sábado, 16 de junho de 2018

REPORTAGEM : O BRASIL DOS RONALDOS - RB REVISTA DO BRASIL - COM GABARITO

REPORTAGEM : O Brasil dos Ronaldos
       

Mesmo fora de forma e acima do peso, eles não abrem mão de correr atrás da bola e da diversão para aliviar o estresse. Especialistas alertam sobre os riscos para o esportista eventual que não prepara o seu corpo.

        Já passava das três e meia da tarde e os quatro homens em trajes de futebol esperam sob o sol suave de outono diante do campo de futebol soçaite na quadra 904 Sul, em Brasília. Eles costumam jogar no Iate Clube, ocupado pela festa junina, mas a pelada de sábado é sagrada e precisavam de uma alternativa. Cada um veste a camisa de um time e o jeito de distinguir as equipes será a cor dos coletes que logo alguém haverá de trazer. Os peladeiros chegam aos poucos. Finalmente foi atingido o quorum.
        Ops, passou, já são 16... Tudo bem. O importante é competir. Com a chegada de reforços, os times já podem ter nove jogadores e se dar ao luxo de jogar com sete de cada lado – como pede a regra – e ainda ter dois suplentes, não para uma possível mudança tática, mas para revezar o fôlego. Falta o responsável pelos coletes, mas a bola estando ali, dá-se um jeito: o time da direita tira as camisas. Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo.
        A brincadeira dessa turma de jornalistas de Brasília acontece há tanto tempo, quase duas décadas, que já incorporou profissionais de outras áreas e filhos dos atletas. Um dos organizadores, Jânio Lessa, brinca que a aceitação de médicos e fisioterapeutas foi oportuna, “só falta o reforço de um psiquiatra”. Luís Lima, o Lula, sofre quando precisa faltar, nem que seja para organizar o Trem do Forró de Recife, sua cidade de origem: “Prefiro jogar”. João Forni, com a camisa do Grêmio, confirma: “A pelada é sagrada”. Um dos sem-camisa, o diplomata José Renato, viveu um dilema quando estudava para o concurso do Instituto Rio Branco. Tinha exames no domingo, mas não conseguia faltar à pelada da véspera. “Preferia conviver com a ‘culpa’ de não ter estudado como deveria.” Ainda bem que passou.
        As peladas de fim de semana fazem parte da vida de milhões de brasileiros e, cada vez mais, brasileiras. Algumas são mais organizadas, têm calendário e razão social, rendem associações e campeonatos. Mas a maioria é pura diversão, sem juiz ou bandeirinha, com atacantes e defensores se revezando até para defender o gol. E a diversão não se restringe ao futebol: vôlei, basquete e tênis também fazem parte dos remédios antiestresse.


