terça-feira, 11 de dezembro de 2018

POEMA: OS CARTEIROS - ROSEANA MURRAY - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Os Carteiros

              Roseana Murray


Abrir uma carta,
O coração batendo,
É preciso ritual.
O que terá dentro?
Um convite, um aviso,
Uma palavra de amor
Que atravessou oceanos
Para sussurrar em meu ouvido?

São como conchas as cartas,
Guardam o barulho do mar,
O ar das montanhas.
Para mim os carteiros
São quase sagrados,
Unicórnios ou magos
No meio dessa vida barulhenta.

                       MURRAY, Roseana. Artes e ofícios. São Paulo: FTD, 1995.
Entendendo o poema:
01 – Você já recebeu uma carta? Qual foi a emoção que sentiu?
      Resposta pessoal do aluno.

02 – Será que as pessoas, hoje, ainda mandam muitas cartas umas para as outras?
      Hoje, por causa do telefone, e-mail, mensagens escritas por celular; fez com que o número de envios de cartas pessoais diminui muito.

03 – Além de cartas pessoais, o que mais o carteiro pode entregar?
      Cartas comerciais, convites, avisos, telegramas, contas, objetos variados, entre outros.

04 – No poema, os carteiros são comparados a unicórnios ou magos, por entregarem cartas que podem carregar emoções mágicas de pessoas e lugares diferentes. E você, a que compararia os carteiros?
      Resposta pessoal do aluno.

05 – Abrir uma carta fazendo um ritual é:
(   ) Abrir o envelope com muita rapidez.
(   ) Abrir o envelope sem nem olhar para ele.
(X) Segurar a carta um tempo e ficar imaginando o que está escrito, procurar um bom local para ler sossegado.

06 – Que atividades você costuma fazer seguindo um ritual especial?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Que palavras de amor você acha que os apaixonados colocam nas cartas que mandam para seus amores?
      Resposta pessoal do aluno.

08 – Se você mandasse uma carta para alguém, contando sobre sua cidade, o que ela levaria guardado dentro dela: os sons, o ar puro, os cheiros, os sonhos? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.
     

