quinta-feira, 26 de setembro de 2024

POEMA: FIM - MURILO MENDES - COM GABARITO

 Poema: Fim

             Murilo Mendes

Eu existo para assistir ao fim do mundo.
Não há outro espetáculo que me invoque.
Será uma festa prodigiosa, a única festa.
Ó meus amigos e comunicantes,
tudo o que acontece desde o princípio é a sua preparação.


Eu preciso assistir ao fim do mundo
para saber o que Deus quer comigo e com todos
e para saciar minha sede de teatro.
Preciso assistir ao julgamento universal,
ouvir os coros imensos,
as lamentações e as queixas de todos,
desde Adão até o último homem.

Eu existo para assistir ao fim do mundo,
eu existo para a visão beatífica.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcbGdph2C-jZ9A1i60jHPK3UXKIJ82ACg4Sd6YKaxBRYIw4kJJFSeA3TsGTnjBDkDfqUU2XGKnIkeFPMQn3dnLpEvEze_a_d2tSMil_toeJaq0f-PCiNGR4B5OD03pavwmHaRydVrNLCUvOxlaMWBPg537dbK-rhLDx-6RIwkcmjq6xRZQieNWFD2qP7s/s320/FIM.jpeg 

Murilo Mendes.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 207.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o evento central que o eu lírico anseia presenciar?

      O eu lírico demonstra um profundo desejo de testemunhar o fim do mundo, um evento que ele considera a celebração definitiva da existência.

02 – Que significado o fim do mundo possui para o eu lírico além de um mero evento catastrófico?

      Para o eu lírico, o fim do mundo representa um momento de revelação, um julgamento final que irá esclarecer o propósito divino e individual. Além disso, ele vê nesse evento a culminação de todo o drama da existência, um espetáculo grandioso e único.

03 – Qual a relação entre o desejo do eu lírico de assistir ao fim do mundo e a sua busca por conhecimento?

      O eu lírico busca no fim do mundo respostas para as grandes questões existenciais, como o propósito de Deus e o destino da humanidade. Ele acredita que a visão beatífica, ou seja, a visão de Deus, que ele espera ter ao final dos tempos, irá saciar sua sede de conhecimento e compreensão.

04 – Como o eu lírico descreve o fim do mundo?

      O eu lírico descreve o fim do mundo como uma festa prodigiosa, um evento grandioso e único. Ele evoca imagens de coros imensos, lamentações e queixas de toda a humanidade, criando um cenário apocalíptico que, ao mesmo tempo, é repleto de uma certa teatralidade.

05 – Qual a importância da palavra "beatífica" no contexto do poema?

      A palavra "beatífica" refere-se à visão de Deus, uma experiência de felicidade suprema e perfeita. No poema, ela representa o objetivo final do eu lírico, a razão pela qual ele anseia tanto pelo fim do mundo. A visão beatífica é vista como a recompensa final por toda a existência e a solução para todas as dúvidas e angústias humanas.

 

SONETO: SONETO DE DEVOÇÃO - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

 Soneto: Soneto de devoção

             Vinícius de Moraes

Essa mulher que se arremessa, fria

E lúbrica em meus braços, e nos seios

Me arrebata e me beija e balbucia

Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia

Que se ri dos meus pálidos receios

A única entre todas a quem dei

Os carinhos que nunca a outra daria.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6nahHlmXFKTNlRMwlxv4ijolCK4vODYLxFY8NlVjNBii9bOkt9Tcvqsrc63YX0lEkIGPtpmE5gayo-ca_jKjBqQ9aHuGNwixxpDF2LycsjKRQbO4SfFkrsw44kAEMaoPc2rkBm9UkzX6qQBSGheuU6Zw0bk1LIaSFuJZFdz5130gMEj2iUXrU5b_nGGA/s1600/MULHER.jpg

Essa mulher que a cada amor proclama

A miséria e a grandeza de quem ama

E guarda a marca dos meus dentes nela.


Essa mulher é um mundo! – uma cadela

Talvez... – mas na moldura de uma cama

Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

Vinicius de Moraes.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 223.

