quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

REPORTAGEM: URBANIZAÇÃO CRIA UMA HONG KONG POR MÊS - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO - COM GABARITO

 Reportagem: Urbanização cria uma Hong Kong por mês

          Cidades ganham 6 milhões de habitantes a cada 30 dias, devem ter população superior à das regiões rurais na próxima década e concentrar o problema da exclusão social

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

        No início do próximo milênio, em 2006, pela primeira vez na História da humanidade a quantidade de pessoas morando em cidades será maior do que a população rural do planeta. Não é uma mera curiosidade, mas uma revolução.

        Para os brasileiros, dos quais 80% vivem em áreas urbanas, é difícil imaginar que há apenas 200 anos 98% da população mundial ainda estava no campo.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2ZJbLRYLrksd9413cEJU6od7hNG9DHAbBECsi5nZMCF2qcN8fh9L00Q8OH356HzA9eB2LMlFjf7HF_FINmPUumOQTgiBezygZugtlyLLrYcbOllNcOsVG6a5G9UyFCAjBNlsk_dqQY_PZY08khlVXTTwCWldw86kOPdzQGgkkejhCHP8Era5CiGJ3QKo/s320/11.jpg


        Rápida, a revolução urbana é um fenômeno da segunda metade do século XX. A partir da fundação de Jericó, a primeira cidade murada do mundo, a população urbana demorou cerca de 9 mil anos para chegar a 38% do total mundial, em 1975. Desde então, já saltou para 47% e, segundo projeções das Nações Unidas, chegará a 55% em 2015 e a 61% em 2025.

        Ou seja: em apenas 50 anos, os moradores das cidades terão sido multiplicados de 1,5 bilhão para 5 bilhões de pessoas – o equivalente a 500 mil cidades de São Paulo.

        A reprodução da população urbana é apenas uma das causas dessa explosão. Na média mundial, 40% do crescimento da urbanização se deve à migração do campo para a cidade.

        Isso indica que, a despeito das previsões de que as novas tecnologias de informação e a acumulação de problemas nas metrópoles implicariam o fim da vida urbana, a cidade absorveu essas mudanças e ainda é o motor do desenvolvimento econômico e científico.

        Como observa o relatório 'À Situação das Cidades do Mundo" (ONU), de 1999, o progresso de uma nação mantém uma alta correlação com a viabilidade das suas áreas urbanas: 'Às cidades são a chave para o desenvolvimento".

        Apesar de uma pequena queda, o ritmo da urbanização mundial continuará forte no início do novo milênio. Tanto que, se esse crescimento fosse concentrado em um só lugar, a cada mês o mundo teria uma nova cidade do tamanho de Hong Kong (6,1 milhões de habitantes).

        Mas isso tem um preço. "O número de moradores urbanos vivendo em pobreza absoluta cresceu rapidamente nos anos 80, especialmente na América Latina, África e nas economias asiáticas menos favorecidas". O alerta consta do "Relatório Global sobre Aglomerações Humanas", o documento resumo do encontro mundial (Habitat) promovido pela ONU em 1996 para discutir o tema.

        Agravado pela globalização da economia, o crescimento das desigualdades entre cidades é um dos principais custos da revolução urbana. O Programa de Indicadores Urbanos do Habitat mostra que a renda média domiciliar das cidades dos países industrializados é 38 vezes maior do que o das cidades africanas: US$ 9.543,90 contra US$ 251,70 por ano.

        Um exemplo de como a globalização da tecnologia também é excludente está no livro organizado por por Michel Cohen, Blair Ruble e Joseph Tulchin ("Preparing for the Urban Future"): há mais telefones na área metropolitana de Tóquio (27 milhões de habitantes) do que em toda a África (749 milhões).

        Global, porém, é a iniquidade dentro das próprias cidades. A exemplo daquilo que o urbanista Manuel Castells chamou de "cidade dual", na média mundial o rendimento dos 20% de domicílios mais pobres é 11 vezes menor do que o dos 20% mais ricos.
Na América Latina essa diferença chega a 17 vezes, mas mesmo nas cidades dos países industrializados, os 20% mais ricos têm uma renda 10 vezes maior do que os 20% mais pobres.

        À aceleração da desigualdade somou-se a crise fiscal do Estado, que tirou dos governos locais e nacionais muito de seu poder de investimento em infra-estrutura e serviços sociais. Como resultado, para uma parcela crescente da população a vida urbana também passou a ser sinônimo de desemprego, miséria, violência, favelas, congestionamentos e poluição.

        Na média de 236 cidades pesquisadas pelo Habitat, o tempo para ir ao trabalho é de 34 minutos, 30% dos domicílios estão abaixo da linha de pobreza, 41% do emprego está no setor informal, 6,41% das crianças morrem antes dos 5 anos, e ocorrem 70 assassinatos para cada 100 mil habitantes/ano.