TEXTO: PORQUE NO CÉU HÁ TANTAS ESTRELAS? LEONARDO BOFF - COM GABARITO

Texto: Por que no céu há tantas estrelas?
         Leonardo Boff


     Esse índio Karajá amava a natureza e mais que tudo os animais e os pássaros, com os quais falava, usando a linguagem deles.
        Certa manhã, olhando um bando de papagaios que voava bem alto, se deu conta que o firmamento estava vazio. Nenhum astro o embelezava. 
         O clarão do dia, especialmente sob a canícula, tornava o céu cinzento.
        -- Por que o céu é assim tão vazio? – perguntou o Karajá aos pássaros que estavam na árvore próxima. Mas eles fingiram que não entenderam sua pergunta, embora a voz lhes fosse tão familiar. O índio, com voz forte e quase lancinante, perguntou de novo:
        -- Por que o céu é assim tão vazio? – respondam-me, por favor!
        A raposa antecipou-se e disse, em tom quase de acusação:
        -- Foi o urubu-rei, rei das alturas, que roubou as estrelas para enfeitar o penacho em sua cabeça e torná-lo assim ainda mais resplendente.
        Ao ouvir isto, o índio Karajá decidiu tirar a limpo a questão com o urubu-rei. Tomou suas armas e procurou o refúgio onde ele se aninhava. Ao vê-lo aproximar-se, disse logo o urubu-rei:
        -- Você é quem veio desafiar-me? Você não conhece, pequeno homem, a força de minhas garras e de meu bico. Em poucos minutos, posso abrir suas veias e deixá-lo em pedaços.
        O Karajá, que sempre mostrara coragem e que, no fundo, amava os animais, deixou cair as armas. E avançou sobre o urubu-rei. Houve uma luta longa e sanguinolenta. Se o urubu-rei tinha força, o Karajá tinha habilidade para evitar os cortes profundos das garras e das bicadas potentes. Depois de longa luta, rolando pelo chão entre penas e gritos, ambos estavam extenuados. Até que o Karajá conseguiu imobilizar o urubu-rei, prendendo-lhe as pernas e segurando-lhe, fechado, o bico.
        - Se quiser recuperar a liberdade – disse, triunfante, o Karajá – entregue a luz que escondeu em seu penacho na cabeça e nas plumas do corpo. O criador colocou as estrelas no firmamento para embelezar a noite e não para alimentar a sua vaidade.
        Mas o rei das alturas, que detinha também o segredo da eterna juventude, não quis saber de renunciar às luzes que tornavam sua plumagem tão fascinante. De que valeria ser eternamente jovem se continuasse sem atrativos e feio?
        Cansado de esperar uma decisão do urubu-rei, o Karajá começou a tirar as penas de sua cabeça. Cada pena que lançava no ar se transformava numa estrela do firmamento.
        Arrancou depois um chumaço e o lançou ao alto e irromperam os astros que os Karajá chamam de “olhos espantados do peru” – Alfa e Beta do Centauro. Com outro chumaço, os “sete papagaios” – as Plêiades. 
        Com outro ainda, os “olhos dos homens” – Alfa e Beta do Cruzeiro do Sul. Por fim, quando arrancou mais um monte de penas e o lançou ao céu, apareceu “o caminho das estrelas” – a Via-Láctea.
        Mas as penas mais brilhantes permaneciam ainda na cabeça do urubu-rei. Quando o Karajá conseguiu tirá-las e lançá-las ao alto, o céu se encheu de um brilho terno e doce. Era a lua cheia. Logo depois se acendeu um grande tição de fogo, que iluminou todo o céu e esquentou os dias. Nascia o sol.
        Mas, considerando aquele grande esplendor, o índio Karajá disse de si para consigo:
        -- Bom seria se o sol, por respeito ao brilho tênue das estrelas e à timidez da lua, se escondesse um pouco.
        O sol ouviu este sussurro do Karajá e lhe atendeu o desejo. Por isso, à noite ele se esconde. Assim, as estrelas podem mostrar a beleza de seu brilho e a lua revelar a suavidade de sua luz.
        O urubu-rei, com a chegada da noite, aproveitou para fugir. Agora não ostentava mais, como nos tempos remotos, um penacho brilhante e um pescoço luzidio. Sua cabeça parecia uma casca de laranja cortada e seu pescoço um ramo seco.
        Mas ao fugir, gritou, em tom de deboche, ao karajá:
        -- Você me tirou as penas, mas conservo ainda o segredo da eterna juventude.
        E para fazer raiva ao índio, pronunciou o segredo com voz, sussurrante, imaginando que ninguém estivesse por perto para ouvi-lo. Ocorre que o Karajá não ouviu direito, mas os pássaros e as árvores ouviram as frases principais.
        Por isso, eles aprenderam a conservar, até os dias de hoje, o segredo da perene juventude: de tempos em tempos, as aves do céu sempre renovam suas penas e as plantas, suas folhas.
        E o índio Karajá continua sendo lembrado quando a tribo, à noite, se reúne ao redor do fogo, para ouvir os antigos contarem as estórias do céu e da terra, do sol e da lua, das estrelas e do firmamento. E olham, deslumbrados, para a grandiosidade majestática do céu estrelado. E quando o fogo se apaga, eles se calam reverentes. E um a um se recolhem, calmamente, carregando o céu estrelado dentro de seu coração. Deitam-se nas redes e dormem com grande serenidade.
   Adaptado de: BOFF, Leonardo. O casamento entre o céu e a terra.
 Rio de Janeiro: Salamandra, 2001. p. 15-7.
Entendendo o texto:
01 – Preencha o quadro a seguir com os elementos da narrativa.

Personagens: O índio Karajá, o urubu-rei, a raposa e os outros animais.

Local em que ocorrem os fatos principais: A mata onde vivia o índio Karajá.

Quando ocorrem os fatos principais: No dia do combate final entre o índio Karajá e o urubu-rei.

Tipo de narrador: Narrador observador.

02 – Qual o grande desejo de Karajá?
      Seu desejo era ver o Sol, a Lua e as estrelas no céu.

03 – Quais das características do índio Karajá, listadas abaixo, ajudaram-no a derrotar o urubu-rei?
Coragem – Rapidez – Juventude – Esperteza – Egoísmo – Medo.
      Coragem; rapidez e esperteza.

04 – Para atingir seu objetivo, o Karajá agiu sozinho ou teve ajuda de alguém?
      O Karajá teve ajuda da raposa, que lhe contou que o urubu-rei roubara as estrelas para enfeitar o penacho em sua cabeça.

