segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

TEXTO: RELATO DE UM NÁUFRAGO; EU ERA UM MORTO - (FRAGMENTO) - GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ - COM GABARITO

 Texto: Relato de um náufrago; EU ERA UM MORTO – Fragmento 

            Gabriel García Márquez

        Não me lembro do amanhecer do sexto dia. Tenho uma ideia nebulosa de que, durante toda a manhã, fiquei prostrado no fundo da balsa, entre a vida e a morte. Nesses momentos, pensava em minha família e a via tal como me contaram agora que esteve durante os dias do meu desaparecimento. Não fiquei surpreso com a notícia de que tinham me prestado homenagens fúnebres. Naquela sexta manhã de solidão no mar, pensei que tudo isso estava acontecendo. Sabia que haviam comunicado à minha família o meu desaparecimento. Como os aviões não voltaram, sabia que tinham desistido da busca e que me haviam declarado morto.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFYIfIL0D1HhkT2m6nKwDpirBHSeVuGUdYa_9cV_o49XqOlu3qmOBNB-0FIjnYMQ76LgEGYC8Q0o5z3TXYYOjboT2TrqCuICVuFbnxBLPvmDPerRTbyfWcaqHsy3jjiSI6jTqUwYryXvn_b_mYtUHQ9cOIBXIXKouO-KBcRqhpa4SyGVcrlDqJiSZ-aqQ/s320/RELATO.jpg


        Nada disso era errado, até certo ponto. Em todos os momentos, tratei de me defender. Encontrei sempre um meio de me defender. Encontrei sempre um meio de sobreviver, um ponto de apoio, por insignificante que fosse, para continuar esperando. No sexto dia, porém, já que não esperava mais nada. Eu era um morto na balsa. 

        Á tarde, pensando que logo seriam cinco horas e os tubarões voltariam, fiz um desesperado esforço para me levantar e me amarrar à borda. Em Cartagena, há dois anos, vi na praia os restos de um homem destroçado por tubarão. Não queria morrer assim. Não queria ser repartido em pedaços entre um montão de animais insaciáveis.

        Eram quase cinco horas. Pontuais, os tubarões estavam ali, rodando a balsa. Levantei-me penosamente para desatar os cabos do estrado. A tarde era fresca. O mar, tranquilo. Senti-me ligeiramente fortalecido. Subitamente, vi outra vez as sete gaivotas do dia anterior e essa visão infundiu em mim renovados desejos de viver.

        Nesse instante teria comido qualquer coisa. A fome me incomodava. Mas o pior era a garganta e a dor nas mandíbulas, endurecidas pela falta de exercício. Precisava mastigar qualquer coisa. Tentei arrancar tiras de borrachas dos sapatos, mas não tinha com que cortá-las. Foi então que lembrei dos cartões da loja de Mobile.

        Estavam num dos bolsos da calça, quase completamente desfeitos pela umidade. Rasguei-os, levei-os à boca e comecei a mastigar. Foi um milagre: a garganta se aliviou um pouco e a boca se encheu de saliva. Lentamente continuei mastigando, como se aquilo fosse chiclete. [...] Pensava continuar mastigando os cartões indefinidamente para aliviar a dor das mandíbulas e até achei que seria desperdício jogá-los no mar. Senti descer até o estômago a minúscula papa de papelão moído e desde esse instante tive a sensação de que me salvaria, de que não seria destroçado pelos tubarões. [...]

        Afinal, amanheceu o meu sétimo dia no mar. Não sei por que estava certo de que esse não seria o último. O mar estava tranquilo e nublado, e quando o sol saiu, mais ou menos às oito da manhã, eu me sentia reconfortado pelo bom sono da noite. Contra o céu cinza e baixo passaram sobre a balsa as sete gaivotas. 

        Dois dias antes eu sentira uma grande alegria vendo as sete gaivotas. Mas quando as vi pela terceira vez, depois de tê-las visto durante dois dias consecutivos, senti o terror renascer. “são sete gaivotas perdidas”, pensei, com desespero. Todo marinheiro sabe que, às vezes, um bando de gaivotas se perde no mar e voa sem direção, durante vários dias, até encontrar e seguir um barco que lhes indique a direção do porto. Talvez aquelas gaivotas que vira durante três dias fossem as mesmas todos os dias, perdidas no mar. Isso significa que eu me distanciava cada vez mais da terra.

Gabriel Garcia Márquez, Relato de um náufrago. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1970. p. 70-3.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 99-100.

Entendendo o texto:

01 – Qual é o estado do narrador no início do fragmento?

      O narrador se encontra em um estado de prostração, entre a vida e a morte, no sexto dia de seu naufrágio. Ele se sente como um morto na balsa, sem esperanças de sobrevivência.

02 – O que leva o narrador a ter um esforço desesperado para se levantar e se amarrar à borda da balsa?

      O narrador se lembra de ter visto, em Cartagena, os restos de um homem destroçado por um tubarão. Ele teme que o mesmo possa acontecer com ele, já que os tubarões costumam voltar ao entardecer.

03 – Qual é a importância da visão das sete gaivotas para o narrador?

      A visão das sete gaivotas traz ao narrador renovados desejos de viver. Ele se sente fortalecido e encontra nelas um sinal de esperança em meio ao desespero.

04 – O que o narrador faz para aliviar a fome e a dor nas mandíbulas?

      O narrador, em um momento de desespero e necessidade, lembra-se dos cartões da loja Mobile que estão em seu bolso. Ele os rasga, os leva à boca e começa a mastigar, como se fossem chicletes.

