sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

CRÔNICA: VELHOS AMIGOS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Velhos Amigos

                Walcyr Carrasco

RECEBO O CONVITE DE casamento de um amigo. Espanto-me. É o quinto enlace do rapaz. O convite faz menção a uma cerimônia religiosa. Na primeira vez, a noiva deslizou pela nave de véu e grinalda. Ainda está viva. O que ele terá feito para obter a dispensa? Arquivo o mistério para resolver depois. Pego o cartãozinho da lista de presentes. Suspiro. Será o quinto presente. A continuar assim, ele devia abrir um crediário para os convidados.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWS-9mKh6zk_W4RloFseXBtN-vM2uMRBhoAZd94uzZHJiP18dDnBRt6ug_eJKDYYmsJ7_Iz5ybp9yScdps5oQDsVIEH4Xv8Fyx1AYz4ONHWdht_ILIOnuhbuP1WpQMdLihaWjOjZKMfvtWvg_GM8lnPH9IbCQRl60biRYvfNJH2pMDmG5N1d6CE8rtKAk/s1600/VELHOS.jpg

Loja chique. A noiva deve ser descendente do rei Midas. Tudo que escolheu vale o peso em ouro. Penso em fugir e mandar um livro de culinária vegetariana. Seria original. Decido-me por um cinzeirinho que não está na lista, mas é lindo. . Lembro que ele parou de fumar. Decido esquecer. Qualquer comentário, farei um oh! de surpresa:

— Oh, você parou de fumar? Bem... deixe o cinzeirinho para as visitas!

Retiro meu terno do armário. Boto a gravata. Torço para que a comida seja boa. Gosto de me empanturrar de bem-casados e, se der, ainda levar alguns para casa, escondido. Há esperança. A cerimônia é em um bufê. Mal entro, ouço um grito do fundo.      —Você!

Casamentos são ideais para encontrar velhos amigos. Pessoas que dez ou vinte quilos atrás foram íntimas, ressurgem com um sorriso atarraxado no rosto. É leve a sensação do reencontro. Parece que nunca nos separamos! 

Meu filho vai prestar vestibular, acredita?

— Sabe aquele livro que comecei há dez anos? Estou quase terminando!

— E sua filha, como vai?

— Um pouco nervosa. Casei com a melhor amiga dela.

No ar fica a pergunta. Por que nunca mais nos vimos? Não existiu uma briga definitiva. Apenas, um dia, não telefonei para marcar o programa de fim de semana. Duas semanas depois eles ligaram, mas eu não podia. Quando liguei, tinham ido viajar. Os meses foram passando. Os encontros rareando. Dois aniversários depois, não me chamaram. Não nos vimos no final do ano. De vez em quando, uma notícia. Aquele separou, aquela desencarnou. Contemplo os rostos. Se continuasse na mesma turma, minha vida seria diferente? Dá saudade dos bons momentos que poderíamos ter tido. Em seguida, todos agitam canetas, papeizinhos e cartões.

— Dá o Seu telefone. A gente precisa se ver.

— Pega meu cartão. Olha, vou anotar o número do celular e o e-mail.

— Que tal almoçar a semana que vem?

— Ih, a semana que vem não sei se vai dar. Quem sabe na outra.

— Na outra eu é que não posso. E à noite?

— Isso. Talvez à noite. A gente se liga para combinar!

Afundo o cartão no bolso. Viro-me. Sorrio e pego um novo cartão. Continuamos chilreando como beija-flores. Só nos calamos aos acordes da marcha nupcial. Lá vem a noiva de véu e grinalda, de braços com o pai orgulhosíssimo. Todos se olham, constrangidos. Afinal, como ele está casando no religioso? E o divórcio, já saiu? 

Abraço os noivos, desejo felicidades. Consigo me empanturrar de picadinho de frango afogado em um molho exótico. Devoro a sobremesa duas vezes. No fim, agarro o noivo.

— Vem cá, você já não era casado no religioso?

— Ah, essa cerimônia foi só para contentar os pais dela. É de uma outra igreja, dissidente.          .

— E o cartório?

— Não casamos no civil, porque meus papéis estavam enrolados. Mas os velhos pensam que foi hoje de tarde.

— Então eu vim em um casamento que não foi casamento? E ainda dei presente? Tem pai que é cego!

