quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

ANEDOTA: DUAS PEÇAS - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Anedota: Duas peças

               Luís Fernando Veríssimo

Pai e Filha, 1951, 52, por aí.
PAI – Minha filha, você vai usar... isso?
FILHA – Vou, pai.
PAI – Mas aparece o umbigo!
FILHA – Que que tem?
PAI – Você vai andar por aí com o umbigo de fora?
FILHA – Por aí, não. Só na praia. Todo mundo está usando duas-peças, pai.
PAI – Minha filha... Pelo seu pai. Pelo nome da família. Pelo seu bom nome. Use maiô de uma peça só.
FILHA – Não quero!
PAI – Então este ano não tem praia!
FILHA – Mas pai!

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsEnbKmVEcO8ElmR0FCr52RvjMElt5-dV3z8RlbDeh-dtFs8Vye_-c-h9IHCUvHPnFSU8AFJTBxlVZm6yRtoqeV70akpGB4M_hZwu7wpcs0ttJ-1JGEguR3IW0ve7rPp_XFnHz2npN5UtHr2knmkfqYJ4eUDjFXCHdDQv4TXrRkAhL3fItTJqaSh9kBe8/s320/anedotas-o-que-e-5-anedotas-hilarias-para-voce-se-divertir-com-a-gente.jpeg



Pai e filha, 1986.
FILHA – Pai, vou usar maiô de uma peça.
PAI – Muito bem, minha filha. Gostei da sua independência. Por que ser como todas as outras? Uma peça. Ótimo. Você até vai chamar mais atenção.
FILHA – Só não decidi ainda qual das duas, a de cima ou a de baixo.

Luís Fernando Veríssimo. Zoeira. 5 ed. Porto Alegre: L&PM, 1987. P. 67.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 289.

Entendendo a anedota:

01 – Qual é o tema central da anedota "Duas Peças"?

       O tema central da anedota é a mudança de costumes e a relação entre pais e filhos ao longo do tempo, especialmente em relação à moda e ao comportamento.

02 – Descreva a situação apresentada na primeira parte da anedota (1951/52).

      Na primeira parte da anedota, um pai expressa sua preocupação com o fato de sua filha usar um traje de banho de duas peças, que mostra o umbigo. Ele apela para o bom nome da família e pede que ela use um maiô de uma peça só, ameaçando inclusive proibir a ida à praia caso ela não ceda.

03 – O que motivou a mudança de comportamento do pai na segunda parte da anedota (1986)?

      Na segunda parte da anedota, o pai demonstra uma mudança de comportamento ao elogiar a filha por usar um maiô de uma peça, incentivando sua independência e individualidade. A mudança de comportamento do pai reflete uma mudança nos costumes e na forma como a sociedade encara a exposição do corpo.

04 – Qual é a reação da filha na segunda parte da anedota e qual o efeito cômico?

      Na segunda parte da anedota, a filha responde com ironia, dizendo que ainda não decidiu qual das duas peças do maiô de uma peça irá usar, se a de cima ou a de baixo. A resposta da filha cria um efeito cômico ao subverter a expectativa do pai e mostrar que a preocupação com a "modéstia" continua, mesmo com a mudança de costumes.

05 – Qual é a crítica presente na anedota "Duas Peças"?

      A anedota "Duas Peças" critica a hipocrisia e o conservadorismo de algumas pessoas, que se preocupam excessivamente com a aparência e com o que os outros vão pensar, muitas vezes ignorando a individualidade e a liberdade de expressão dos filhos. Além disso, a anedota também critica a mudança de valores ao longo do tempo, mostrando como o que era considerado "inapropriado" em uma época pode se tornar comum e aceitável em outra.

 

TEXTO: DIFERENÇA ENTRE O CARNAVALESCO, O TÉCNICO DE FUTEBOL E O MARQUETEIRO POLÍTICO - VEJA - COM GABARITO

 Texto: Diferença entre o carnavalesco, o técnico de futebol e o marqueteiro político

        Que há em comum entre o carnavalesco, o técnico de futebol e o marqueteiro político? Primeiro: eles não entram em campo. São, por natureza, profissionais de ensaios e bastidores. Segundo: não se prendem à cor da camisa. Podem defender um time, escola ou candidato hoje, e amanhã o time, escola ou candidato oposto. Terceiro: cada vez mais, roubam o espetáculo. Os imperativos de discrição e de silêncio que seriam de supor em quem ali está para preparar e coordenar o espetáculo, mas não é o espetáculo, têm sido largamente superados pela compulsão da exposição e pela sofreguidão dos egos. 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgN0IarmTL2zqZirHjgJ-EjHfma-gSgXhQGiikr0XbHzGZERl1EcFLqRKHYKc4_0ZSkfGovvrC9ziTFHYmXOqWlawn_jEX_dF0giq1F582_eC522r-Ym32PRQymWWq1eMN8IQZBSePjhNACL9SLGX26uSNQo8dFUPTHHqt1YCKKJXcYnu1XwGkNa8tUFpY/s320/R%C3%A9gi.jpg


        O carnavalesco, até alguns anos atrás, era um desconhecido. Um pobre funcionário de segundo plano, mais desconhecido que a mais humilde das integrantes da ala das baianas, mais ainda que o gari que limpa a pista depois da passagem da escola. Foi então que, em 1976, com um primor de desfile, na Beija-Flor de Nilópolis, e a frase que lhe foi atribuída ("Pobre gosta de luxo. Quem gosta de pobreza é intelectual"), Joãosinho Trinta deu corpo e alma à profissão.