        E há o risco de esses indicadores se deteriorarem porque o crescimento da urbanização é mais acelerado nos países pobres: em média 5% ao ano, contra 0,7% nos países desenvolvidos.
Como consequência, entre 1995 e 2015, a população urbana nos países subdesenvolvidos deve crescer 52%, enquanto nos países industrializados, onde a rede urbana já está consolidada, o crescimento será de apenas 7%.

        Ao mesmo tempo, deverá haver uma multiplicação das grandes cidades nessas regiões mais pobres. Em 1950 havia apenas cerca de 100 aglomerações urbanas com mais de 1 milhão de habitantes no mundo – a maioria delas, nos países desenvolvidos. Em 2015, segundo a ONU, haverá 527 grandes cidades. E 3 a cada 4 estarão nos países menos desenvolvidos.

        A urbanização acelerada, a concentração de problemas nos países pobres, e o crescimento das grandes cidades tornam ainda mais fundamental a melhoria da administração municipal.
"Sem um governo urbano competente e confiável, muito do potencial de contribuição das cidades para o desenvolvimento econômico e social estará perdido", diz o relatório da ONU de 1996.

        Pesquisando as 700 "melhores práticas" urbanas de em 100 países, o Habitat chegou a algumas palavras-chave para essa transformação: descentralização, parcerias do governo com iniciativa privada e participação popular.

        Porém, como escrevem os organizadores de "Preparing for the Urban Future", não há solução sem custo para os dilemas a que todas as cidades estarão sujeitas. 'Èlas envolvem prejuízos para alguns grupos sociais e vão exacerbar outros problemas".

        Os autores propõem uma revolução administrativa: "Resolver problemas urbanos requer a violação deliberada das tradicionais categorias burocráticas como habitação, saúde, infra-estrutura e emprego". As soluções, defendem, devem ser multi-setoriais e sempre levar em conta o aumento do poder de participação dos cidadãos na tomada de decisões.

TOLEDO, José Roberto de. Folha de São Paulo, São Paulo, 2 maio 1999. Caderno especial. Qual será o futuro das cidades? p. 2.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 375-377.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é a principal previsão demográfica apresentada na reportagem?

      A reportagem prevê que, em 2006, pela primeira vez na história da humanidade, a população urbana mundial ultrapassará a população rural.

02 – Qual é o principal fator responsável pela explosão urbana, segundo a reportagem?

      Além do crescimento natural da população urbana, a migração do campo para a cidade é apontada como um dos principais fatores da explosão urbana, respondendo por 40% do crescimento da urbanização mundial.

03 – Qual é a importância das cidades para o desenvolvimento de um país, de acordo com a reportagem?

      A reportagem destaca que o progresso de uma nação está intimamente ligado à viabilidade de suas áreas urbanas, ressaltando que "as cidades são a chave para o desenvolvimento".

04 – Qual é o ritmo de crescimento da urbanização mundial mencionado na reportagem?

      A reportagem informa que o ritmo da urbanização mundial é tão intenso que, se esse crescimento fosse concentrado em um único lugar, a cada mês o mundo teria uma nova cidade do tamanho de Hong Kong, com 6,1 milhões de habitantes.

05 – Quais são os principais problemas sociais apontados como consequência da urbanização acelerada?

      A reportagem destaca o aumento da pobreza urbana, o crescimento das desigualdades entre cidades e dentro delas, a crise fiscal do Estado, o desemprego, a miséria, a violência, a formação de favelas, os congestionamentos e a poluição como alguns dos problemas decorrentes da urbanização acelerada.

06 – Como a globalização da economia é relacionada com a desigualdade entre as cidades na reportagem?

      A reportagem aponta que a globalização da economia, especialmente a tecnológica, contribui para o aumento da desigualdade entre as cidades, como demonstra o exemplo da concentração de telefones na área metropolitana de Tóquio em comparação com toda a África.

07 – Qual é a situação da desigualdade social dentro das cidades, segundo a reportagem?

      A reportagem revela que a desigualdade social é um problema global, presente tanto em países industrializados quanto em países em desenvolvimento. A diferença de renda entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres é significativa, chegando a 17 vezes na América Latina e a 10 vezes nos países industrializados.

08 – Qual é o principal desafio apontado para os países em desenvolvimento em relação à urbanização?

      A reportagem destaca que o crescimento da urbanização é mais acelerado nos países pobres, o que representa um desafio ainda maior, pois esses países precisam lidar com a concentração de problemas sociais e a necessidade de melhorar a administração municipal para garantir o desenvolvimento econômico e social.

09 – Quantas grandes cidades são esperadas para existir em 2015, de acordo com a reportagem?