Entendendo o soneto:

01 – Qual a principal característica da mulher descrita no soneto?

      A mulher descrita é apresentada como complexa e contraditória. Ela é ao mesmo tempo "fria" e "lúbrica", "flor de melancolia" e capaz de proclamar a "miséria e a grandeza" do amor. Essa dualidade a torna um enigma e um objeto de desejo intenso para o poeta.

02 – Qual o significado da expressão "Versos, votos de amor e nomes feios"?

      Essa expressão revela a intensidade e a complexidade da relação entre o poeta e a mulher. Os "versos" e os "votos de amor" indicam um envolvimento profundo, enquanto os "nomes feios" sugerem uma intimidade intensa e apaixonada.

03 – Por que o poeta afirma que a mulher é "a única entre todas a quem dei / Os carinhos que nunca a outra daria"?

      Essa afirmação destaca a exclusividade da relação entre o poeta e a mulher. Os carinhos que ele oferece são únicos e destinados apenas a ela, o que intensifica o sentimento de posse e de desejo.

04 – Qual a importância da comparação entre a mulher e uma "cadela"?

      A comparação da mulher com uma "cadela" é provocativa e intencional. Ela subverte a imagem tradicional da mulher como um ser puro e angelical, revelando a face mais carnal e instintiva da paixão. Ao mesmo tempo, a expressão "mas na moldura de uma cama" relativiza essa comparação, sugerindo que a beleza da mulher transcende qualquer julgamento moral.

05 – Qual a mensagem principal do soneto?

      O soneto celebra a paixão em sua forma mais intensa e visceral. A mulher descrita é um símbolo da paixão, do desejo e da entrega total. Ao mesmo tempo, o poema reflete sobre a complexidade e a ambiguidade do amor, que pode ser tanto fonte de alegria quanto de sofrimento.

 

 

CONTO: A MENOR MULHER DO MUNDO - FRAGMENTO - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

 Conto: A menor mulher do mundo – Fragmento

           Clarice Lispector

        Nas profundezas da África Equatorial o explorador francês Marcel Pretre, caçador e homem do mundo, topou com uma tribo de pigmeus de uma pequenez surpreendente. Mais surpreso, pois, ficou ao ser informado de que menor povo ainda existia além de florestas e distâncias. Então mais fundo ele foi.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkARKZonRB3Lv6t0lB-JzG1OjQrhtQy-8YeHxBhebcYRhxfAmaHVQc0Wdyh5mynLR5cnvrLhJe2G3QcNvn-Ld7pFvWjJyh3MkI4F2jOUzDKJCHWFGmwHrhtnRygHdhM3to8GFemn8CBkBdx4gTadFxVc0X_l1dsUN2tZzB1l-E7LO551ENrayZqe4xs4g/s320/pigmeia.jpg


        No Congo Central descobriu realmente os menores pigmeus do mundo. E — como uma caixa dentro de um caixa — entre os menores pigmeus do mundo estava o menor dos menores pigmeus do mundo, obedecendo talvez à necessidade que às vezes a Natureza tem de exceder a si própria.

        Entre mosquitos e árvores mornas de umidade, entre as folhas ricas do verde mais preguiçoso, Marcel Pretre defrontou-se com uma mulher de quarenta e cinco centímetros, madura, negra, calada. "Escura como um macaco", informaria ele à imprensa, e que vivia no topo de uma árvore com seu pequeno concubino. Nos tépidos humores silvestres, que arredondam cedo as frutas e lhes dão uma quase intolerável doçura ao paladar, ela estava grávida.

        Ali em pé estava, portanto, a menor mulher do mundo. Por um instante, no zumbido do calor, foi como se o francês tivesse inesperadamente chegado à conclusão última. Na certa, apenas por não ser louco, é que sua alma não desvairou nem perdeu os limites. Sentindo necessidade imediata de ordem, e dar nome ao que existe, apelidou-a de Pequena Flor. E, para conseguir classificá-la entre as realidades reconhecíveis, logo passou a colher dados a seu respeito.

        [...]

