sábado, 29 de agosto de 2020

CRÔNICA: AS PALAVRAS QUE NINGUÉM DIZ - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Crônica: AS PALAVRAS QUE NINGUÉM DIZ

                Carlos Drummond de Andrade

     -- Sabe o que é diadelfo? Não sabe. É isso aí: ninguém aprende mais nada na escola, não há professor que ensine o que é diadelfo. Entretanto, basta você sair por aí, na Gávea, e dá de cara com pencas de diadelfos. Tão fácil distingui-los. Pelo visto, sou capaz de jurar que você também nunca experimentou a emoção do ilapso. Ou por outra: pode até ter experimentado, mas sem identificá-lo pelo nome. Não alcançou a maravilhosa consciência de haver merecido o ilapso. Conheci um nordestino que na mocidade exercera a profissão de ultor, e que ignorava o que é ultor: como é que pode ser tão mau profissional?

        Praticamente, as coisas deixaram de ser nomeadas na boca dos falantes. O vocabulário azulou. São incapazes de reconhecer o que é beltiano, e mais ainda de qualificá-lo. Paranzela, já ouviu falar? Conhece entre suas relações alguém que algum dia lhe falou em oniquito? Se vou ao Number One e peço alfitetes, pensam que estou louco, acham que eu quero comer alfinetes. Não adianta argumentar que, como paguilha, faço jus à maior consideração: de resto, sabem lá o que seja paguilha?

        Olhe, não é só a piara que ignora tudo, inclusive que ela é piara. Os da alta, é a mesma coisa. Participei de umas boedrômias em certa mansão do Cosme Velho, e pude verificar que todos, satisfeitíssimos com o que faziam, estavam longe de imaginar que tudo aquilo que se passava em torno da piscina eram boedrômias, autênticas boedrômias. Uma situação de poslimínio é absolutamente indecifrável para muitos doutores que conheço. E quantos só dormem sossegados se têm um talambor a protegê-lo, desconhecendo embora que instalaram um talambor em casa?

        Menino, você gosta remuito de siricaia e não sabe o que é siricaia e o que é remuito? Santa ignorância! Mas que o seu pai, professor ilustre pratique o harpaxismo e nem desconfie de ser harpaxista, meus pêsames às codornas. Lamentável ainda, a incontinência de seus borborigmos em reuniões sociais, pois não?

        Quanta gente por aí, precisando de auriscálpio, e se aconselho que procure obter um, fica perturbada, imaginando coisas... Chega a manifestar aversamento, sem mesmo desconfiar do que seja aversamento. De português não aprendem um pigalho. Aventure-se alguém, numa roda seleta, a falar em cristadelfos. Os que se julgam mais informados pensarão que nos referimos a porcelanas de Delft.

        Pessoas que adoram determinados pitéus, não os visita a mínima noção de gamararologia (não quer dizer que estejam gamadas, é outra coisa muito diferente). Dispomos de alguns estratólogos, a quem ninguém trata pela correta denominação, e se esta for mencionada, haverá quem supunha tratar-se de peritos em rodoviarismo ou em extratos de contas. Fui cumprimentar uma campeã de tênis, chamando-a lindamente de vitrice, e ela abespinhou-se. Achou talvez algo de venéfico no vocábulo. Sabe tênis e não sabe o idioma.

        Vamos dar uma volta seral? Propus a outra moça, que arregalou os olhos. Não houve meio de convencê-la de que pretendia levá-la por aí, sob a paz das estrelas. Imagine se eu lhe propusesse usar subsiles. Ainda que eu aplicasse o máximo de catexe, não conseguiria nada. E talvez ela até chamasse a polícia.

        Bem, não estou exagerando. Você que me ouve, sabe (pelo menos isso) que eu evito toda e qualquer espécie de cinquete. Ah, também não sabe o que é cinquete? Era de se esperar. Não posso falar que sua cabeça mais parece uma abatiguera, porque a bem dizer, você nunca plantou nada aí, e em consequência nada aí se pode colher. Certas coisas a gente vê logo, não carece ser mirioftalmo. Passe bem, ignaro, ou melhor, passe mal!