05 – Complete o trecho abaixo baseando-se no combate entre o Karajá e o urubu-rei:
a)   O índio Karajá decidiu tirar a limpo a história do vazio firmamento. Tomou suas armas e procurou o refúgio onde o urubu-rei se aninhava.

b)   Mas o urubu-rei, desafiador, disse-lhe que em poucos minutos podia abrir as veias do Karajá e deixa-lo em pedaços.

c)   O Karajá, que sempre mostrara coragem e que, no fundo, amava os animais, deixou cair as armas e avançou sobre o urubu-rei.

d)   O urubu-rei tinha força, mas Karajá tinha habilidade para evitar os cortes profundos das garras e das bicadas potentes do adversário.

e)   Depois de longa luta, o Karajá conseguiu imobilizar o urubu-rei, prendendo-lhe as pernas e segurando-lhe, fechando, o bico.

06 – Depois de imobilizar o urubu-rei, o que o Karajá fez?
      Começou a arrancar-lhe as penas, jogando-as no firmamento para que se transformassem em astros outra vez.

07 – Numere os fatos abaixo, colocando-os na mesma sequência em que aparecem na narrativa:
(6) As penas mais brilhantes ainda permaneciam na cabeça do urubu-rei.
(3) O urubu-rei perguntou a Karajá se ele tinha vindo desafiá-lo.
(5) Cansado de esperar uma decisão do urubu-rei, o Karajá começou a tirar as penas de sua cabeça.
(4) O Karajá disse ao urubu-rei que ele devia entregar a luz que escondeu em seu penacho na cabeça e nas plumas do corpo.
(2) O índio Karajá decidiu tirar a limpo a questão com o urubu-rei.
(7) Para fazer raiva ao índio, o urubu-rei pronunciou seu grande segredo com voz sussurrante.
(1) Karajá se deu conta de que o firmamento estava vazio.

08 – O desfecho da história é de sucesso ou de fracasso? Explique sua resposta.
      O desfecho é de sucesso, porque o Karajá conseguiu devolver os astros ao firmamento, de onde tinham sido tirados pelo urubu-rei.




TEXTO: A RENA CELESTE - CLAUDE-CATHERINE RAGACHE - COM GABARITO

Texto: A rena Celeste

        Como será que os siberianos imaginavam a criação das estrelas?

        Nos primeiros tempos do mundo, as renas tinham seis patas e conseguiam facilmente escapar dos caçadores. Por brincadeira, primeiro deixavam que os homens as alcançassem, mas no último momento batiam os cascos no chão, devam um salto para frente e desapareciam a toda velocidade. Caçar a rena de seis patas era difícil, porém emocionante...
        Um dia, uma rena veio rondar um rebanho pertencente aos homens. Ela era enorme e assustou os animais domésticos, que saíram correndo para todos os lados.
        Era preciso dar um jeito naquela rena monstruosa, antes que provocasse outros estragos. Então, o melhor de todos os caçadores saiu em seu encalço.
        O animal tomara boa dianteira, mas sobre a neve endurecida os esquis do homem deslizavam com a rapidez do raio. Toda a energia do caçador visava a um único fim: capturar a rena e cortar duas de suas patas, para que ela se transformasse num animal comum e não mais pudesse desafiar os homens impunemente.
        [...]
        Pouco a pouco, a distância diminuía e ele ganhava terreno. Impelia-se com força e já saboreava a vitória – faltavam só alguns metros! Mas de repente, quando se preparava para jogar o laço, viu a rena empinar-se, tomar impulso e voar ao Céu. Nesse momento seus esquis ficaram mais leves, e ele sentiu que também estava saindo do chão. Assim, os dois chegaram ao firmamento.
        No entanto, o caçador jamais conseguiu pegar a rena. Ainda podemos vê-los no céu estrelado. O caçador transformou-se na estrela Polar, e a rena, na constelação das Plêiades. O rastro dos esquis formou a Via Láctea, que indica às aves migratórias o caminho dos países quentes.
      RAGACHE, Claude-Catherine. A criação do mundo – Mitos e lendas.
São Paulo: Ática, 2000.

Entendendo o texto:
01 – Quais são as personagens dessa história?
      O caçador e a rena de seis patas.

02 – Onde se passa a história? Faça um levantamento o mais completo possível das informações que possam dar pistas sobre esse lugar.
      No lugar onde vive a comunidade a que pertence o caçador. Trata-se de um lugar muito frio, pois o meio de transporte que o caçador usa para caçar a rena é o esqui, que desliza sobre a neve endurecida.