O noivo funga, ofendido. Despeço-me dos velhos amigos. Todos prometem se ver, se ver, se ver... mas, é claro, não vai dar certo. Até o próximo casamento. Quem sabe com o mesmo noivo!

Entendendo o texto

01. Quantos casamentos o amigo do autor já teve até o momento descrito na crônica?

a) 1.

b) 3.

c) 5.

d) 7.

02. O que o autor decide fazer quando vê a lista de presentes na loja chique?

      a) Comprar um livro de culinária vegetariana.

      b) Escolher um presente não listado.

      c) Comprar um cinzeirinho.

      d) Fugir e não levar presente.

03. Por que o autor decide esquecer o cinzeirinho ao perceber que o amigo parou de fumar?

     a) Porque a noiva não gosta de cinzeiros.

     b) Porque ele mudou de ideia sobre o presente.

     c) Porque é um presente inapropriado.

     d) Porque o amigo voltou a fumar.

04. Onde acontece a cerimônia de casamento na crônica?

     a) Igreja.

     b) Casa do noivo.

     c) Bufê.

     d) Clube.

05. O que acontece quando o autor entra no bufê?

     a) Ele encontra um antigo amigo.

     b) Ele encontra a noiva.

     c) Ele ouve um grito do fundo.

     d) Ele percebe que está no lugar errado.

06. Como o autor descreve a sensação de reencontrar velhos amigos em casamentos?

     a) Desconfortável.

     b) Pesada.

     c) Leve.

     d) Incompreensível.

07. Por que o autor não se encontrou com seus antigos amigos nos últimos meses?

     a) Brigou com eles.

     b) Esqueceu de marcar programas.

     c) Estava ocupado viajando.

     d) Não tinha telefone.

08. O que acontece quando os velhos amigos decidem se encontrar novamente?

      a) Comemoram.

      b) Trocam cartões e números de telefone.

      c) Brigam.

      d) Ignoram uns aos outros.

09. Por que o autor questiona o noivo sobre o casamento no religioso?

       a) Ele é contra casamentos religiosos.

       b) Ele está curioso sobre a cerimônia.

       c) Ele acha que o noivo já era casado no religioso.

       d) Ele não gosta do pai da noiva.

10. Qual é a conclusão do autor sobre os reencontros com velhos amigos no final da crônica?

       a) Eles sempre se veem como prometem.

       b) Eles se veem apenas em casamentos.

       c) É difícil manter a promessa de se encontrar.

       d) Eles se veem frequentemente em festas.

 

 

CRÔNICA: OS EX-RICOS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Os Ex-Ricos

               Walcyr Carrasco

VOU VISITAR UMA AMIGA. Desempregada, ela acaba de mudar de casa. Estranho o endereço, nos Jardins. Há uma semana a dita senhora morava com umas primas solteironas, dormindo em um sofá-cama. Terá descoberto novos e generosos- parentes? Suspiro. Deve ser difícil ser uma dama e ter de lutar pelo bife de cada dia. Aperto a campainha. Ela me recebe com um sorriso radioso. Os móveis, recuperados da garagem das primas, espalham-se por uma sala soberba. Percebo rolos de tecido de decoração a um canto. Coço a cabeça. Ela me explica, feliz da vida.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDDPOy3tgorUcHx37e0BubMkuNQJzEXtYbOxKFvh3V2Mu9wRA5JI07t86-UwXiE7du0gjQ2g3FCFAB0Y0imTiSqyrSrJqvTCnk7MdA9D_WOX8pBdPRGPb67bTfGJ1zfjj8EnMXwmoFqmgiT2cGte2xfOulg8VJZkFNNoEPiNsa3kFKOGtlgG8J2JRBqig/s320/RICOS.jpg


— Vendi o terreno!

Em tempo: o tal terreno localizava-se em um dos condomínios mais caros de São Paulo. E o Parque Silvino Pereira, na Granja Viana, onde um lote de cinco mil metros custa em torno de quatrocentos mil reais. A dama recebera o imóvel de herança. Espanto-me.

— Mas o dinheiro deu para comprar essa mansão?

— Comprar, não. Aluguei!

Alguns amigos espalham-se pela sala, bebericando copos de uísque. Uma bandeja aninha caviar e torradinhas. Comemoram a iminente partida da dama para Nova York. Plantado na minha educação de classe média, reflito. . -— Mas desse jeito o dinheiro vai acabar!

