quinta-feira, 8 de junho de 2017

CRÔNICA: A MOÇA EM PRANTOS - CARLOS HEITOR CONY - COM GABARITO

CRÔNICA: A MOÇA EM PRANTOS 
     Carlos Heitor Cony

1. O poeta encontrou uma pedra no meio do caminho, nunca esqueceu dessa pedra, que lhe deu assunto para o seu poema mais conhecido. Não sendo poeta, encontrei não uma, mas infinitas pedras no meio do caminho, e não só no meio, mas no início e no fim de cada caminho. Não me renderam um único poema, nem mesmo uma modesta crônica.

2. Mas jamais esqueci a primeira moça que vi chorando. Eu devia ter seis ou sete anos, achava que só as crianças podiam e deviam chorar, tinham motivos bastante para isso, desde as fraldas molhadas nos primeiros meses de existência até a inexpugnável barreira dos “não pode”, que emparedam a infância e criam neuras para o resto da vida.


3. Um adulto chorando era incompreensível para mim, um acontecimento pasmoso, uma aberração da natureza, pois os adultos podiam tudo e tudo lhes é permitido. E a moça era um adulto, ao menos para mim, embora ela fosse realmente moça, aí pelos 15 anos ou pouco mais.


4. E chorava. Não abrindo o berreiro como as crianças, mas dolorosamente, e na certa misturando motivos.


5. Mesmo assim fiquei imaginando a causa do seu pranto. Faltara à escola e por isso ficara sem sobremesa? Fora proibida de brincar na calçada? Queria ganhar uma bicicleta e fora convencida a continuar com o insípido velocípede?


6. Vi muita gente chorando depois, homens feitos, mulheres maduras. Eu mesmo, quando levo meus trancos, repito o menino que ia para debaixo da mesa de jantar para poder chorar sem passar recibo da minha dor. Hoje, ficaria feio esconder-me debaixo das mesas, mas sei que é um bom lugar para isso. Melhor do que a cama, onde devemos fazer outras coisas. A moça que chorava não se escondera, chorava de mansinho, na verdade nem parecia estar chorando. Devia apenas estar muito triste porque misturava todos os motivos para a sua tristeza.
(Carlos Heitor Cony, Folha de São Paulo, 04/05/2003)
Marque a única resposta correta de acordo com o texto.
1. No segundo parágrafo, o cronista ao voltar, pela memória, ao tempo de criança, fala da “inexpugnável barreira dos “não pode” que emparedam a infância…”. No texto, a ideia de emparedamento:
a. ( ) permanece restringindo a liberdade das crianças.
b. ( ) alcança, também, o cronista adulto, na manifestação de seus sentimentos.
c. ( ) limita as ações dos adolescentes, como ocorreu com a moça de 15 anos.
d. ( ) desaparece completamente da vida das pessoas.
2. Em qual dos fragmentos do texto, abaixo indicados, o cronista estabelece uma relação de comparação?
a. (  ) “Não sendo poeta, encontrei não uma, mas infinitas pedras no meio do caminho, e não só no meio, mas no início e no fim de cada caminho.”
b. (  ) “Um adulto chorando era incompreensível para mim, um acontecimento pasmoso, uma aberração da natureza, pois os adultos podiam tudo e tudo lhes era permitido.”
c. (  ) “Mesmo assim fiquei imaginando a causa do seu pranto. Faltara à escola e por isso ficara sem sobremesa? Fora proibida de brincar na calçada?”
d. (  ) “Hoje ficaria feio esconder-me debaixo das mesas, mas sei que é um bom lugar para isso. Melhor do que a cama onde devemos fazer outras coisas”.
3. “Eu mesmo, quando levo meus trancos repito o menino que ia para debaixo da mesa de jantar para poder chorar sem passar recibo da minha dor.” A expressão “passar recibo” pode ser substituída, sem prejuízo do sentido, por:
a. (  ) disfarçar
b. (  ) tornar pública
c. (  ) me envergonhar
d. (  ) mascarar
4. Em qual das alternativas, a vírgula foi empregada para separar expressões ou palavras que exercem a mesma função sintática?
a. (  ) “O poeta encontrou uma pedra no meio do caminho, nunca esqueceu dessa pedra, que lhe deu assunto para o seu poema mais conhecido.”
b. (  ) “Um adulto chorando era incompreensível para mim, um acontecimento pasmoso, uma aberração da natureza…”
c. (  ) “Mesmo assim, fiquei imaginando a causa do seu pranto.”
d. (  ) “Hoje, ficaria feio esconder-me debaixo das mesas, mas sei que é um bom lugar para isso.”
5. No parágrafo 6, o jogo verbal e a subjetividade do narrador exemplificam a seguinte função da linguagem:
a. (  ) fática
b. (  ) metalinguística
c. (  ) conotativa
d. (  ) poética

6. Na frase “Vi muita gente chorando depois, homens feitos, mulheres maduras”, após usar uma palavra de sentido bastante extenso (gente), o cronista sentiu a necessidade de especificá-lo (homens feitos, mulheres maduras). Para isso valeu-se do recurso sintático chamado:
a. (  ) adjunto adverbial
b. (  ) adjunto adnominal
c. (  ) aposto
d. (  ) complemento nominal



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