        Lívia Borges dos Santos joga de tudo desde pequena. No colégio e na faculdade tinha treinos intensivos para participar de campeonatos. Mas o fim da faculdade levou embora o tempo livre e ela ingressou no time dos atletas de fim de semana. “A gente combina durante a semana, via internet, e se encontra nas quadras do Ibirapuera para formar três ou quatro times de handebol ou futsal. Cada partida dura mais ou menos cinco minutos ou dois gols, quem ganhar fica na quadra”.
        A administradora Luciana Stocco de Campos, que mora em Paulínia (SP) e trabalha em Campinas, também treinava intensamente para campeonatos de vôlei e tênis quando era estudante. Mas o trabalho tomou-lhe o tempo e sobrou o fim de semana, que ela faz questão de usar como válvula de escape. “O problema é que a gente adquire hábitos errados como comer além da conta, beber, fumar. Ganhei oito quilos em oito anos. Pode não ser muito, mas na hora de jogar a diferença aparece e o corpo sofre”, lamenta.
Brincadeira arriscada
        Cardiologistas e ortopedistas alertam para os altos riscos dos exercícios eventuais porém intensos de pessoas sem preparo físico. Não há estatísticas confiáveis, até por falta de uma notificação, mas o médico responsável pelo setor de Cardiologia do Esporte do Instituto Dante Pazzanese e pelo check-up esportivo do Hospital do Coração, Nabil Gorayeb, conta que não é pequeno o número dos que encontram no esporte de fim de semana o gatilho para um enfarte. “Quem gosta de atividades esportivas tem de se preparar, conhecer o esporte e treinar”, afirma.
        A “sorte” de quem exagera nos exercícios de fim de semana, segundo Gorayeb, é que o trauma ortopédico vem antes do cardiovascular e às vezes “salva a pessoa”. O professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Arnaldo Hernandez, chefe do núcleo de medicina do esporte do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, explica: “Se a pessoa faz um esforço grande depois de ficar cinco dias sem fazer exercícios, tolera um nível de sobrecarga muito menor. Há o risco de a recuperação de uma fadiga demorar mais de cinco dias e um novo esforço provocar uma soma de fadigas – gerando lesões por sobrecarga repetitiva que são as tendinopatias, ou doenças dos tendões”.
        Outro risco são as lesões traumáticas agudas do esporte: torção de tornozelo, distensão ou ruptura muscular por falta de condicionamento específico. O jornalista e peladeiro de Brasília Policarpo Júnior sabe bem o que isso significa: “Torço constantemente o tornozelo por conta do despreparo físico”. O ortopedista Hernandez diz que ele precisa treinar o chamado “gesto esportivo”, com exercícios específicos para saltar, chutar, mudar de direção, bloquear e fazer fintas: “Sem isso, a musculatura não responde como deveria e abre caminho para a lesão”. Mas Policarpo não desiste da sagrada pelada que frequenta há 15 anos. “A grande vantagem é o relaxamento mental que ela proporciona. O objetivo é brincar, brigar, xingar um ao outro e depois tomar uma cerveja para falar sobre os melhores momentos da partida.”
        A goleira de futebol soçaite Lais Kerry, de 21 anos, treinou alguns anos intensivamente e parou por causa do trabalho. Como adora o esporte, joga nos fins de semana e percebe que tem mais dificuldade. Ela se machuca pouco: “É preciso jogar com proteções para a mão e as articulações, mas o máximo que acontece é ficar com alguma marca roxa ou uma torção de tornozelo. Já me contaram muitos casos de jogadores de fim de semana que tiveram ataques cardíacos no meio da partida, mas ainda me sinto segura”.
                                                 RB Revista do Brasil n° 2, julho 2006.
                                               www.redebrasilatual.com.br – revistas.
Entendendo o texto:
01 – Qual o título do texto?
      O Brasil dos Ronaldos.
02 – Por que foi dado esse título para o texto?
       Porque fala de pessoas que mesmo fora de forma e acima do peso, eles não abrem mão de correr atrás da bola e da diversão para aliviar o estresse.
03 – Onde eles se encontravam para a partida de futebol? E como era chamado o jogo?
      Na quadra 904 Sul, em Brasília. Eram chamados de peladeiros.
04 – Quantos jogadores tem cada time? E os que sobram, o que fazem?
      São 07 jogadores cada time. Os que sobram ficam para revezar o fôlego, dos que vão cansando.
05 – Os times dos peladeiros eram formados por pessoas de várias profissões, quais são elas?
      Eram jornalistas, médicos, fisioterapeutas e os filhos dos atletas.
06 – As peladas de fim de semana, fazem parte da vida de milhões de brasileiros, quais são os tipos de esportes praticados por eles?
      Além do futebol, praticam o vôlei, o basquete, o tênis, etc.
07 – De acordo com Lívia Borges dos Santos, que também entrou para o time dos fins de semana, como eles combinam e dividem-se para as partidas?
      “A gente combina durante a semana, via internet, e se encontra nas quadras do Ibirapuera para formar três ou quatro times de handebol ou futsal. Cada partida dura mais ou menos cinco minutos ou dois gols, quem ganhar fica na quadra”.
08 – A administradora Luciana Stocco de Campos, também tornou-se atleta do fim de semana, qual o seu esporte e qual a sua mensagem?
      Ela pratica vôlei e tênis, e diz: “O problema é que a gente adquire hábitos errados como comer além da conta, beber, fumar. Ganhei oito quilos em oito anos. Pode não ser muito, mas na hora de jogar a diferença aparece e o corpo sofre”, lamenta.

09 – Por que os Cardiologistas e ortopedistas, acham uma brincadeira arriscada?
      Eles alertam para os altos riscos dos exercícios eventuais, porém intensos de pessoas sem preparo físico. Dizem ser um gatilho para o enfarte. “Quem gosta de atividades esportivas tem de se preparar, conhecer o esporte e treinar”, afirma.