Ela me encara como se tivesse dito que ela estava gorda. Falar em fim_de dinheiro pareceu o cúmulo da deselegância!

Voltou do exterior carregada de compras. Dali a alguns meses alugou um quarto para um conhecido. Outros mais, e brigou com o pensionista porque ele comeu as duas últimas salsichas da geladeira. Não tardou, vendeu parte dos móveis e retornou ao sofázinho das tais primas solteironas. Com dívidas.

As idas e vindas da economia acabaram criando uma classe de ex-ricos, e até de ex-novos-ricos. Nesta cidade as ondas econômicas evidenciam as marés do país. Saímos dos ex-barões de café e dos ex-industriais aos ex-altíssimos executivos de multinacionais aos... enfim... Boa parte tem uma coisa em comum: só sabe viver à larga. São pessoas que vendem casas para comprar uma partida de vinhos, ou, simplesmente, jantar fora por mais seis meses. Dão festas e no dia seguinte pelejam para não pagar a faxineira. Se recebem visita em época de vacas magras, oferecem:

—- Quer comer uma saladinha? Estou de regime.

E lá vem um prato de alface. Se torram uma propriedade, atacam de salmão norueguês! A antiga nobreza também sofre! Certa vez, numa festa, um grupo agitava-se em torno de uma senhora de coque, muito fina.

— E uma princesa — alguém contou.

De fato. Seus pais seriam os herdeiros do trono de um reino italiano se não tivesse acontecido a Unificação, Garibaldi e a economia de mercado. A princesa continuava princesa nos gestos suaves. Seu anel de brasão emitia raios a cada movimento de seus dedos. De tão elegante, todo mundo se sentia constrangido ao comer perto dela. Quase comentei: a gargantilha parecia ser bijuteria, e não uma joia de família de origem remota. Mas um plebeu como eu sabe reconhecer preciosidades?

Dias depois encontro um amigo despachado, conhecido do anfitrião.

Conta.

— A princesa? Mora num sobradinho geminado. Quer ver?

Curiosidade pouca é bobagem. Fui. Na garagem real, um fusca. No terraço de cima, um casal grisalho, tomando sol de sandália de dedo. Meu amigo mostrou, discreto.

— Aqueles são o rei e a rainha. Poderiam estar mandando decapitar pessoas. Agora são obrigados a fazer a feira. Já venderam até os talheres de prata, mas a rainha e a filha princesa não saem do cabeleireiro.

Vida de ex-rico não é fácil. E capaz de fritar ovo na água para economizar óleo. Mas não consegue sobreviver sem uma taça de champanhe.

Entendendo o texto

01. Qual é a condição financeira da amiga que o autor vai visitar no início da crônica?

a) Rica.

b) Classe média.

c) Desempregada.

d) Endividada.

02. Onde a amiga morava antes de mudar para os Jardins?

      a) Nova York.

      b) Na Granja Viana.

      c) Com suas primas solteironas.

      d) Em um condomínio caro em São Paulo.

03. Como a amiga conseguiu a casa nos Jardins?

      a) Comprando.

      b) Alugando.

      c) Herdando.

      d) Construindo.

04. O que a amiga faz com o dinheiro obtido pela venda do terreno?

      a) Compra uma mansão.

      b) Investe no exterior.

      c) Faz compras em Nova York.

      d) Aluga a casa nos Jardins.

05. O que a amiga faz quando volta do exterior?

      a) Vende mais terrenos.

      b) Aluga quartos para conhecidos.

      c) Abre um restaurante.

      d) Investe em ações.

06. Como o autor caracteriza a classe de ex-ricos na cidade?

      a) Poupados.

      b) Frugais.

      c) Gastadores.

      d) Investidores.

07. Qual é a característica comum entre os ex-ricos mencionados na crônica?

       a) Sabem economizar.

      b) Vivem de maneira extravagante.

      c) São prudentes financeiramente.

      d) Nunca vendem propriedades.

08. O que aconteceu com a nobreza mencionada na crônica?

     a) Ficaram ainda mais ricos.

     b) Sofreram as consequências das mudanças econômicas.

     c) Mantiveram sua posição social.

     d) Tornaram-se políticos.