      A reportagem informa que, segundo projeções da ONU, em 2015 haverá 527 grandes cidades no mundo, e três em cada quatro delas estarão localizadas em países menos desenvolvidos.

10 – Quais são as palavras-chave apontadas pelo Habitat para a transformação da administração municipal?

      O Habitat aponta a descentralização, as parcerias do governo com a iniciativa privada e a participação popular como palavras-chave para a transformação da administração municipal e para lidar com os desafios da urbanização.

 

 

POEMA: HORAS MORTAS - CESÁRIO VERDE - COM GABARITO

 Poema: HORAS MORTAS

            Cesário Verde

O teto fundo de oxigênio, de ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-se a quimera azul de transmigrar.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJRNLkpylOfkWtj2oX9wHog8hq0zRPx4FjXyRw1E2n7BCM7yAIZbqIYQcnsXSOnu8TaGzZGt4Y574SLnPsBM-z6jcwRQvihDGp9aVVJV-enfsgdaAjJzjsCF85CdLPOcK1BZWLS1IF4BsSKWvPM7miAfbBeodY6h0VY_p9fh29Vw-s-cln2plPKgmeeQw/s1600/HORAS.jpg



Por baixo, que portões! Que arruamentos!
Um parafuso cai nas lajes, às escuras:
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,
E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.

E eu sigo, como as linhas de uma pauta
A dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
As notas pastoris de uma longínqua flauta.

Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!

Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis,
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas habitações translúcidas e frágeis.

Ah! Como a raça ruiva do porvir,
E as frotas dos avós, e os nômadas ardentes,
Nós vamos explorar todos os continentes
E pelas vastidões aquáticas seguir!

Mas se vivemos, os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.

E nestes nebulosos corredores
Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;
Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,
Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.

Eu não receio, todavia, os roubos;
Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;
E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Amareladamente, os cães parecem lobos.

E os guardas, que revistam as escadas,
Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, os imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.

E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar!

Junho, 1880. VERDE, Cesário. Poesias. Rio de Janeiro: Agir, 1967, p. 52-54.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 380-381.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema central do poema "Horas Mortas"?

      O poema "Horas Mortas" explora a dualidade entre o sonho e a realidade, a esperança e a desesperança, a beleza e a feiura, a vida e a morte, através da descrição de uma paisagem urbana noturna e opressora.

02 – Descreva a atmosfera do ambiente urbano apresentado no poema.

      O ambiente urbano é descrito como sombrio, opressivo e claustrofóbico. Predominam elementos como a escuridão, o silêncio, a sujeira, a violência e a sensação de isolamento. A cidade é personificada como um "monstro" que aprisiona e oprime seus habitantes.

03 – Quais são os sentimentos expressos pelo eu lírico ao longo do poema?

      O eu lírico expressa uma variedade de sentimentos, como angústia, tédio, solidão, medo, desesperança e, ao mesmo tempo, um anseio por um futuro melhor, um desejo de transcendência e de alcançar a perfeição.

04 – Que elementos do poema podem ser interpretados como símbolos da opressão e da desigualdade social?

      Diversos elementos podem ser interpretados como símbolos da opressão e da desigualdade social, como os "portões" e "arruamentos" que representam a divisão social, os "taipais" e "fechaduras" que simbolizam o isolamento e a exclusão, os "olhos dum caleche sangrentos" que evocam a violência, e os "guardas" e "imorais" que representam a repressão e a corrupção.

05 – Qual é a importância da natureza no poema?

      A natureza surge no poema como uma civilização de um mundo puro e belo, em contraste com a realidade urbana opressora. O eu lírico evoca imagens de "mansões de vidro transparente" e de "vastidões aquáticas", expressando o desejo de um futuro em que a humanidade possa viver em harmonia com a natureza.

06 – Que recursos estilísticos são utilizados por Cesário Verde para criar a atmosfera do poema?

      Cesário Verde utiliza diversos recursos estilísticos para criar a atmosfera do poema, como a descrição detalhada de cenários urbanos, a personificação da cidade, a utilização de metáforas e comparações, a aliteração e a assonância, e a alternância entre versos longos e curtos.

07 – Qual é a mensagem principal do poema "Horas Mortas"?

      O poema "Horas Mortas" é um retrato crítico da vida urbana moderna, expondo a opressão, a desigualdade social e a alienação que caracterizam as grandes cidades. Ao mesmo tempo, o poema expressa a esperança em um futuro melhor, um anseio por um mundo mais justo e harmonioso, onde a beleza e a liberdade possam florescer.

