CRÔNICA: Esplendor em Ruínas
Sou um otimista. Acho que o paulistano tem vontade de viver numa cidade bonita. O entusiasmo é maior agora, com a mudança na prefeitura. Mas, entra ano, sai ano, eu vejo construções interessantes transformarem-se em ruínas. E me pergunto: até quando? Cada casa antiga que cai é um pedaço do passado que desaparece. Não estou falando em critérios técnicos. Talvez para mim seja linda uma casa que não receba nenhum aval como monumento importante. Isso aconteceu com a antiga (e demolida) mansão dos Matarazzo, na avenida Paulista. Li várias reportagens em que criteriosos profissionais afirmavam que ela não tinha valor arquitetônico.
Nunca entendi essa opinião puramente técnica. Era um belíssimo palacete, que remetia à São Paulo antiga, e guardava um pouco de história em cada um de seus tijolos. Hoje é estacionamento. O que é melhor? O palacete ou o estacionamento?
Tenho um amor especial pela Vila Itororó, na
rua Martiniano de Carvalho. Inaugurada nos anos 20, abrigou a primeira piscina
pública da cidade. Quem vê de perto fica surpreso. Erguida em um barranco,
possui vários andares sustentados por colunas altíssimas. Uma estátua de ferro
da deusa da prosperidade enfeita a entrada da casa ao nível da rua. Dois leões
guardavam a entrada. Guardavam. Não é à toa que usei o verbo no passado. Passei
em frente um dia desses, e um dos leões estava em cacos no chão. Em torno
existe um belo conjunto de casas antigas. A vila converteu-se, há décadas, em
um grande cortiço. Tem lixo na frente. Nem sei se está tombada. Mas, se estiver,
de que adianta, se vai acabar como entulho?
Não
é o único monumento abandonado, mas é simbólico.
Eu
me pergunto: por que tantos governos preferem construir centros de concreto,
como o causticante Memorial da América Latina, em vez de recuperar o que já
existe? Recentemente procurei fazer um contato no governo estadual, por causa
de um antigo colégio japonês. E uma grande casa em estilo oriental, construída
no início do século passado para abrigar os imigrantes japoneses. Ficaram de me
procurar para que eu desse mais detalhes e a localização. Há meses. Ninguém
mais falou comigo. E o castelinho da São João? Foi cedido para uso de uma
instituição. Continua em decadência. Se possui o tal selo de valor
arquitetônico, não sei. Mas é uma obra original, com identidade. Vale a pena
deixar que um dia vire terreno baldio?
Nem
tudo está perdido. Conheço o dono de uma editora de porte médio que, ao buscar
uma sede para sua empresa, teve uma ótima ideia. Resolveu comprar uma casa
tombada. Justamente por serem tombadas, essas casas acabam tendo um valor de
mercado menor, embora às vezes a localização seja excelente. Como a ideia-padrão
do empresário comum é comprar para demolir, ou revender pelo triplo, boa parte
delas termina ficando abandonada. Meu amigo editor comprou a casa que pertenceu
ao arquiteto Ramos de Azevedo na Liberdade. São 5.000 metros quadrados de
terreno, com jardim, cocheira, telhado de ardósia, grades de ferro batido.
Mesmo localizada no agitado bairro da Liberdade, quando entrei tive a impressão
de que estava fora da cidade. Passarinhos cantavam. Um belo jardim. Árvores.
Restaurada, ficou lindíssima, confortável, e os funcionários sentem orgulho em
trabalhar em um lugar tão agradável.
Não acredito que se deva largar o corpo à espera de soluções que venham da prefeitura ou do governo, embora sua atuação seja fundamental. Mas quantos casarões, colégios, prédios maravilhosos não se encontram a ponto de virar ruínas? Se o paulistano está realmente interessado em viver em uma cidade mais agradável, é preciso não perder mais tempo e tomar consciência do que ainda pode ser salvo!
Entendendo o texto
01 – Qual é o tema
principal abordado por Walcyr Carrasco nesta crônica?
a) A história da
arquitetura em São Paulo.
b) A
importância da preservação do patrimônio histórico.
c) A transformação
urbana da cidade.
d) A política
municipal na conservação de monumentos.
02 – Por que o autor
menciona a antiga mansão dos Matarazzo na Avenida Paulista?
a) Porque era um exemplo de
construção moderna.
b) Porque o autor trabalhou lá
durante anos.
c) Para
exemplificar como um edifício histórico foi demolido.
d) Porque foi tombada como patrimônio histórico.
03 – Qual é a visão
do autor sobre a transformação da Vila Itororó?
a) Ele acha que
deveria ser demolida para novas construções b) Ele
lamenta a decadência e abandono do local.
c) Ele acredita que
é um exemplo bem-sucedido de restauração.
d) Ele acha que o
local não possui valor histórico.
04 – Por que o autor
questiona a construção de "centros de concreto" em vez da recuperação
do patrimônio existente?
a) Ele acredita que os centros de
concreto são mais baratos.
b) Ele não gosta da arquitetura moderna.
c) Ele prefere investir em novas
construções.
d) Ele valoriza
a preservação da identidade histórica da cidade.
a) Compra de
propriedades históricas para restauração.
b) Demolição de edifícios antigos.
c) Abandono de casas tombadas.
d) Ignorar o valor histórico das
construções.
a) Foi restaurado e aberto como museu.
b) Foi demolido para dar lugar a um
parque.
c) Foi cedido
para uso institucional, mas continua em decadência.
d) Foi reformado e transformado em
espaço cultural.
a)
Preservar e restaurar.
b) Comprar para demolir ou revender com lucro.
c)
Doar para organizações de preservação.
d) Ignorar completamente o valor histórico.
08 – Qual é o exemplo positivo de preservação apresentado na crônica?
a) Restauração de um prédio moderno no
centro da cidade.
b) Demolição de uma casa histórica na
Liberdade.
c) Uso institucional de um patrimônio
tombado.
d) Compra e restauração de uma casa tombada para sede de uma
editora.
a) Investimento exclusivo do governo.
b) Consciência e
ação da população.
c) Demolição de edifícios antigos.
d) Implementação de novos projetos
arquitetônicos.
a) A indiferença em relação ao
patrimônio histórico.
b) A necessidade
de ações concretas para preservar o passado.
c) A preferência por construções
modernas em detrimento das antigas.
d) A dependência exclusiva dos governos
na preservação histórica.
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