09. Como o autor descreve a princesa mencionada na crônica?

     a) Elegante e modesta.

     b) Fina e constrangida.

     c) Descontraída e simples.

 d) Extravagante e chamativa.

10. Qual é a situação financeira atual da princesa no final da crônica?

       a) Rica e próspera.

       b) Endividada e lutando para sobreviver.

       c) Mantendo a nobreza.

       d) Vivendo uma vida modesta.

 

CRÔNICA: O PRÊMIO - A. ROBERTO M. DE AMORIM - COM GABARITO

 Crônica: O Prêmio

                  A. Roberto M. de Amorim


     O Manoel Antunes veio de Portugal para o Brasil por volta de 1942, quando tinha apenas 12 anos. Com o falecimento de seus pais, três anos depois, teve que combater na arena da vida o ímpeto dos homens-fera, gladiadores sedentos de suor e sangue dos menos favorecidos pela sorte. Precisou passar pelos horrores da fome, pela humilhação dos seus senhores. Conviveu dia a dia com a ameaça de uma deficiência cardíaca congênita, semelhante àquela que lhe roubara o pai.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPxA3bpeRpXyG7YKp8TAv7LlMkM_ec2tbM3fK2Hxe_GY2ijAoCRNWVo9ppilRURk4VxtmHEUeg0dDkYNwTTs4sE4GbEPucmrq5aaMmt_NcMPksUVan1-JGQhAUmOHSoc2CNhVKgV4Kq3gWh01oOPgzRFWj4tONJ-QE1IQyK2IYl7B_8sETesuw0ouzrCA/s320/Mega-Sena.jpg
  Contudo o Antunes provou ser um forte, vencendo todos os obstáculos com a determinação de quem sabe que a sombra pertence a quem dela toma posse. Aos vinte e cinco anos era já um comerciante bem estabelecido; aos trinta, dono de uma rede de padarias.

     Aos trinta e um anos Antunes se casou com uma moreninha, cor de jambo, vinda do norte, cujo nome era Lúcia. Era perfeita em cada detalhe: não se esquecia nunca da hora dos seus remédios, do horário das refeições em absoluto respeito à dieta; da roupa passada e engomada. Cuidava dele com extremo carinho: não esquecia o beijo de despedida nem o abraço carinhoso da chegada. Talvez o Antunes não tivesse alcançado aqueles cinquenta anos bem vividos, não fosse o zelo de sua companheira.

     Foi em meados de 1980, que ocorreu um episódio singular. O Antunes, como qualquer português que se preze, adorava fazer sua "fezinha" na loteria, mas se dizia um tremendo azarado porque nada ganhava. Já nem conferia mais os resultados. Jogava por hábito.

     Certo dia, porém, Lucinha recebeu um telefonema da Caixa Econômica Federal, comunicando que seu Antunes havia sido o único ganhador de um polpudo prêmio na Loteria Esportiva. Zelosa como era pelo seu esposo, nem mesmo naquele momento Lucinha deixou de se lembrar do delicado estado de saúde dele, razão pela qual solicitou do agente que não divulgasse o nome dele até que ela lhe desse a notícia.

     O prêmio da loteria poderia ser sua definitiva independência financeira, talvez até um tratamento mais especializado no exterior. Mas como dar-lhe a notícia sem o risco de precipitar um desfecho trágico? Mil planos diferentes lhe passaram pela cabecinha até que se lembrou do Dr. Alfredo. Com o passar dos anos ele havia se tornado mais que um médico da família, era um amigo fiel, conselheiro, digno de toda confiança, alguém que, por uma inata capacidade perceptiva aliada a uma consciência humanitária sem igual, conseguia encontrar sempre a solução para os problemas mais difíceis.

     Quando procurado por Lucinha, se dispôs imediatamente a resolver a situação, convocando por telefone a presença de seu marido ao consultório ainda naquela tarde.

     Antunes entrou com uma expressão interrogativa, que questionava sem palavras o porquê daquela chamada súbita. O Dr. Alfredo o acalmou dizendo que o motivo era muito mais seu que propriamente do seu cliente. Começou então uma variada conversa pedindo a ajuda de Antunes para resolução de alguns problemas particulares, escolhendo o momento certo para falar sobre o assunto do prêmio. A oportunidade surgiu quando começaram a falar em dificuldades financeiras. Dr. Alfredo assim se dirigiu ao Antunes:

     - Amigo Antunes, posso lhe fazer uma pergunta assim meio descabida?
     - Ora, pois, meu amigo, mas claro! Vamos lá, diga!
     - Se você ganhasse hoje, sozinho, na Loteria Esportiva, o que você faria com todo aquele dinheiro?
     - Hum!...Queres mesmo saber, meu amigo?...Eu lhe daria a metade!
     O dr. Alfredo teve um enfarte.