        O técnico de futebol nunca foi um desconhecido. Sempre foi profissional prestigiado. Mas era um participante discreto no conjunto do espetáculo. Mais propriamente, era invisível. De uns anos para cá, desde que o técnico foi liberado para ficar junto ao campo e dar instruções durante o jogo, a profissão mudou de natureza. O técnico virou parte do show.

        Bem, se os carnavalescos e os técnicos adquiriram tais culminâncias, que dizer dos marqueteiros? Seu prestígio é tal que aumenta a cada dia o reclamo de que Duda Mendonça e Nizan Guanaes se enfrentem diretamente nas urnas. "Chega de intermediários!" Guanaes é um profissional que fez decolar uma candidata com base em uma única qualidade: a de ser mulher. Roseana, diga-se, nesse ponto tem todo o merecimento, pois realmente é mulher. Não está fingindo, como tantos políticos fazem. Já Duda Mendonça foi além do que iria um técnico. Ao mudar de Paulo Maluf para Lula, não é que tenha trocado o Corinthians pelo Palmeiras, o Flamengo pelo Vasco ou o Atlético pelo Cruzeiro. É muito mais. Trocou Deus pelo diabo. Ou o diabo por Deus – decida o leitor quem, entre os destinatários da troca, merece o papel de Deus e quem do diabo.

Veja, n. 1734, jan. 2002.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 340-341.

Entendendo o texto:

01 – Quais são os três pontos em comum entre o carnavalesco, o técnico de futebol e o marqueteiro político, segundo o texto?

      Não entram em campo: São profissionais que atuam nos bastidores, preparando e coordenando o espetáculo, mas não são o espetáculo em si.

      Não se prendem à cor da camisa: Podem trabalhar para diferentes times, escolas de samba ou candidatos, sem fidelidade a uma única bandeira.

      Roubam o espetáculo: A busca por exposição e reconhecimento tem feito com que esses profissionais se destaquem mais do que deveriam, ultrapassando os limites da discrição.

02 – Como Joãosinho Trinta contribuiu para a mudança na percepção sobre os carnavalescos?

      Joãosinho Trinta, com um desfile inovador na Beija-Flor de Nilópolis em 1976 e a frase "Pobre gosta de luxo. Quem gosta de pobreza é intelectual", transformou a imagem do carnavalesco de um funcionário desconhecido para um artista criativo e importante.

03 – Qual foi a principal mudança na atuação dos técnicos de futebol nos últimos anos?

      A principal mudança foi a permissão para que os técnicos ficassem à beira do campo durante os jogos, dando instruções. Isso os transformou em parte do espetáculo, com maior visibilidade e protagonismo.

04 – O que o autor destaca sobre o prestígio dos marqueteiros políticos?

      O autor destaca que o prestígio dos marqueteiros políticos é tão grande que há quem defenda que eles mesmos deveriam se candidatar, em vez de apenas trabalharem nos bastidores. Cita Duda Mendonça e Nizan Guanaes como exemplos de marqueteiros de destaque.

05 – Qual é a comparação feita pelo autor em relação à mudança de lado de Duda Mendonça na política?

      O autor compara a mudança de Paulo Maluf para Lula como uma troca muito mais drástica do que trocar de time de futebol. Ele usa uma metáfora religiosa, questionando quem seria Deus e quem seria o diabo nessa troca, deixando a interpretação para o leitor.

 

TEXTO: TEATRO E ESCOLA - O PAPEL DE EDUCAR - CILEY CLETO - COM GABARITO

 Texto: TEATRO E ESCOLA – O PAPEL DE EDUCAR

        Teatro e escola, em princípio, parecem ser espaços distintos, que desenvolvem atividades completamente diferentes. Em contraposição ao ambiente normalmente fechado da sala de aula e aos seus assuntos pretensamente “sérios”, o teatro se configura como um espaço de lazer e diversão. Entretanto, se examinarmos as origens do teatro, ainda na Grécia antiga, veremos que teatro e escola sempre caminharam juntos, mais do que se imagina. 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglKk1kfG1dIVhWEL5oliVDVLQERf20msRffuXEnUAhd5of6HkL4nd9CMIWZUpoYma5xjo3TVqQbKH6ISSe_u30dHm4FiK_DaCUPI7r0c1UsIoP4_cwpYj47J0VMfblfcvvkbnREnC5VE-WNFSent08YmOc3P1LFwX1gTa8oUpAghMbdweAOrEQl7Jr-cA/s1600/TEATRO.jpg 


        O teatro grego apresentava uma função eminentemente pedagógica. Com suas tragédias, Sófocles e Eurípedes não visavam apenas à diversão da plateia, mas também e, sobretudo, pôr em discussão certos temas que dividiam a opinião pública naquele momento de transformação da sociedade grega. Poderia um filho desposar a própria mãe, depois de ter assassinado o pai de forma involuntária (tema de Édipo rei)? Poderia uma mãe assassinar os filhos e depois matar-se por causa de um relacionamento amoroso (tema de Medeia e ainda atual, como comprova o caso da cruel mãe americana que, há alguns anos, jogou os filhos no lago para poder namorar mais livremente)? 