03 – Quando se passa a história? Faça um levantamento o mais completo possível das informações que possam dar pistas sobre o tempo.
      A história se passa no dia em que o caçador decide capturar a rena de seis patas, que afugentava os animais e zombava dos homens. Ainda a respeito do tempo, pode-se dizer que a história se passa num passado muito remoto, anterior à criação da Via Láctea.

04 – Qual o desejo da personagem principal, ou que obstáculo ela pretende vencer?
      O caçador quer capturar a rena de seis patas, que afugenta os animais domésticos e zomba dos homens.

05 – Qual é o tipo de narrador do texto?
      O texto é narrado em terceira pessoa.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

MÚSICA(ATIVIDADES): PAU DE ARARA - LUIZ GONZAGA - COM QUESTÕES GABARITADAS

ATIVIDADES COM A Música: Pau de Arara


                                                           Luiz Gonzaga

Quando eu vim do sertão,
seu môço, do meu Bodocó
A malota era um saco
e o cadeado era um nó
Só trazia a coragem e a cara
Viajando num pau-de-arara.

Eu penei, mas aqui cheguei (bis)

Trouxe um triângulo, no matolão
Trouxe um gonguê, no matolão
Trouxe um zabumba dentro do matolão
Xóte, maracatu e baião
Tudo isso eu trouxe no meu matolão
                                  Composição: Guio De Moraes / Luiz Gonzaga
Entendendo a canção:

01 – Nessa letra de música, um sertanejo conta que saiu de Bodocó, trazendo pouca bagagem. Escreva uma lista do que ele diz ter trazido em sua “malota” ou “matolão”.
      Coragem, cara, triângulo, gongê, zabumba, xote, maracatu, baião.

02 – Das coisas que ele diz trazer em sua bagagem, analise e responda: o que pode ser mais importante para a sua sobrevivência?
      A coragem e a cara, isto é, sua valentia, coragem e sua identidade serão fundamentais para que ele enfrente a realidade.

03 – Que palavras ou expressões da letra da canção você pode considerar próprias da região de onde vem esse sertanejo?
      Malota (mala pequena) e matolão (saco de couro), maracatu, xote e baião (músicas e danças típicas da região Nordeste), gongê (instrumento musical), pau-de-arara (caminhão que transporta principalmente retirantes nordestinos e que tem varas longitudinais na carroceria em que as pessoas se seguram).

04 – Matolão vem de malotão (mala grande). No uso da palavra malotão, houve uma troca de lugar entre as letras t e l, que acabou dando origem a matolão. Você conhece alguma outra palavra em que ocorre troca da posição das letras?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: caderneta, lagarto, muçulmano, meteorologia e outras.

05 – O termo pau-de-arara é usado para se fazer referência tanto ao meio de transporte de retirantes nordestinos como também ao próprio retirante. No título da canção, em que sentido essa palavra está empregada? Explique o sentido ou sentidos escolhidos.
      Há possibilidade de se considerar os dois.

06 – Na letra da canção, observa-se um uso típico de linguagem, mais característico da região Nordeste do Brasil. Na sua opinião, essa variedade regional está mais próxima do uso formal ou informal da língua?
      Aproxima-se mais dos usos da linguagem informal, pois é a linguagem que mais permite as criações ou adaptações de expressões e palavras, sem necessariamente seguir regras rígidas da língua-padrão.

07 – O sertanejo da letra de Pau-de-arara trouxe em sua bagagem o conhecimento de músicas de sua região de origem. Onde você mora há algum tipo de música característica do lugar, com palavras ou expressões também características?
      Resposta pessoal do aluno.


POEMA: AMIGO - ROSEANA MURRAY - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: AMIGO      

                   Roseana Murray
AMIGO
No rumo certo do vento,
amigo é nau de se chegar
em lugar azul.
Amigo é esquina
onde o tempo para
e a Terra não gira,
antes paira,
em doçura contínua.


Oceano tramando sal,
mel inventando fruta,
amigo é estrela sempre
no rumo certo do vento,
com todas as metáforas,
luzes, imagens
que sua condição de estrela contém.

                                            
Roseana Murray, Poemas de Céu, ed. Paulinas, 
Entendendo o poema:
01 – Tendo realizado a leitura do poema, considerem o desenho criado pelo contraste entre o branco da folha e o preto dos versos. O que ele pode sugerir?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A imagem dos versos contribui para a ideia do movimento do vento “Rumo certo do vento”. A brisa suave que é a presença de um amigo em nossa vida.