        A fotografia de Pequena Flor foi publicada no suplemento colorido dos jornais de domingo, onde coube em tamanho natural. Enrolada num pano, com a barriga em estado adiantado. O nariz chato, a cara preta, os olhos fundos, os pés espalmados. Parecia um cachorro.

        Nesse domingo, num apartamento, uma mulher, ao olhar no jornal aberto o retrato de Pequena Flor, não quis olhar uma segunda vez "porque me dá aflição".

        Em outro apartamento uma senhora teve tal perversa ternura pela pequenez da mulher africana que — sendo tão melhor prevenir que remediar — jamais se deveria deixar Pequena Flor sozinha com a ternura da senhora. Quem sabe a que escuridão de amor pode chegar o carinho. A senhora passou um dia perturbada, dir-se-ia tomada pela saudade. Aliás era primavera, uma bondade perigosa estava no ar.

        Em outra casa uma menina de cinco anos de idade, vendo o retrato e ouvindo os comentários, ficou espantada. Naquela casa de adultos, essa menina fora até agora o menor dos seres humanos. E se isso era fonte das melhores carícias, era também fonte deste primeiro medo do amor tirano. A existência de Pequena Flor levou a menina a sentir — com uma vaguidão que só anos e anos depois, por motivos bem diferentes, havia de se concretizar em pensamento — levou a sentir, numa primeira sabedoria, que "a desgraça não tem limites".

        Em outra casa, na sagração da primavera, a moça noiva teve um êxtase de piedade:

        — Mamãe, olhe o retratinho dela, coitadinha! Olhe só como ela é tristinha!

        — Mas — disse a mãe, dura e derrotada e orgulhosa — mas é tristeza de bicho, não é tristeza humana.

        — Oh! Mamãe — disse a moça desanimada.

        Foi em outra casa que um menino esperto teve uma ideia esperta:

        — Mamãe, e se eu botasse essa mulherzinha africana na cama de Paulinho enquanto ele está dormindo? Quando ele acordasse, que susto, hein! Que berro, vendo ela sentada na cama! E a gente então brincava tanto com ela! A gente fazia ela o brinquedo da gente, hein!

        A mãe dele estava nesse instante enrolando os cabelos em frente ao espelho do banheiro, e lembrou-se do que uma cozinheira lhe contara do tempo de orfanato. Não tendo boneca com que brincar, e a maternidade já pulsando terrível no coração das órfãs, as meninas sabidas haviam escondido da freira a morte de uma das garotas. Guardaram o cadáver num armário até a freira sair, e brincaram com a menina morta, deram-lhe banhos e comidinhas, puseram-na de castigo somente para depois poder beijá-la, consolando-a. Disso a mãe se lembrou no banheiro, e abaixou mãos pensas, cheias de grampos. E considerou a cruel necessidade de amar. Considerou a malignidade de nosso desejo de ser feliz. Considerou a ferocidade com que queremos brincar. E o número de vezes em que mataremos por amor. Então olhou para o filho esperto como se olhasse para um perigoso estranho. E teve terror da própria alma que, mais que seu corpo, havia engendrado aquele ser apto à vida e à felicidade. Assim olhou ela, com muita atenção e um orgulho inconfortável, aquele menino que já estava sem os dois dentes da frente, a evolução, a evolução se fazendo, dente caindo para nascer o que melhor morde. "Vou comprar um terno novo para ele", resolveu, olhando-o absorta. Obstinadamente enfeitava o filho desdentado com roupas finas, obstinadamente queria-o bem limpo, como se limpeza desse ênfase a uma superficialidade tranquilizadora, obstinadamente aperfeiçoando o lado cortês da beleza. Obstinadamente afastando-se, e afastando-o, de alguma coisa que devia ser "escura como um macaco". Então, olhando para o espelho do banheiro, a mãe sorriu intencionalmente fina e polida, colocando, entre aquele seu rosto de linhas abstratas e a cara crua de Pequena Flor, a distância insuperável de milênios. Mas, com anos de prática, sabia que este seria um domingo em que teria de disfarçar de si mesma a ansiedade, o sonho, e milênios perdidos.