        Naquela sociedade, que vivia a transição dos valores míticos, baseados na tradição religiosa, para os valores da polis, isto é, aqueles resultantes da formação do Estado e suas leis, o teatro cumpria um papel político e pedagógico, à medida que punha em xeque e em choque essas duas ordens de valores e apontava novos caminhos para a civilização grega. “Ir ao teatro”, para os gregos, não era apenas diversão, mas uma forma de refletir sobre o destino da própria comunidade em que se vivia, bem como sobre valores coletivos e individuais. 

        Deixando de lado as diferenças obviamente existentes em torno dos gêneros teatrais (tragédia, comédia, drama), em que o teatro grego, quanto a suas intenções, diferia do teatro moderno? Para Bertolt Brecht, por exemplo, um dos mais significativos dramaturgos modernos, a função do teatro era, antes de tudo, divertir. Apesar disso, suas peças tiveram um papel essencialmente pedagógico, voltadas para a conscientização de trabalhadores e para a resistência política na Alemanha nazista dos anos 30 do século XX.

        O teatro, ao apresentar situações de nossa própria vida – sejam elas engraçadas, trágicas, políticas, sentimentais, etc. –, põe o homem a nu, diante de si mesmo e de seu destino. Talvez na instantaneidade e na fugacidade do teatro resida todo o encanto e sua magia: a cada representação, a vida humana é recontada e exaltada. O teatro ensina, o teatro é escola. É uma forma de vida de ficção que ilumina com seus holofotes a vida real, muito além dos palcos e dos camarins. 

        Que o teatro seja uma forma alternativa de ensino e aprendizagem é inegável. A escola sempre teve muito a aprender com o teatro, assim como este, de certa forma, e em linguagem própria, complementa o trabalho de gerações de educadores, preocupados com a formação plena do ser humano. 

        Quisera as aulas também pudessem ter o encanto do teatro: a riqueza dos cenários, o cuidado com os figurinos, o envolvimento da música, o brilho da iluminação, a perfeição do texto e a vibração do público. Vamos ao teatro! 

Ciley Cleto, professora de Língua Portuguesa, em São Paulo. Disponível: IFCE. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará- Coordenadoria Geral de Seleção e Concursos vestibular 2011.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 445-446.

Entendendo o texto:

01 – Qual é a aparente contradição entre teatro e escola apontada no texto?

      O texto aponta que teatro e escola parecem ser espaços distintos, com atividades diferentes. A escola é vista como um ambiente fechado com assuntos "sérios", enquanto o teatro é associado a lazer e diversão.

02 – Qual é a origem da ligação entre teatro e escola, segundo o texto?

      O texto afirma que a ligação entre teatro e escola remonta à Grécia antiga, onde o teatro tinha uma função pedagógica importante.

03 – Qual era a função do teatro na Grécia antiga?

      O teatro grego não servia apenas para diversão, mas também para discutir temas que dividiam a opinião pública e questionar valores da sociedade em transformação. Era uma forma de reflexão sobre o destino da comunidade e os valores coletivos e individuais.

04 – Qual é a diferença entre o teatro grego e o teatro moderno em relação às suas intenções?

      O teatro grego, especialmente a tragédia, tinha uma intenção pedagógica e política, enquanto o teatro moderno, como o de Bertolt Brecht, pode ter como objetivo principal o entretenimento. No entanto, mesmo buscando divertir, o teatro moderno pode ter um papel pedagógico, como o teatro de Brecht, que visava à conscientização política.

05 – Qual é a principal característica do teatro que o torna uma forma alternativa de ensino e aprendizagem?

      O teatro tem a capacidade de apresentar situações da vida real de forma ficcional, o que permite ao espectador se colocar diante de si mesmo e refletir sobre seu destino. A experiência teatral é única e efêmera, mas pode ter um impacto duradouro na vida das pessoas.

06 – O que a escola pode aprender com o teatro, segundo o texto?

      A escola pode aprender com o teatro a tornar o ensino mais envolvente e interessante, utilizando recursos como cenários, figurinos, música, iluminação e textos bem elaborados. O teatro pode servir de inspiração para criar aulas mais dinâmicas e participativas.

07 – Qual é a mensagem final do texto sobre a relação entre teatro e escola?

      O texto conclui que teatro e escola são espaços que se complementam na formação do ser humano. O teatro é uma forma de ensino e aprendizagem alternativa que pode enriquecer a experiência escolar e contribuir para a formação de cidadãos mais críticos e conscientes.