10 – Qual a mensagem deixada pelo professor Dr. Arnaldo Hernandez, ao esportista do fim de semana?
      “Se a pessoa faz um esforço grande depois de ficar cinco dias sem fazer exercícios, tolera um nível de sobrecarga muito menor. Há o risco de a recuperação de uma fadiga demorar mais de cinco dias e um novo esforço provocar uma soma de fadigas – gerando lesões por sobrecarga repetitiva que são as tendinopatias, ou doenças dos tendões”.

11 – Quais outros riscos, que podem ter os atletas do fim de semana?
      Lesões traumáticas agudas, torção de tornozelo, distensão ou ruptura muscular por falta de condicionamento específico.

12 – Para os atletas do fim de semana, o que é mais importante?
      “A grande vantagem é o relaxamento mental que ela proporciona. O objetivo é brincar, brigar, xingar um ao outro e depois tomar uma cerveja para falar sobre os melhores momentos da partida.”
13 – A goleira de futebol soçaite Laís Kerry, que também participa do fim de semana, qual a mensagem e o aprendizado adquirido por ela?
      “É preciso jogar com proteções para a mão e as articulações, mas o máximo que acontece é ficar com alguma marca roxa ou uma torção de tornozelo. Já me contaram muitos casos de jogadores de fim de semana que tiveram ataques cardíacos no meio da partida, mas ainda me sinto segura”.





POESIA: SONHO LONGE - MARIA DINORAH - COM GABARITO

Poesia: Sonho longe
          Maria Dinorah

No campo,
o mato
a enxada, a dança
do menino
que corta e carpe
é não descansa



A boia
é fraca e fria

A tarde, tão azul,
é tão vazia.

A escola
é sonho longe

O garoto trabalha
pro sustento
do irmãozinho.
                                               Maria Dinorah. In: Mata-tira-tirarei.
                                             Porto alegre: L&PM Editores, 1985.

Entendendo a poesia:

01 – Explique o sentido dos versos:
        "A boia é fraca e fria"
        "A escola é sonho longe"
      A comida é pouca e pouco nutritiva, e o sonho de ir para a escola parece muito difícil de se realizar.

02 – Qual é o sentido da palavra DANÇA no poema?
      A movimentação, as manobras no trabalho.

03 – O texto “Sonho longe” é um poema. Você conhece alguma característica desse gênero de texto?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: o poema é um gênero textual em que o assunto é tratado usando uma forma de organização diferente das palavras. O poema geralmente é escrito em versos e estofes e apresenta rimas.

04 – Qual é o assunto tratado no poema?
      O poema trata de uma criança que trabalha para sustentar o irmão menor e, por isso, não pode ir à escola.

05 – Explique o que você entendeu sobre o título.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A escola é algo inalcançável para o menino, pois ele precisa trabalhar para sustentar seu irmão (e, provavelmente, a si próprio).

06 – O menino, que é o personagem do poema, existe?
      Os poemas geralmente apresentam personagens que representam pessoas reais, isto é, que poderiam existir de verdade.

07 – Que “dança” esse menino executa, de acordo com o texto?
      É o movimento do corpo que o menino faz para lidar com a enxada.

08 – Releia os versos abaixo e explique o que você entendeu.
        “A boia
         é fraca e fria

         A tarde, tão azul,
        é tão vazia.”
      A tarde, tão azul, representa tempo bom para brincar ao ar livre, passear, etc., mas bom também para trabalhar no campo, que é o que o menino faz. A tarde, além de azul é vazia.

09 – No quarto verso da quarta estrofe aparece a expressão reduzida pro. Qual seria a intenção da autora em utilizar essa redução em vez da forma normal para o?
      A autora teria usado a redução por ser uma forma coloquial de linguagem. Isso ajuda a aproximar a linguagem do poema da linguagem do personagem.

10 – Cada linha de um poema é chamada verso. Os versos desse poema são longos ou curtos?
      Os versos são curtos.

11 – Cada conjunto de versos de um poema é chamado estrofe. Quantas estrofes há nesse poema?
      Possui quatro estrofes.

12 – As estrofes desse poema possuem o mesmo número de versos?
      Não. A primeira estrofe possui 6 versos; a segunda e a terceira estrofe possuem versos cada; e a quarta estrofe possui 5 versos.









sexta-feira, 15 de junho de 2018

FILME(ATIVIDADES): O ENIGMA DE KASPAR HAUSER - WERNER HERZOG - COM GABARITO

Filme(ATIVIDADES): O ENIGMA DE KASPAR HAUSER
Duração 1h 50min
Direção: Werner Herzog
Gênero Drama
Nacionalidade Alemanha Ocidental

SINOPSE E DETALHES
        Um homem jovem chamado Kaspar Hauser (Bruno S.) aparece de repente na cidade de Nuremberg em 1828, e mal consegue falar ou andar, além de portar um estranho bilhete. Logo é descoberto que sua aparição misteriosa se deve ao fato de que ele ficou trancado toda sua vida em um cativeiro, desconhecendo toda a existência exterior. Quando ele é solto nas ruas sem motivo, muitas pessoas decidem ajudá-lo a se integrar na sociedade, mas rapidamente Kaspar se transforma em uma atração popular.