        Em outra casa, junto a uma parede, deram-se ao trabalho alvoroçado de calcular com fita métrica os quarenta e cinco centímetros de Pequena Flor. E foi aí mesmo que, em delícia, se espantaram: ela era ainda menor que o mais agudo da imaginação inventaria. No coração de cada membro da família nasceu, nostálgico, o desejo de ter para si aquela coisa miúda e indomável, aquela coisa salva de ser comida, aquela fonte permanente de caridade. A alma ávida da família queria devotar-se. E, mesmo, quem já não desejou possuir um ser humano só para si? O que, é verdade, nem sempre seria cômodo, há horas em que não se quer ter sentimentos:

        — Aposto que se ela morasse aqui terminava em briga — disse o pai sentado na poltrona, virando definitivamente a página do jornal. — Nesta casa tudo termina em briga.

        — Você, José, sempre pessimista — disse a mãe.

        — A senhora já pensou, mamãe, de que tamanho será o nenenzinho dela? — disse ardente a filha mais velha de treze anos.

        O pai mexeu-se atrás do jornal.

        — Deve ser o bebê preto menor do mundo — respondeu a mãe, derretendo-se de gosto. — Imagine só ela servindo a mesa aqui de casa! E de barriguinha grande!

        — Chega de conversas! — engrolou o pai.

        — Você há de convir — disse a mãe inesperadamente ofendida — que se trata de uma coisa rara. Você é que é insensível.

        E a própria coisa rara?

        Enquanto isso na África, a própria coisa rara tinha no coração — quem sabe se negro também, pois numa Natureza que errou uma vez já não se pode mais confiar — enquanto isso a própria coisa rara tinha no coração algo mais raro ainda, assim como o segredo do próprio segredo: um filho mínimo. Metodicamente o explorador examinou com o olhar a barriguinha do menor ser humano maduro. Foi neste instante que o explorador, pela primeira vez desde que a conhecera, em vez de sentir curiosidade ou exaltação ou vitória ou espírito científico, o explorador sentiu mal-estar.

        É que a menor mulher do mundo estava rindo.

        Estava rindo, quente, quente. Pequena Flor estava gozando a vida. A própria coisa rara estava tendo a inefável sensação de ainda não ter sido comida. Não ter sido comida era que, em outras horas, lhe dava o ágil impulso de pular de galho em galho. Mas, neste momento de tranquilidade, entre as espessas folhas do Congo Central, ela não estava aplicando esse impulso numa ação — e o impulso se concentrara todo na própria pequenez da própria coisa rara. E então ela estava rindo. Era um riso como somente quem não fala, ri. Esse riso, o explorador constrangido não conseguiu classificar. E ela continuou fruindo o próprio riso macio, ela que não estava sendo devorada. Não ser devorado é o sentimento mais perfeito. Não ser devorado é o objetivo secreto de toda uma vida. Enquanto ela não estava sendo comida, seu riso bestial era tão delicado como é delicada a alegria. O explorador estava atrapalhado.

        Em segundo lugar, se a própria coisa rara estava rindo, era porque, dentro dessa sua pequenez, grande escuridão pudera-se em movimento.

        É que a própria coisa rara sentia o peito morno do que se pode chamar de Amor. Ela amava aquele explorador amarelo. Se soubesse falar e dissesse que o amava, ele inflaria de vaidade. Vaidade que diminuiria quando ela acrescentasse que também amava muito o anel do explorador e que amava muito a bota do explorador. E quando este desinchasse desapontado, Pequena Flor não compreenderia por quê. Pois, nem de longe, seu amor pelo explorador — pode-se mesmo dizer seu "profundo amor", porque, não tendo outros recursos, ela estava reduzida à profundeza — pois nem de longe seu profundo amor pelo explorador ficaria desvalorizado pelo fato de ela também amar sua bota. Há um velho equívoco sobre a palavra amor, e, se muitos filhos nascem desse equívoco, tantos outros perderam o único instante de nascer apenas por causa de uma suscetibilidade que exige que seja de mim, de mim! que se goste, e não de meu dinheiro. Mas na umidade da floresta não há desses refinamentos cruéis, e amor é não ser comido, amor é achar bonita uma bota, amor é gostar da cor rara de um homem que não é negro, amor é rir de amor a um anel que brilha. Pequena Flor piscava de amor, e riu quente, pequena, grávida, quente.