As palavras que ninguém diz. Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 95-98.

    Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 159/163.


Entendendo a Crônica:

01 – No último parágrafo, o narrador afirma: “Bem, não estou exagerando”.

a)   Determine o que está implícito nessa frase: que comportamento do narrador poderia estar sendo considerado um exagero?

Citar um número tão grande de palavras, criticando as pessoas por não conhece-las.

b)   Qual é a sua opinião: o narrador exagera ou não?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: exagera, porque é este o objetivo da crônica surpreender o leitor com grande quantidade de palavras desconhecidas.

02 – As palavras que ninguém diz citadas na crônica podem ser divididas em dois grupos:

·        Palavras que designam seres, coisas, sentimentos, ações que são raros, pouco conhecidos (por exemplo, paranzela);

·        Palavras que designam seres, coisas sentimentos, ações que são bem conhecidas, mas geralmente são nomeados por outras palavras e expressões (por exemplo, ultor).

Cite exemplos de cada um dos dois grupos.

Palavras que têm equivalente na linguagem comum (segundo grupo): abespinhar-se, aversamento, borborigmo, cinquete, ignaro, paguilha, piara, pitéu, remuito, seral, talambor, venéfico, vitrice; as demais pertencem ao primeiro grupo.

03 – Observe que o texto começa com um travessão; por quê?

      Porque o travessão indica que o texto é uma fala, que o narrador está se dirigindo ao leitor ou ouvinte.

04 – Recorde esta frase do narrador, no último parágrafo: “Você que me ouve, sabe...”. Por que o narrador usa ouve e não (você que me lê...)?

      Porque o texto é apresentado como se o narrador estivesse falando, conversando com alguém, não como se estivesse escrevendo para um leitor.

05 – O narrador acusa várias pessoas de ignorarem o significado de palavras:

a)   Várias vezes o narrador acusa você de ser ignorante; cite frases do texto dirigidas a você.

Há várias; exemplos: “Sabe o que é diadelfo? Não sabe”; “Basta você sair por aí...”; “... sou capaz de jurar que você também nunca experimentou...”; “Já ouviu falar?” Etc.

b)   Muitas vezes o narrador acusa outros – eles – de serem ignorantes; cite frases em que a ignorância dos outros é apontada.

Há várias; exemplos: “Conheci um nordestino...”; “... não é só a piara que ignora tudo.”; “Os da alta é a mesma coisa.”; “Quanta gente por aí...”; etc.

06 – Para o narrador, você é ignorante, eles são ignorantes. Que opinião a respeito de si mesmo ele deixa transparecer na crônica? Escolha a resposta entre as frases abaixo, e escreva-a em seu caderno:

·        Eu conheço palavras que ninguém conhece.

·        Eu sei mais português que você e que eles.

·        Eu uso palavras que não precisam ser usadas.

07 – O que o narrador diz não está de acordo com o título da crônica – qual é a contradição?

      O título anuncia palavras que ninguém diz, que ninguém conhece, mas o narrador acusa as pessoas de não conhecerem essas palavras.

08 – Escolha, entre as frases abaixo, a que, na sua opinião, expressa o objetivo da crônica; escreva-a em seu caderno:

·        A crônica é uma crítica a pessoas de vocabulário pobre.

·        A crônica ironiza o uso de palavras que ninguém diz.

·        A crônica mostra como a língua é rica em palavras.

·        A crônica é uma brincadeira com palavras incomuns.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: excetuada a primeira opção, as três outras são aceitáveis. O objetivo é levar o aluno a explicitar o sentido que construiu para texto.

 

TEXTO: GAROTO FOI ENCONTRADO NO LIXO - LÚCIA NAGIB - COM GABARITO

 Texto: Garoto foi encontrado no lixo

           Lúcia Nagib

   Jackie Coogan era um garotinho de 5 anos em 1921, nos Estados Unidos. Cabelo liso escorrido, gracioso e um prodígio (maravilha) para dançar e representar.

        Charles Chaplin olhou para Jackie, lembrou-se de sua própria infância pobre, como ator de teatro na Inglaterra, e decidiu: “Vou fazer um filme com esse menino”.