Entendendo o texto

01. Numere a segunda coluna de acordo com a primeira, observando o sentido das palavras no texto:
    1- precipitar                          (  3 ) propósito
    2- congênita                         (  2 ) inata
    3- abordar                            (  1 ) apressar
    4- determinação                   (  4 ) impulso
    5- descabida                        (  5 ) imprópria

02. A palavra rede, no texto, tem o sentido de conjunto de estabelecimentos comerciais, mas também pode significar estrutura formada por fios, cordas ou outros materiais entrelaçados.

Escreva uma frase com cada sentido da palavra.
Frase com o primeiro sentido: "Antunes era dono de uma rede de padarias."

Frase com o segundo sentido: "O pescador lançou a rede ao mar."


03. Assinale as palavras que indicam as reações de Antunes diante das adversidades da vida:
    (  X ) obstinação   (    ) revolta    (  X  ) força  (   ) desespero         
    (    ) aceitação    ( X   ) ânimo    (   ) "garra"   (    ) insatisfação

04. Cite três características de cada personagem:
     a) Antunes: Forte, determinado, empreendedor.
    b) Lucinha: Zelosa, cuidadosa, carinhosa.

    c) Dr. Alfredo:  Amigo fiel, conselheiro, perceptivo e humanitário.

05. Transcreva a passagem que comprova que Antunes venceu na vida.
      "Contudo, o Antunes provou ser um forte, vencendo todos os obstáculos com a determinação de quem sabe que a sombra pertence a quem dela toma posse."

06. Qual a importância de Lucinha nos cinquenta anos bem vividos de Antunes?
     Lucinha foi fundamental nos cinquenta anos bem vividos de Antunes, cuidando dele com extremo carinho, zelando por sua saúde, proporcionando-lhe uma vida plena.

07. Qual era o hábito de Antunes?
      O hábito de Antunes era fazer sua "fezinha" na loteria.


08. Por que o autor diz que a notícia do prêmio poderia provocar um desfecho trágico?
      Porque Antunes tinha uma delicada condição cardíaca, e a notícia do prêmio poderia ser chocante a ponto de afetar negativamente sua saúde.


09. É comum os autores usarem comparações para expressarem melhor uma ideia. Transcreva uma comparação usada pelo autor ao se referir à Lucinha.
     Não há uma comparação explícita no texto.

10. O escritor considera singular o episódio da loteria, porque:
    a) Antunes jogava por jogar, pois nem conferia os resultados.
    b) o desfecho foi trágico.
    c) ele foi o único ganhador do prêmio.
    d) o médico propôs dividir o prêmio com Antunes.

11. Identifique a causa e a consequência de cada oração dos períodos:
    a) Lucinha ficou ansiosa porque seu marido era cardíaco.

Causa: "Lucinha ficou ansiosa."

Consequência: "porque seu marido era cardíaco."

    b) Como o valor do prêmio era alto, o dr. Alfredo teve um enfarte.

         Causa: "Como o valor do prêmio era alto.”

         Consequência: "o dr. Alfredo teve um enfarte."


    c)  Antunes ficou preocupado por causa da convocação do médico.

           Causa: "Antunes ficou preocupado."

           Consequência: "por causa da convocação do médico."

12. O tipo de narrador usado no texto é:
    a) narrador-personagem, usa primeira pessoa.
    b) narrador-observador, usa terceira pessoa.
    c) narrador-onisciente, usa terceira pessoa.    

 

 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

CRÔNICA: DESCULPA ESFARRAPADA - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

Crônica: Desculpa Esfarrapada

                Walcyr Carrasco

 

SEMPRE FUI UM DORMINHOCO. Adoro acordar tarde. É o tipo de coisa malvista por possíveis empregadores. Em época de vacas magras eu instruía o pessoal de casa a dizer, todas as vezes que alguém ligasse: "Ele está no banho".