05 – Qual é a reação do narrador ao amanhecer do sétimo dia no mar?

      O narrador acorda no sétimo dia com a certeza de que não será o último. Ele se sente reconfortado pelo sono da noite e observa as gaivotas, que o fazem sentir esperançoso.

06 – Por que o narrador sente terror ao ver as gaivotas pela terceira vez?

      O narrador percebe que as gaivotas podem estar perdidas no mar, o que significa que ele pode estar se distanciando da terra e de qualquer chance de resgate. Essa constatação o enche de terror.

07 – Qual é a principal mensagem transmitida no fragmento?

      O fragmento transmite a luta do ser humano pela sobrevivência em condições extremas, a importância da esperança e da fé, e a força da natureza, que pode ser tanto ameaçadora quanto fonte de salvação.

 

 

REPORTAGEM: O DEBATE REGRADO - PAIS & TEENS - COM GABARITO

 Reportagem: O debate regrado

                      PAIS & TEENS

        PAIS &TEENS O que é ficar? Que tal cada um de vocês dar uma definição, dizer o que acha?

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBrZYbcVNK0FhAHkSLFNlslaQPImZ7F4pTn-NzvWRESGXvsKOcWtVzay3s6JzpwhJAN-ME8KoOm4GfDIqVa1aeTKAsis_xv_kjo0MGjVLhOuC8y1NIPhp7tIr6heT9tgghyphenhyphenLwxpWrZ7u1YQ7Kc_Fh7dYSNJVJKt_P3ViY-bl8V4tjR6ufk8Oe2tcZZM8c/s320/PAIS.jpg


        Veruska – Eu acho que existem dois jeitos de ficar. Muita gente fica por ficar, e muita gente fica com o sentimento. No meu ponto de vista, o ficar tem que ter um sentimento, nem que for de atração. Ou sentimento mais forte, quando você gosta: ou de amor ou de paixão. Não necessariamente, mas só pelo fato de você estar atraído, já é um sentimento, e então aí você pode começar a gostar da pessoa através do ficar.

        Débora – Eu concordo com a Veruska, eu acho que ninguém deve ficar por ficar. Porque às vezes, por exemplo, se eu gosto de alguém e essa pessoa fica comigo por ficar, eu posso ficar chateada, posso me decepcionar. Eu acho que, como a Veruska falou, tem que ter alguma atração, algum sentimento para que, quem sabe, possa rolar alguma coisa.

        Max – Eu discordo, porque pra mim ficar é só para dar uns beijos e, se você quer um negócio mais sério, você tem que namorar a 6 pessoa ou ficar de rolo com ela. Fernando Esse negócio de ficar, pra mim não tem essa: você tem que sentir alguma coisa pela pessoa. Eu discordo do Max, eu acho que essa é uma atitude meio impensada dele. Tanto é que eu namoro há nove meses (palmas e risos) e gosto muito da minha namorada, e acho que não tem nada a ver esse negócio da moda, o ficar.

        Melissa – Eu acho que é ficando que você começa a namorar, que você conhece a pessoa, conhece o jeito dela ser e, se você vai se apaixonar por ela, vai ter alguma coisa mais séria. Acho que é bom ficar com as pessoas, mas tem que ter vontade, tem que estar a fim da pessoa para você não ficar por ficar à toa, só para dizer "fiquei com ele", só porque é o cara mais bonito da rodinha, só para ter nome com as amigas. Acho que isso não tem nada a ver, acho que tem que ter, sim, um sentimento para você ficar com a pessoa.

        Thiago – Pra mim ficar é simplesmente suprir a necessidade momentânea de conforto emocional (risadas). Essa é a minha opinião. 

        Luciana – Eu concordo com o Max, eu acho que hoje quem sai para sair não tá saindo atrás do príncipe, tá saindo pra ficar, ficar por ficar, dar uns beijos... Ninguém tá indo atrás de sentimento, que é diferente de você já conhecer a pessoa e naquela hora pintar um clima e ficar. Talvez poderá vir um sentimento, porque você não sabe se vai se encontrar de novo com aquela pessoa, depende, às vezes até pede o telefone, quando gostou, pode até ter um relacionamento. Mas, geralmente, quando sai, nem vê mais a pessoa, entendeu, isso que eu acho errado.

        Denise – O que ela tá querendo dizer é que ninguém sai assim: "Hoje eu vou encontrar o homem da minha vida". Você sai pra zoar com os seus amigos, tanto é que a maioria dos homens que namoram, os amigos ligam: “E aí, vamos sair?” – “Vou dar um jeito de dispensar minha namorada”. Você quer o quê? Você quer zoar, entendeu. Muitos caras querem dispensar a namorada, eu tou mentindo?

        PAIS&TEENS Ficar é um encontro inocente, ou pode rolar sexo também? 

        Luciana – Uma amiga minha ficou grávida de um cara que ela conheceu uma noite e nunca mais viu. Chega e transa. Depende muito da menina, da liberdade que ela dá pra ele. É claro que, se a menina fica por ficar, ele vai tentar, e rola transa sim, depende da menina. Não é sempre, depende do lugar também.

        Bruno – Eu queria colocar uma coisa, que esse negócio de ficar hoje em dia é perigoso, porque, muitas vezes, vai acabar em transa e, muitas vezes, você não conhece a pessoa... Tem um amigo meu, ele mora numa cidade do interior, e ele foi na discoteca, conheceu uma menina, e essa menina foi pro carro dele, e dentro do carro mesmo eles fizeram. Só que ele não conhecia a menina, não conhecia ela direito, só tinha o nome e o telefone. A menina tinha AIDS, e ele engravidou a menina, então ele pegou AIDS e o filho dele vai nascer com AIDS. Ele tem 13 anos, tá com AIDS.

