CONTO – MARINA, a intangível
Murilo Rubião
[...]
Abri a janela,
que dava para o jardim, a fim de sentir melhor o perfume das rosas. Talvez elas
me ajudassem.
Porém, ao
descerrar as venezianas, deparei com a fisionomia de um desconhecido.
Rapidamente afastei os olhos noutra direção. Aquela cara me incomodava. Toda
ela era ocupada por um nariz grosso e curvo. Tornei a observar o intruso e vi
que me olhava com insistência.
Sem alterar o
semblante, ou mover os músculos da face, disse-me:
- Recebi o seu
recado, José Ambrósio. Aqui estou.
Imobilizei-me
ao contemplar-lhe o rosto sem movimento, a cabeça desproporcionada, tomando boa
parte do espaço da janela.
Recuperando-me
do espanto que a sua presença me trouxera, retruquei com vigor:
- Não o
conheço, nem disponho de tempo para atendê-lo.
Em seguida,
fiz-lhe um sinal para se afastar. A sua figura desajeitada e estranha
atormenta-me, impedia que tentasse elaborar um novo texto.
Penso que interpretou
o meu gesto como um convite para entrar, pois deu umas passadas miúdas e
penetrou na sala pela porta principal.
Deteve-se a
alguns passos da minha escrivaninha e continuou a encarar-me.
[...]
Entendendo o texto
1 – Para que espécie de trabalho o narrador buscava ajuda do
perfume das rosas quando foi interrompido?
Ele
estava procurando inspiração enquanto escrevia e elaborava um texto.
2 – Como se deu essa interrupção?
Ao
descerrar as venezianas, a aparição de um homem estranho espantou o narrador.
3 – Imagine alguma ação do desconhecido que possa dar
continuidade à situação de surpresa. Escreva um parágrafo final para o texto,
que narre essa ação?
Mas com um parágrafo que narra algo inusitado, como, por
exemplo, puxar o papel e ele mesmo escrever algo; fazer algum gesto violento,
etc.
4 – Releia o texto, agora completado pelo seu final, e avalie
a função das sequências que descrevem o desconhecido. Por que ele foi assim
descrito?
Mas a
descrição tem de causar espanto para criar o clima de espanto na narrativa.
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