 

POESIA: TUDO QUE CESSA - RICARDO REIS - COM GABARITO

 Poesia: Tudo que cessa

             Ricardo Reis

Tudo que cessa é morte, e a morte é nossa

Se é para nós que cessa. Aquele arbusto

        Fenece, e vai com ele

        Parte da minha vida.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1rNdLrm5CYcEjKaupDGoo971wqZ3Hrz220vvBWB4lhoNV5mnCmJ9jComVqJ5ZLPgCr7Cc8KyWjOtOxa9e1Ar2s4Z2TxsOHatMiRwrOgQP08xjwYF6xnkkKgYxXbUYSuXmEussN-gKwmyA8L-QbM1IoMoaz6T6o1afhOqIBQV5bMXyVj_cxHcg-dvOX6Q/s320/PASSA.jpg


Em tudo quanto olhei fiquei em parte.

Com tudo quanto vi, se passa, passo,

        Nem distingue a memória

        Do que vi do que fui.

A cada qual, como a statura, é dada

        A justiça: uns faz altos

        O fado, outros felizes.

Nada é prêmio: sucede o que acontece.

         Nada, Lídia, devemos

         Ao fado, senão tê-lo.

Ricardo Reis, in "Odes". Heterónimo de Fernando Pessoa.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 381.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o tema central do poema "Tudo Que Cessa"?

      O tema central do poema é a reflexão sobre a brevidade da vida, a inevitabilidade da morte e a natureza efêmera de todas as coisas. O poeta expressa a consciência de que tudo o que existe está sujeito à mudança e ao desaparecimento, e como essa percepção afeta a sua própria existência.

02 – Como o poeta descreve a relação entre a morte e a vida no poema?

      O poeta descreve a morte como algo intrínseco à vida, uma vez que tudo que cessa representa uma pequena morte. Ele usa a imagem de um arbusto que fenece para ilustrar como a passagem do tempo e o desaparecimento das coisas fazem parte da experiência humana, e como a vida do poeta está ligada a essa transformação constante.

03 – Qual é a importância da memória no poema "Tudo Que Cessa"?

      A memória desempenha um papel fundamental no poema, pois é através dela que o poeta tenta preservar as experiências e as impressões do passado. No entanto, ele reconhece que a memória é falha e não consegue distinguir com precisão o que foi vivido do que foi apenas imaginado ou lembrado.

04 – O que o poeta quer dizer com a expressão "Nada é prêmio: sucede o que acontece"?

      Com essa expressão, o poeta enfatiza a ideia de que a vida não é uma recompensa ou um castigo, mas sim uma sequência de eventos que ocorrem sem um propósito específico. Ele questiona a noção de destino e justiça, argumentando que o fado (ou destino) não determina o que acontece conosco, mas sim a forma como lidamos com as circunstâncias da vida.

05 – Qual é a mensagem final do poema "Tudo Que Cessa"?

      A mensagem final do poema é um convite à aceitação da natureza transitória da vida e à valorização do presente. O poeta nos convida a reconhecer que a morte faz parte da experiência humana e que devemos nos concentrar em viver o agora, sem nos preocuparmos excessivamente com o futuro ou com o que está além do nosso controle.

 

 

ROMANCE: SÃO BERNARDO - (FRAGMENTO) - GRACILIANO RAMOS - COM GABARITO

 Romance: São Bernardo – Fragmento

                 Graciliano Ramos  

        [...]            

        “Sou um homem arrasado. Doença! Não. Gozo de perfeita saúde. Quando o Costa Brito, por causa de duzentos mil réis que me queria abafar, vomitou os dois artigos, chamou-me doente, aludindo a crimes que me imputam. O Brito da Gazeta era uma besta. Até hoje, graças a Deus, nenhum médico me entrou em casa. Não tenho doença nenhuma.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVJVV7zme98JHAPizk1SQpMB4zITRKinlZT2pH2MXYv3QbVl1HRsO-Pm6sqzsveWlyRW3mHI1MRzqyXgvjRZaCq_xt3_e7WGZvBGGEhF7EpZ9fbu9Avb4MF4dTnRicCM1FUwKWVYo0knrzuECdCJAlegYXVkQxO-8zAjtNFzRW4-b3Zei8f1XAFwoXfQM/s320/Sao-bernardo-graciliano-ramos-1-edico.jpg


        O que estou é velho. Cinquenta anos pelo São Pedro. Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão que penetra esta casaca espessa e vê ferir cá dentro a sensibilidade embotada.

        Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma pessoa a vida inteira sem saber para quê! Comer e dormir como um porco! Levantar-se cedo todas as manhãs e sair correndo, procurando comida! E depois guardar para os filhos, para os netos, para muitas gerações. Que estupidez! Que porcaria! Não é bom vir o diabo e levar tudo? 

        [...]

        As janelas estão fechadas. Meia-noite. Nenhum rumor na casa deserta.

        Levanto-me, procuro uma vela, que a luz vai apagar-se. Não tenho sono. Deitar-me rolar no colchão até a madrugada, é uma tortura. Prefiro ficar sentado, concluindo isto. Amanhã não terei com que me entreter.

        Ponho a vela no castiçal, risco um fósforo e acendo-o. sinto um arrepio. A lembrança de Madalena persegue-me. Diligencio afastá-la e caminho em redor da mesa. Aperto as mãos de tal forma que me firo com as unhas, e quando caio em mim estou mordendo os beiços a ponto de tirar sangue.    

        De longe em longe sento-me fatigado e escrevo uma linha. Digo em voz baixa:

        – Estraguei a minha vida, estraguei-a estupidamente.