Fonte: Pais&Teens, fev./mar./abr. 1997.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 116-117.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é o tema central debatido na reportagem?

      O tema central é o significado e as diferentes perspectivas sobre o ato de "ficar" entre jovens. Os participantes do debate oferecem suas definições e opiniões sobre o assunto.

02 – Quais são os principais pontos de vista apresentados sobre "ficar"?

      Há diversas opiniões:

      Ficar com sentimento: Algumas pessoas defendem que "ficar" deve envolver algum tipo de sentimento, seja atração, paixão ou amor.

      Ficar por ficar: Outros argumentam que "ficar" pode ser apenas uma experiência casual, sem necessidade de envolvimento emocional profundo.

      Ficar como etapa para o namoro: Há quem veja o "ficar" como uma forma de conhecer melhor alguém e, eventualmente, iniciar um relacionamento sério.

      Ficar como suprimento de necessidade emocional: Uma visão mais pragmática define "ficar" como uma forma de suprir necessidades emocionais momentâneas.

03 – Qual é a opinião de Veruska sobre "ficar"?

      Veruska acredita que existem dois tipos de "ficar": por puro entretenimento e com sentimento. Para ela, o "ficar" ideal envolve algum tipo de sentimento, mesmo que seja apenas atração.

04 – O que Débora acrescenta à discussão sobre "ficar"?

      Débora concorda com Veruska e enfatiza a importância de ter atração ou sentimento ao "ficar" com alguém, para evitar decepções e frustrações.

05 – Qual é a opinião de Max sobre "ficar"?

      Max discorda da visão de que "ficar" precisa de sentimento. Para ele, "ficar" serve apenas para dar uns beijos, e se a intenção for ter um relacionamento sério, é preciso namorar.

06 – O que Luciana relata sobre a prática de "ficar" atualmente?

      Luciana relata que as pessoas saem para "ficar" sem a intenção de encontrar um parceiro para um relacionamento sério. Ela observa que o objetivo principal é "ficar por ficar", dar uns beijos, sem necessariamente criar laços emocionais duradouros.

07 – Qual é o alerta dado por Bruno sobre os riscos de "ficar" atualmente?

      Bruno alerta sobre os perigos do "ficar" sem conhecer a pessoa, especialmente em relação à possibilidade de contrair doenças sexualmente transmissíveis, como o caso de um amigo que contraiu AIDS após ter relações sexuais com alguém que conheceu em uma festa.

 

 

TEXTO: USAR PIERCINGS E TATUAGENS - "NÃO" - HAYLTON SANTOS - COM GABARITO

 Texto: Usar piercings e tatuagens – “Não"

              Haylton Santos

        O uso do piercing me passa a ideia do “ter que ter”, do ter que usar “porque minha tribo está usando”. Algo como a caneta Montblanc para os executivos.

        Mesmo pensando na questão por um ângulo puramente estético, o piercing não me agrada. Eu ainda prefiro, por exemplo, os inúmeros aros no pescoço das africanas, ou os ossos e argolas dos poucos índios que nos restam. Além de me parecerem mais consistentes em sua beleza particular, tais enfeites têm significado cultural que ultrapassa uma fase de vida.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh2c64IdHkP659YTe9U8wHrg0F_2_POgQaHVljRb6VUnX0iLYx9SSsCQjmSXJEVw_k0HRb6L3v4EUSTXG_YwtLzDbGhxYIeVjotapBFeHdOU4VY8r0uDeGRbBCFMOzZgLM7ZDMv7B9ZY_oCoOQ7j-sEQseFlRYtX4lcRekrPyw1cIBhVf8vpGEwvqDF5A/s320/z1-1.jpg


        Sabemos que as nossas tribos adolescentes não duram mais que alguns anos e que cada indivíduo deverá se inserir em muitas outras “tribos” ao longo de sua vida. As cicatrizes permanentes que os fetiches adolescentes dos últimos tempos têm acarretado (tatuagens, piercings ou cicatrizações) aumentam a responsabilidade dos adultos, no sentido de reforçar no jovem a informação e o compromisso consciente com suas escolhas, além do imediato e dos modismos, mesmo que seja um simples piercing (simples mesmo?). Tais escolhas passam também pelas questões relativas à saúde, hoje cada vez mais entendida como um valor cultural. Também me parece que, além de deixar uma marca indelével, o piercing – dependendo do lugar em que for colocado – não é propriamente higiênico.

        Alguns entendem o uso de enfeites perfurando o corpo como manifestação do antagonismo próprio do adolescente, questionamento ou crítica à sociedade, ou tentativa de chocar. Para mim, isso carece de solidez: tem mais jeito de regras e normas, ou apego exagerado ao modismo. O espírito transformador e crítico é a colaboração mais rica que a juventude tem para dar à sociedade. Sociedade que pede, hoje, atitudes prioritárias em relação à AIDS, às drogas e à responsabilidade social, por parte de jovens mais autônomos e mais conscientes.

        Afinal... eu não gostaria que minhas filhas usassem piercings, porque é um símbolo que definitivamente não me atrai. Mas como essa é uma opinião pessoal, se alguma delas insistir em pendurá-los pelo corpo, eu de minha parte vou continuar usando minha caneta Bic, ou outra qualquer que estiver à mão.

