terça-feira, 6 de junho de 2017

TEXTO: NOSSAS CIDADES - L.LOBO - PARA O ENSINO MÉDIO COM GABARITO

TEXTO: NOSSAS CIDADES

        Nossas cidades não são uma selva da asfalto e concreto; são enormes zoológicos humanos, onde vivemos em condições que não são naturais para a nossa espécie e onde corremos perigo também de enlouquecer de tensão, de adoecermos de civilização, pelo nariz, pela boca, pelos ouvidos.
        Você, por exemplo, respira de 20 mil a 30 mil vezes por dia, inspirando de cada vez mais ou menos meio litro de ar. Cerca de 30% desse ar enche 350 milhões de minúsculos compartimentos no pulmão, onde o sangue troca o venenoso dióxido de carbono por oxigênio, sem o qual a vida é impossível. Nas grandes cidades, o ar contém centenas de toxinas que prejudicam o desenvolvimento normal das células. Os gases que escapam dos veículos a gasolina, por exemplo, impedem a perfeita oxigenação do sangue e provocam alergias, doenças do coração e câncer. O monóxido de carbono é assimilado pelos glóbulos vermelhos 200 vezes mais depressa que o oxigênio. E o chumbo, derivado do tetraetileno de chumbo, é prejudicial acima de 100 milionésimos de grama por metro cúbico de ar, concentração que já existe em qualquer cidade de tamanho médio no Brasil.
        E a água que bebemos? Os rios, principal fonte de água potável, são usados como canais de esgoto e despejo. A vida animal, na maior parte dos rios que abastecem as grandes cidades, já não existe, porque a vida é impossível, não está para peixe. Este líquido clorado, recuperado, da nossa era higiênica tem pouca coisa a ver com a água potável, de nascente, digna de peixe e de homem. Estações de tratamento, filtros, toda a química disponível não consegue esconder que estamos bebendo um líquido que supre as nossas necessidades vitais, mas que é chamado água apenas por hábito.
        Além disso, estamos ficando surdos. Em cada cem cariocas (ou paulistas, ou gaúchos), dez têm problemas de audição e cinco foram vítimas da poluição sonora. Hoje em dia há duas vezes mais pessoas surdas do que há dez anos, e a gente da cidade só ouve sons a partir de 36 decibéis, 10 na melhor hipótese, enquanto o homem do campo ouve ruídos d até 1 decibel.
        Dor de cabeça, fadiga excessiva, nervosismo, distúrbios de equilíbrio, afecções cardíacas e vasculares, anemias, úlceras de estômago, distúrbios gastrintestinais, neuroses, distúrbios glandulares, curto circuitos nervosos, tudo isso pode ser provocado pelo barulho das grandes cidades. E nem é preciso que seja barulho excessivo, porque, na maior parte das vezes, ele já é incômodo e contínuo.
        Enjaulados, enquanto não fizemos desse zoológico um jardim mais verde, mais limpo, mais saudável, menos neurótico, a única solução é sairmos de vez em quando para respirar ar puro, beber água de verdade, ouvir o silêncio, sentir os cheiros da vida e reconquistar a tranquilidade perdida.    
                           
                                                  LOBO, L. Turismo em foco. Ano IV, n. 19. p. 19.

Afecção: doença.
Anemia: diminuição de hemoglobina do sangue, fraqueza, debilidade.
Decibel: unidade de medida da intensidade do som.
Dióxido de carbono: substância tóxica derivada do carbono.
Inspirar: fazer o ar entrar nos pulmões, oferecer uma base, um fundamento; criar disposição para determinada ação.
Monóxido de carbono: substância tóxica derivada do carbono.
Tensão: corrente elétrica; esticamento, rigidez; estado de ansiedade ou angústia, estresse.
Tetraetileno de chumbo: substância tóxica derivada do chumbo.
Toxina: substância tóxica segregada por seres vivos.