        A agitação diminui.

        – Estraguei a minha vida estupidamente.

        Penso em Madalena com insistência. Se fosse possível recomeçarmos... Para que enganar-me? Se fosse possível recomeçarmos aconteceria exatamente o que aconteceu. Não consigo modificar-me, é o que mais me aflige.

        A molecoreba de Mestre Caetano arrasta-se por aí, lambuzada, faminta. A Rosa, com a barriga quebrada de tanto parir, trabalha em casa, trabalha no campo e trabalha na cama. O marido é cada vez mais molambo. E os moradores que me restam são uns cambembes como ele.         

        Para ser franco, declaro que esses infelizes não me inspiram simpatia. Lastimo a situação em que se acham, reconheço ter contribuído para isso, mas não vou além. Estamos tão separados! A princípio estávamos juntos, mas esta desgraçada profissão nos distanciou.

        Madalena entrou aqui cheia de bons sentimentos e bons propósitos. Os sentimentos e os propósitos esbarraram com a minha brutalidade e o meu egoísmo.     

        Creio que nem sempre fui egoísta e brutal. A profissão é que me deu qualidades tão ruins.      

        E a desconfiança terrível, que me aponta inimigos em toda a parte!

        A desconfiança é também consequência da profissão.

        Foi este modo de vida que me inutilizou. Sou um aleijado. Devo ter um coração miúdo, lacunas no cérebro, nervos diferentes dos nervos dos outros homens. E um nariz enorme, uma boca enorme, dedos enormes.

        Se Madalena me via assim, com certeza me achava extraordinariamente feio.

        Fecho os olhos, agito a cabeça para repelir a visão que me exibe essas deformidades monstruosas.

        A vela está quase a extinguir-se.

        Julgo que delirei e sonhei com atoleiros, rios cheios e uma figura de lobisomem.

        Lá fora há uma treva dos diabos, um grande silêncio. Entretanto o luar entra por uma janela fechada e o nordeste furioso espalha folhas secas no chão.

        É horrível! Se aparecesse alguém... Estão todos dormindo.

        Se ao menos a criança chorasse... Nem sequer tenho amizade a meu filho. Que miséria!

        Casimiro Lopes está dormindo, Marciano está dormindo. Patifes!

        E eu vou ficar aqui, às escuras, até não sei que hora, até que, morto de fadiga, encoste a cabeça à mesa e descanse uns minutos.”

        [...]

13. ed. Martins Fontes: São Paulo, 1970. p. 241 e 246-8.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 410-411.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

      -- Imputar: atribuir.

      -- Diligenciar: esforçar-se, empenhar-se.

      -- Molecoreba: molecada.

      -- Cambembe: desajeitado, desastrado, sem importância.

      -- Nordeste: vento.

02 – Quem é o narrador e protagonista do romance?

      O narrador e protagonista é Paulo Honório, um homem de negócios ambicioso e de origem humilde que enriquece à custa de muito trabalho e de métodos nem sempre éticos.

03 – Qual é o principal tema do romance?

      O principal tema do romance é a trajetória de Paulo Honório, desde a sua ascensão social e econômica até a sua decadência moral e pessoal. A obra também aborda temas como a ambição, o poder, a solidão, o arrependimento e a crítica à sociedade agrária e escravista do início do século XX.

04 – Qual é o papel de Madalena na história?

      Madalena é a professora que se casa com Paulo Honório e que representa a consciência crítica do romance. Ela é uma mulher sensível e idealista que se contrapõe à brutalidade e ao egoísmo do marido.

05 – O que representa a fazenda São Bernardo para Paulo Honório?

      A fazenda São Bernardo representa o símbolo da ascensão social e do poder de Paulo Honório. Ele a adquire com muito esforço e a transforma em um próspero negócio, mas também em um lugar de solidão e de conflitos.

06 – Qual é a relação de Paulo Honório com os outros personagens do romance?

      Paulo Honório mantém relações complexas e ambivalentes com os outros personagens. Ele se mostra um homem frio e calculista, capaz de usar e manipular as pessoas para atingir seus objetivos. Ao mesmo tempo, ele demonstra ter momentos de arrependimento e de fragilidade.

07 – Qual é o papel da linguagem no romance?

      A linguagem de Graciliano Ramos é marcada pela concisão, pela objetividade e pela expressividade. O autor utiliza uma linguagem crua e realista para retratar a vida e os costumes da sociedade sertaneja.

08 – Quais são os principais conflitos enfrentados por Paulo Honório?

      Paulo Honório enfrenta diversos conflitos ao longo do romance. O principal deles é o conflito entre a sua ambição e a sua consciência. Ele também enfrenta conflitos com Madalena, com os outros personagens e com a própria fazenda São Bernardo.

09 – Qual é o desfecho do romance?

      O romance termina com a morte de Paulo Honório, que se isola cada vez mais em sua fazenda e se torna um homem amargurado e solitário. O seu fim trágico é uma reflexão sobre os limites da ambição e do poder.

10 – Qual é a importância de "São Bernardo" na obra de Graciliano Ramos?