 

POEMA: MUITAS VOZES - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

 Poema: Muitas Vozes

             Ferreira Gullar

Meu poema
é um tumulto:
a fala
que nele fala
outras vozes
arrasta em alarido.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKeFsH4gN35GbiU54roWZESGNU_MDpPIaqMitbLEBoqIZ6G1a6zS4vYXYcVehDsjH6-LMKyo_CKVe5EiemefVZiX7jkSf5xtkz9Sx-OfbQwymjkbiZK72bHuuADWQyPnCfBOm_ImDvCHpnUxk3HJwqvs0p38B0IrfrFomWkkRltEwLufQ7p9Uj1leL0Bo/s1600/vozes.jpg



(estamos todos nós
cheios de vozes
que o mais das vezes
mal cabem em nossa voz:

se dizes pêra
acende-se um clarão
um rastilho
de tardes e açucares
ou
se azul disseres
pode ser que se agite
o Egeu
em tuas glândulas)

A água que ouviste
num soneto de Rilke
os ínfimos
rumores no capim
o sabor
do hortelã
(essa alegria)

A boca fria
da moça
o maruim na poça
a hemorragia da manhã

Tudo isso em ti
se deposita
e cala.
Até que de repente
um susto
ou uma ventania
(que o poema dispara)
chama
esses fosseis à fala.

Meu poema
é um tumulto, um alarido:
basta apurar o ouvido.

GULLAR, Ferreira. Muitas vozes. Rio de Janeiro: José Olympio, 1999.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 392.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a principal característica do poema, segundo o eu lírico?

      O eu lírico descreve o poema como um "tumulto", um alarido de muitas vozes. Ele explica que o poema não é apenas a sua voz, mas também as vozes de outras pessoas, de suas experiências e de suas memórias.

02 – O que significa a expressão "cheios de vozes" no poema?

      A expressão "cheios de vozes" significa que cada pessoa carrega dentro de si uma multitude de experiências, de sentimentos e de pensamentos que influenciam a sua forma de ver o mundo. Essas vozes, muitas vezes, não são expressas diretamente, mas estão presentes em nossas ações e em nossas escolhas.

03 – Como as vozes se manifestam no poema, de acordo com o eu lírico?

      As vozes se manifestam de diversas formas no poema. O eu lírico menciona exemplos concretos, como a água de um soneto de Rilke, os rumores no capim, o sabor do hortelã, a boca fria da moça, o maruim na poça e a hemorragia da manhã. Esses elementos sensoriais representam as diversas vozes que habitam o interior do eu lírico.

04 – O que faz com que essas vozes "calar" se manifestem no poema?

      O eu lírico explica que essas vozes permanecem caladas dentro de nós até que um "susto" ou uma "ventania" as desperte. Esses eventos inesperados, que podem ser tanto internos quanto externos, são o que "disparam" o poema, ou seja, o que permitem que as vozes se manifestem através da escrita.

05 – Qual é a relação entre o poema e o título "Muitas Vozes"?

      O título "Muitas Vozes" resume a principal característica do poema: a presença de diversas vozes que se manifestam através da escrita. O poema é um espaço onde essas vozes podem se expressar, seja de forma clara e direta, seja de forma implícita e simbólica. O poema, portanto, é um reflexo da complexidade e da pluralidade da experiência humana.

 

 

POEMA: DISCRETA E FORMOSÍSSIMA MARIA - GREGÓRIA DE MATOS - COM GABARITO

 Poema: Discreta e formosíssima Maria

             Gregório de Matos

Discreta, e formosíssima Maria,

Enquanto estamos vendo a qualquer hora

Em tuas faces a rosada Aurora,

Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPbw9dNAVXtWjZeoICdSXn4q9WGSr3kwkBZ2-79Sk9x5GOtdRYRR1BPSz5LDUAXonKiT_eskM_rRPF4C4f3Lr-9FfnWqy7d382FYU-08jgNowlFwz1HRfM9Lu-yunNH4rmbFk8cz-bDhVhPsA_P8nonVNDZ9VmxTFdUdQeqR2eGzaENXI1TX0Ve-GIyXg/s1600/MARIA.jpg


 

Enquanto com gentil descortesia

O ar, que fresco Adônis te namora,

Te espalha a rica trança voadora,

Quando vem passear-te pela fria:

 

Goza, goza da flor da mocidade,

Que o tempo trota a toda ligeireza,

E imprime em toda a flor sua pisada.

 

Oh, não aguardes, que a madura idade

Te converta em flor, essa beleza

Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.

MATOS, Gregório de. Obra poética. Vol. I. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 1990, p. 507.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 449.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema central do poema?

      O tema central do poema é a brevidade da beleza e da juventude, e a necessidade de aproveitar o tempo presente antes que a velhice e a morte cheguem.

02 – Como a beleza de Maria é descrita no poema?