        O explorador tentou sorrir-lhe de volta, sem saber exatamente a que abismo seu sorriso respondia, e então perturbou-se como só homem de tamanho grande se perturba. Disfarçou ajeitando melhor o chapéu de explorador, corou pudico. Tornou-se uma cor linda, a sua, de um rosa-esverdeado, como a de um limão de madrugada. Ele devia ser azedo.

        Foi provavelmente ao ajeitar o capacete simbólico que o explorador se chamou à ordem, recuperou com severidade a disciplina de trabalho, e recomeçou a anotar. Aprendera a entender algumas das poucas palavras articuladas da tribo, e a interpretar os sinais. Já conseguia fazer perguntas.

        Pequena Flor respondeu-lhe que "sim". Que era muito bom ter uma árvore para morar, sua, sua mesmo. Pois — e isso ela não disse, mas seus olhos se tornaram tão escuros que o disseram — pois é bom possuir, é bom possuir, é bom possuir. O explorador pestanejou várias vezes.

        Marcel Pretre teve vários momentos difíceis consigo mesmo. Mas pelo menos ocupou-se em tomar notas e notas. Quem não tomou notas é que teve que se arranjar como pôde:

        — Pois olhe — declarou de repente uma velha fechando o jornal com decisão — pois olhe, eu só lhe digo uma coisa: Deus sabe o que faz.

LISPECTOR, Clarice. A menor mulher do mundo. In: Laços de família. 10. ed. Rio de Janeiro. José Olympio, 1978. p. 77-86.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 247-251.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Concubino: amante.

·        Tépido: morno.

·        Humor: umidade.

·        Engrolar: pronunciar mal.

·        Inefável: indizível, encantador.

·        Fluir: gozar, desfrutar.

02 – Qual a principal característica física de Pequena Flor?

      Pequena Flor é descrita como a menor mulher do mundo, com apenas 45 centímetros. Sua aparência exótica e sua condição de menor a tornam um objeto de curiosidade e fascínio.

03 – Como Pequena Flor é vista pelos outros personagens e pela sociedade?

      Pequena Flor é vista como uma curiosidade, um objeto de estudo e de contemplação. Sua pequenez a torna um símbolo da diferença e da excentricidade.

04 – Quais são os sentimentos de Pequena Flor em relação à sua condição?

      O conto não explora em profundidade os sentimentos de Pequena Flor, mas sugere que ela aceita sua condição e encontra felicidade em sua vida simples. Seu riso é descrito como "quente" e "macio", indicando uma sensação de bem-estar e contentamento.

05 – Qual o impacto do encontro de Marcel Pretre com Pequena Flor?

      O encontro com Pequena Flor provoca uma crise existencial em Marcel Pretre. Ele se questiona sobre a natureza humana, a felicidade e o significado da vida.

06 – Como a relação entre Marcel Pretre e Pequena Flor se desenvolve?

      A relação entre os dois personagens é marcada pela curiosidade e pela incompreensão. Marcel Pretre tenta classificar e entender Pequena Flor, enquanto ela o observa com um olhar enigmático.

07 – Como as diferentes pessoas reagem à notícia sobre Pequena Flor?

      As pessoas reagem de forma diversa ao saber da existência de Pequena Flor. Algumas sentem pena, outras curiosidade, e outras ainda, um desejo de posse ou de exploração.

08 – Qual a crítica social presente nas reações das pessoas?

      O conto critica a curiosidade mórbida, a superficialidade e a falta de empatia das pessoas. As reações das pessoas revelam a tendência humana a julgar e a categorizar os outros com base em suas diferenças.

09 – Quais os temas principais do conto?

