terça-feira, 17 de setembro de 2019

SONETO: DE QUANTAS GRAÇAS TINHA, A NATUREZA - LUIZ VAZ DE CAMÕES - COM GABARITO

Soneto: De quantas graças tinha, a Natureza
           
   Luiz Vaz de Camões

De quantas graças tinha, a Natureza
Fez um belo e riquíssimo tesouro,
E com rubis e rosas, neve e ouro,
Formou sublime e angélica beleza.

Pôs na boca os rubis, e na pureza
Do belo rosto as rosas, por quem mouro;
No cabelo o valor do metal louro;
No peito a neve em que a alma tenho acesa.

Mas nos olhos mostrou quanto podia,
E fez deles um sol, onde se apura
A luz mais clara que a do claro dia.

Enfim, Senhora, em vossa compostura
Ela a apurar chegou quanto sabia
De ouro, rosas, rubis, neve e luz pura.

Luís Vaz de Camões. “Soneto”. In: Obra completa. Rio de Janeiro, Aguilar, 1963. p. 530.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 124-5.

Entendendo o soneto:

01 – Com relação ao número de estrofes e de versos, como está estruturado o soneto de Camões?
      Em quatro estrofes: 02 quartetos e 02 tercetos.

02 – Identifique os elementos da Natureza presentes nesse soneto.
      Rubis, neve, ouro/metal louro; rosas; boca, rosto, cabelo, peito, olhos; sol / luz.

03 – O soneto camoniano pertence a que gênero literário?
      Gênero lírico.

04 – Segundo Platão, devemos amar mais a beleza espiritual do que a material. Camões descreve-nos a mulher revestida por uma luminosidade espiritual, idealizando-a. Que versos do soneto melhor exemplificam esta afirmação?
      “Formou sublime e angélica beleza”; “A luz mais clara que a do claro dia”.

05 – O poeta buscou no mundo natural os elementos que serviram como termos de comparação na descrição da mulher amada. Que característica da estética clássica revela-se nessas comparações?
      A harmonia entre o ser humano e a natureza.

06 – Como é chamado o movimento de grande transformação política, econômica e cultural que assinala o início dos tempos modernos?
      Renascimento.


CRÔNICA: BARROCO, ALMA DO BRASIL - AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA - COM GABARITO -

Crônica: Barroco, Alma do Brasil
           
 Affonso Romano de Sant’Anna

        Já se disse airosamente que o futebol brasileiro, com suas improvisações e dribles surpreendentes, teria algo a ver com o Barroco. As pernas tortas de Garrincha, a instabilidade que provocava no adversário, o improviso rápido e fulminante de Pelé ou as circunvoluções de Tostão marcaria um tipo de jogo oposto ao futebol-força praticado modernamente. Mas a encenação que, resumindo a alma brasileira, reúne espetacularmente as contradições barrocas é o desfile do carnaval na avenida.
        O carnaval carioca, congregando esculturas populares, música e dança, constitui-se numa ópera barroca e popular, numa grande procissão profana, numa exibição do triunfo da premonição dionisíaca e apocalíptica de que ‘‘tudo vai acabar na quarta-feira.’’
        Se fizéssemos uma coleta das afirmativas e alusões feitas nos últimos anos sobre a alma brasileira e o barroco seria um não acabar. (...) Roger Bastide, que veio ao Brasil dar uns cursos e acabou passando aqui a maior parte de sua vida, via em nossas florestas a continuação dos templos barrocos.
                            Affonso Romano de Sant’Anna. “Barroco, alma do Brasil”. Rio de Janeiro, Bradesco Seguros / Comunicação Máxima, 1997. p. 202.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 140-1.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com a crônica, qual o significado das palavras abaixo:
·        Airoso: Gentil, honroso.

·        Circunvolução: Movimento à volt de um centro; contorno sinuoso; saliência ondulada; voltas da coluna torcida.