Haylton Santos. Revista Pais e Filhos. Pais&Teens, nº 3.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 136-137.

Entendendo o texto:

01 – Qual é a principal crítica do autor em relação ao uso de piercings?

      O autor critica a ideia de que o uso de piercings se tornou uma moda passageira, como um "ter que ter" imposto por tribos adolescentes, sem significado cultural duradouro como os adornos de culturas tradicionais africanas e indígenas.

02 – Que preocupações o autor levanta sobre as escolhas de piercings e tatuagens entre adolescentes?

      O autor se preocupa com a falta de informação e compromisso consciente dos jovens ao fazerem escolhas permanentes como tatuagens e piercings, além das questões de higiene e saúde relacionadas, já que tais escolhas podem ter consequências negativas a longo prazo.

03 – Qual é a visão do autor sobre a alegação de que piercings e tatuagens são formas de expressão e antagonismo adolescente?

      O autor discorda dessa visão, argumentando que tais práticas são mais ligadas ao modismo do que a um real espírito crítico e transformador, que ele considera mais valioso para a sociedade.

04 – O que o autor prioriza como atitudes mais importantes para os jovens na sociedade atual?

      O autor prioriza atitudes de maior responsabilidade social, como a conscientização sobre AIDS, drogas e a necessidade de ações que contribuam para o bem-estar da comunidade.

05 – Qual é a opinião pessoal do autor sobre o uso de piercings por suas filhas?

      O autor expressa que não gostaria que suas filhas usassem piercings, pois não se sente atraído por esse símbolo. No entanto, reconhece que é uma opinião pessoal e que respeitará a decisão delas caso insistam em usar piercings, demonstrando que sua preocupação é com a conscientização e não com a imposição.

 

SONETO: QUANDO CHEIOS DE GOSTO, E DE ALEGRIA - CLÁUDIO MANUEL DA COSTA - COM GABARITO

 SONETO: Quando cheios de gosto, e de alegria

                  Cláudio Manuel da Costa

 

Quando cheios de gosto, e de alegria

Estes campos diviso florescentes,

Então me vêm as lágrimas ardentes

Com mais ânsia, mais dor, mais agonia.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXTXJ8T1FnzzGsBmg67mUgt6AMm0AwZXy8PAnMnOMRz46JwCChEt5InLNMmru4yxiKH4a_5-_oFMcNj9ibCCK6veD8VB_zSUTLx5yBz8iob4hRayhvkXUpVswcHadwqYMqRH5K5uz1VsnsWCv2GIMiad9pIGi8tdpDGucdL8j750ct9KIVRjAf4R_jAmk/s1600/MELANCOLIA.jpg


 

Aquele mesmo objeto, que desvia

Do humano peito as mágoas inclementes,

Esse mesmo em imagens diferentes

Toda a minha tristeza desafia.

 

Se das flores a bela contextura

Esmalta o campo na melhor fragrância,

Para dar uma ideia de ventura;

 

Como, ó Céus, para os ver terei constância,

Se cada flor me lembra a formosura

Da bela causadora de minha ânsia?

In: Péricles Eugênio da Silva Ramos, org. Poemas de Cláudio Manuel da Costa. São Paulo: Cultrix, 1976, p. 72.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 146.

Entendendo o soneto:

01 – Qual é o sentimento central expresso no soneto?

      O sentimento central é a melancolia e a tristeza do eu lírico, mesmo diante da beleza da natureza. Ele experimenta um contraste entre a alegria do ambiente externo e a dor que sente interiormente.

02 – Qual é a causa da tristeza do eu lírico?

      A causa da tristeza é a lembrança da amada, que é evocada pela beleza das flores. Cada flor o faz recordar da formosura da mulher que ama, intensificando sua dor e a sensação de ausência.

03 – Como a natureza é descrita no soneto?

      A natureza é descrita como "florescentes campos", com "bela contextura" e "melhor fragrância". As flores são apresentadas como símbolos de alegria e ventura, criando um contraste com o estado emocional do eu lírico.

04 – Qual é o papel das flores no soneto?

      As flores têm um papel duplo no soneto. Ao mesmo tempo em que representam a beleza da natureza, elas também servem como um gatilho para a memória da amada, intensificando a tristeza e a dor do eu lírico.

05 – Qual é a principal emoção expressa no último verso do soneto?

      O último verso expressa a ânsia do eu lírico, que se refere ao seu desejo intenso e doloroso pela amada. A beleza das flores se torna um tormento, pois o impede de esquecer a mulher que causa sua dor.

 

 

NOTÍCIA: HORÁRIO DE VERÃO TEM HISTÓRIA ANTIGA - REVISTA CLAUDIA - COM GABARITO

 Notícia: Horário de verão tem história antiga

        Adiantar o relógio para aproveitara luz natural e economizar energia não é uma ideia recente. Ela foi proposta pela primeira vez em 1748 pelo físico americano Benjamin Franklin (1709-1790), o inventor do para-raios, mas acabou rejeitada. Um século mais tarde, em 1884, houve uma importante articulação mundial para uniformizar os padrões de medição das horas. Foram estabelecidos os fusos horários. A medida foi necessária porque, com a construção de ferrovias extensas unindo regiões muito distantes, ficou evidente a diferença de horários entre um ponto e outro.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5fz6taWycEabNOqkjd60BHST6rmk-995I8-mFzOM7LkB4JdqlLG_xuItQanWN0HaZ9F4UmM2JmMzNBepe3jJoUEbh_zl8uLlKQglCvNAHhd0RYG-D6sfiCK5Y2aiFiAWhyphenhyphen5QofEjt6ne-U_OPMEZuPYSnEy-5bKWQky218uYUdq0CZjMO4x1uRHzEfrQ/s320/hor2.jpg


        Nas décadas seguintes, nenhuma outra proposta de alterar horários teve sucesso. Até que, em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, os alemães usaram o recurso de adiantar os relógios para economizar combustíveis, sendo imediatamente imitados. O mesmo aconteceu durante a segunda Guerra (1939- 1945) e, daí em diante, vários países passaram a adotar a prática nos meses em que os dias são mais longos.