      A beleza de Maria é descrita de forma exuberante, utilizando metáforas que a comparam à aurora, ao sol e ao dia. Seus olhos e boca são associados ao brilho solar, e seu cabelo é descrito como uma "rica trança voadora" que encanta o ar.

03 – Qual é o conselho dado à Maria no poema?

      O conselho dado à Maria é que ela aproveite a "flor da mocidade", ou seja, que desfrute de sua beleza e juventude enquanto ainda as possui, pois o tempo passa rapidamente e a beleza é efêmera.

04 – Que imagens são usadas para representar a passagem do tempo e a inevitabilidade da velhice e da morte?

      A passagem do tempo é representada pela imagem do tempo que "trota a toda ligeireza", e a inevitabilidade da velhice e da morte é expressa através da descrição da beleza que se transforma em "terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada".

05 – Qual é a mensagem principal do poema?

      A mensagem principal do poema é que a beleza e a juventude são passageiras, e que a vida deve ser aproveitada ao máximo antes que chegue o fim. O poema nos convida a refletir sobre a brevidade da existência e a importância de valorizar cada momento.

 

MÚSICA(ATIVIDADES): BOAS NOVAS - CAZUZA - COM GABARITO

 Música(Atividades): Boas Novas

                Cazuza

Poetas e loucos aos poucos
Cantores do porvir
E mágicos das frases
Endiabradas sem mel
Trago boas novas
Bobagens num papel
Balões incendiados
Coisas que caem do céu
Sem mais nem porquê

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCFvLegN3F1wji2f8MiQc9HD6JY9ukQSzFn0qqg5Hw8ygxhfHdFdP0Y-Yksftrdr-ckCX7bLDcjEl-aNQcYjzC4jl9Df6pNnZTjdp7vbKMuop626pv9CDQ0UTSKq6kCx1-ifvwpUPwgLLk1X0tcEp9cYX0A4plX-h_IKZplHO-7X5xQPGr3YWj8bmHqQs/s320/BOAS%20NOVAS.jpg


Queria um dia no mundo
Poder te mostrar o meu
Talento pra loucura
Procurar longe do peito
Eu sempre fui perfeito
Pra fazer discursos longos
Discursos longos
Sobre o que não fazer
Que é que eu vou fazer?

Senhoras e senhores
Trago boas novas
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva
viva!
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva
viva!

Direi milhares de metáforas rimadas
E farei
Das tripas coração
Do medo, minha oração
Pra não sei que Deus “H”
Da hora da partida
Na hora da partida
A tiros de vamos pra vida
Então, vamos pra vida!

Senhoras e senhores
Trago boas novas
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva
viva!

Composição: Cazuza. Ideologia. CD. Universal music, 1988.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 412-413.

Entendendo a música:

01 – Qual é o tema central da música "Boas Novas"?

      A música "Boas Novas" aborda a dualidade entre a vida e a morte, a esperança e o medo, a razão e a loucura. Cazuza explora esses temas com ironia e sarcasmo, utilizando metáforas e referências culturais.

02 – Quem são os "poetas e loucos" mencionados na música?

      Os "poetas e loucos" são figuras que representam a contracultura, a transgressão e a liberdade de expressão. Cazuza se identifica com esse grupo, que busca novas formas de ver o mundo e de se expressar artisticamente.

03 – O que significam os "balões incendiados" e as "coisas que caem do céu" na música?

      Os "balões incendiados" e as "coisas que caem do céu" são metáforas para as ideias e os sonhos que surgem de forma inesperada e que podem ter um impacto transformador na vida das pessoas.

04 – Qual é a "boa nova" que Cazuza traz na música?

      A "boa nova" que Cazuza traz é a constatação de que a morte está viva, ou seja, a vida é uma constante luta contra a morte e o medo. Essa constatação, no entanto, não é motivo para desesperança, mas sim para celebrar a vida e aproveitar cada momento.

05 – O que representam as "metáforas rimadas" e o "coração feito das tripas" na música?

      As "metáforas rimadas" e o "coração feito das tripas" representam a capacidade do artista de transformar a dor e o sofrimento em arte, em beleza. Cazuza utiliza a poesia e a música como forma de expressão e de superação.

06 – Qual é o significado da expressão "a tiros de vamos pra vida" na música?

      A expressão "a tiros de vamos pra vida" significa que a vida deve ser vivida intensamente, com coragem e ousadia, sem medo de enfrentar os desafios e as dificuldades.

07 – Qual é a mensagem principal da música "Boas Novas"?

      A mensagem principal da música "Boas Novas" é um convite à reflexão sobre a vida e a morte, sobre a importância de viver cada momento com intensidade e sobre a capacidade do ser humano de transformar a dor em arte. Cazuza nos convida a celebrar a vida, mesmo diante das dificuldades e dos medos.