·        Congregar: Reunir.

·        Profana: O que não é sagrado ou é contrário ao respeito devido às coisas sagradas.

·        Memento Mori: ‘‘lembra-te de que deves morrer’’.

·        Premonição: Aviso, pressentimento.

·        Dionisíaco: Cuja natureza é semelhante ao deus grego da alegria e do vinho.

02 – Para caracterizar a alma barroca do Brasil, o cronista utiliza algumas comparações que aproximam o futebol da arte barroca. Escreva em seu caderno as correlações que ele estabelece entre os fatos futebolísticos a seguir e o Barroco.
a)   A instabilidade que Garrincha provoca nos adversários.
Ao contrário da arte renascentista, o Barroco reflete os conflitos, a desarmonia e o desequilíbrio da época.

b)   As circunvoluções de Tostão.
A arquitetura barroca caracteriza-se pela profusão de formas e ornamentos; nos textos, a ordem inversa torna o discurso suntuoso.

03 – Ao referir-se às pernas tortas de Garrincha, o cronista também realiza uma associação com a arquitetura barroca. Veja a foto de um chafariz e explique esta associação.
      O chafariz possui ornamentos curvos, sinuosos.

04 – O Barroco é fruto da tentativa de conciliação entre o espiritualismo medieval (teocêntrico) e o humanismo renascentista (antropocêntrico), do que resultou o chamado “jogo dos” e a profusão de antíteses e paradoxos. Para o cronista, de que maneira este elemento estaria presente na alma brasileira?
      Através do carnaval.

05 – “A vida é passageira”, dizia o homem barroco. Essa consciência da transitoriedade da vida, relacionada à presença da morte e da degradação física e moral é outra característica do Barroco. Que verso citado pelo cronista retoma a ideia da frase latina “lembra-te de que deves morrer”, justificando assim a tolerância aos excessos do carnaval?
      “Tudo vai acabar na quarta-feira”.


POEMA: INVENÇÃO DE ORFEU -JORGE DE LIMA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Invenção de Orfeu
          
   Jorge de Lima – Canto VIII (Fragmento)

Era uma vez um povo de marujos
que quis passar às Índias impossíveis,
dobrando cabos, moçambiques, bacos,
nadando em Áfricas desertas e armadilhas.
Ó herança em meu sangue devastada!
Ó piloto afogado, ó rei sem nau!
[...]
Amo-te “idioma-vasco”, sempre ouvido
no clima dessas quíloas afogadas,
esses mares antigos navegados,
escorbutos comendo a língua viva,
sebastianismos vendo irreais reinos,
essa linguagem toda, minha fala.

                                       LIMA, Jorge de. “Invenção de Orfeu”. In: Poesias completas. Rio de Janeiro, Aguilar, 1974. v. 3. p. 203.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p.120-1.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o poema, qual o significado das palavras abaixo:

·        Bacos: Referência a Baco, Deus do vinho.

·        Escorbuto: Doença causada pela carência de vitamina C, caracterizada por hemorragias e queda dos dentes.

·        Orfeu: Personagem mitológica; poeta.

·        Quíloas: Referente a Quíloa, cidade situado em uma ilha da costa do Zanzibar, no oceano Índico.

·        Sebastianismo: Referente a D. Sebastião, rei de Portugal.

02 – Em que verso da primeira estrofe o poeta expressa a forte influência da cultura portuguesa em nossa formação? Transcreva-o.
      No 5° verso: “Ó herança em meu sangue devastada!”

03 – O poeta narra feitos humanos ou divinos?
      Feitos humanos.

04 – Por que o poeta se refere à nossa língua como “idioma-vasco”?
      Porque a língua portuguesa era o idioma de Vasco da Gama.

TEXTO:GREVE - GIANFRANCESCO GUARNIERI - COM GABARITO

Texto: Greve
      
   Gianfrancesco Guarnieri

[...]