1 – Algumas palavras desse texto são polissêmicas, isto é: podem ter significados completamente diferentes, conforme o texto. Por exemplo: tensão e inspirar.
a)     Indique o significado da palavra tensão, em cada uma das frases seguintes.
- O pessoal estava em silêncio, mas a tensão era evidente: alguma coisa estava por acontecer.
Estado de ansiedade ou angústia.
- O funcionário da empresa morreu há pouco, eletrocutado por um cabo de alta tensão.
Corrente elétrica.
- A tensão da corda era tal, que se romperia ao menor esforço.
Esticamento, rigidez.

b)    Indique o significado da palavra inspirar, em cada uma das frases seguintes:
- A novela foi inspirada no livro de Rubem Fonseca.
Ter como base.

- Nossa respiração tem dois movimentos: inspirar e expirar.
Fazer entrar o ar nos pulmões.

- Pouca coisa o inspira, nesta etapa da vida.
Criar disposição para fazer alguma coisa.

c)     Qual a diferença entre polissemia e conotação?
A polissemia de uma palavra está dicionarizada. Isso quer dizer que todos os falantes podem saber que em um contexto manga significa fruta, em outro, significa parte de roupa que cobre o braço ou parte dele, ou espaço usado para criar gado.
A conotação pode acontecer com qualquer palavra, e sua percepção não chega a todos os falantes, ou não chega da mesma maneira.

2 – A estrutura do texto é bastante clara. Cada parágrafo constitui uma parte dele e colabora com um dado para a construção do significado do texto. Indique abaixo a ideia central de cada um deles.
1º parágrafo: Os problemas de nossas cidades.
2º parágrafo: A poluição do ar.
3º parágrafo: A poluição das águas.
4º parágrafo: A poluição sonora e a surdez.
5º parágrafo: A poluição sonora e outras doenças.
6º parágrafo: Solução para o homem: sair de vez em quando para o campo.

3 – Releia o primeiro parágrafo do texto. A ordem das últimas palavras é importante para a estrutura do texto? Por quê?
       A ordem das palavras define a ordem em que os tipos de poluição aparecerão no texto.

4 – O autor prefere definir as nossas cidades como “zoológicos humanos”, e não como “selva de asfalto e concreto”. Qual é a diferença entre as expressões, na sua opinião?
       No zoológico, os humanos estão presos, “fora de seu espaço verdadeiro”. A selva sugere uma liberdade que o autor quer dizer que não existe.

5 – “As cidades estão definitivamente condenadas”.
       Você acha que essa frase sintetiza a sua compreensão do texto? Justifique.
       Resposta pessoal.

6 – Indicamos a seguir algumas características da linguagem do texto. Extraia dele um exemplo de cada característica apresentada.
a)     Diálogo direto com o leitor.
- Você, por exemplo...
- E a água que bebemos?

b)    Uso de termos técnicos.
- Dióxido de carbono, tetraetileno de chumbo.
- Afecções cardíacas, decibéis.

c)     Preocupação com números e estatísticas.
- 20 mil ou 30 mil.
- A partir de 10 decibéis.
- Em cada cem cariocas, dez têm problemas...

d)    Elementos de humor.
- A vida é impossível, não está para peixe...
- Água potável, de nascente, digna de peixe e de homem.

7 – O primeiro parágrafo do texto é baseado numa metáfora. Qual é, e em que expressão ela ressurge, no último parágrafo?
       A metáfora é “Nossas cidades são zoológicos humanos”, que, no último parágrafo, está subentendida no adjetivo “enjaulados”.

8 – O texto tende a algum exagero. Indique pelo menos um exemplo disso.
       O que o texto diz sobre a água, e sobre o que escutamos e o que escuta o homem do campo, tudo é um pouco exagerado: o som de um decibel é o leve farfalhar de uma folha de papel, ou de uma árvore. Quem ouve isso? A própria enumeração longuíssima de doenças, no penúltimo parágrafo, parece ter a intenção de nos impressionar pelo exagero. (É claro que ela poderia ser até maior).

9 – Qual é, na sua opinião, o objetivo principal do autor do texto: informar, divertir, convencer o leitor? Justifique sua posição.
       Esperamos que você tenha percebido que o uso dos termos técnicos, a lógica tão bem estruturada, os exageros em torno da água e da audição, tudo tem o objetivo de convencer o leitor de que ele deve, o quanto antes, sair algumas vezes (não para sempre!) da cidade grande. Quer dizer: fazer turismo (ecológico!). Veja o nome da revista que divulga o texto: Turismo em Foco.


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