Entendendo o filme:
01 – As pessoas de Nuremberg acreditavam que Kaspar era selvagem? Por quê?
      Sim. Pois não apresentava características e a socialização necessária para integrar os grupos sociais da época. Era diferente de todos os outros indivíduos, pois não comia como eles, não pensava, e pronunciava poucas palavras, não conseguia distinguir o sonho da realidade, não conhecia e não pensava em Deus. Além disso, o que deixava as pessoas daquela sociedade inconformadas era o fato dele não gostar de ir à igreja, pois os sons o incomodavam e soavam como gritos aos seus ouvidos.

02 – Ele sentia emoções, medo, vergonha? Fale sobre as expressões de sentimentos de Kaspar.
      Devido o isolamento do qual foi submetido o impediu de ter acesso a linguagem e, consequentemente, ele teve que passar, posteriormente, por um processo de aprendizagem intenso. O desenvolvimento tardio lhe trouxe alguns prejuízos, porém ainda assim ele foi capaz de pensar, sentir, aprender. Porem sua forma de se expressar ao sentir emoções era o choro uns dos exemplo é um dos momentos que ele pega criança em seu colo, quando sentia medo e vergonha ele tinha crises.

03 – Por que ele cismou que as maçãs tinham vida? Isso tem alguma lógica?
      Kaspar cisma que as maças tem vida porque a maçã pararia diante de um obstáculo. Kaspar ao ver que aconteceu com a maçã ele insinua que ela foi mais esperta, pois pulou o pé da pessoa, criando um novo esquema no qual se possa encaixar o novo estímulo, o novo desafio, ou mesmo modificando a ideia já existente, de que a maçã pararia, de modo que o estímulo possa ser incluído nele, transpondo à maçã, um poder e um animismo.

04 – Kaspar cismou pois seria como as pessoas que muitas vezes não são vistas Em sua opinião Kaspar era um ser inteligente? Explique.
      Por mais que tenha foi escondido por vários anos Kaspar apresentava um grau inteligência, aprendia rápido o que lhe ensinava, raciocinava muito superficial e concretamente. Sendo assim, o contato social propiciou que ele avançasse uma grande etapa de seu desenvolvimento linguístico, se tornando capaz de aplicar regras para as orações que ouvia, da mesma forma que as crianças fazem, não só repetindo o que os adultos dizem, mas articulando o vocabulário já adquirido com as regras gramaticais aprendidas, e formando novas sentenças.

05 – O que os médicos buscavam em sua autópsia? Em sua opinião, a conclusão dos médicos está correta?
      Os médicos buscava encontrar em Kaspar um método o por que dele ser uma pessoa estranha, nos quais não compreendia que ele era uma pessoa social igual a todos com a mesma cultura e gênero, que apenas foi excluído da sociedade por alguns anos.

06 – Após assistir ao filme você acredita que há relação entre "comunicação" e a formação da sociedade? Explique.
      Ao analisar o filme pode se compreender que a relação da comunicação com a formação da sociedade é bem pouca, pois muitas vezes julgamos o próximo apenas pela aparência física, assim como as pessoas fizeram com Kaspar sem conhecer deixaram preso, tentando saber de sua vida, sendo assim é um pouco do que vivemos em nosso cotidiano.




CONTO: O MENINO QUE ESCREVIA VERSOS - MIA COUTO - COM GABARITO

Conto: O menino que escrevia versos
                                           
             Mia Couto

De que vale ter voz
se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar
se o que vivo é menos do que o que sonhei?
(Versos do menino que fazia versos)