        Foi assim que surgiu “O Garoto”, filme que está em todas as locadoras de vídeo e que faz a gente morrer de rir e, às vezes, chorar.

        Charles Chaplin, o maior diretor e ator cômico de todos os tempos, conhecido no Brasil como Carlitos, era moço naquela época.

          Vagabundo

        Ele já divertia muita gente com filmes curtos, fazendo o papel de um vagabundo maltrapilho que não perdia o jeito de gente fina, sempre de cartola, casaca e bengala. “O Garoto” fez ainda mais sucesso. Foi o primeiro filme longo de Carlitos, que desta vez resolveu temperar as piadas com lágrimas.

        A história em si não tem nada de engraçado: Carlitos encontra um bebê, abandonado junto a uma lata de lixo. Embora pobre de dar dó, Carlitos se vira muito bem para cuidar do bebê.

        Usa um bule como mamadeira e recorta seu lençol para fazer fraldinhas! Cinco anos mais tarde, ele e seu guri, batizado de John, formam a melhor dupla de malandros da vizinhança.

          Malandros

        John se especializa em quebrar vidraças e sair correndo, para Carlitos chegar logo em seguida, como se não soubesse de nada, oferecer seu serviço de vidraceiro e ganhar um dinheirinho.

        Tudo muito engraçado, até que as autoridades aparecem para levar o menino para um orfanato. John apronta um berreiro e Carlitos fica desesperado atrás do filho adotivo. Depois de mil peripécias, os dois encontram a mãe verdadeira do menino e tudo acaba bem.

        Foi assim, trabalhando com Jackie, que dizem ser o melhor ator infantil de todos os tempos, que Chaplin virou sucesso no mundo inteiro. Depois, não parou de fazer filmes importantes, como “A Corrida do Ouro”, “Tempos Modernos”, “Luzes da Cidade”, “O Grande Ditador”.

          Música feita na hora

        Quando a gente assiste a Carlitos se diverte tanto que até esquece que é cinema mudo. Sim, porque até o final dos anos 20 os filmes não tinham som. Os diálogos eram escritos em letreiros colocados entre as imagens, e a música era tocada por uma orquestra ou um piano no cinema, durante a projeção. As músicas eram muitas vezes improvisadas na hora. Mas Chaplin, perfeccionista, também compunha a música de seus filmes. “O Garoto”, como assistimos hoje em vídeo, é acompanhado da música original, composta por seu diretor.

          Efeitos especiais eram diferentes

        A técnica no tempo de Charles Chaplin não permitia as trucagens que há hoje nos filmes americanos. Isso não quer dizer que os cineastas não gostassem de efeitos especiais. Em “O Garoto”, Carlitos adormece e sonha com o paraíso. Ele e o garoto, como seus vizinhos e até um cachorro, aparecem de asas, voando!

          Filmes exibidos em barraquinhas

        Na origem, os filmes eram um passatempo de parque de diversões, uma espécie de mágica exibida em barraquinhas. O francês Mélies, um dos primeiros cineastas, mostrava corpos cortados, cujas cabeças falavam e andavam. Ele fez um foguete se enterrar no olho da Lua!

          16 fotografias por segundo

        Hoje, quando a gente vê filmes mudos, tem a impressão de que os movimentos estão mais rápidos. A razão é que um filme é feito de fotos, uma seguida da outra, projetadas em velocidade para dar a impressão de movimento. No cinema mudo, projetavam-se cerca de 16 fotografias, ou quadros, por segundo. Hoje os projetores de filme sonoro passam 24 quadros por segundo.

                 Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 221/2-224.

Entendendo o texto:

01 – Quem foram Jackie Coogan e Charles Chaplin? O que houve de comum entre os dois?

      Os quatro primeiros parágrafos do texto.

02 – O que houve com John (o nome dado ao menino)? O que fazia ele? E por quê? Onde foi parar o caso? Como se resolve o caso?

      John se especializou em quebrar vidraças e sair correndo. Parágrafos 8 e 9.

03 – Como é o cinema de Chaplin? A fala fazia falta em seus filmes?