Revista Claudia, nov. 1997.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 153.

Entendendo a notícia:

01 – Quem propôs pela primeira vez a ideia de adiantar o relógio para economizar energia?

      A ideia foi proposta pela primeira vez em 1784 pelo físico americano Benjamin Franklin, conhecido por inventar o para-raios.

02 – Por que a proposta de Benjamin Franklin não foi aceita em sua época?

      A notícia não informa o motivo específico, apenas que a proposta foi rejeitada.

03 – Qual foi o fator que impulsionou a necessidade de uniformizar os horários ao redor do mundo?

      A construção de ferrovias extensas, unindo regiões distantes, evidenciou a diferença de horários entre os pontos, tornando necessária a criação dos fusos horários em 1884.

04 – Em que contexto o horário de verão começou a ser utilizado?

      O horário de verão começou a ser utilizado durante a Primeira Guerra Mundial, em 1916, quando a Alemanha adotou a prática para economizar combustíveis, sendo seguida por outros países.

05 – Qual é o principal objetivo do horário de verão?

      O principal objetivo do horário de verão é aproveitar a luz natural e economizar energia, especialmente nos meses em que os dias são mais longos.

 

 

POESIA: VAÍAMOS, IRMÃA, VAIAMOS DORMIR - D.DINIS - COM GABARITO

 Poesia: Vaiamos, irmãa, vaiamos dormir

             D. Dinis

Vaiamos, irmãa, vaiamos dormir

(en) nas ribas do lago, u eu andar vi

a las aves meu amigo.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoLRZnrmbJSQSDsZVsLQ_6UvGHdNdunT58DMLm640WWKTFPTekY1z9SBwGdPBPtESmx71Pj43JYucrQtWBB1pQCqAouGz8k0h6GLm7qdk2PBHTgt-t72tHHFAvXcn0ihGVTfzwZUeCWCCIPfOLOxcpbV5QlCy3_PjeCjk7nIMUYP1jCPXUaVWuWviexv4/s320/LAGO.jpg

Vaiamos, irmãa, vaiamos folgar

(en) nas ribas do lago, u eu vi andar

a las aves meu amigo.

 

En nas ribas do lago, u eu andar vi,

seu arco na mãao as aves ferir,

a las aves meu amigo.

 

En nas ribas do lago, u eu vi andar,

seu arco na mãao a las aves tirar,

a las aves meu amigo.

 

Seu arco na mãao as aves ferir,

a las que cantavam leixa-las guarir,

a las aves meu amigo.

 

Seu arco na mãao as aves tirar,

a las que cantavam non nas quer matar,

a las aves meu amigo.

Fonte: Segismundo Spina. A lírica trovadoresca. Rio de Janeiro; São Paulo: Grifo; Edusp, 1972, p. 369.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 53.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o convite central expresso no poema?

      O convite central é para que a irmã (ou amiga) vá dormir junto com o eu lírico nas margens do lago. O verso "Vaiamos, irmãa, vaiamos dormir" é repetido como um refrão, enfatizando o desejo de compartilhar esse momento de descanso e intimidade.

02 – Qual é a importância do lago e das aves no poema?

      O lago e as aves são elementos da natureza que testemunham o encontro e a interação entre o eu lírico e seu amigo. O lago é um lugar de beleza e tranquilidade, propício para o descanso e o amor. As aves, por sua vez, simbolizam a liberdade e a beleza, além de serem o foco da atenção do amigo do eu lírico.

03 – Qual é a ação do amigo do eu lírico em relação às aves?

      O amigo do eu lírico é visto com um arco na mão, ferindo e, em seguida, poupando as aves. Essa ação pode ser interpretada como uma metáfora para o amor, que pode tanto ferir quanto curar. O amigo demonstra compaixão ao não matar as aves que cantam, mostrando um lado sensível e amoroso.

04 – Qual é a atmosfera geral do poema?

      A atmosfera geral do poema é de tranquilidade, intimidade e amor. O convite para dormir junto, a descrição da natureza e a menção ao amigo criam um ambiente acolhedor e romântico.

05 – Qual é o significado do verso "a las aves meu amigo"?

      O verso "a las aves meu amigo" é repetido ao longo do poema, enfatizando a ligação entre o amigo do eu lírico e as aves. Essa ligação pode representar a sensibilidade e o amor do amigo pela natureza, além de sugerir que ele é uma pessoa especial e querida pelo eu lírico.

 

 

POEMA: QUERO SER TAMBOR - JOSÉ CRAVEIRINHA - COM GABARITO

Poema: Quero Ser Tambor

              José Craveirinha

Tambor está velho de gritar
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjriOLhQIYasK6AsJ5xAS3KZn4fFEac6X9F-HCatdflQRF91rd70UsIaRmYiFvYyLch53V-gNeD5-2thL1vgVJOJ1uDaACd9ZsATDlPBZsxacmYAXMdusq6qj0C4iGtQ2A0-F0vEFNM_qUiLGu_omjD77ACP8_k3ld3lvrrYjR8FGCojwjizhqP4WU54OU/s320/TAMBOR.jpg


E nem flor nascida no mato do desespero.
Nem rio correndo para o mar do desespero.
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero.
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.