        — Ele escreve versos!
        Apontou o filho, como se entregasse criminoso na esquadra. O médico levantou os olhos, por cima das lentes, com o esforço de alpinista em topo de montanha.
        — Há antecedentes na família?
        — Desculpe doutor?
        O médico destrocou-se em tintins. Dona Serafina respondeu que não. O pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso por destino, nunca espreitara uma página. Lia motores, interpretava chaparias. Tratava bem, nunca lhe batera, mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias:
        — Serafina, você hoje cheira a óleo Castrol.
        Ela hoje até se comove com a comparação: perfume de igual qualidade qual outra mulher ousa sequer sonhar? Pobres que fossem esses dias, para ela, tinham sido lua-de-mel. Para ele, não fora senão período de rodagem. O filho fora confeccionado nesses namoros de unha suja, restos de combustível manchando o lençol. E oleosas confissões de amor.
        Tudo corria sem mais, a oficina mal dava para o pão e para a escola do miúdo. Mas eis que começaram a aparecer, pelos recantos da casa, papéis rabiscados com versos. O filho confessou, sem pestanejo, a autoria do feito.
        — São meus versos, sim.
        O pai logo sentenciara: havia que tirar o miúdo da escola. Aquilo era coisa de estudos a mais, perigosos contágios, más companhias. Pois o rapaz, em vez de se lançar no esfrega-refrega com as meninas, se acabrunhava nas penumbras e, pior ainda, escrevia versos. O que se passava: mariquice intelectual? Ou carburador entupido, avarias dessas que a vida do homem se queda em ponto morto?
        Dona Serafina defendeu o filho e os estudos. O pai, conformado, exigiu: então, ele que fosse examinado.
        — O médico que faça revisão geral, parte mecânica, parte eléctrica.
        Queria tudo. Que se afinasse o sangue, calibrasse os pulmões e, sobretudo, lhe espreitassem o nível do óleo na figadeira. Houvesse que pagar por sobressalentes, não importava. O que urgia era pôr cobro àquela vergonha familiar.
        Olhos baixos, o médico escutou tudo, sem deixar de escrevinhar num papel. Aviava já a receita para poupança de tempo. Com enfado, o clínico se dirigiu ao menino:
        — Dói-te alguma coisa?
        —Dói-me a vida, doutor.
        O doutor suspendeu a escrita. A resposta, sem dúvida, o surpreendera. Já Dona Serafina aproveitava o momento: Está a ver, doutor? Está ver? O médico voltou a erguer os olhos e a enfrentar o miúdo:
        — E o que fazes quando te assaltam essas dores?
        — O que melhor sei fazer, excelência.
        — E o que é?
        — É sonhar.
        Serafina voltou à carga e desferiu uma chapada na nuca do filho. Não lembrava o que o pai lhe dissera sobre os sonhos? Que fosse sonhar longe! Mas o filho reagiu: longe, porquê? Perto, o sonho aleijaria alguém? O pai teria, sim, receio de sonho. E riu-se, acarinhando o braço da mãe.
        O médico estranhou o miúdo. Custava a crer, visto a idade. Mas o moço, voz tímida, foi-se anunciando. Que ele, modéstia apartada, inventara sonhos desses que já nem há, só no antigamente, coisa de bradar à terra. Exemplificaria, para melhor crença. Mas nem chegou a começar. O doutor o interrompeu:
        — Não tenho tempo, moço, isto aqui não é nenhuma clínica psiquiátrica.
        A mãe, em desespero, pediu clemência. O doutor que desse ao menos uma vista de olhos pelo caderninho dos versos. A ver se ali catava o motivo de tão grave distúrbio. Contrafeito, o médico aceitou e guardou o manuscrito na gaveta. A mãe que viesse na próxima semana. E trouxesse o paciente.
        Na semana seguinte, foram os últimos a ser atendi dos. O médico, sisudo, taciturneou: o miúdo não teria, por acaso, mais versos? O menino não entendeu.
        — Não continuas a escrever?
        — Isto que faço não é escrever, doutor. Estou, sim, a viver. Tenho este pedaço de vida — disse, apontando um novo caderninho — quase a meio.
        O médico chamou a mãe, à parte. Que aquilo era mais grave do que se poderia pensar. O menino carecia de internamento urgente.
        — Não temos dinheiro — fungou a mãe entre soluços.
        — Não importa — respondeu o doutor.
        Que ele mesmo assumiria as despesas. E que seria ali mesmo, na sua clínica, que o menino seria sujeito a devido tratamento. E assim se procedeu.
        Hoje quem visita o consultório raramente encontra o médico. Manhãs e tardes ele se senta num recanto do quarto onde está internado o menino. Quem passa pode escutar a voz pausada do filho do mecânico que vai lendo, verso a verso, o seu próprio coração. E o médico, abreviando silêncios:
        — Não pare, meu filho. Continue lendo...