Tião – Não te mete nisso, Bráulio!
Bráulio – Não te mete, não te mete! Assim é fácil! Me desculpe D. Romana, mas não sei porque seu filho veste calças!
Romana (confusa e irritada) – Pera aí, seu Bráulio! O que é que houve?
Tião – Nada, mãe! Só que eu fui um dos dezoito que furaram a greve. Só isso!
Bráulio – De tu eu não esperava isso, Tião!
Tião – Bráulio! Tu não sabe por que foi!
Bráulio – Não, velho, pra isso não tem desculpa. Tu traiu a gente e isso não tem desculpa.
Maria (segurando a mão de Tião) – Por que, Tião?
Tião – Não te preocupa, Maria. O que interessa pra gente é que eu não vou perde o emprego. Eu entrei, furei a greve, o encarregado tomou nota do nome da gente. Deu mil cruzeiros pra cada um de gratificação e disse que a gente não ia arrepende. Pra mim é o que basta.
Romana – Desta vez, filho, tu fez besteira!
Tião – Cada um resolve seus galhos como pode! O meu, eu resolvi desse jeito.
Bráulio – Traindo teus companheiros! Se todo o mundo pensasse assim, adeus aumentos, meu velho!
Tião – Eu não podia arrisca!
Bráulio – Arrisca o que?
Tião – Meu emprego. A gente precisa viver!
Bráulio – O que é que tu arriscava, não arriscava nada!
Tião – Como não? Se eu perco meu emprego como é que eu fico?
Bráulio – Não fica muito pior, não! Arriscá salário mínimo é o mesmo que não arriscá nada. E depois, todo mundo tem seus galhos pra quebrá, ninguém ia aguentá muito tempo. Tu quis agir sozinho, meu velho, e sozinho não adianta!
Tião (obstinado) – Greve é defesa de um direito. Eu não quis defender meu direito e chega!
Bráulio – Tu te sujou, Tião! Agora vai sê pior!...
Tião – Tenho meu emprego!
Bráulio (exaltando-se mais) – Ninguém vai perde o emprego, a gente já venceu a greve!
Tião – Podia não vencer!
[...]
               GUARNIERI, Gianfrancesco. Eles não usam black-tie. 7. ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1991. p. 99-100.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 86-7.

Entendendo o texto:

01 – As primeiras falas de Tião, Bráulio e Romana já nos permitem identificar a que classe social estes personagens pertencem. Que elemento nos permite, de imediato, essa identificação?
      A linguagem.

02 – Qual foi a reação de Maria ao saber que Tião tinha “furado” a greve?
      De surpresa.

03 – Na primeira fala de Romana, o autor da peça indica quais sentimentos a atriz que a interpretará deve demonstrar. Como Romana se sente diante da situação?
      Confusa e irritada.

04 – O que levou Tião a não participar da greve?
      O medo de perder o emprego.

05 – Você acha que a greve é um direito que deve ser exercido pelos cidadãos? Em que condições você admitiria uma greve de estudantes? Furar uma greve é um direito do indivíduo? Qual a importância da união entre trabalhadores para a conquista de direitos ou para a melhoria da qualidade de vida?
      Resposta pessoal do aluno.

domingo, 15 de setembro de 2019

POEMA: AUTO DA BARCA DO INFERNO (FRAGMENTO) - GIL VICENTE - COM GABARITO

Poema: Auto da barca do inferno (Fragmento)
           