02 – Na opinião de você, qual é a “condição de estrela” que um amigo contém?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Na linguagem poética que se vale das metáforas para exprimir certos conceitos.

03 – Quais são as imagens utilizadas no poema para “traduzir” a noção de amigo? Quais outras você utilizaria?
      As imagens relacionada com a natureza. Resposta pessoal do aluno.

04 – O verso “no rumo certo do vento” é utilizado duas vezes ao longo do poema. O que isso pode expressar?
      O verso poderia ser entendido como o sopro que é essencial à vida, assim como o é a presença de um amigo. E, se o vento/vida é efêmero(a), a amizade verdadeira é continua.

05 – Quais qualidades você considera importantes para ser um bom amigo?
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Releia o poema e registre as imagens com as quais a poetisa compara uma amigo. Complete a lista:
      Amigo é nau / embarcação.
      Amigo é esquina.
      Amigo é oceano.
      Amigo é mel.
      Amigo é estrela.

07 – Num poema, cada linha é um verso, cada conjunto de linhas de versos é uma estrofe. Esse poema é formado de uma só estrofe. Confira o número de versos que ela apresenta.
      Possui 15 versos.

CRÔNICA: PIOROU? MELHOROU? IVAN ÂNGELO - COM GABARITO


Crônica: Piorou? Melhorou?
                           
                 Ivan Ângelo


        Quer ver uma coisa que piorou? A roubalheira. Sempre houve? Sempre houve. Mas era aquela coisa de comerciante tubarão, juiz ladrão, ratazana da política, delegado de polícia na caderneta de bicheiro, pelegos nos sindicatos, jabaculê para tocar música no rádio, essas tropicalidades. Eram identificáveis, se alguém quisesse identificá-los, privilegiados que estavam em posição propícia. Não era essa coisa geral de cento e tantos deputados, contas de milhões de dólares no exterior, anões de orçamento, toneladas de maconha, cocaína e armas circulando em tours rodoviários, liberadores de pagamentos municipais, estaduais e federais, intermediários, lobistas com maços de dinheiro nas maletas de laptops, meeiros de caixa dois, policiais e advogados quadrilheiros… Piorou.
        Mas tem coisa que melhorou. A televisão não melhorou? Melhorou, ô se melhorou. Tem muita porcaria, isso tem, vai ver até mais do que antes, porque aumentou a quantidade de programas e de canais. O que tem de pior hoje são restos do que já era ruim: novelas, humorísticos, shows bregas, incluindo aí os exorcismos. Ninguém vai negar que a tecnologia melhorou, e a dramaturgia, a interpretação, o jornalismo.
        Olha uma coisa que piorou demais: torcidas de futebol. A rivalidade era ruidosa mas pacífica. Não havia nem torcida uniformizada, ninguém se disfarçava de multidão. Dentro ou fora dos estádios, torcedores eram pessoas comuns da cidade, um pai, um filho, uma namorada, vizinhos. Não havia paus, pedras e bombas de cada lado, apenas gritos, gozações, risadas. Os estádios não eram essa arena de hoje, eram mais um teatro em que se representava a tragédia da derrota, o drama do empate, a comédia da vitória.
        Melhoraram os cinemas, que nem pulgas têm mais.
        Piorou o Carnaval, aprisionado nos sambódromos.
        Ah, melhorou muito o telefone. Pouco tempo atrás, era uma coisa falar ao telefone. Interurbano? Ligava-se para uma telefonista, que ligava para outra telefonista em outra cidade e esta ligava para a casa da pessoa, fazendo a ponte. Dependendo do tráfego, isso podia durar duas horas, três. Em cidades pequenas, onde não existiam aparelhos nas casas, as pessoas eram chamadas ao posto telefônico. Quem ligava ficava no posto da sua cidade esperando horas. Havia filas nos postos, e nem sempre dava certo: “Piracicaba está sem comunicação”. E as linhas residenciais e comerciais? Caríssimas! Entravam na declaração de bens do imposto de renda, coisa de classe média para cima. Olha: um drama. Melhorou demais.
        A escola pública: nossa! Essa piorou – e como! Hoje até dão o que não davam: uniforme, comida, dentista. Mas não dão o que davam: educação. No ensino fundamental, formam até analfabetos. Os dentes das crianças brilham; os cérebros saem embaçados. Leitura, conhecimentos básicos, educação civil, respeito às regras e aos professores – cadê?
        A medicina melhorou. Antigamente até gripe matava.
        O Natal piorou, envolvido pela avidez e pelo comércio.
        O correio melhorou, para quem tem internet.
        A poluição piorou, nos rios, na terra, nos muros, no ar.
        A indústria melhorou, o produto nacional tem prestígio.
    Pioraram muito os reformatórios para menores. Juntam todos os recolhidos num grande curral, e tome lambada. Não é assim que se “reeduca”. Reeducar como, se a maioria nunca antes foi educada? Fortes misturados com fracos, escolados com aprendizes, criminosos com vítimas – um fracasso anunciado.
        Umas coisas melhoram, outras pioram. Não sejamos pessimistas. Algumas que tinham piorado, como o cinema nacional, como a inflação, voltaram a melhorar. O povo brasileiro, numa enquete nacional, declarou-se predominantemente feliz. É isso, entre um tranco e um barranco, vamos indo.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, responda:
a) Que aspectos da vida cotidiana melhoraram na opinião do autor? 
      Melhoraram os cinemas, pois não têm mais pulgas; melhoraram também os telefones, pois não são tão caros, e comunicar-se com outras cidades é mais fácil e rápido, o que não acontecia há algum tempo.