      "São Bernardo" é considerado um dos romances mais importantes de Graciliano Ramos e da literatura brasileira. A obra marca uma nova fase na produção do autor, com uma narrativa mais intimista e introspectiva.

11 – Qual é a mensagem principal do romance?

      A mensagem principal do romance é a de que a ambição e o poder podem levar à destruição do ser humano. A história de Paulo Honório é um alerta sobre os perigos do egoísmo, da brutalidade e da falta de consciência.

 

 

POEMA: O ENGENHEIRO - A ANTÔNIO B. BALTAR - COM GABARITO

 Poema: O engenheiro

             A Antônio B. Baltar

A luz, o sol, o ar livre
envolvem o sonho do engenheiro.
O engenheiro sonha coisas claras:
superfícies, tênis, um copo de água.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEMQ1JsRrxPwzi0AI_sKQWPA59ZPd1qzjqLV0e0NaW6nK6vyQa6MannAZr0UC-srmXpd62P4QHk9dQWHH-dOyeukQUkP4iaXJfLnVoxFKHcumAmFXI8gEIEr2Gu9hIt5dHjSjpKPuGBcRDq7KLMiLeIKVWDlrSfck8ZbanS7_pwrqBzjjrbwcHWU_KAps/s320/ENGE.jpg



O lápis, o esquadro, o papel;
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre.

(Em certas tardes nós subíamos
ao edifício. A cidade diária,
como um jornal que todos liam,
ganhava um pulmão de cimento e vidro.)

A água, o vento, a claridade,
de um lado o rio, no alto as nuvens,
situavam na natureza o edifício
crescendo de suas forças simples.

Poesias completas. 3. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1979, p. 344.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 467.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a principal imagem que o poema evoca em relação ao trabalho do engenheiro?

      O poema evoca a imagem do engenheiro como um sonhador prático, que transforma ideias abstratas em realidades concretas. Ele é um profissional que lida com elementos tangíveis como lápis, esquadro e papel, mas que também possui uma visão idealista de um mundo justo e ordenado.

02 – Como o poema relaciona o trabalho do engenheiro com a natureza?

      O poema estabelece uma conexão entre o trabalho do engenheiro e a natureza ao descrever o edifício como algo que "cresce de suas forças simples" e se integra à paisagem, com o rio de um lado e as nuvens no alto. A água, o vento e a claridade são elementos naturais que envolvem o sonho do engenheiro e influenciam sua criação.

03 – Qual é o significado do verso "o engenheiro pensa o mundo justo, mundo que nenhum véu encobre"?

      Esse verso revela a visão idealista do engenheiro, que busca construir um mundo mais justo e transparente através de seu trabalho. O "véu" que encobre o mundo pode representar a desigualdade, a injustiça e a falta de clareza, elementos que o engenheiro deseja combater com seus projetos.

04 – O que o poema sugere sobre a relação entre a cidade e o trabalho do engenheiro?

      O poema sugere que o trabalho do engenheiro é fundamental para o desenvolvimento da cidade. A construção de edifícios, como o que é descrito no poema, representa um avanço para a cidade, que ganha "um pulmão de cimento e vidro". O engenheiro, portanto, é um agente de transformação urbana.

05 – Qual é o tom geral do poema "O Engenheiro"?

      O tom geral do poema é de exaltação ao trabalho do engenheiro, destacando sua capacidade de materializar sonhos e transformar a realidade. O poema também expressa a admiração do poeta pela visão idealista do engenheiro e sua busca por um mundo mais justo.

 

MÚSICA(ATIVIDADES): TROPICÁLIA - CAETANOS VELOSO - COM GABARITO

 Música(Atividades): Tropicália

             Caetano Veloso

Quando Pero Vaz Caminha
Descobriu que as terras brasileiras
Eram férteis e verdejantes
Escreveu uma carta ao rei
Tudo que nela se planta
Tudo cresce e floresce
E o Gauss da época gravou

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPJZtK4EdVJWOgYGY-vZbMUm02PnbGRh6hnrJNKmZ3X2q6Eye6CuupwCKC8rJF2WJAYwyZkIsjqTBKZv8J3I1iq6iBWqRvhWQ2IDioDLI1G1Vkh7h1J-0fS_o3rpHemCb5qdXm5pLBpd_SqBt-Ia7S5XhqJkZzBHW4XLqCF6k2hwq1zQw20ZeWGYRZugY/s320/trop.jpg

Sobre a cabeça, os aviões
Sob os meus pés, os caminhões
Aponta contra os chapadões
Meu nariz

Eu organizo o movimento
Eu oriento o Carnaval
Eu inauguro o monumento
No Planalto Central do país

Viva a Bossa, sa, sa
Viva a Palhoça, ça, ça, ça, ça
Viva a Bossa, sa, sa
Viva a Palhoça, ça, ça, ça, ça

O monumento
É de papel crepom e prata
Os olhos verdes da mulata
A cabeleira esconde
Atrás da verde mata
O luar do sertão

O monumento não tem porta
A entrada é uma rua antiga
Estreita e torta
E no joelho uma criança
Sorridente, feia e morta
Estende a mão

Viva a mata, tá, tá
Viva a mulata, tá, tá, tá, tá
Viva a mata, tá, tá
Viva a mulata, tá, tá, tá, tá