    Gil Vicente
[...]
        Vem um Corregedor, carregado de feitos, e, chegando à barca do Inferno, com sua vara na mão, diz: 
Corregedor – Hou da barca!
Diabo – Que quereis?
Corregedor – Está aqui o senhor juiz!
Diabo – Oh amador de perdiz, gentil cárrega trazeis!
Corregedor – No meu ar conhecereis que não é ela do meu jeito.
Diabo – Como vai lá o direito?
Corregedor – Nestes feitos o vereis.
Diabo - Ora, pois, entrai. Veremos que diz i nesse papel...
Corregedor – E onde vai o batel?
Diabo – No Inferno vos poremos.
Corregedor – Como?! À terra dos demos há-de ir um corregedor?!
Diabo – Santo descorregedor, embarcai, e remaremos!
[...]
Corregedor – Oh! Renego da viagem e de quem me há-de levar! Há 'qui meirinho do mar?
Diabo - Não há cá tal costumagem.
Corregedor - Não entendo esta barcagem, nem hoc non potest esse.
Diabo - Se ora vos parecesse que não sei mais que linguagem!...
Entrai, entrai, corregedor!
Corregedor – Hou! Videtis qui petatis! Super jure magestatis tem vosso mando vigor?
Diabo – Quando éreis ouvidor / nonne accepistis rapina? / Pois ireis pela bolina / onde nossa mercê for.
[...]
 Gil Vicente. “Auto da barca do inferno”. In: Gil Vicente: Barca do inferno, Inês Pereira, Auto da Índia. Estabelecimento dos textos, apres. intr.. e notas de João Domingues Maia. 4. ed. São Paulo, Ática, 1998. p. 44-5.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 110-1.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Corregedor: Antigo magistrado cujas atribuições eram análogas às dos atuais juízes de direito.

·        Feitos: Autos judiciais, processos.

·        Cárrega: carga.

02 – Por que se pode afirmar que o “Auto da barca do inferno” é um auto de moralidade?
      Porque visa analisar e criticar os vícios e virtudes dos indivíduos.

03 – No “Auto da barca do inferno”, cada uma das personagens carrega consigo os símbolos da sua profissão. Que símbolo da sua profissão carrega o Corregedor?
      Os feitos, isto é, autos judiciais ou processos.

04 – De que o Diabo acusa o Corregedor?
      De ter aceitado subornos.

05 – Qual a relação que se pode estabelecer entre o Corregedor e a sua linguagem?
      O Corregedor usa expressões latinas que caracterizam a sua profissão.



MENSAGEM ESPÍRITA: MÃOS À OBRA - LIVRO PÃO NOSSO -EMMANUEL - CHICO XAVIER - PARA REFLEXÃO

Mãos à obra

“Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.” – Paulo.
 (1ª Epístola aos Coríntios, 14:26.)
A igreja de Corinto lutava com certas dificuldades mais fortes, quando Paulo lhe escreveu a observação aqui transcrita.
O conteúdo da carta apreciava diversos problemas espirituais dos companheiros do Peloponeso, mas podemos insular o versículo e aplicá-lo a certas situações dos novos agrupamentos cristãos, formados no ambiente do Espiritismo, na revivescência do Evangelho.
Quase sempre notamos intensa preocupação nos trabalhadores, por novidades em fenomenologia e revelação.
Alguns núcleos costumam paralisar atividades quando não dispõem de médiuns adestrados.
Por quê?
Médium algum solucionará, em definitivo, o problema fundamental da iluminação dos companheiros.
Nossa tarefa espiritual seria absurda se estivesse circunscrita à freqüência mecânica de muitos, a um centro qualquer, simplesmente para assinalarem o esforço de alguns poucos.
Convençam-se os discípulos de que o trabalho e a realização pertencem a todos e que é imprescindível se movimente cada qual no serviço edificante que lhe compete. Ninguém alegue ausência de novidades, quando vultosas concessões da esfera superior aguardam a firme decisão do aprendiz de boa-vontade, no sentido de conhecer a vida e elevar-se.
Quando vos reunirdes, lembrai a doutrina e a revelação, o poder de falar e de interpretar de que já sois detentores e colocai mãos à obra do bem e da luz, no aperfeiçoamento indispensável.