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvHdHHzzXjNQRXWx0gzT4pDI0ZhYh6_aEIIYp2ppltomdXBr8EICJkxiw1hSAMDsBXuAqppI3HZzW9hWICrnt-UAzCTb8foedi7ku692ozIKCXm_atAADLDn-ZU2BD61Szmi7YDrGsDMCAwJEbvOY0zxX5izuh7HLJb7rhQmoonLFV4G42Qqxk9MrZ5vE/s320/SONHO.jpg


Nada mais prático. Quem está no banho, não atende telefone. O problema é que às vezes a pessoa ligava várias vezes, hora após hora. A resposta, invariável. No banho.

— Será que ele não se afogou embaixo do chuveiro? — vinha a pergunta irônica.

Ou batiam o telefone. 

— Se ele não quer me atender, por que não diz de uma vez?

Ganhei a fama de ser o homem mais limpo da cidade. O Sabonetinho, como diziam! Chegaram a me citar uma crônica do Nelson Rodrigues sobre o tema. Ou seja: acabou a desculpa. Mas, nessa era de celulares, de comunicação, rápida; como se safar? Faço terapia todas as sextas-feiras. Quando estou esperando alguma ligação importante, deixo o celular ligado. Às vezes não reconheço o número no visor. Em dúvida, atendo. Já tentei mil vezes explicar:

— Estou no meio de uma consulta e...

Que adianta? A pessoa continua falando, falando! Agora uso o estratagema do túnel, — Ih! Olha, estou no meio do trânsito... ih! Estou entrando em um túnel, se a ligação cair... ih! Não estou ouvindo mais nada, alô, alô. Ih!, ih!

   Desligo, enquanto o interlocutor se esgoela do outro lado. Muita gente usa a estratégia, de tão boa. Já está ficando velha. Antes da revolução das comunicações o interurbano funcionava como desculpa. Bastava mandar dizer.

— Ele está em um interurbano.

Falar com outra cidade era complicado. Todo mundo compreendia. Nesta era de DDD e DDI facilitados, é uma desculpa esfarrapadíssima! Mas a do chefe ainda funciona.

— Sinto muito, ele está em reunião com o diretor.

Dá certo e confere status. Reunião privada com o diretor não é para qualquer um. Podem ligar vinte vezes no dia. Quanto mais longa parecer a reunião, mais importante será o cargo. A não ser que venha um rugido do outro lado:

— Invente outra. Quem está falando sou eu, o diretor.

Afinal, onde é que ele está?

Há outra que está entrando em moda.

— Liguei o dia todo e você não atendeu.

— Mas eu estava em casa. Houve um problema nas linhas telefônicas de todo o bairro. Ficamos incomunicáveis.

A estratégia costuma provocar um gesto de solidariedade. Raios, trovões, ventanias. Tudo mexe com as linhas. Bateria do celular que pifa também é outra. A pessoa está doida para se livrar. Então começa:

— Oh! A bateria está pifando... olha, se a ligação cair, depois eu ligo.

E bate o telefone na cara do outro, a salvo!

Excesso de trabalho também funciona. O problema é quando uma desculpa óbvia se contrapõe a outra mais óbvia ainda. Como quando o casal se encontra, depois de um cano.

— Desculpa ter deixado você esperando ontem à noite, querida. Surgiu um projeto super urgente, fiquei até tarde trabalhando. Nem me aguento em pé — diz ele, aproveitando para disfarçar as olheiras e os sinais de ressaca. .    .

— Ah, meu amor, eu até fiquei preocupada! Houve um problema nas linhas do bairro. Para cúmulo, a bateria do celular pifou. Então... se você tentou ligar... — responde ela, inocentemente.

Os dois se olham, imperturbáveis. E agora?

A sorte foi que não deram de cara um com o outro na farra!

Os tempos mudam. A tecnologia dos pretextos evolui. A desculpa ganha roupa nova. Mas dificilmente muda a aparência. Desculpa que é desculpa, sempre tem jeito de esfarrapada!

Entendendo o texto

01. O autor menciona que, em época de vacas magras, instruía o pessoal de casa a dizer que ele estava:

a) Fazendo exercícios.

 b) No trabalho.

 c) No banho.

 d) Cozinhando.

02. Por que o autor ganhou a fama de ser o homem mais limpo da cidade?

        a) Por tomar banho constantemente.

        b) Por estar sempre no banho quando ligavam.

        c) Por sua reputação como um grande chef.

        d) Por seu interesse em produtos de limpeza.