      Os temas principais do conto são a diferença, a identidade, a felicidade, a exploração e a natureza humana.

10 – Qual a importância da natureza no conto?

      A natureza é um personagem fundamental no conto. A floresta, com sua exuberância e mistério, serve como pano de fundo para a história e simboliza a liberdade e a espontaneidade.

11 – Qual a mensagem final do conto?

      O conto nos convida a refletir sobre o significado da felicidade e da existência. Pequena Flor, com sua simplicidade e alegria, nos mostra que a felicidade não está ligada à posse ou ao status social, mas sim à aceitação de si mesmo e à capacidade de encontrar prazer nas pequenas coisas da vida.

 

 

CONTO: AS CARIDADES ODIOSAS - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

 Conto: As caridades odiosas

            Clarice Lispector

        Foi uma tarde de sensibilidade ou de suscetibilidade? Eu passava pela rua depressa, emaranhada nos meus pensamentos, como às vezes acontece. Foi quando meu vestido me reteve: alguma coisa se enganchara na minha saia. Voltei-me e vi que se tratava de uma mão pequena e escura. Pertencia a um menino a que a sujeira e o sangue interno davam um tom quente de pele. O menino estava de pé no degrau da grande confeitaria. Seus olhos, mais do que suas palavras meio engolidas, informavam-me de sua paciente aflição. Paciente demais. Percebi vagamente um pedido, antes de compreender o seu sentido concreto. Um pouco aturdida eu o olhava, ainda em dúvida se fora a mão da criança o que me ceifara os pensamentos.

 
Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIaVzh7Wwf8GFOtJLnfRiEzSzSuDcnmTigpDENJyxTqeQBSEPAIRuKMbVChws5cJrc1vUj5ot-PHPmCOHDtfIXjxQ-VhAqr2qxFFxneZ6_t-XxHz9yODwDY638JgRwN5-fCbFd8Evm1HiWkbbXTrBNJUS2P7JkTIsK1_sHC6UXxkc90GILnabte0frvKo/s320/DOCE.jpg

        -- Um doce, moça, compre um doce para mim.

        Acordei finalmente. O que estivera eu pensando antes de encontrar o menino? O fato é que o pedido deste pareceu cumular uma lacuna, dar uma resposta que podia servir para qualquer pergunta, assim como uma grande chuva pode matar a sede de quem queria uns goles de água.

        Sem olhar para os lados, por pudor talvez, sem querer espiar as mesas da confeitaria onde possivelmente algum conhecido tomava sorvete, entrei, fui ao balcão e disse com uma dureza que só Deus sabe explicar: Um doce para o menino.

        De que tinha eu medo? Eu não olhava a criança, queria que a cena, humilhante para mim, terminasse logo. Perguntei-lhe: que doce você…

        Antes de terminar, o menino disse apontado depressa com o dedo: Aquelezinho ali, com chocolate por cima. Por um instante perplexa, eu me recompus logo e ordenei, com aspereza, à caixeira que o servisse.

        -- Que outro doce você quer? Perguntei ao menino escuro.

        Este, que mexendo as mãos e a boca ainda esperava com ansiedade pelo primeiro, interrompeu-se, olhou-me um instante e disse com delicadeza insuportável, mostrando os dentes: não precisa de outro não. Ele poupava a minha bondade.

        -- Precisa sim, cortei eu ofegante, empurrando-o para a frente. O menino hesitou e disse: Aquele amarelo de ovo. Recebeu um doce em cada mão, levantando as duas acima da cabeça, com medo talvez de apertá-los. Mesmo os doces estavam tão acima do menino escuro. E foi sem olhar para mim que ele, mais do que foi embora, fugiu. A caixeirinha olhava tudo:

        -- Afinal uma alma caridosa apareceu. Esse menino estava nesta porta há mais de uma hora, puxando todas as pessoas que passavam, mas ninguém quis dar.

        Fui embora, com o rosto corado de vergonha. De vergonha mesmo? Era inútil querer voltar aos pensamentos anteriores. Eu estava cheia de um sentimento, gratidão, revolta e vergonha. Mas como se costuma dizer, o Sol parecia brilhar com mais força. Eu tivera a oportunidade de…E para isso fora necessário um menino magro e escuro…E para isso fora necessário que outros não lhe tivessem dado um doce.