      Filmes divertidos, mudos, porém não se sentia falta da fala. Os diálogos eram escritos e os letreiros colocados entre as cenas.

04 – Como tudo se arranjou para que naquela época houvesse música durante as sessões? Fale.

      As músicas, muitas vezes improvisadas, eram tocadas por uma orquestra ou piano, durante as projeções.

05 – Fale sobre os efeitos especiais da época. Eram diferentes dos de agora?

      Sim, pois a técnica não permitia as trucagens de hoje.

06 – O que eram os filmes exibidos em barraquinhas?

      Eram os filmes exibidos nos parques de diversões.

07 – Qual a diferença da montagem dos filmes mudos de hoje com o cinema mudo daquela época?

      No cinema mudo, projetavam-se cerca de 16 fotografias, ou quadros, por segundo. Hoje os projetores de filme sonoro passam 24 quadros por segundo.

08 – O que são folhetins? Pesquise.

      Resposta pessoal do aluno.

 

                                                        

 

BILHETE: UMA HISTÓRIA DIFERENTE - BEATRIZ C. COTRIM - COM GABARITO

 BILHETE: Uma história diferente


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 Beatriz C. Cotrim

        Assim Ângela soubera que Luís queria conversar sobre algo com ela: ao chegar em casa, logo após seu último encontro com ele, achara dois bilhetes 

        Numa folha azul, tinta verde, letra de fôrma:

ESTUPEFATO.

COMO DESCREVER?

NÃO É PAISAGEM, NÃO É UMA VISÃO.

MEU CORPO ESTÁ NO MEIO E O QUE ACONTECE SÃO SENSAÇÕES FORTES, DE EXPANSÃO.

COMO GRITOS PLENOS, VIVOS E NÃO PALAVRAS, MOVIMENTOS, E NÃO COISAS VISTAS.

UMA GRANDE, VASTA SENSAÇÃO DE DENTRO DE MIM.

O MUNDO SE ALARGOU.

        Papel branco, folha inteira, a caligrafia rabiscada do Luís:

Ângela,

        Queria contar sobre mim e pensei que algumas coisas têm que ser logo ditas. Por mim, que preciso saber que no amor é possível dividir algum peso, é possível se ajudar.

        A gente conversa, quero muito isso.

        Quero me abrir.

                           Beijos,

                                                Luís.

        A primeira folha – a azul – estava amassada e manchada, parecia meio velha. A letra era trêmula. Não parecia do Luís.

        A segunda folha, sim, parecia com o Luís que ela conhecia.

        ... Mas o que eram aqueles “gritos”, aqueles “uivos” e o mundo que “se alargou”? De onde viriam essas sensações descritas na folha azul?

        Ângela desejava a conversa e sentia medo...

 

Ângela conhecendo Luís: nova experiência e muitas diferenças

        Ângela andava distraída. Andava distraída pensando no Luís. Bom, isso já fazia algum tempo, mas agora estava diferente: queria entende-lo melhor. Talvez por isso tivesse se apaixonado por ele. Luís tinha uma complexidade intrigante! Os outros garotos eram de leitura direta, reta, uma. Podia se referir a eles com um ou dois adjetivos. Luís, não. Você não sabia tudo sobre ele; quando participava de algo, trazia uma combinação surpreendente, diferente dos outros.

        Ele lhe dava a impressão de uma riqueza que a convidava a se aproximar...

        Daquela vez do trabalho de História, por exemplo, quando tiveram de preparar um seminário sobre a navegação e as trocas econômicas após a descoberta do Novo Mundo, e ele viera com aquelas histórias de piratas...

        Virou o seminário de cabeça para baixo, deixou todo mundo interessado com as histórias que contou no seu tom irônico.

        O período histórico adquiriu uma qualidade aguda que não havia antes e todo mundo ficou interessado naquele assunto tão reprisado.

        Até o professor mudou – teve que mudar – de trilhos para discutir as conclusões do seminário!

        ... Ou então daquela vez que entrou gritando na escola, no meio do intervalo, sem dar explicação e nem se importando por chegar no meio do período, tendo faltado às primeiras aulas.