No pátio interno há uma piscina
Com água azul de Amaralina
Coqueiro, brisa e fala nordestina
E faróis

Na mão direita tem uma roseira
Autenticando eterna primavera
E no jardim os urubus passeiam
A tarde inteira entre os girassóis

Viva Maria, ia, ia
Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia
Viva Maria, ia, ia
Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia

No pulso esquerdo o bang-bang
Em suas veias corre
Muito pouco sangue
Mas seu coração
Balança um samba de tamborim

Emite acordes dissonantes
Pelos cinco mil alto-falantes
Senhoras e senhores
Ele põe os olhos grandes
Sobre mim

Viva Iracema, ma, ma
Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma
Viva Iracema, ma, ma
Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma

Domingo é o fino-da-bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai à roça
Porém

O monumento é bem moderno
Não disse nada do modelo
Do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem

Que tudo mais vá pro inferno, meu bem

Viva a banda, da, da
Carmem Miranda, da, da, da, da
Viva a banda, da, da
Carmem Miranda, da, da, da, da
.

Composição: Caetano Veloso. São Paulo: Abril Educação, 1981, p. 46-47. Literatura Comentada.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 493.

Entendendo a música:

01 – Qual é o contexto histórico e social da música "Tropicália"?

      A música "Tropicália" foi lançada em 1968, durante o período da ditadura militar no Brasil. A canção faz parte do movimento Tropicália, que buscava criticar a repressão e a censura através da música e da arte.

02 – Qual é a principal característica da letra da música "Tropicália"?

      A letra da música é marcada pela mistura de elementos diversos e aparentemente desconexos, como referências históricas, culturais, geográficas e personagens folclóricos. Essa mistura reflete a complexidade da cultura brasileira e a crítica à tentativa de homogeneização imposta pela ditadura.

03 – O que o "monumento" mencionado na música representa?

      O "monumento" na música representa a própria cultura brasileira, que é construída a partir da diversidade e da mistura de influências. Ele é descrito como "de papel crepom e prata", "sem porta" e com elementos que remetem tanto à natureza exuberante quanto à pobreza e à violência.

04 – Qual é a crítica presente na música em relação à sociedade brasileira da época?

      A música critica a alienação e a passividade da sociedade brasileira diante da repressão política e social. O verso "a vida eu a compro à vista dos donos do mundo" expressa a sensação de impotência e a falta de perspectivas diante do poderio dos governantes.

05 – Qual é a importância da música "Tropicália" para o movimento cultural do mesmo nome?

      A música "Tropicália" é considerada um manifesto do movimento Tropicália, sintetizando seus principais conceitos e características. A canção representa a liberdade de expressão e a resistência cultural em um período de repressão, e se tornou um hino de contestação e de valorização da cultura brasileira.

06 – Quais são os principais elementos da sonoridade da música "Tropicália"?

      A sonoridade da música é marcada pela mistura de ritmos e estilos musicais diversos, como o samba, o rock, a bossa nova e elementos da música folclórica brasileira. Essa mistura reflete a proposta estética do movimento Tropicália, que buscava diferentes influências culturais.

07 – Qual é o legado da música "Tropicália" para a música brasileira?

      A música "Tropicália" é um marco na história da música brasileira, pois rompeu com os padrões tradicionais e abriu caminho para a experimentação e a liberdade criativa. A canção influenciou diversos artistas e movimentos musicais posteriores, e seu legado permanece vivo na música brasileira contemporânea.

 

NOTÍCIA: ADOLESCÊNCIA E VIOLÊNCIA - CESARE F. LA ROCA - COM GABARITO

 Notícia: Adolescência e Violência

            Cesare F. La Roca

        A expressão “violência” possui a mesma raiz do verbo “violar”. Qualquer manifestação de violência encerra em si o ato da violência encerra em si o ato da violação do direito de alguém. Ao observador atento não fogem as afinidades e as semelhanças que interligam os conceitos de violação, violência, transgressão.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8HAYUQiO0zfwonDBs2Oge6fPfnGi3sAfyoDtyrUGN_nkapQqfkar3ijUNuRt5WEJsASwu7m4M7k8Yyjn8jAzaD8OX43fVFJ7LPCMwTkSco-znzmD28FlfUQEbgJnVGQfxg4fnFIaRYsAAwblCFCO0pdD_j84SX4enJK33xWNvm5gt6b1G2onvZgINUW4/s1600/VIOL%C3%8ANCIA.jpg


        Os estudiosos da adolescência observam que uma das características dessa estação da vida do ser humano é exatamente uma permanente tendência à transgressão, tendência a ir além da norma, além do limite representado pelo outro.

        Transgressão é sempre transgressão do outro, que representa o obstáculo para a realização do desejo do adolescente. E, muitas vezes, o ato de transgredir é um ato violento. Ou seja, requer o uso da força para que o obstáculo possa ser superado.

        Quando o adolescente encontra na família, na escola, na comunidade, um ambiente de compreensão que, longe de excluí-lo e marginalizá-lo, o inclui, mesmo na colocação gradativa de limites, ele consegue gerir sua tendência à transgressão e à violência. Ternura e firmeza são os dois polos entre os quais deve fluir o processo educativo do adolescente.