03. Qual estratagema o autor utiliza para evitar ligações durante suas consultas de terapia?

        a) Estar no trânsito.

        b) Estar em um túnel.

        c) Estar no cinema.

        d) Estar em uma reunião.

04. Antes da revolução das comunicações, qual era uma desculpa comum para evitar ligações?

        a) Estar em outra cidade.

        b) Estar no trabalho.

        c) Estar no banho.

        d) Estar em um interurbano.

05. Segundo o autor, qual desculpa ainda funciona e confere status?

         a) Problemas nas linhas telefônicas.

         b) Bateria do celular pifada.

         c) Reunião com o diretor.

         d) Excesso de trabalho.

06. Qual estratégia o autor menciona como entrando em moda para evitar ligações?

         a) Problema nas linhas telefônicas.

         b) Bateria do celular pifada.

         c) Excesso de trabalho.

         d) Linhas do bairro incomunicáveis.

07. O que o autor menciona como estratégia quando a bateria do celular pifa?

         a) Pedir para ligar depois.

         b) Encerrar a ligação imediatamente.

         c) Continuar a conversa mesmo sem bateria.

         d) Trocar de celular.

08. Segundo o autor, o que costuma acontecer quando uma desculpa óbvia se contrapõe a outra mais óbvia ainda?

        a) A pessoa se irrita.

         b) Ambas são aceitas sem questionamento.

         c) A verdade é revelada.

         d) Um impasse surge.

09. O que o autor menciona como motivo para o casal se desculpar mutuamente após um cano?

         a) Projeto super urgente.

         b) Problema nas linhas do bairro.

         c) Bateria do celular pifada.

         d) Excesso de trabalho.

10. Qual é a conclusão do autor sobre as desculpas?

        a) Elas sempre têm uma aparência esfarrapada.

        b) Elas evoluem com a tecnologia.

        c) Elas mudam conforme os tempos.

        d) Elas são sempre inquestionáveis.

 

CRÔNICA: CULINÁRIA AFETIVA - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Culinária Afetiva

                 Walcyr Carrasco

 CERTOS PRATOS SÃO TÃO IMPORTANTES quanto um abraço de amor. Nunca esquecerei do pudim de queijo de minha avó. Era uma grande cozinheira essa avó. Seu pudim de leite era massudo, com queijo parmesão, com um delicioso contraste entre doce e salgado. 

 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPMAn7lioLhNukVa-yh8h_cHbdT-OPOMKu1sw5HdYT3OemZGQotv3As-Dy8c3Viu73o6SC8Ur1q7QZbCoA4BuDzsyjYLHam1LmET7bFut5w1h1YskfonIq5DJhAB5ORZ9QSOL6I8rkjD2Js3P0VMoit97B1ZD_vvICn0v5SxMMNxoTLfue8Lb1MCisvSs/s320/PUDIM.jpg


Até hoje, quando me oferecem pudim, eu aceito, na esperança de recuperar o mesmo sabor. Nenhum neto esqueceu essa avó, que nas épocas festivas enchia a mesa com cabrito assado, leitão, frangos recheados com farofa, doces de todo tipo. 

Entretanto, os filhos e noras —- meus pais e meus tios —- temiam a cozinheira. Inexplicavelmente, certa vez minha avó confundiu parte da farinha com veneno em pó e quase matou a família inteira com uma fornada de rosquinhas. Salvaram-se as crianças pôr serem muito pequenas. Só comiam papinha. Desde então os adultos viviam ressabiados cada vez que ganhavam uma lata de biscoitos de anis. Eu, nunca! Basta comer um bom pudim para sentir o calor dos beijos e abraços de minha avó.

Minha mãe fazia pão. Se ficava nervosa, ia para a cozinha surrar a massa. Eram pães gordinhos como pés. Bons para comer quentinhos, com manteiga e café. E uma receita difícil de encontrar. Ainda bem. Seria incômodo começar a fungar diante de cada pãozinho francês que me aparecesse pela frente. A filha de uma amiga adora gatos. Compartilha a ração dos felinos. Garante que tem um agradável sabor de peixe. Amo meus cães. Mas ainda não sou capaz de roer um osso. Quem sabe com terapia eu consiga vencer essa última resistência.