        Gritava que todos estavam impassíveis, enquanto a vida corria lá fora. Que o mundo acontecia enquanto eles seguiam indo para a escola... Que havia as guerras, perseguições raciais. Que as crianças continuavam morrendo na África. Que o nordeste do Brasil era a África. E eles indo para as aulas. Depois, ficou quieto. Alguns foram falar com ele e – lógico! – foi parar na diretoria.

        Tinha se apaixonado por essas e outras, como a extraordinária delicadeza que ele sempre tinha para “chegar nela”. Talvez a maneira cuidada, sutil, fosse uma composição de insegurança e compreensão: insegurança consigo e compreensão do sentimento dos outros.

        Bom, mas tudo isso não tinha grande importância. Agora.

        Ângela tinha ficado tão aquecida por dentro quando ele lhe dera aquelas folhas! Sentiu que a olhava como uma pessoa realmente íntima, próxima, de confiança. Que queria uma intimidade maior com ela, ao pedir para conversar.

        Luís era o namorado mais importante que tivera. É claro que isso era fácil, pois tinha quinze anos e antes dele só tinha havido o Humberto e o Cláudio. Mas parecia tudo tão criancice agora!

        Ângela se sentia mergulhada na vida, no namoro com o Luís!

Luís e sua mãe: desencontro  

        -- Ô, mãe! Quem mexeu nas minhas coisas?

        -- Que coisas, filho?

        -- O meu quarto, mãe! Foi você?

        -- O que é isso? Está me acusando, filho? Por que é que eu mexeria nas suas coisas?

        -- É, justamente, isto não está certo. Se for pra mexer, tem que falar comigo antes.

        -- Como assim? Eu sou sua mãe, só quero o seu bem! Eu sou sua mãe, por que vou pedir permissão?

        -- Ah, mãe! Então foi você? Não vê que isso é invasivo? Eu tenho direito à privacidade! Não sou um menininho que precisa ser carregado, já soou adulto e tenho alguns direitos.

        -- Direitos! Direitos? Você come e dorme nesta casa, que foi paga com o trabalho do seu pai e o meu! Além disso, você está fazendo coisas erradas!

        -- Mãe, não é quando eu fizer tudo certo que vou ser adulto! Qualquer coisa que a senhora pense, converse comigo. Não precisa invadir o meu espaço, nem ficar organizando minha vida, como se fosse um guarda-roupa, que tem lugar certo pra toalha e pra cueca!

        -- Do que você está falando? Tudo na vida tem o seu lugar certo! Um filho é um filho. O que é certo é certo, e o que é errado é errado! Não tem o que conversar! Você sabe o que é certo. Desde que você era pequeno eu sempre lhe digo o que pode e o que não pode fazer! O que você tem pra conversar? O que você está fazendo é errado. Eu sei! Eu achei isso aqui, ó! (Mostra um papelote com um pouco de cocaína).

        -- Mãe! O que a senhora sabe de mim? O que a senhora sabe?

        -- O que eu sei é que é errado! É um caminho errado, você está errado!

        -- Mãe, você não está vendo o que está fazendo desse jeito? Eu não sou um armário, pô!

        -- É você que não está vendo nada! Você está errado e não admite! Vou ter que falar com o seu pai!

        E daí, mãe? E daí!

        (Luís sai completamente arrasado e desanimado, mas ainda escuta a mãe falar).

        -- Como “e daí”? Não vou ficar resolvendo este problema sozinha com você, que não está sendo razoável. Que falta de respeito! Como “e daí”? É o seu pai! É ele que sustenta a casa!

        A vida se tornava uma mistura insuportável de desespero e saco-cheio. Havia um ponto, um nódulo de resistência: uma parte do desespero era de não ceder para não ficar igual àquele vazio, àquela falta de nexo na vida das pessoas.

                                  Drogas, mitos e verdades, Beatriz C. Cotrim.

                               Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 35/8.

Entendendo o texto:

01 – Identifique, a partir do primeiro texto, as características de Luís.

      O Luís era criativo, inteligente, bem informado e alternava estados de excitação e delicadeza.