COUTO, Mia. O fio das missangas. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009. p.131-134
Entendendo o conto:
01 – O fato que dá origem à história aparentemente poderia ser considerado "normal", "corriqueiro".
a)   Que fato é esse?
A escrita de versos por um menino.

b)   Tal fato incomoda uma personagem, que reage a isso. Quem é ela? Qual é a reação dessa pessoa da história, ou seja, o que acontece com o menino?
Incomoda o pai do menino, que reage ao fato obrigando a mulher a levar o filho ao médico.

02 – Recorde as quatro personagens dessa história.
a)   Quais são elas?
O médico, o menino que escreve os versos, o pai do menino e a mãe, Serafina.

b)   Uma dessas personagens está ausente nos momentos das consultas médicas. Qual?
O pai.

c)   Em sua opinião, o que explica essa ausência?
Resposta pessoal. Professor, verifique as respostas dos alunos e acate aquelas que lhe parecem bem argumentadas. 

03 – O fato de o garoto escrever versos preocupa o pai dele? Por quê?
      O pai entende que essa não é uma ação normal de um menino.

04 – Além de escrever versos, o menino também tem sonhos. Releia o seguinte trecho:
[...] Não lembrava o que o pai lhe dissera sobre os sonhos? 
Que fosse sonhar longe! Mas o filho reagiu: longe, por quê?
Perto, o sonho aleijaria alguém? O pai, teria, sim, receio de sonho. E riu-se, acarinhando o braço da mãe.
a)   Em sua opinião, por que o pai tem receio dos sonhos do menino?
Resposta pessoal. Professor, espera-se que os alunos percebam que, para o pai, sonhar é uma forma de afastar-se da realidade e, portanto, não aprender a lidar com ela. 

b)   Que relação poderia ser estabelecida entre "sonhar" e "fazer versos"? Explique, apoiando-se em elementos da história lida.
Resposta pessoal. Professor, espera-se que os alunos percebam a relação que se estabelece, no conto, entre o fazer literário ("fazer versos") e a atividade de fugir à realidade, imaginar um outro modo de existir. 

05 – Após a visita ao médico, foi sugerido um tratamento para o menino.
a)   Que tratamento era esse?
A internação urgente do menino.

b)   Explique de que forma o tratamento sugerido pelo médico "soluciona" o problema do menino.
O tratamento permite ao menino desenvolver ainda mais sua habilidade de "fazer versos" e, ao mesmo tempo, tira-o da influência do pai, para quem a atividade do filho é doentia.

06 – Pode-se afirmar que o final da narrativa é surpreendente. Por quê?
      Professor, espera-se que os alunos percebam que o tratamento médico, em vez de tentar impedir a escrita dos versos pelo menino, estimula-o a continuar e a desenvolver sua atividade poética. Além disso, surpreende o fato de o médico colocar a própria atividade em segundo plano, para dialogar com o menino.

07 – De que maneira você acredita que as pessoas de sua convivência - familiares, amigos, vizinhos, conhecidos - acolheriam um garoto que gostasse de fazer versos? E você: o que acharia de um menino assim? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.



TEXTO: A ONÇA-PINTADA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


TEXTO: A onça-pintada

       Conheça a onça pintada, foto da onça pintada, alimentação, classificação, comportamento deste felino, reprodução, animal selvagem.
     A onça-pintada é considerada como o símbolo da coragem. É muito temida por todos os animais.
        Move-se, silenciosamente, com a cabeça baixa. É difícil perceber quando vai atacar porque seu pelo, cheio de manchas, confunde-se com o mato.
        Ela nada nos rios e riachos.

CLASSIFICAÇÃO CIENTÍFICA: 
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Carnivora
Família: Felidae
Género: Panthera
Espécie: P. onça 

INFORMAÇÕES IMPORTANTES:
        A onça pintada é uma espécie carnívora e alimenta-se, principalmente, de capivaras, serpentes, coelhos, veados, antas e outros mamíferos de pequeno porte. Come também peixes que ela mesma captura em rios, pois possui a capacidade de nadar.
        O acasalamento da onça pintada ocorre em qualquer época do ano e a fêmea costuma gerar de 1 a 4 filhotes por ano. Quando nasce, o filhote costuma pesar 1 kg aproximadamente.
        Esta espécie mamífera habita uma vasta região que vai do sul dos Estados Unidos até a Argentina. Está presente em grande quantidade nas matas e florestas tropicais do Brasil.
       Possui mandíbulas muito fortes, por isso, atacam suas vítimas mordendo na região do crânio.
      O animal macho atinge a maturidade sexual por volta dos 3 anos, enquanto a fêmea alcança com apenas 2 anos.
     A expectativa de vida desta espécie (vivendo de forma selvagem) é de 12 anos aproximadamente. Em cativeiro, a onça pintada pode passar de 20 anos.
        Para caçar, as onças preferem o período da noite.
        As onças emitem sons para se comunicarem. O som emitido pelas onças é chamado de urrar.