b) Que aspectos pioraram? Explique. 
      O Carnaval, porque ficou restrito aos sambódromos, e os estádios de futebol, hoje transformados em arenas – campos de briga.

02 – Essa crônica, embora se trate de um texto escrito publicado em uma revista semanal, apresenta usos característicos da língua falada informal. 
a) Copie trechos do texto em que esses usos da língua falada se manifestam. 
      “Ah, melhorou muito o telefone.” / “[...] era uma coisa falar ao telefone. Interurbano?” / “E as linhas residenciais e comerciais? Caríssimas!” / “Olha, um drama. Melhorou demais”. 

b) Qual você supõe ter sido a intenção do autor ao empregar a linguagem dessa maneira?
      Ao empregar a linguagem dessa maneira, o autor, possivelmente, procurou assemelhar seu texto a uma conversa, aproximando-se de seu leitor. 

03 – Releia a oração. 
"Ligava-se para uma telefonista [...]" 
a) Quem pratica a ação expressa pelo verbo ligar? 
      Não é possível determinar quem ligava. 

b) Como pode ser classificado o sujeito dessa oração? 
      Sujeito indeterminado.

c) Por que o autor optou por esse tipo de sujeito? 
     Porque ele está se referindo ás pessoas de maneira geral. Não se trata de uma pessoa específica.

d) Reescreva essa oração empregando o sujeito simples, mas mantendo o sentido original. 
      Sugestão: Naquela época as pessoas ligavam para uma telefonista [...].

04 – Releia. 
"Entravam na declaração de bens do imposto de renda, coisa de classe média para cima." 
a) A que se refere o verbo entravam? 
      Às linhas residenciais e comerciais, citadas, anteriormente no texto.

b) Como se classifica sintaticamente o sujeito dessa oração? Explique sua resposta.
      Sujeito desinencial. Apesar de o verbo estar na terceira pessoa do plural, o contexto nos informa a que a ação se refere; logo trata-se de sujeito desinencial, e não sujeito indeterminado.




