CRÔNICA:
A MOÇA EM PRANTOS
Carlos Heitor Cony
1. O poeta encontrou uma pedra no meio do caminho, nunca
esqueceu dessa pedra, que lhe deu assunto para o seu poema mais conhecido. Não
sendo poeta, encontrei não uma, mas infinitas pedras no meio do caminho, e não
só no meio, mas no início e no fim de cada caminho. Não me renderam um único
poema, nem mesmo uma modesta crônica.
2. Mas jamais esqueci a primeira moça que vi chorando. Eu devia ter seis ou sete anos, achava que só as crianças podiam e deviam chorar, tinham motivos bastante para isso, desde as fraldas molhadas nos primeiros meses de existência até a inexpugnável barreira dos “não pode”, que emparedam a infância e criam neuras para o resto da vida.
3. Um adulto chorando era incompreensível para mim, um acontecimento pasmoso, uma aberração da natureza, pois os adultos podiam tudo e tudo lhes é permitido. E a moça era um adulto, ao menos para mim, embora ela fosse realmente moça, aí pelos 15 anos ou pouco mais.
4. E chorava. Não abrindo o berreiro como as crianças, mas dolorosamente, e na certa misturando motivos.
5. Mesmo assim fiquei imaginando a causa do seu pranto. Faltara à escola e por isso ficara sem sobremesa? Fora proibida de brincar na calçada? Queria ganhar uma bicicleta e fora convencida a continuar com o insípido velocípede?
6. Vi muita gente chorando depois, homens feitos, mulheres maduras. Eu mesmo, quando levo meus trancos, repito o menino que ia para debaixo da mesa de jantar para poder chorar sem passar recibo da minha dor. Hoje, ficaria feio esconder-me debaixo das mesas, mas sei que é um bom lugar para isso. Melhor do que a cama, onde devemos fazer outras coisas. A moça que chorava não se escondera, chorava de mansinho, na verdade nem parecia estar chorando. Devia apenas estar muito triste porque misturava todos os motivos para a sua tristeza.
2. Mas jamais esqueci a primeira moça que vi chorando. Eu devia ter seis ou sete anos, achava que só as crianças podiam e deviam chorar, tinham motivos bastante para isso, desde as fraldas molhadas nos primeiros meses de existência até a inexpugnável barreira dos “não pode”, que emparedam a infância e criam neuras para o resto da vida.
3. Um adulto chorando era incompreensível para mim, um acontecimento pasmoso, uma aberração da natureza, pois os adultos podiam tudo e tudo lhes é permitido. E a moça era um adulto, ao menos para mim, embora ela fosse realmente moça, aí pelos 15 anos ou pouco mais.
4. E chorava. Não abrindo o berreiro como as crianças, mas dolorosamente, e na certa misturando motivos.
5. Mesmo assim fiquei imaginando a causa do seu pranto. Faltara à escola e por isso ficara sem sobremesa? Fora proibida de brincar na calçada? Queria ganhar uma bicicleta e fora convencida a continuar com o insípido velocípede?
6. Vi muita gente chorando depois, homens feitos, mulheres maduras. Eu mesmo, quando levo meus trancos, repito o menino que ia para debaixo da mesa de jantar para poder chorar sem passar recibo da minha dor. Hoje, ficaria feio esconder-me debaixo das mesas, mas sei que é um bom lugar para isso. Melhor do que a cama, onde devemos fazer outras coisas. A moça que chorava não se escondera, chorava de mansinho, na verdade nem parecia estar chorando. Devia apenas estar muito triste porque misturava todos os motivos para a sua tristeza.
(Carlos Heitor Cony, Folha de São Paulo, 04/05/2003)
Marque a única resposta correta de acordo com o texto.
1. No segundo parágrafo, o cronista ao voltar, pela memória, ao
tempo de criança, fala da “inexpugnável barreira dos “não pode” que emparedam a
infância…”. No texto, a ideia de emparedamento:
a. ( ) permanece restringindo a liberdade das crianças.
b. ( ) alcança, também, o cronista adulto, na manifestação de seus sentimentos.
c. ( ) limita as ações dos adolescentes, como ocorreu com a moça de 15 anos.
d. ( ) desaparece completamente da vida das pessoas.
a. ( ) permanece restringindo a liberdade das crianças.
b. ( ) alcança, também, o cronista adulto, na manifestação de seus sentimentos.
c. ( ) limita as ações dos adolescentes, como ocorreu com a moça de 15 anos.
d. ( ) desaparece completamente da vida das pessoas.