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS:
Período de gestação: 95 a 110 dias
Comprimento: em média 1,80 m (macho) e 1,40 m (fêmea)
Peso:  aproximadamente 100 kg
Cor: mesclada de amarelo, preto e branco
Altura: aproximadamente 80 cm.
                                                         https://www.suapesquisa.com
Entendendo o conto:

01 – Responda em seu caderno:
a)   Como a onça pintada é considerada?
É considerada um símbolo de coragem.

b)   Marque as respostas corretas:
     A onça pintada é temida por todos os animais. Isso quer dizer que:
    (X) É uma ótima caçadora e muito feroz.
    (  ) É um animal calmo.
    (  ) Ela nada nos rios e riachos.

c)   Por que é difícil perceber a sua presença?
Porque seu pelo e cheio de manchas e confundem com a mata.

d)   Por que ela pode desaparecer do planeta?
Porque é um animal muito caçado.

02 – Risque o que mostra sobre o que o texto fala:
(X) Informações sobre a onça.
( ) O desaparecimento das onças.

03 – Quais os tipos de alimentação preferida da onça?
      Alimenta-se de capivaras, serpentes, coelhos, veados, antas e de peixes que ela mesma pega.

04 – O acasalamento e feito em que época do ano? E quantos filhos são gerados?
      Ocorre em qualquer época do ano e a fêmea costuma gerar de 1 a 4 filhotes por ano.

05 – Qual é a expectativa de vida da espécie?
      A expectativa de vida desta espécie na natureza é de 12 anos aproximadamente. Em cativeiro, a onça pintada pode passar de 20 anos.

06 – Qual o período que a onça prefere para caçar?
      Para caçar, as onças preferem o período da noite.

07 – Quais são as cores das onças? Até que altura elas chegam? E qual seu peso?
      Suas cores é mesclada de amarelo, preto e branco. Chegando a altura de 80 cm. Adulta chega a 100 kg.

     

     


     