02 – Por que, para Ângela, o bilhete amassado não parecia ter sido escrito por Luís?

      Porque ele sempre a tratava com delicadeza, atitude que não parecia combinar com o bilhete amassado e sua mensagem carregada de intensidade.

03 – Segundo Ângela, alguns garotos podem ser definidos por um ou dois adjetivos.

a)   O que você entende por essa afirmação?

A afirmação permite imaginar garotos de personalidade linear, pouco complexa, imaturos.

b)   Como você imagina que sejam os garotos assim definidos?

Resposta pessoal do aluno.

c)   Por que seriam necessários mais de dois adjetivos para descrever Luís?

Porque ele tinha personalidade complexa, inconstante e surpreendente.

04 – Ângela e seus colegas ficaram muito interessados pelas explicações de Luís sobre História.

a)   Qual o motivo do interesse dos alunos?

O enfoque original abordado por Luís.

b)   Por que as explicações de Luís influenciaram até mesmo o comportamento do professor?

Porque motivaram o professor a dar a mesma aula sob um ponto de vista diferente.

05 – Luís comparou, em um momento, o Nordeste do Brasil à África. Qual a semelhança entre os dois locais mencionados?

      A África é um continente em que há imensa desigualdade social, explorado por pequenos grupos, esquecido pelas organizações internacionais a despeito da miséria e dos graves problemas ligados à área da saúde. O Nordeste brasileiro é também violentamente explorado por uma minoria cada vez mais enriquecida, apresenta grande desigualdade social e não recebe do governo federal a atenção merecida.

06 – “Gritava que todos estavam impassíveis, enquanto a vida corria lá forra. Que o mundo acontecia enquanto eles seguiam indo para a escola”.

a)   Você já se sentiu assim como Luís enquanto estava na escola? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Frequentar a escola pode ser uma forma de trabalhar pela construção de um mundo melhor? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

07 – O que a mãe de Luís realmente queria saber quando perguntava a ele “Por que é que eu mexeria nas suas coisas”?

      Ela provoca o filho para que ele confesse estar usando drogas.

08 – “Como assim? Eu sou sua mãe, só quero o seu bem! Eu sou sua mãe, por que vou pedir permissão”?

a)   Qual o objetivo da mãe de Luís ao fazer esses comentários?

Justificar o fato de ter entrado no quarto de Luís, afirmar que ela tinha o direito de fazer isso.

b)   Por que esses comentários permitiram que Luís percebesse que ela havia de fato entrado em seu quarto?

Porque suas justificativas serviram como uma confissão.

09 – Luís afirma que a mãe organiza a vida dele como se fosse um armário. O que você entende por essa comparação?

      Luís se ressente pelo fato de sua mãe tratar seus sentimentos de maneira mecânica, simplista.

10 – “Mas você não está vendo o que está fazendo desse jeito?” O que Luís quer dizer?

      A atitude da mãe de Luís é de opressão e desrespeito. Ela não abre espaço para o diálogo, pois parte do pressuposto de que ele está errado e não oferece argumentos consistentes para justificar sua posição.

11 – “Havia um ponto, um nódulo de resistência: uma parte do desespero era de não ceder para não ficar igual àquele vazio, àquela falta de nexo na vida das pessoas”. O que, na fala da mãe, permite identificar a falta de nexo criticada por Luís?

      O comportamento furioso e a falta de argumentos da mãe mostram essa falta de nexo.

 

Ângela: pensando na vida

             Beatriz C. Cotrim

        “Meus Deus! quanta coisa...

        Assim, nesta longa conversa, eu soube a origem da folha azul: tinha sido escrita por Luís na primeira vez que cheirara... Isso fora um pouco antes de me conhecer.

        Fico pensando e pensando, porque o que Luís me disse fica passando pela minha cabeça, o tempo todo. Parecem imagens que são minhas, de tão intensas.

        Minha mãe diz que é perigoso, porque ele tem experiência e eu não. Porque é ele que vai dominar a relação, por saber mais, ter vivido mais... E eu, vou perder a oportunidade de viver no meu ritmo, influenciada pela experiência dele. Que vou ser levada pela opinião dele... Que ele vai me impressionar e eu não vou desenvolver meu ponto de vista.