CRÔNICA: MODOS DE XINGAR - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Crônica: MODOS DE XINGAR
               Carlos Drummond de Andrade 

        – BILTRE!
        – O que?
        – Biltre! Sacripanta!
        – Traduz isso para o português.
        – Traduzo coisa nenhuma. Além do mais, charro! Onagro!
        Parei para escutar. As palavras jorravam de um Ford de bigode. Quem as proferia era um senhor idoso, terno escuro, fisionomia respeitável, alterada pela indignação. Quem as recebia era um garotão de camisa esporte, dentes clarinhos emergindo da floresta capilar, no interior de um fusca. Desses casos de toda hora: o fusca bateu no Ford. Discussão. Bate-boca. O velho usava o repertório de xingamento de seu tempo e de sua condição: professor, quem sabe? Leitor de Camilo Castelo Branco.
        Os velhos xingamento. Pessoas havia que se recusavam a usar o trivial das ruas e botequins, e iam pedir a Rui Barbosa, aos mestres da língua, expressões que castigassem fortemente o adversário. Esse material seleto vinha esmaltar artigos de polêmica (polemizava-se muito, nos jornais do começo do século), discursos políticos (nos intervalos de estado de sítio, é lógico) e um pouco os incidentes de calçada.

                                     ANDRADE, Carlos Drummond de. Modos de xingar, In, Poesia e prosa. 5ª ed. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1979, p. 1411-13.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p.94-5.
Entendendo a crônica:

01 – De acordo com a crônica, qual o significado das palavras abaixo:
·        Biltre: Homem vil, abjeto, infame.

·        Sacripanta: Pessoa desprezível, capaz de quaisquer violências e indignidades.

·        Charro: Rústico, grosseiro.

·        Onagro: Burro, jumento.

·        Ford de bigode: Automóvel do começo do século XX.

·        Trivial: Comum, vulgar, que é sabido de todos.

·        Esmaltar: Abrilhantar, dar cores diversas a alguma coisa, variar.

·        Estado de sítio: Suspensão temporária de certos direitos e garantias individuais.

02 – As duas personagens do texto de Drummond possuem características pessoais bastante contrastantes. O que, basicamente, caracteriza este contraste e justifica o emprego do vocabulário em desuso?
      A diferença de idade.

03 – Que outros elementos materiais contribuem para caracterizar a defasagem do tempo entre as personagens?
      O senhor dirigia um Ford de bigode, o jovem dirigia um fusca, que, à época em que o texto foi escrito, era considerado um carro moderno. Pode-se acrescentar, ainda, as diferenças de aparência entre os dois.

04 – Como o cronista caracteriza as palavras do velho senhor? Por quê?
      Como palavras estranhas, porque estavam fora de uso.

05 – Que fato linguístico podemos depreender do texto de Drummond?
      Que a língua, com o passar do tempo, sofre transformações.

06 – Qual o significado, no texto, da palavra Jorravam? Está em sentido conotativo ou denotativo?
      Saiam. Conotativo.


CRÔNICA: CÍNTIA ERA MINHA PRIMA - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

CRÔNICA: Cíntia era minha prima
     
                       Fernando Sabino

        CÍNTIA era minha prima — filha do irmão de mamãe, que morava no Rio. Viera passar uns dias conosco. Era a primeira vez que eu tomava conhecimento da sua existência. Devia andar pelos dezessete, dezoito anos, o que queria dizer que era para mim uma mulher feita — e a mais bela que eu jamais vira de perto. Usava blusa sem manga e com decote, saia calça, tinha os cabelos louros, os olhos verdes e ainda por cima fumava. 
        Mamãe se escandalizou ao vê-la tirar calmamente da bolsa um cigarro na vista de todos e acender, para depois cruzar as pernas e soltar devagarinho a fumaça pelas narinas: 
        — Você fumando, menina? Seu pai sabe disso? 
        — Ora, titia, que é que tem de mais? 
        — Uma moça direita não fuma. 
        — Hoje em dia toda mulher fuma. Não é mais pecado. 
        E ela desviou da testa uma madeixa de cabelos, movimentando a cabeça para o lado num gesto que me pareceu simplesmente lindo. 
        A sua presença fez com que nossa casa ganhasse uma aura de encanto, como um lugar privilegiado, de um fascínio que parecia impregnar o próprio ar que eu respirava. Quando ela
surgia na sala, tudo se iluminava. Eu voltava correndo da escola para não perder um minuto da sua presença, e não arredava pé de casa, nem mesmo para ir ao quintal, meu reino esquecido.
Mamãe estranhava aquela mudança nos meus hábitos: 
        — Não sei o que deu nesse menino. 
        Nem eu mesmo sabia que estava experimentando pela primeira vez a sensação inebriante de uma paixão. 