Nem nada!

Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra.
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra.
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.

Eu!

Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala.
Só tambor velho de sangrar no batuque do meu povo.
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.

Oh velho Deus dos homens
eu quero ser tambor.
E nem rio
E nem flor
E nem zagaia por enquanto
E nem mesmo poesia.


Só tambor ecoando a canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até à consumação da grande festa do batuque!


Oh, velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!

MEDINA, Cremilda A. de. Sonha Mamana África. São Paulo: Epopeia – Secretaria de Estado da Cultura, 1987, p. 160.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 558-559.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o principal desejo expresso no poema?

      O principal desejo expresso no poema é o de ser um tambor. O poeta anseia por se tornar o próprio instrumento, corpo e alma, para expressar seus sentimentos e a voz do seu povo.

02 – O que o tambor representa no poema?

      O tambor representa a força, a resistência e a voz do povo. Ele simboliza a cultura, a tradição e a luta contra a opressão. O tambor é um instrumento de expressão e de celebração, que ecoa a canção da força e da vida.

03 – Quais são os elementos da natureza mencionados no poema e o que eles representam?

      Os elementos da natureza mencionados no poema são a flor, o rio e a zagaia. Eles representam a beleza, a liberdade e a luta, respectivamente. No entanto, o poeta afirma que, por enquanto, nada disso importa, apenas o tambor.

04 – O que significa a expressão "batuque do meu povo"?

      A expressão "batuque do meu povo" se refere à dança e à música tradicional africana, que é uma forma de expressão cultural e de resistência. O batuque representa a celebração da vida e a conexão com as raízes ancestrais.

05 – Qual é a mensagem principal do poema?

      A mensagem principal do poema é a de que o poeta deseja se tornar a voz do seu povo, expressando seus sentimentos e lutando por seus direitos. O tambor é o símbolo dessa voz, que ecoa a canção da força e da vida, e que clama por justiça e liberdade.

 

 

domingo, 9 de fevereiro de 2025

POEMA: NO MESMO LADO DA CANOA - ALDA ESPÍRITO SANTO - COM GABARITO

 Poema: No mesmo lado da canoa

            Alda Espírito Santo

As palavras do nosso dia
são palavras simples
claras como a água do regato,
jorrando das encostas ferruginosas
na manhã clara do dia-a-dia.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7rZahEACMLZ72hz7g9Xgxb0XNiV3avWghIjBsNHpr9WMlHVnC_OJXOhASSFpwveBWSzews6LB7norhUx7L99oPTuYsnu2lkBtIyBOee0jw3L0PfpgbFR7Wp9hZGx7BvsdQisJopPGwCdkRMWk_mnX0nL5zWEZ4ERg8QNDQmgCdBe6n2nNHLa10meCah0/s320/PALAVRAS.jpg


É assim que eu te falo,
meu irmão contratado numa roça de café
meu irmão que deixas teu sangue numa ponte
ou navegas no mar, num pedaço de ti mesmo em luta com o gandu.


Minha irmã, lavando, lavando
p'lo pão dos seus filhos,
minha irmã vendendo caroço
na loja mais próxima
p'lo luto dos seus mortos,
minha irmã conformada
vendendo-se por uma vida mais serena,
aumentando afinal as suas penas...
É para vós, irmãos, companheiros da estrada
o meu grito de esperança
convosco eu me sinto dançando
nas noites de tuna
em qualquer fundão, onde a gente se junta,
convosco, irmãos, na safra do cacau,
convosco ainda na feira,
onde o izaquente e a galinha vão render dinheiro.
Convosco, impelindo a canoa p'la praia
juntando-me convosco
em redor do voador panhá
juntando-me na gamela
vadô tlebessá
a dez tostões.

Mas as nossas mãos milenárias
separam-se na areia imensa
desta praia de S. João
porque eu sei, irmão meu, tisnado como eu p'la vida,
tu pensas irmão da canoa
que nós os dois, carne da mesma carne
batidos p'los vendavais do tornado
não estamos do mesmo lado da canoa.

Escureceu de repente.
Lá longe no outro lado da Praia
na ponta de S. Marçal
há luzes, muitas luzes
nos quixipás sombrios...
O pito dóxi arrepiante, em sinais misteriosos
convida à unção desta noite feiticeira...
Aqui só os iniciados
no ritmo frenético dum batuque de encomendação
aqui os irmão do Santu
requebrando loucamente suas cadeiras
soltando gritos desgarrados,
palavras, gestos,
na loucura dum rito secular.

Neste lado da canoa, eu também estou irmão,
na tua voz agonizante, encomendando preces, juras, Maldições.
Estou aqui, sim, irmão
nos nozados sem tréguas
onde a gente joga
a vida dos nossos filhos.
Estou aqui, sim, meu irmão
no mesmo lado da canoa.

Mas nós queremos ainda uma coisa mais bela.
Queremos unir as nossas mãos milenárias,
das docas dos guindastes
das roças, das praias
numa liga grande, comprida
dum pólo a outro da terra
p'los sonhos dos nossos filhos
para nos situarmos todos do mesmo lado da canoa.

E a tarde desce...
A canoa desliza serena,
rumo à Praia Maravilhosa
onde se juntam os nossos braços
e nos sentamos todos, lado a lado,
na canoa das nossas praias.