CONTO: CACHORRINHO MANCO - DAN CLARK - COM GABARITO

Conto: Cachorrinho manco  
            Dan Clark
    
     Um rapazinho olhou para o letreiro da loja onde estava escrito: “Vendem-se cachorrinhos.”
  -- Por quanto vai vender os cachorrinhos? — perguntou.
       -- Entre trinta e cinquenta reais — respondeu o dono da loja.
   -- Tenho dois reais — disse o rapazinho.
      -- Posso vê-los?
      O dono da loja sorriu e assobiou, e do canil saíram cinco bolinhas de pelo. Um dos cachorrinhos ia ficando bastante para trás. O rapazinho viu imediatamente o cachorrinho atrasado que mancava, e disse:
        -- O que é que tem aquele cãozinho?
        O dono da loja explicou que ele não tinha o encaixe da anca e que seria sempre manco. O rapazinho ficou entusiasmado:
        -- É esse cãozinho que eu quero comprar.
        O dono da loja comentou:
        -- O cão não está à venda. Se quiseres, te dou.
        O rapazinho ficou muito aborrecido. Olhou bem nos olhos o dono da loja e disse:
        -- Não quero que me dê. Esse cãozinho vale cada centavo, tal como os outros, e vou pagar o preço total. Vou dar-lhe dois reais por mês até o ter pago.
        O dono da loja insistiu.
        -- Não podes querer comprar este cãozinho. Nunca vai conseguir correr e saltar contigo como os outros cães.
        A isso, o rapaz respondeu, baixando-se e levantando a perna da calça. Mostrou em seguida a perna esquerda muito torta e defeituosa, presa por um grande aro de metal. Olhou para o dono da loja e respondeu suavemente:
        -- Eu também não corro lá muito bem, e o cachorrinho vai precisar de alguém que o compreenda!
Dan Clark Canja de galinha para a alma
Mem Martins, Lyon Edições, 2002
/2008/04/25/cachorrinhos-para-) venda/
Entendendo o conto:
01 – Qual valor que o dono da loja vendia os cachorrinhos?
a) entre trinta e sessenta reais.
b) cinquenta reais.
c) entre trinta e cinquenta reais.
d) trinta reais e) dois reais.

02 – Qual o valor de dinheiro que o rapazinho tinha?
a) um real.
b) dois reais.
c) três reais.
d) quatro reais.
e) cinco reais.

03 – O menino queria comprar qual cãozinho?
a) o cãozinho marrom.
b) o cãozinho grande.
c) o cãozinho dorminhoco.
d) o cãozinho manco.
e) o cãozinho pequeno.

04 – Por que um dos cachorrinhos ficou para trás em relação aos outros?
a) porque era preguiçoso.
b) porque era menor que os outros.
c) porque era maior e mais pesado que os outros.
d) porque era filhote.
e) porque era manco.

05 – Por que o dono da loja não queria vender o cãozinho?
a) porque era manco de uma perna e nunca iria correr como os outros.
b) porque era amarelo e cheio de pintinhas.
c) porque era branco com manchas amarelas.
d) porque era um cãozinho muito feroz.
e) porque era um cãozinho muito feroz e ninguém podia chegar perto.
06 – Quantos parágrafos existem neste texto?
      Possui 17 parágrafos.

TEXTO: CONVIDADO OU PENETRA? EDY LIMA(ADAPTADO) -COM GABARITO

Texto: Convidado ou penetra?

       Em festa de aniversário vai sem ser convidado, abre os presentes antes do aniversário e até quebra alguns, Come mais que todo mundo e joga bolo no tapete só para a mãe da gente ficar nervosa. Estoura as bolas de gás e não dá folga para ninguém se divertir.
        O invasor mostra sua força invadindo, impondo suas regras, não aceitando limites e achando que os outros não têm direito algum.
        Se vai ao nosso aniversário sem ser convidado, imagina o que apronta na escola, onde a gente não pode fugir da presença dele. Pega lápis e canetinhas da gente, risca nossos livros, apronta baderna e cai fora, deixando o resto da turma para enfrentar a professora. Na hora do recreio dá ordens sobre o que a gente deve brincar. Quando esquece o calção ou o tênis, usa o de qualquer outro e acha que pode fazer isso:
        -- Jogo melhor que você.
        Se alguém discordar, abre a boca em defesa dos seus direitos. Afinal, um cara só é invasor quando acha que é melhor que os outros. O invasor acha sempre que tem razão e que os outros foram feitos para ceder tudo a ele. Repare que é assim em filme de faroeste, onde as caravanas dos brancos invasores entram no território índio e acham que os índios são bandidos porque defendem a própria terra.
        Em vista disso, nada melhor, para sair vitorioso, do que ser amigo de todo mundo, simpático, bom, prestativo, agir na hora certa e ganhar no fim.
                                                      Edy Lima (adaptado)
Entendendo o texto:
01 – Qual o título do texto?
      Convidado ou penetra.

02 – Como o invasor mostra sua força?
      Invadindo, impondo suas regras, não aceitando limites e achando que os outros não têm direito algum.

03 – O que o invasor faz na escola?
      Pega lápis e canetinhas dos outros, risca os livros, apronta baderna e cai fora.

04 – Na hora do recreio o que ele faz?
      Dá ordens sobre o que devem brincar.

05 – Se alguém discorda como reage?
      Abre a boca em defesa dos seus direitos.