             SABINO, Fernando. O menino no espelho. Rio de Janeiro, Record, 1982. p. 162-3.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 76-7.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Aura: Atmosfera.

·        Fascínio: Deslumbramento, encanto.

·        Impregnar: Infiltrar-se em, penetrar.

·        Inebriante: Embriagador, delicioso, extasiante.

02 – “Devia andar pelos dezessete, dezoito anos, o que queria dizer que era para mim um mulher deita”. O que se deduz desse comentário do narrador?
      Deduz que o narrador era muito mais jovem que Cíntia.         

03 – De que recursos Cíntia se utilizava para parecer adulta?
      Fumava, usava roupas sensuais e se preocupava com sua postura e trejeitos (modos de cruzar as pernas e movimentar a cabeça para desviar os cabelos).

04 – Que características do texto narrativo podemos observar no texto de Fernando Sabino?
      O texto conta fatos situados no tempo com o emprego de tempos verbais do pretérito e a presença de personagens, ações e cenários.

05 – Qual a importância para o narrador do episódio que ele, já adulto, relembra?
      Trata-se da descoberta de um sentimento novo, o amor.

06 – Você acha natural uma menina de 9 ou 10 anos querer parecer mulher usando maquiagem, unhas pintadas, minissaia, tamanquinhos, brincos, batom, etc.?
      Resposta pessoal do aluno.  

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

SONETO XXXVIII - GUILHERME DE ALMEIDA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Soneto: Soneto XXXVIII
          
   Guilherme de Almeida

Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.

Fazia, de papel, toda uma armada,
e estendendo meu braço pequenino,

eu soltava os barquinhos, sem destino.
ao longo das sarjetas, na enxurrada...

Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são de papel, são como aqueles,

perfeitamente, exatamente iguais...
Que meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!

                                            Guilherme de Almeida. “Soneto”. In: Meus versos mais queridos. Rio de Janeiro, Tecnoprint, s.d. p. 41.
                                               Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p.71-3.
Entendendo o soneto:

01 – O poema pode ser dividido em dois segmentos. Que tempos verbais predominam em cada um deles?
      O passado (duas primeiras estrofes) e o presente (duas últimas).

02 – A que o poeta compara os seus ideais?
      A barcos de papel.

03 – Em: “Quando a chuva cessava e um vento fino / Franzia a tarde tímida e lavada.”, que ruído nos sugerem as consoantes constritivas ([v]]. [s], [f], [z])? Que nome se dá a este efeito sonoro?
      O ruído da chuva e do vento. Obs.: chamam-se construtivas porque, ao serem produzidas, a corrente de as produz um ruído semelhante a uma ligeira fricção. Aliteração.

04 – Além da regularidade de metro (todos os versos são decassílabos), que outro recurso sonoro contribui para a musicalidade do poema?
      As rimas.

05 – Com base nos estudos feitos em unidades anteriores, dê algumas características do gênero lírico.
      O texto lírico é uma manifestação do eu do poeta, uma expressão da sua subjetividade, dos seus sentimentos e emoções: o seu mundo interior. A musicalidade é outra característica importante do texto lírico: o poeta explora as sonoridades.