FÁBULA: JABUTI SABIDO COM MACACO METIDO - ANA MARIA MACHADO - COM GABARITO

Fábula: Jabuti sabido com macaco metido
             Ana Maria Machado


        Jabuti pode parecer bicho meio bobo, assim – pesadão, devagar – mas não é nada disso!
     Índio bem que sabe. Tanto sabe que conta um montão de histórias da esperteza de jabuti.
        E tanto conta que até muita gente, que nem é índio, aprendeu a contar também. Até casos inventados. Histórias feito está aqui.
      Diz que era uma vez um jabuti muito esperto que morava lá no meio da mata, na beira do rio.
        Na mata tinha bichos maiores (...), mais fortes (...), mais abraçadores (...), mais fedorentos (...).
        Mas não tinha bicho mais esperto que o jabuti.
        Uma coisa que acontece muito com quem não é esperto, imagine só... É justamente ficar “se achando” o mais esperto do mundo!
        E era isso que acontecia lá na mata. (...)
        Daí que resolveram fazer um concurso. Concurso bem concorrido, de ver quem era “o mais sabido”. E escolheram o homem para ser juiz. Mais exatamente um curumim, filhote de homem.
        Curumim chegou e viu os bichos todos reunidos. Foi logo começando e perguntando:
        -- Qual a esperteza de vocês?
        Cada um foi contando vantagem. (...) A raposa se gabava de que, uma vez, se fingiu de bicho-folhagem.
        Só o jabuti não dizia nada. Quando curumim perguntou a ele, foi desconversando:
        -- Não sei nada disso, não! ... Eu sou é muito bobo. Qualquer um me engana.
        Curumim logo viu que aquilo era mesmo disfarce danado de esperto, para ninguém prestar atenção nele. Ai, mudou de conversa e disse assim:
        - Só pode ser fruta! As melhores frutas da floresta! Quem ganhar escolhe quantas quiser.
        (...) Todos ficaram de acordo. Ai, curumim perguntou:
        -- “O que é, o que é, que fica acima do céu?
        A onça, que era mais forte, fez questão de responder antes de todo mundo. E gritou:
        -- Ovo! 
        Ninguém entendeu. Mas é que ela achava que toda pergunta que começa com “o – que – é – o – que – é?” tem a mesma resposta: ovo. (...).
        Se não fosse resposta da onça, todo mundo tinha caído na gargalhada.
        Mas, dela, o pessoal tinha um medo danado! Por isso, fizeram de conta que não tinham ouvido nada. Só curumim falou:
        -- (>>>) Está errado!
        Cada bicho foi dando uma resposta (...). Ninguém acertava. Até que o macaco disse:
        -- É Deus!
        E o jabuti disse:
        -- É o acento agudo do é.
        Ficou a maior discussão, uma achando que podia ser qualquer uma das duas respostas. Outros garantindo que só um tinha razão.
        E curumim falou, pedindo atenção:
        -- Vamos desempatar na escolha do prêmio. Quantas frutas você quer, macaco? Quantas você quer, jabuti?
        O macaco, muito guloso, logo propôs:
        -- Agora não quero nenhuma, que estou de barriga cheia. Vou guardar para amanhã de manhã. E ai vou querer todas as frutas que eu conseguir comer em jejum.
        O jabuti nem se apressou e foi com calma que falou:
        -- Quero uma.
        Todos se espantaram:
        -- Uma?
        Ele confirmou:
        -- Isso mesmo! Juntem todas as frutas que tiverem e contém todas. Uma é minha. Podem ficar com as outras.
        No dia seguinte, bem cedo, lá estava os bichos reunidos, na frente de uma pilha de frutas enorme. Tinha (...) tudo quanto é fruta boa que der para se imaginar. O macaco, que não comia desde a véspera, foi logo avisando:
        -- Eu começo!
        E começou mesmo, rindo, achando que depois que acabasse com todas as frutas que conseguisse comer, em jejum, não ia sobrar nada para o jabuti. Mas quando ia descascar a segunda banana para botar na pança, ouviu logo o jabuti com sua voz mansa:
        -- Pode ir parando ...acabou sua vez!
        -- Como acabou? Ainda estou começando ...
        -- Nada disso, você podia comer tudo o que conseguisse, em jejum. Só que agora não está mais em jejum, porque já comeu uma banana. Acabou.
        Foi uma gargalhada geral, todos rindo do guloso. O macaco foi embora, de cara feia, furioso.
        Curumim anunciou:
        -- Agora é a vez do jabuti. Vamos contar as frutas, para ele tirar a dele.
        E começou a contar:
        -- Uma, duas, três ...
        -- Pode ir parando – interrompeu o jabuti. – Deixa eu pegar a minha, essa ai que você chamou de uma.
        E pegou. Depois disse:
        -- Vamos, conte!
        Quando curumim recomeçou e disse de novo:
        -- Uma...
        O jabuti interrompeu outra vez:
        -- Uma? Então é minha...
        E assim foi até o fim. Curumim não conseguia contar, porque toda vez que ele dizia uma, o jabuti pegava a fruta para ele e dizia:
        -- É minha. Só quero uma.
        “De uma em uma.” Ficou com toda a pilha!
        Fruta de sobra, para ele dividir com os amigos e com toda a família.
        Moral: A falta de atenção e a derrota da pessoa.
                                                                           Ana Maria Machado
Entendendo a fábula:
01 – Para você, o que é ser esperto?
      Resposta pessoal do aluno.

02 – Por que o curumim foi escolhido para ser o juiz?
      Porque era filho de homem.

03 – O que fez o macaco perder o prêmio?
      Porque a partir da segunda banana, já não seria mais jejum.

04 – De que maneira o jabuti agiu para ganhar todo o prêmio?
      Toda vez que curumim falava uma, era a fruta do jabuti.

05 – Quais bichos aparecem na história?
      O jabuti, a raposa, a onça e o macaco.

06 – O que significa a palavra curumim? Consulte o dicionário.
      Menino, rapaz índio.

07 – Nessa história, que bicho era mais temido?
      A onça.

08 – Complete a tabela com características de cada personagem de acordo com a história.
Personagem
Característica
Onça
Era a mais forte.
Macaco
Era o mais guloso. (Metido)
Jabuti
Era o mais esperto. (Sabido)
Curumim
Era homem.

09 – Você gostou dessa história? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.