2. Em qual dos fragmentos do texto, abaixo indicados, o cronista
estabelece uma relação de comparação?
a. ( ) “Não sendo poeta, encontrei não uma, mas infinitas pedras no meio do caminho, e não só no meio, mas no início e no fim de cada caminho.”
b. ( ) “Um adulto chorando era incompreensível para mim, um acontecimento pasmoso, uma aberração da natureza, pois os adultos podiam tudo e tudo lhes era permitido.”
c. ( ) “Mesmo assim fiquei imaginando a causa do seu pranto. Faltara à escola e por isso ficara sem sobremesa? Fora proibida de brincar na calçada?”
d. ( ) “Hoje ficaria feio esconder-me debaixo das mesas, mas sei que é um bom lugar para isso. Melhor do que a cama onde devemos fazer outras coisas”.
a. ( ) “Não sendo poeta, encontrei não uma, mas infinitas pedras no meio do caminho, e não só no meio, mas no início e no fim de cada caminho.”
b. ( ) “Um adulto chorando era incompreensível para mim, um acontecimento pasmoso, uma aberração da natureza, pois os adultos podiam tudo e tudo lhes era permitido.”
c. ( ) “Mesmo assim fiquei imaginando a causa do seu pranto. Faltara à escola e por isso ficara sem sobremesa? Fora proibida de brincar na calçada?”
d. ( ) “Hoje ficaria feio esconder-me debaixo das mesas, mas sei que é um bom lugar para isso. Melhor do que a cama onde devemos fazer outras coisas”.
3. “Eu mesmo, quando levo meus trancos repito o menino que ia
para debaixo da mesa de jantar para poder chorar sem passar recibo da minha
dor.” A expressão “passar recibo” pode ser substituída, sem prejuízo do
sentido, por:
a. ( ) disfarçar
b. ( ) tornar pública
c. ( ) me envergonhar
d. ( ) mascarar
a. ( ) disfarçar
b. ( ) tornar pública
c. ( ) me envergonhar
d. ( ) mascarar
4. Em qual das alternativas, a vírgula foi empregada para separar
expressões ou palavras que exercem a mesma função sintática?
a. ( ) “O poeta encontrou uma pedra no meio do caminho, nunca esqueceu dessa pedra, que lhe deu assunto para o seu poema mais conhecido.”
b. ( ) “Um adulto chorando era incompreensível para mim, um acontecimento pasmoso, uma aberração da natureza…”
c. ( ) “Mesmo assim, fiquei imaginando a causa do seu pranto.”
d. ( ) “Hoje, ficaria feio esconder-me debaixo das mesas, mas sei que é um bom lugar para isso.”
a. ( ) “O poeta encontrou uma pedra no meio do caminho, nunca esqueceu dessa pedra, que lhe deu assunto para o seu poema mais conhecido.”
b. ( ) “Um adulto chorando era incompreensível para mim, um acontecimento pasmoso, uma aberração da natureza…”
c. ( ) “Mesmo assim, fiquei imaginando a causa do seu pranto.”
d. ( ) “Hoje, ficaria feio esconder-me debaixo das mesas, mas sei que é um bom lugar para isso.”
5. No parágrafo 6, o jogo verbal e a subjetividade do narrador
exemplificam a seguinte função da linguagem:
a. ( ) fática
b. ( ) metalinguística
c. ( ) conotativa
d. ( ) poética
a. ( ) fática
b. ( ) metalinguística
c. ( ) conotativa
d. ( ) poética
6. Na
frase “Vi muita gente chorando depois, homens feitos, mulheres maduras”, após
usar uma palavra de sentido bastante extenso (gente), o cronista sentiu a
necessidade de especificá-lo (homens feitos, mulheres maduras). Para isso
valeu-se do recurso sintático chamado:
a. ( ) adjunto adverbial
b. ( ) adjunto adnominal
c. ( ) aposto
d. ( ) complemento nominal
a. ( ) adjunto adverbial
b. ( ) adjunto adnominal
c. ( ) aposto
d. ( ) complemento nominal
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