 

 

SONETO: AO CASAMENTO DE PEDRO ÁLVARES DA NEIVA - GERGÓRIO DE MATOS - COM GABARITO

 Soneto: Ao casamento de Pedro Álvares da Neiva

               Gregório de Matos

Sete anos a nobreza da Bahia

Servia a uma pastora Indiana, e bela,

Porém servia a Índia, e não a ela,

Que a Índia só por prêmio pretendia.

 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfh40318Aql52yaY88X8lVZFrhNyQT1YrV-kNzKPaQmMlFxk6l-IU4Sfy1HirkmBI8YBK1w6GgtmiknqU8jkMS__1ch-JD_RDnWlDSOO9pP-DjePGkJ63SnhaGQAZ5YLVaSw6pPL5LoOzMugONWHZ6eFjNJ95QHIETOIxShJ25dEEQG7xcsv6Lull2u3U/s1600/ISABEL.jpg

Mil dias na esperança de um só dia

Passava, contentando-se com vê-la,

Mas frei Tomás usando de cautela,

deu-lhe o vilão, quitou-lhe a fidalguia.

 

Vendo o Brasil, que por tão sujos modos

Se lhe usurpara a sua Dona Elvira,

Quase a golpes de um maço e de uma goiva:

 

Logo, se arrependeram de amar todos,

E qualquer mais amara, se não vira

Para tão limpo amor tão suja noiva.

MATOS, Gregório de. Obra poética. vol. 1. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 1990, p. 678.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 449-450.

Entendendo o soneto:

01 – Qual é o tema central do soneto?

      O tema central do soneto é o casamento de Pedro Álvares da Neiva com uma mulher considerada "suja" e de baixa classe social, o que causa espanto e indignação na nobreza da Bahia.

02 – Quem é a "pastora Indiana" mencionada no soneto?

      A "pastora Indiana" é a noiva de Pedro Álvares da Neiva. Ela é descrita como bela, mas de origem indígena e, portanto, considerada inferior socialmente pela nobreza da Bahia.

03 – Qual é a crítica presente no soneto?

      A crítica presente no soneto é dirigida à nobreza da Bahia, que se escandaliza com o casamento de Pedro Álvares da Neiva com uma mulher de origem indígena e de baixa classe social. Gregório de Matos questiona os critérios da nobreza, que valoriza mais a posição social do que o amor e a virtude.

04 – O que significa a expressão "deu-lhe o vilão, quitou-lhe a fidalguia"?

      Essa expressão se refere ao fato de que Pedro Álvares da Neiva, ao se casar com a "pastora Indiana", perdeu sua posição social e passou a ser considerado um "vilão" pela nobreza da Bahia.

05 – Qual é o tom geral do soneto?

      O tom geral do soneto é irônico e satírico. Gregório de Matos utiliza a linguagem para criticar a hipocrisia e o preconceito da nobreza da Bahia, que se julga superior às outras classes sociais.

 

 

 

SONETO: DEIXA, QUE POR UM POUCO AQUELE MONTE - CLÁUDIO MANUEL DA COSTA - COM GABARITO

 Soneto: Deixa, que por um pouco aquele monte

             Cláudio Manuel da Costa

Deixa, que por um pouco aquele monte
Escute a glória, que a meu peito assiste:
Porque nem sempre lastimoso, e triste
Hei de chorar à margem desta fonte.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiGGNQxomif2Whjz6nmr1cAzdAwgN8a-1pi3GjgIEhKpvGJZrxg8T03MkflBGDiDV45st16D0S6SckST4Gu1XIViXporHoAk5vE4sfZ5JM9f2j8naTMO9zb9nRFOOzcS9ZrKgVF0x_BrLSwmngb1kMUvH_ijh2ezqT6xAKSo2PPC2JN81srgWwmJgCgyw/s1600/MONTE.jpg



Agora, que nem sombra há no horizonte,
Nem o álamo ao zéfiro resiste,
Aquela hora ditosa, em que me viste
Na posse de meu bem, deixa, que conte.

Mas que modo, que acento, que harmonia
Bastante pode ser, gentil pastora,
Para explicar afetos de alegria!

Que hei de dizer, se esta alma, que te adora,
Só costumada às vozes da agonia,
A frase do prazer ainda ignora!

NÚPILL – Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e linguística. http://www.cce.ufsc.br/-nupill/literatura/claudio.html#SONETOS. (Consulta em junho/2003).

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 455.

Entendendo o soneto:

01 – Qual é o tema central do soneto?

      O tema central do soneto é a expressão da alegria do poeta ao se encontrar com sua amada pastora. Ele deseja compartilhar essa felicidade com a natureza ao redor, após um período de tristeza e lamentações.

02 – Qual é a mudança de sentimento expressa no soneto?

