terça-feira, 27 de junho de 2017

TEXTO: A REDAÇÃO E O DICIONÁRIO - LYGIA BOJUNGA NUNES -COM GABARITO

TEXTO:A REDAÇÃO E O DICIONÁRIO
Lygia Bojunga Nunes


        Se você fosse morar numa ilha deserta e distante e só poderia levar um livro pra ler por lá, que livro você levaria?
        Quando chegou a minha vez de responder a essa pergunta eu disse que, mesmo não gostando de carregar peso em viagem, eu levava um dicionário da minha língua.
        Mas eu só senti o gosto do dicionário quando eu comecei a escrever livro. E assim mesmo, foi um gosto que veio vindo devagar.
        Eu tive uma professora de português que achava impossível a gente viver sem um dicionário perto. Eu não gostava da professora; ela tinha unha comprida e pintava de um vermelho meio roxo, quando ela escrevia no quadro volta e meia a unha raspava a pedra. Que aflição! Mas não era por isso que eu não gostava dela não: eu tinha dois motivos muito mais emocionais que a unha. O primeiro é que eu achava que ela tinha tomado o lugar da professora anterior, que eu adorava; o segundo é que ela corrigia tintim por tintim tudo que é redação que eu fazia. Usando caneta. E, pelo jeito, que cometia tanta barbaridade gramatical, que ela se via obrigada a reescrever a minha redação quase que todinha. Com tinta vermelha.
       Quando eu relia a minha escrita, assim toda avermelhada para um português correto, eu sempre sentia a impressão esquisita que a minha redação estava fazendo careta pra mim.
        Mas eu nunca parei pra pensar por que eu sentia assim. Me lembro que eu ficava chateada e pronto: esquecia a careta. E quando eu tinha de novo que fazer redação eu me aplicava igualzinho: redação era o único dever que gostava de fazer.
        A professora corrigia tintim por tintim outra vez. E a nota que ela me dava ficava sempre em torno de 5. Ela justificava a dádiva com a seguinte observação: composição imaginativa. Embaixo do FIM que eu botava sempre no fim da minha redação, ela escrevia um lembrete (vermelho também):
        “Habitue-se a consultar o dicionário”.
        Não deu outra: me habituei a nunca abrir um dicionário.
        [...]
                                                    Livro, um encontro com Lygia Bojunga Nunes.
                                                                                      Rio de Janeiro:  Agir, 1998.

1 – Lygia tornou-se uma grande escritora. Considerando seu depoimento, o que você pode apreender sobre a importância de contar e imaginar histórias desde pequeno?
       Resposta pessoal.

2 – Que outros elementos, relacionados ao aprendizado da escrita, podemos apreender desse depoimento sobre as aulas de redação de Lygia?
       Primeiro, há um elemento emocional que perpassa toda a relação professor-aluno. Segundo, a professora que trabalhava muito, ao corrigir aspectos ortográficos e gramaticais da redação da aluna em tinta vermelha, com a melhor das intensões, parece dar preferência a indicadores relacionados à norma padrão. Mesmo assim, a menina não parecia estar se sentindo motivada para utilizar o dicionário, naquele momento.

3 – Este texto de Lygia Bojunga continua apresentando “as falhas” que a professora destacava em vermelho.
a)     Indique algumas delas.
Algumas respostas possíveis: “tava”, “pra”, expressões coloquiais.

b)    Nesse texto, as formas utilizadas são interpretadas como falhas?
NÃO, pois a autora está dando um depoimento, portanto, o texto é uma transcrição contendo formas da oralidade. O livro do qual foi tirado o texto é um monólogo que a autora apresenta.

c)     Que conclusão você tira das duas frases finais?
Resposta pessoal.






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