        Não sei – eu, realmente, não sei.

        Tenho medo disso. Medo de não saber avaliar a situação e errar. Medo de que minha mãe tenha razão e eu me arrisque se não considerar o que ela diz.

        Mas eu gosto dele e o que ele me conta me comove! Quero saber o que vai acontecer com ele, quero ficar perto e saber dele! Eu entendo o que está tentando fazer!

        Ele parece cheio de vida e me disse que não quer ficar nessa. Quer viver, e não errar na única vida da qual estamos certos. Que o que acontece é que ele fica com uma raiva e desespero enormes, não tem onde pôr essa revolta e quer então arrebentar, reagir... Meter-se no submundo, experimentar aquilo que todo mundo diz que é arriscado e justamente do que devemos manter distância, surge como um sentido, uma significação no nada, no vazio das respostas que sente...

        ... Que o pai ter se importado, ter olhado para ele, faz uma diferença enorme. Fora sem dúvida algo que o ajudara a parar e pensar. Mas o que tinha pensado era dele, não dependia do pai. Ele apenas queria não precisar ficar tão desesperado. Não sabia se queria se arrebentar ou, se encontrar pessoas tão arrebentadas, servia para ele se sentir alguém na vida.

        ... Ter gostado de mim era importante – era ‘muito importante’, ele dissera isso! –, pois eu sou diferente dele. Diz que pareço nova e frágil, mas que tenho algo dentro... uma ‘consistência’, uma ‘tranquilidade’... Comigo, parecia que ele encontrava o entendimento – e eu só escuto! Às vezes nem sei o que falar... o que achar...

        [...]

        Então, ele me avisou que vai aceitar a sugestão do médico e ir a uma clínica, tratar-se. Mas acha que é para ter onde ir conversar e poder organizar suas ideias. Não acha que é dependente. Só que reconhece que precisa de um lugar calmo, que o ajude a pensar. A vida que leva, disse, não permite isso. Mas o que o ajudara tinha sido também eu – eu! só ouvindo... E seu pai, solidário. E também o médico, que soubera escutá-lo.

        Bom, o que será que acontecerá depois comigo e com o Luís?

        Por enquanto só sei que gosto muito, muito dele! Vou ficar com ele, porque ele não está legal e porque eu quero.

        ... Depois, depois eu vejo...”

Drogas, mitos e verdades. Beatriz C. Cotrim.

                           Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 38/40.

Entendendo o texto:

01 – Finalmente, Ângela pensa na vida. Em tudo o que ouviu e viveu. Foi nesse momento que entendeu a diferença entre os dois bilhetes que abrem essa história. Você sabe dizer qual é ela?

      No 1° bilhete Luís estava sob a influência das drogas, “perdido”, num mundo sem horizontes. A própria letra era trêmula, o que comprova seu estado de espírito.

      No 2° bilhete, Luís demonstra buscar auxílio no amor, na convivência, na verdade. Indica talvez o começo da recuperação.

02 – Qual a preocupação da mãe de Ângela? Você concorda com o fato de Ângela recorrer a mãe para dialogar? Por quê?

      A opinião da mãe é que Ângela será levada, influenciada, pela opinião de Luís, que é muito mais experiente que a menina e que, naquele momento, apresentava problemas. É natural que Ângela recorra aos conselhos da mãe. Ela é sua amiga e experiente.

03 – Por que Ângela não quer abandonar Luís neste momento?

      Porque ele confia nela. Sente nela a tranquilidade: uma força para melhorar...

04 – “Meter-se no submundo, experimentar aquilo que todo mundo diz que é arriscado e justamente do que devemos manter distância, surge como um sentido, uma significação no nada, no vazio das respostas que sente”.

a)   A que respostas Luís se refere?

Às respostas sobre o porquê da vida e das escolhas das pessoas.

b)   Considerando o raciocínio de Luís para justificar a opção pelo consumo de drogas, reflita: a atitude da mãe do garoto contribuiu para fazer com que ele mudasse de ideia? Por quê?