MEDINA, Cremilda de A. Sonha Mamana África. São Paulo: Epopeia – Secretaria de Estado da Cultura, 1987, p. 202-204.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 552-554.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema central do poema?

      O poema aborda a solidariedade e a luta em conjunto, mesmo diante das dificuldades e desigualdades. A canoa simboliza a vida e as experiências compartilhadas, enquanto os versos exploram a união e a esperança de um futuro melhor.

02 – Quem são os "irmãos" mencionados no poema?

      Os "irmãos" são pessoas comuns que enfrentam desafios diários, como o irmão contratado na roça de café, a irmã que trabalha para sustentar os filhos e aqueles que lutam pela sobrevivência no mar. São trabalhadores e trabalhadoras que compartilham a mesma condição de vida.

03 – Qual é a importância da canoa no poema?

      A canoa é um símbolo poderoso de união e de jornada coletiva. Ela representa a vida, com seus desafios e esperanças, e a necessidade de estarem juntos para enfrentar as dificuldades. Estar "no mesmo lado da canoa" significa compartilhar o mesmo destino e lutar pelos mesmos objetivos.

04 – O que significa a expressão "mãos milenárias"?

      "Mãos milenárias" representa a ancestralidade e a força do trabalho humano, transmitida de geração em geração. As mãos que trabalham na roça, no mar, na feira, são as mesmas mãos que construíram a história e carregam a esperança de um futuro melhor.

05 – Qual é o tom do poema?

      O poema tem um tom de esperança e de luta. Apesar de reconhecer as dificuldades e desigualdades, a autora expressa a crença na força da união e na possibilidade de construir um futuro mais justo e igualitário para todos.

06 – O que representa a "Praia Maravilhosa" mencionada no final do poema?

      A "Praia Maravilhosa" é um símbolo de um futuro ideal, onde todos estarão juntos, lado a lado, na canoa da vida. É um lugar de encontro e de celebração da união e da solidariedade.

07 – Qual é a mensagem principal do poema?

      A mensagem principal do poema é que, apesar das diferenças e desafios, é possível construir um futuro melhor se todos estiverem "no mesmo lado da canoa", unidos na luta por seus direitos e por uma vida mais justa e digna. A esperança é a força que impulsiona essa jornada coletiva.

 

 

CONTO: AS MÃOS DOS PRETOS - LUÍS BERNARDO HONWANA - COM GABARITO

 Conto: As mãos dos Pretos

            Luís Bernardo Honwana

        Já não sei a que propósito é que isto é vinha, mas o senhor Professor disse um dia que as palmas das mãos dos pretos são mais claras do que o resto do corpo porque ainda há poucos séculos os avós deles andavam com elas reforçadas ao chão, como os bichos do mato, sem as exporem ao sol, que lhes ia escurecendo o resto do corpo.

        Lembrei-me disso quando o Senhor Padre, depois de dizer na catequese que nós não prestávamos mesmo para nada e que até os pretos eram melhores que nós, voltei a falar nisso de as mãos serem mais claras, dizendo que isso era assim porque eles andavam com elas às escondidas, andavam sempre de mãos postas, a rezar.

        Eu consegui um piadão tal a essa coisa das mãos dos pretos sendo mais claras que agora é ver-me não largar seja quem for enquanto não me disser porque é que eles têm as mãos assim tão claras. A Dona Dores, por exemplo, disse-me que Deus fez-lhes as mãos assim mais claras para não sujarem a comida que fazem para os seus patrões ou qualquer outra coisa que lhes mandem fazer e que não devem ficar senão limpas.

        O Senhor Antunes da Coca-Cola, que só aparece na vila de vez em quando, quando as Coca-Colas das cantinas já foram vendidas, disse que o que me tinha contado era aldrabice. Claro que não sei se realmente era, mas ele me garantiu que era. Depois de lhe dizer que sim, que era aldrabice, ele contou então o que sabia desta coisa das mãos dos pretos. Assim:

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicQNcrOehbsfpTE4_xn8YOd2pWgg84_PTEvISnzNtGXniKkiU-0kGR203jFHVju7CouhwRD_CZzQdCWr-5YhyGqz_fO_YRtnK63xXYe6tyV2_7zxRuW5_vFAPnmHCv4SutfXW89ipAS1v8QRPpOa5PAMVTCmhabtS4kPAE3nqxk4bz_cvg9IBP1KdkawE/s1600/SANTO.jpg

        -- Antigamente, há muitos anos, Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, Virgem Maria, São Pedro, muitos outros santos, todos os anjos que nessa altura estavam no céu e algumas pessoas que tinham morrido e ido para o céu fizeram uma reunião e resolveram fazer pretos. Sabe como? Pegaram em barro, enfiaram em moldes usados ​​de cozer o barro das criaturas, levaram-nas para os fornos celestes; como tinham pressa e não havia lugar nenhum ao pé do brasido, penduraram-nas nas chaminés. Fumo, fumo, fumo e aí os dezenas escurinhos como carvões. E você agora quer saber porque é que as mãos deles ficam brancas? Pois então se eles tiveram de se agarrar enquanto o barro deles cozia?!...

        Depois de contar isto, o Senhor Antunes e os outros Senhores que estavam à minha volta desataram a rir, todos satisfeitos.