Inesquecível a primeira vez em que vi a empregada da vizinha fazer bala de coco. A massa branca rolando de um braço para o outro. Juro. Não há coisa mais linda. Uma empregada da minha infância fazia um ovo frito perfeito. A clara branca e a gema rosada no meio. Dá fome só de lembrar. Também não vou esquecer da primeira vez em que cozinhei para os amigos. O objetivo: frango ao molho roquefort. Diretamente do livro de receitas. Por engano, comprei um galo. Parecia um frango gigante. Achei bom. Observando melhor, concluí que era um galo. Em pleno domingo de manhã, saí caçando um frango. Consegui segundos antes de os convidados chegarem. Cortei e temperei às pressas. Acendi o fogo. Segundos depois, acabou o gás. Ah, os botijões! São incontroláveis! Não tinha reserva. Saímos todos batendo nos vizinhos, pedindo gás emprestado. Nada! Lembrei de um fogãozinho de acampamento que eu tinha. Lá ficou o frango horas e horas. Os convidados rugindo de fome. Ao chegar ao ponto, atiraram-se na panela como lobos. Até hoje não sei se era bom ou ruim. Foi, sim, um começo primoroso! Convidados famintos sempre elogiam o cardápio, haja o que houver.

Entre todos os pratos, jamais esquecerei de uma torta que comi em uma viagem. Era um grupo de jovens hospedado em um antigo internato japonês. Todos os dias tomávamos banho de furo, em grupo. Um dia os rapazes iam primeiro, no outro as garotas. Certa vez elas demoraram tanto que as esperamos do lado de fora, com toalhas molhadas. Foi uma perseguição, com todas correndo, gritando, segurando as próprias toalhas, e os rapazes gritando e assustando. No jantar do dia seguinte, uma torta verde, deliciosa. Comi vários pedaços, guloso. Ao final, a revelação.

— A torta é de capim! 

Riram, vingadas!

Essa torta de capim ficou para sempre, com esses dias gloriosos no campo. Em culinária, o afeto e os bons momentos são sempre um tempero sem igual.

Comida boa é a que fica no coração.

Entendendo o texto

01. O autor associa certos pratos a:

a) Abraços de amor.

b)Cheiros agradáveis.

c) Viagens emocionantes.

d) Lembranças tristes.

02. Qual o contraste destacado no pudim de leite da avó?

         a) Doce e amargo.

         b) Doce e salgado.

         c) Amargo e salgado.

         d) Doce e picante.

03.Por que os filhos e noras temiam a avó cozinheira?

         a) Por suas habilidades culinárias.

         b) Por seu temperamento explosivo.

         c) Por sua aversão a biscoitos de anis.

         d) Por ter confundido farinha com veneno em pó.

04. O que a mãe do autor fazia quando ficava nervosa?

         a) Ia ao cinema.

         b) Limpava a casa.

         c) Surrava a massa do pão.

         d) Pedia comida pronta.

05. Qual é a resistência mencionada pelo autor em relação aos ossos?

         a) Roer um osso.

         b) Partir um osso.

         c) Cozinhar ossos.

         d) Enterrar ossos.

06. O que o autor achou lindo na primeira vez que viu a empregada da vizinha fazer?

         a) Um bolo de chocolate.

         b) Um pudim de leite.

         c) Uma bala de coco.

         d) Uma torta de capim.

07. Qual receita o autor tentou fazer para os amigos, por engano comprou um galo e teve problemas com o gás?

         a) Lasanha.

         b) Frango ao molho roquefort.

         c) Risoto de cogumelos.

         d) Sopa de legumes.

08. Como os convidados reagiram ao frango ao molho roquefort?

        a) Elogiaram e pediram a receita.

        b) Rejeitaram e saíram para comer fora.

        c) Riram e se divertiram com a situação.

        d) Ficaram irritados e foram embora.

09. O que revelou a torta que o autor comeu em uma viagem?

        a) Ser feita por um chef renomado.

        b) Ser de um ingrediente inusitado.

        c) Ser uma receita antiga da avó.

        d) Ser a especialidade do lugar.

10. O que o autor destaca como tempero sem igual na culinária?

        a) Sal e pimenta.

        b) Afeto e bons momentos.

        c) Ervas aromáticas.

        d) Molhos especiais.