Não, pois como a mãe não conseguia argumentar de maneira consistente sua posição, ela apenas reforçava a sensação de falta de sentido que incomodava Luís.

c)   O que você pensa da solução encontrada por Luís?

Resposta pessoal do aluno.

05 – Pelo texto percebemos que a mãe de Luís recorreu ao marido. E que ele se importou com a situação. Isso pesou na decisão de Luís em querer abandonar a droga? O que você conclui?

      A preocupação do pai foi um ponto forte que pesou muito na vontade do rapaz de querer abandonar a droga.

06 – O que pesou mais na decisão de Luís em querer abandonar a droga?

      O seu relacionamento com Ângela, uma pessoa muito especial para ele.

07 – Que decisão tomou Luís? Por quê? Ele era um dependente?

      Luís não se considerava um dependente. Aceitou a sugestão do médico de ir a uma clínica para tratar-se, a fim de levar uma vida melhor, mais equilibrada e feliz.

08 – Comente a decisão de Ângela.

        Ela decidiu ficar com Luís, porque gostava dele e precisava estar a seu lado para ajudá-lo.

09 – Compare os dois bilhetes.

a)   Qual deles parece estar organizado como um armário?

O segundo bilhete.

b)   Que outro recurso você sugeriria a Luís para que ele pudesse encontrar uma nova organização para seu “armário interior”?

Resposta pessoal do aluno.

 

terça-feira, 25 de agosto de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): MUDEI - KELL SMITH - COM QUESTÕES GABARITADAS

 Música(Atividades): Mudei

            Kell Smith

Eu achava coisas que eu não acho mais
Cabia em roupas, sentimentos que já não me servem mais
O tempo corria e eu me sentia sempre um passo atrás

Na pressa em busca do que me traria paz
Preencher vazios, tornar sonhos reais
Mas o medo é sim meu inimigo de outros carnavais

Tudo muda, até as estações
Serve de esperança aos corações

O ontem passou
E o amanhã ainda não é meu
Tudo o que mudou
Me transformou no que hoje sou eu

Eu achei que nunca fosse superar
A dor que é perder alguém e ter de continuar
Mas sou bem mais forte do que poderia imaginar

Pensei mais um milhão de vezes em parar
Em desistir de mim por não acreditar
E hoje eu sou o meu melhor motivo pra comemorar

Tudo muda, até as estações
Serve de esperança aos corações

O ontem passou
E o amanhã ainda não é meu
Tudo o que mudou
Me transformou no que hoje sou eu

O ontem passou
E o amanhã ainda não é meu
Tudo o que mudou
Me transformou no que hoje sou eu

E o presente é o presente que a vida me deu.

Kell Smith

Entendendo a canção:

01 – Qual o assunto abordado na canção?

      O caos emocional, a perda de alguém.

02 – Analise: “Pensei mais um milhão de vezes em parar.”. O termo destacado representa a figura e linguagem conhecida como:

a)   Antítese.

b)   Eufemismo.

c)   Hipérbole.

d)   Metonímia.

03 – “E hoje eu sou o meu melhor motivo pra comemorar”. O verso apresenta linguagem:

a)   Culta.

b)   Mista.

c)   Coloquial.

d)   Científica.

04 – “Serve de esperança aos corações”. O verso apresenta a figura de linguagem:

a)   Prosopopeia ou personificação.

b)   Hipérbole.

c)   Metonímia.

d)   Antítese.

05 – Analise o verso a seguir: “Serve de esperança aos corações”. De acordo com a canção, o que serve de esperança aos corações?

      Que tudo nessa vida muda, até as estações do ano.

06 – “Eu achei que nunca fosse superar”. O que o eu lírico pensou que nunca fosse superar? Explique.

      A dor de perder alguém e ter que continuar a vida.

07 – “Me transformou no que hoje sou eu”. O que provocou a transformação no eu lírico?

      As mudanças.

08 – Explique com suas palavras o seguinte verso: “E o presente é o presente que a vida me deu.”

      Que o presente do eu lírico no momento é presente, o hoje. A possibilidade de viver o hoje.