        Agora, a pergunta dramática: e o adolescente excluído? Ele pertence a uma família por sua vez vítima de exclusão. Foi expulso de uma escola incompetente que o rotulou de incapaz. Vive numa comunidade destituída em seus direitos fundamentais e que funciona como uma imensa incubadeira de violência, de ressentimento e de revolta.

        Longe de justificar os atos de violência dos filhos da pobreza e de fechar os olhos sobre a dor das vítimas e seus familiares, sinto porém o dever de alertar para que não se caia no outro extremo de criminalizar a miséria. O Estatuto da Criança e do Adolescente, tão desconhecido e por isso tão maltratado, prevê medidas socioeducativas para o adolescente autor de atos violentos e infracionais. A mais grave, para os atos mais graves, é a privação de liberdade. Portanto, não existe impunidade para o adolescente autor de violência. O que existe, por ser tratar de um ser em formação, é a “inimputabilidade”. Ele é punido, sim, e para os atos mais graves, como já dissemos, é retirado do convívio social para ser submetido a um processo socioeducativo em estruturas e com profissionais adequados. O adolescente infrator é privado do direito de viver em liberdade.

        Do outro lado, a questão da violência juvenil não pode ser encarada exclusivamente do ângulo da repressão. Sem diminuir em nada a responsabilidade do autor da violência, mesmo que seja um adolescente das camadas populares, é preciso que os Poderes Públicos aliem-se à sociedade civil para que a educação para a cidadania, a ética e os direitos humanos seja levada a efeito em todos os segmentos da sociedade, notadamente a infância e a adolescência.

        Reforço, aparelhamento, formação das polícias, como também policiamento ostensivo no centro e nas periferias das cidades, são mecanismos indispensáveis para a preservação e o controle da violência. Mas deve ficar muito claro que a violência juvenil é muito menos uma questão de polícia e muito mais uma questão de políticas. Ou seja, a solução desta questão passa necessariamente pelo fortalecimento das políticas públicas básicas, especialmente Educação e Saúde.

        Não se pode exigir de quem vive sua juventude sob o signo da exclusão uma atitude de permanente submissão e conformação. É evidente que o caminho não é o da violência e da desordem e sim da reivindicação dos direitos da cidadania. As crianças, os adolescentes, os jovens deste País devem sentir que seus governantes e a sociedade em que estão inseridos reconhecem, não apenas através de inócuas e românticas declarações de intenções, mas através da elaboração e implementação de políticas públicas, que eles são a parte mais preciosa de uma nação e que cidadania, ética, direitos humanos são os novos nomes da civilização.

        Do contrário, será o império da barbárie.

Cesare F. La Roca, advogado, diretor do Projeto Axé de Defesa e Proteção à Criança e ao Adolescente. Pais&Teens, nov./dez./jan. 1996/97.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 474-475.

Entendendo a notícia:

01 – Qual é a relação entre violência, violação e transgressão, segundo o autor?

      O autor argumenta que a violência é uma forma de violação do direito de alguém. A transgressão, comum na adolescência, muitas vezes envolve a violação do limite imposto pelo outro, podendo se tornar um ato violento quando requer o uso da força para superar obstáculos.

02 – Como o ambiente familiar, escolar e comunitário influencia a tendência à transgressão e à violência na adolescência?

      Quando o adolescente encontra compreensão e inclusão nesses ambientes, mesmo com a necessária colocação de limites, ele consegue lidar com sua tendência à transgressão e à violência de forma mais saudável. A falta desse acolhimento pode levar à exclusão e marginalização, intensificando tais tendências.

03 – O que o autor quer dizer com a pergunta dramática sobre o adolescente excluído?

      O autor levanta a questão do adolescente que é excluído pela família, pela escola e pela comunidade, que por sua vez também são vítimas de exclusão. Ele busca alertar para a complexidade da situação, sem justificar a violência, mas sim buscando entender suas causas.

04 – O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê alguma medida para adolescentes autores de atos violentos?

      Sim, o ECA prevê medidas socioeducativas, incluindo a privação de liberdade para atos mais graves. O objetivo é punir o adolescente infrator, mas também oferecer um processo socioeducativo adequado para sua formação.

05 – Qual a importância de aliar repressão com políticas públicas na questão da violência juvenil?

      O autor defende que a violência juvenil não pode ser encarada apenas sob o ângulo da repressão. É fundamental que os Poderes Públicos, em conjunto com a sociedade civil, invistam em educação para a cidadania, ética e direitos humanos, como forma de prevenir a violência.

06 – Qual o papel da polícia no controle da violência juvenil?

      O autor reconhece a importância do trabalho da polícia no reforço, aparelhamento e formação dos policiais, além do policiamento ostensivo. No entanto, ele ressalta que a violência juvenil é muito mais uma questão de políticas públicas básicas, como Educação e Saúde, do que de polícia.

07 – Qual a mensagem principal do autor sobre a juventude e a violência?

      O autor apela para que a sociedade e os governantes reconheçam a importância da juventude e invistam em políticas públicas que garantam seus direitos. Ele adverte que a falta de oportunidades e o sentimento de exclusão podem levar à violência e à barbárie.