indicações de tempo são marcas do passado.

04 – Podemos dividir o texto “Morte e mistério em São Paulo” em partes.
a)   Em quantas partes você dividiria esse texto?
Resposta pessoal do aluno.

b)   Em que parte estão as informações que você julga as mais importantes?
Resposta pessoal do aluno.

c)   Que informações são essas?
As informações mais importantes são: o que aconteceu – um duplo assassinado – e em quais circunstâncias.

05 – De acordo com o texto “Morte e mistério em São Paulo”, leia atentamente e responda:
a)   O fato apresentado no conto é real ou ficcional? Explique.
Trata-se de um fato ficcional.

b)   No conto foram informados dados como a data e a hora em que o fato apresentado aconteceu?
Não, o texto não possui referenciais enunciativos precisos.

c)   O texto de Alcântara Machado é um conto. Por sua vez, “Morte e mistério em São Paulo” é uma notícia. Que diferenças que você percebe entre eles? E quem seriam os possíveis leitores de cada um desses textos?
O conto é de natureza ficcional, literária. A notícia, por sua vez, é constituída pelo relato de um acontecimento, ou acontecimentos. O leitor de uma notícia é alguém interessado em informar-se sobre um fato.