      O soneto marca uma transição do sofrimento e da tristeza para a alegria. O poeta, que antes chorava à margem da fonte, agora deseja compartilhar sua felicidade com o monte, que testemunhou suas lamentações.

03 – Que elementos da natureza são mencionados no soneto e qual é o seu significado?

      O soneto menciona o monte, a fonte, o horizonte e o álamo. Esses elementos representam a natureza como testemunha dos sentimentos do poeta. O monte e a fonte são particularmente importantes, pois foram cenários de suas tristezas passadas, e agora ele deseja que compartilhem sua alegria.

04 – Qual é a dificuldade que o poeta enfrenta ao tentar expressar sua alegria?

      O poeta expressa a dificuldade de encontrar palavras e formas de expressar a alegria, um sentimento novo para ele, que está acostumado com as "vozes da agonia". Ele teme que sua alma, habituada à tristeza, não encontre a "frase do prazer".

05 – Como o soneto explora a relação entre o poeta e a pastora?

      O soneto mostra que a presença da pastora é a causa da alegria do poeta. O verso "Na posse de meu bem, deixa, que conte" revela que a felicidade do poeta está ligada ao amor que ele sente por ela. A pastora é a figura central que transforma a tristeza em alegria na vida do poeta.

 

POESIA: OS TRÊS AMORES - CASTRO ALVES - COM GABARITO

 Poesia: Os Três Amores

             Castro Alves

I
Minh’alma é como a fronte sonhadora
Do louco bardo, que Ferrara chora...
Sou Tasso!... a primavera de teus risos
De minha vida as solidões enflora...
Longe de ti eu bebo os teus perfumes,
Sigo na terra de teu passo os lumes...
— Tu és Eleonora...

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfGvPbfJ_jlx_whoUGjnCaQXQcqb_GkkhCp4r21ObpnrX0FoUsVkei8wwqkXeXto42U4Nh3VabM-AbLHJ1wlD3Sbib_WjBWGHJYUw-FNCFw8AUSRvjn1Ai5esytdW1nlLYqQqWKsF7ITuCBTISIN09pWJSl3Dpx55DOgG8T7RJS6aPE9laCthJlq5n5jQ/s320/Jesuitas-de-Castro-Alves.jpg



II
Meu coração desmaia pensativo,
Cismando em tua rosa predileta.
Sou teu pálido amante vaporoso,
Sou teu Romeu... teu lânguido poeta!...
Sonho-te às vezes virgem... seminua...
Roubo-te um casto beijo à luz da lua...
— E tu és Julieta...

III
Na volúpia das noites andaluzas
O sangue ardente em minhas veias rola...
Sou D. Juan!... Donzelas amorosas,
Vós conheceis-me os trenos na viola!
Sobre o leito do amor teu seio brilha
Eu morro, se desfaço-te a mantilha
Tu és — Júlia, a Espanhola!...

CASTRO ALVES, A. Espumas flutuantes. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1964, p. 32-33.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 467.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o tema central do poema "Os Três Amores"?

      O tema central do poema é a representação de três diferentes tipos de amor, cada um associado a uma figura literária ou histórica. Castro Alves explora as nuances do amor romântico, sensual e idealizado, utilizando personagens icônicos para expressar seus sentimentos.

02 – Quem são as três figuras femininas mencionadas no poema e qual o tipo de amor que elas representam?

      As três figuras femininas mencionadas no poema são:

      Eleonora: Representa o amor idealizado e platônico, um amor distante e inatingível, que inspira o poeta, assim como Eleonora inspirou o poeta italiano Torquato Tasso.

      Julieta: Representa o amor romântico e passional, um amor jovem e intenso, marcado pela tragédia e pelo desejo, como o amor de Romeu e Julieta.

      Júlia, a Espanhola: Representa o amor sensual e carnal, um amor de paixão e desejo, como o amor de Don Juan.

03 – Que figuras masculinas são utilizadas no poema para expressar os sentimentos do poeta?

      O poeta se identifica com três figuras masculinas para expressar seus sentimentos em relação a cada um dos amores:

      Tasso: O poeta se compara ao bardo italiano Torquato Tasso, que dedicou sua vida e sua poesia a Eleonora d'Este. Essa identificação expressa o amor idealizado e a inspiração que a figura feminina proporciona.

      Romeu: O poeta se vê como um Romeu apaixonado, tomado pelo amor e pelo desejo por Julieta. Essa identificação expressa a intensidade e a paixão do amor romântico.

      Don Juan: O poeta se identifica com o sedutor Don Juan, expressando o amor sensual e a atração física que sente por Júlia.

04 – Quais são as características de cada um dos amores retratados no poema?