        Nesse mesmo dia, o Senhor Frias me chamou, depois do Senhor Antunes se ter ido embora, e disse-me que tudo o que eu tinha estado para ali a ouvir de boca aberta era uma grandessíssima peta. Coisa certa e certinha sobre isso das mãos dos pretos era o que ele sabia: que Deus acabava de fazer os homens e mandava-os tomar banhai num lago do céu. Depois do banho as pessoas estavam branquinhas. Os pretos, como foram feitos de madrugada e essa hora a água do lago estava muito fria, só tinham molhado as palmas das mãos e dos pés, antes de se vestirem e virem para o mundo.

        Mas eu li num livro, que por acaso sabia disso, que os pretos têm as mãos assim mais claras por viverem encurvados, sempre a apanhar o algodão branco da Virgínia e de mais não sei onde. Já se vê que Dona Estefânia não chegou quando eu disse isso. Para ela é só por as mãos deles desbotaram à força de tão lavadas.

        Bem, eu não sei o que vou pensar disso tudo, mas a verdade é que, ainda que calosas e gretadas, as mãos dum preto são mais claras que todo o resto dele. Essa é que é essa!

        A minha mãe é a única que deve ter razão sobre essa questão das mãos dos pretos serem mais claras do que o resto do corpo. No outro dia em que falámos nisso, eu e ela, estava-lhe eu ainda a contar o que já sabia dessa questão e ela já estava farta de rir. O que achei esquisito foi que ela não me dissesse logo o que pensava disso tudo, quando eu quis saber, e só tive respondido depois de se fartar de ver que eu não me cansava de insistir sobre a coisa, e esmo até chorar, agarrada à barriga como quem não pode mais de tanto rir. O que ela disse foi mais sou menos isto:

        -- Deus fez os pretos porque tinha de os haver. Tinha de os haver, meu filho, Ele pensou que realmente tinha de os haver… Depois você se arrependeu de ter feito porque os outros homens se riam deles e levaram-nos para casa deles para os pôr a servir de escravos ou pouco mais. Mas como Ele já não os pôde fazer ficar todos brancos, porque os que já se tinham habituados a ver os pretos reclamavam, fez com que as palmas das mãos deles ficassem exatamente como as palmas das mãos dos outros homens. E sabe porque é que foi? Claro que não sabe e não admira porque muitos e muitos não sabem. Pois olha: foi para mostrar que o que os homens fazem é apenas obra dos homens…Que o que os homens fazem é efeito por mãos iguais, mãos de pessoas que se fazem juízo sabem que antes de serem qualquer outra coisa são homens. Deve ter sido a pensar assim que Ele fez com que as mãos dos pretos fossem iguais às mãos dos homens que dão graças a Deus por não serem pretos.

        Depois de dizer isso tudo, a minha mãe me beijou nas mãos.

        Quando fui para o quintal, para jogar à bola, eu a pensar que nunca tinha visto uma pessoa a chorar tanto sem que ninguém lhe tivesse batido.

MEDINA, Cremilda de A. Sonha Mamana África. São Paulo: Epopeia – Secretaria de Estado da Cultura, 1987, p. 113-115.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 560-561.

Entendendo o conto:

01 – Qual é a questão central que o narrador busca responder ao longo do conto?

      O narrador busca entender por que as mãos dos pretos são mais claras que o resto do corpo. Ele procura por explicações em diversas fontes, como o professor, o padre, Dona Dores, o Senhor Antunes, o Senhor Frias e sua mãe.

02 – Quais são as diferentes explicações que o narrador encontra para a diferença de cor das mãos dos pretos?

      O narrador encontra diversas explicações, cada uma refletindo diferentes perspectivas e preconceitos:

      Professor: As mãos são mais claras porque os antepassados dos negros andavam com as mãos no chão, protegidas do sol.

      Padre: Os negros são inferiores, mas suas mãos são claras porque eles estão sempre rezando.

      Dona Dores: As mãos são claras para não sujarem a comida dos patrões.

      Senhor Antunes: Deus criou os negros de barro e os pendurou nas chaminés para assar, e suas mãos ficaram brancas por terem se agarrado ali.

      Senhor Frias: Os negros só molharam as mãos e os pés em um lago celestial antes de virem para o mundo.

      Dona Estefânia: As mãos desbotaram de tanto lavar roupa.

03 – Qual é a explicação que o narrador encontra em um livro?

      O narrador lê em um livro que as mãos dos pretos são mais claras porque eles vivem curvados, colhendo algodão.

04 – Qual é a explicação da mãe do narrador para a diferença de cor das mãos dos pretos?

      A mãe do narrador explica que Deus criou os pretos, mas se arrependeu ao ver que os outros homens zombavam deles. Como não podia torná-los brancos, fez com que suas mãos fossem iguais às dos outros homens para mostrar que todos são iguais e que o que os homens fazem é obra de mãos humanas.

05 – Qual é a reação do narrador à explicação de sua mãe?

      O narrador fica confuso e emocionado com a explicação da mãe, a ponto de vê-la chorar. Ele percebe a profundidade da questão e a importância da igualdade entre todos os seres humanos.

06 – Qual é o tom geral do conto?

      O conto tem um tom de humor e ironia, mas também de crítica social. O narrador relata as diferentes explicações que ouve com um certo distanciamento, deixando o leitor perceber a falta de lógica e o preconceito presente em muitas delas.

07 – Qual é a mensagem principal do conto?

      A mensagem principal do conto é a de que a diferença de cor da pele não deve ser motivo de discriminação ou preconceito. Todos os seres humanos são iguais, e suas ações são o que realmente os define. O conto também critica a forma como a sociedade lida com a questão da raça, expondo o racismo e a falta de empatia presentes em diversas situações.