terça-feira, 7 de maio de 2024

CRÔNICA: ESPLENDOR EM RUÍNAS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 CRÔNICA: Esplendor em Ruínas

                    Walcyr Carrasco

         Sou um otimista. Acho que o paulistano tem vontade de viver numa cidade bonita. O entusiasmo é maior agora, com a mudança na prefeitura. Mas, entra ano, sai ano, eu vejo construções interessantes transformarem-se em ruínas. E me pergunto: até quando? Cada casa antiga que cai é um pedaço do passado que desaparece. Não estou falando em critérios técnicos. Talvez para mim seja linda uma casa que não receba nenhum aval como monumento importante. Isso aconteceu com a antiga (e demolida) mansão dos Matarazzo, na avenida Paulista. Li várias reportagens em que criteriosos profissionais afirmavam que ela não tinha valor arquitetônico. 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitn8RE-ou9rECFuUlVzxyGPWTHYDGdTMY-4zTBMAijS8ualK6DrWjA66ev6ayryKGmoHtjw8cCHJ83PqvpLFVoHmx41xTYa8hfL-bCNz7VPRVFr9D_PX05JoDZOSKcTkItP0RVXwO_Ei1x6Mews8mJN2urg-ueHeEkA_ijT0Ncg2VUVZ1uEnTOwRJnsA0/s320/MANSAO.jpg


Nunca entendi essa opinião puramente técnica. Era um belíssimo palacete, que remetia à São Paulo antiga, e guardava um pouco de história em cada um de seus tijolos. Hoje é estacionamento. O que é melhor? O palacete ou o estacionamento?

Tenho um amor especial pela Vila Itororó, na rua Martiniano de Carvalho. Inaugurada nos anos 20, abrigou a primeira piscina pública da cidade. Quem vê de perto fica surpreso. Erguida em um barranco, possui vários andares sustentados por colunas altíssimas. Uma estátua de ferro da deusa da prosperidade enfeita a entrada da casa ao nível da rua. Dois leões guardavam a entrada. Guardavam. Não é à toa que usei o verbo no passado. Passei em frente um dia desses, e um dos leões estava em cacos no chão. Em torno existe um belo conjunto de casas antigas. A vila converteu-se, há décadas, em um grande cortiço. Tem lixo na frente. Nem sei se está tombada. Mas, se estiver, de que adianta, se vai acabar como entulho?

        Não é o único monumento abandonado, mas é simbólico.

        Eu me pergunto: por que tantos governos preferem construir centros de concreto, como o causticante Memorial da América Latina, em vez de recuperar o que já existe? Recentemente procurei fazer um contato no governo estadual, por causa de um antigo colégio japonês. E uma grande casa em estilo oriental, construída no início do século passado para abrigar os imigrantes japoneses. Ficaram de me procurar para que eu desse mais detalhes e a localização. Há meses. Ninguém mais falou comigo. E o castelinho da São João? Foi cedido para uso de uma instituição. Continua em decadência. Se possui o tal selo de valor arquitetônico, não sei. Mas é uma obra original, com identidade. Vale a pena deixar que um dia vire terreno baldio?

        Nem tudo está perdido. Conheço o dono de uma editora de porte médio que, ao buscar uma sede para sua empresa, teve uma ótima ideia. Resolveu comprar uma casa tombada. Justamente por serem tombadas, essas casas acabam tendo um valor de mercado menor, embora às vezes a localização seja excelente. Como a ideia-padrão do empresário comum é comprar para demolir, ou revender pelo triplo, boa parte delas termina ficando abandonada. Meu amigo editor comprou a casa que pertenceu ao arquiteto Ramos de Azevedo na Liberdade. São 5.000 metros quadrados de terreno, com jardim, cocheira, telhado de ardósia, grades de ferro batido. Mesmo localizada no agitado bairro da Liberdade, quando entrei tive a impressão de que estava fora da cidade. Passarinhos cantavam. Um belo jardim. Árvores. Restaurada, ficou lindíssima, confortável, e os funcionários sentem orgulho em trabalhar em um lugar tão agradável.

        Não acredito que se deva largar o corpo à espera de soluções que venham da prefeitura ou do governo, embora sua atuação seja fundamental. Mas quantos casarões, colégios, prédios maravilhosos não se encontram a ponto de virar ruínas? Se o paulistano está realmente interessado em viver em uma cidade mais agradável, é preciso não perder mais tempo e tomar consciência do que ainda pode ser salvo!

Entendendo o texto

01 – Qual é o tema principal abordado por Walcyr Carrasco nesta crônica?

a) A história da arquitetura em São Paulo.

b) A importância da preservação do patrimônio histórico.

c) A transformação urbana da cidade.

d) A política municipal na conservação de monumentos.

02 – Por que o autor menciona a antiga mansão dos Matarazzo na Avenida Paulista?

           a) Porque era um exemplo de construção moderna.

           b) Porque o autor trabalhou lá durante anos.

           c) Para exemplificar como um edifício histórico foi demolido.

           d) Porque foi tombada como patrimônio histórico.

03 – Qual é a visão do autor sobre a transformação da Vila Itororó?

a) Ele acha que deveria ser demolida para novas construções b) Ele lamenta a decadência e abandono do local.

c) Ele acredita que é um exemplo bem-sucedido de restauração.

d) Ele acha que o local não possui valor histórico.

04 – Por que o autor questiona a construção de "centros de concreto" em vez da recuperação do patrimônio existente?

        a) Ele acredita que os centros de concreto são mais baratos.

        b) Ele não gosta da arquitetura moderna.

        c) Ele prefere investir em novas construções.

        d) Ele valoriza a preservação da identidade histórica da cidade.

 05 – Qual é a atitude positiva destacada pelo autor em relação à preservação do patrimônio?

        a) Compra de propriedades históricas para restauração.

        b) Demolição de edifícios antigos.

        c) Abandono de casas tombadas.

        d) Ignorar o valor histórico das construções.

 06 – O que aconteceu com o castelinho da São João, mencionado na crônica?

        a) Foi restaurado e aberto como museu.

        b) Foi demolido para dar lugar a um parque.

        c) Foi cedido para uso institucional, mas continua em decadência.

         d) Foi reformado e transformado em espaço cultural.

 07 – Qual é a ideia padrão do empresário comum em relação às propriedades históricas?

        a) Preservar e restaurar.

       b) Comprar para demolir ou revender com lucro.

       c) Doar para organizações de preservação.

       d) Ignorar completamente o valor histórico.

 08 – Qual é o exemplo positivo de preservação apresentado na crônica?

       a) Restauração de um prédio moderno no centro da cidade.

       b) Demolição de uma casa histórica na Liberdade.

       c) Uso institucional de um patrimônio tombado.

       d) Compra e restauração de uma casa tombada para sede de uma editora.

 09 – O que o autor acredita ser necessário para a preservação do patrimônio histórico?

       a) Investimento exclusivo do governo.

       b) Consciência e ação da população.

       c) Demolição de edifícios antigos.

       d) Implementação de novos projetos arquitetônicos.

 10 – Qual é a principal mensagem transmitida pelo autor nesta crônica?

       a) A indiferença em relação ao patrimônio histórico.

       b) A necessidade de ações concretas para preservar o passado.

       c) A preferência por construções modernas em detrimento das antigas.

       d) A dependência exclusiva dos governos na preservação histórica.

 

 

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