      Cada um dos amores retratados no poema possui características distintas:

      Amor idealizado (Eleonora): É um amor platônico, distante e inatingível, que inspira o poeta e o eleva a um plano superior.

      Amor romântico (Julieta): É um amor passional, intenso e marcado pela tragédia, que domina o coração e os pensamentos do poeta.

      Amor sensual (Júlia): É um amor de paixão e desejo, focado na atração física e na volúpia dos encontros amorosos.

05 – Como o poema "Os Três Amores" reflete o contexto romântico da época?

      O poema "Os Três Amores" reflete o contexto romântico da época ao explorar a subjetividade, a paixão e a idealização do amor. Os sentimentos são expressos de forma intensa e dramática, e a natureza e as figuras históricas e literárias são utilizadas para representar os diferentes tipos de amor. O poema também aborda a dualidade entre o amor idealizado e o amor carnal, um tema recorrente na literatura romântica.

 

 

POESIA: CANÇÃO DO TAMOIO - GONÇALVES DIAS - COM GABARITO

 Poesia: Canção do Tamoio

             Gonçalves Dias

Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida: Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos,
Só pode exaltar.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg24bnFk2k2qIlkT5NgFA0AHgFiTUy2wDD0Azqj5MkHU4QHknjkA05TDFXem7WAQ5JY5DStpPLYVzc17PBPJpvPyyzqRvlHKoM8vtcybVQK5LEOl3crFHdsU4qXiqSRUddc_MBJC487TOteaWCTl74fsMxPY5kjrqpGlWo-9l5wAkM3a-14Sccl9xYbZcA/s320/TAMOIO.jpg


Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.

O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves conselhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!

Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!

E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D’imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d’ouví-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.

E a mãe nestas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!

Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranq
uilo nos gestos,
Impávido, audaz.

E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.

As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.

GONÇALVES DIAS, A. Poesia completa. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1968, p. 419-423.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 465.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o tema central da "Canção do Tamoio"?

      O tema central da "Canção do Tamoio" é a exaltação da coragem, da força e da bravura do guerreiro indígena. Através da figura do filho, o poema busca incutir valores de luta, resistência e honra, características tidas como essenciais para a sobrevivência e o sucesso na cultura Tamoio.

02 – Quem é o interlocutor principal do poema e qual é a sua intenção?

      O interlocutor principal do poema é um pai que se dirige ao seu filho. Sua intenção é dupla:

      Consolar o filho: O pai busca acalmar o filho que chora, lembrando-o que a vida é uma batalha constante.

      Inspirar o filho: O pai deseja transmitir ao filho os valores da cultura Tamoio, incentivando-o a ser um guerreiro forte, corajoso e honrado.

03 – Quais são os principais valores exaltados no poema?

      O poema exalta diversos valores considerados importantes na cultura Tamoio, como:

      Coragem: A bravura e a intrepidez no campo de batalha são constantemente enfatizadas.

      Força: Tanto a força física para lutar quanto a força de caráter para enfrentar os desafios da vida são valorizadas.

      Honra: A honra e a glória são apresentadas como recompensas para aqueles que lutam com bravura.

      Resistência: A capacidade de resistir à dor, ao medo e às adversidades é vista como essencial.

      Destemor: A morte não é temida, mas sim a fuga da luta.

04 – Que imagens poéticas são utilizadas para descrever o guerreiro Tamoio?

      O poema utiliza diversas imagens poéticas para descrever o guerreiro Tamoio, como:

      "Um dia vivemos!": Expressa a intensidade e a brevidade da vida, incentivando a aproveitá-la com coragem.

      "No arco que entesa / Tem certa uma presa": Ilustra a precisão e a determinação do guerreiro.

      "Garboso e feroz": Descreve a postura imponente e a ferocidade do guerreiro em combate.

      "Cai como o tronco / Do raio tocado": Compara a morte do guerreiro à queda de uma árvore atingida por um raio, enfatizando sua força e imponência.

05 – Qual é o papel da mãe no poema?

      A mãe desempenha um papel importante no poema, transmitindo o "terror" aos inimigos através do nome do filho guerreiro. Seu papel é o de incutir medo e respeito nos oponentes, garantindo a segurança e a reputação da família.

06 – Como a natureza é retratada no poema?

      A natureza é retratada como um campo de batalha, onde a vida é uma luta constante pela sobrevivência. As imagens do "condor" e do "tapir" (animais nativos) reforçam a ideia de que a natureza é um palco de desafios a serem superados.

07 – Qual é a mensagem final do poema?

      A mensagem final do poema é um chamado à ação. O pai conclama o filho a seguir os valores da cultura Tamoio, a empunhar suas armas e a entrar na vida com coragem e determinação. A vida é apresentada como um combate, e somente os fortes e bravos serão exaltados.