        E as pessoas que tomavam sorvete? Agora, o que eu queria saber com autocrueldade era o seguinte: temera que os outros me vissem ou que os outros não me vissem? O fato é que, quando atravessei a rua, o que teria sido piedade já se estrangulara sob outros sentimentos. E, agora sozinha, meus pensamentos voltaram lentamente a ser os anteriores, só que inúteis.

LISPECTOR, Clarice. As caridades odiosas. In: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1984. p. 380-3.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 233-4.

Entendendo o conto:

01 – Qual a principal emoção experimentada pela narradora ao longo do conto?

      A narradora experimenta uma gama de emoções complexas, como culpa, vergonha, gratidão e revolta. O encontro com o menino a leva a questionar suas próprias atitudes e a refletir sobre a condição humana.

02 – Como a narradora descreve seus próprios pensamentos antes de encontrar o menino?

      A narradora se descreve como "emaranhada nos meus pensamentos", sugerindo um estado de distração e introspecção. Seus pensamentos são vagos e não são revelados ao leitor.

03 – Qual a atitude inicial da narradora em relação ao pedido do menino?

      Inicialmente, a narradora se sente incomodada com o pedido do menino e demonstra certa relutância em atendê-lo. Ela parece mais preocupada com sua própria imagem e com o que os outros pensarão do que com a necessidade da criança.

04 – Qual o papel do menino na narrativa?

      O menino representa a pobreza, a necessidade e a vulnerabilidade. Seu pedido desperta na narradora uma série de sentimentos conflitantes e a leva a confrontar suas próprias contradições.

05 – Como a narradora descreve o menino?

      A narradora descreve o menino como magro, sujo e com um olhar de "paciente aflição". Sua aparência física contrasta com a opulência da confeitaria e da sociedade em que a narradora vive.

06 – Por que a narradora se sente envergonhada após ajudar o menino?

      A narradora se sente envergonhada porque percebe que seu ato de caridade foi motivado mais pela culpa e pela necessidade de aliviar sua própria consciência do que por um genuíno desejo de ajudar o menino.

07 – Qual a diferença entre a caridade da narradora e a caridade esperada pela sociedade?

      A caridade da narradora é marcada pela culpa e pela vergonha, enquanto a caridade esperada pela sociedade é vista como um ato de bondade e generosidade. A narradora questiona a sinceridade e as motivações por trás dos atos caridosos.

08 – Qual o tema central do conto "As caridades odiosas"?

      O tema central do conto é a hipocrisia da sociedade e a complexidade da natureza humana. A narradora explora a questão da caridade e da compaixão, questionando as motivações que levam as pessoas a ajudar ou a ignorar o sofrimento alheio.

09 – Qual a crítica social presente no conto?

      O conto critica a indiferença e a desigualdade social. A figura do menino faminto em frente a uma confeitaria luxuosa evidencia as disparidades sociais e a falta de empatia de muitas pessoas.

10 – Qual a importância do título "As caridades odiosas"?

      O título reflete a ambivalência da experiência da narradora. A caridade, que deveria ser um ato de bondade, torna-se odiosa quando motivada por sentimentos como culpa e vergonha, em vez de compaixão genuína. O título também sugere que a forma como a caridade é praticada pode ser tão importante quanto o ato em si.

 

 

sábado, 21 de setembro de 2024

PIADA: AS ANEDOTINHAS DO BICHINHO DA MAÇÃ - ZIRALDO - COM GABARITO

 Piada: As anedotinhas do Bichinho da Maçã

        Chovia há três dias sem parar e o campo de futebol estava completamente inundado. Era domingo e sem futebol o pessoal da cidade ia ficar sem distração. Aí o juiz resolveu fazer o jogo de qualquer jeito. O capitão de uma das equipes não concordou:

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioE0Rsuls8u6QD1WRXu0VTpLaFQldzbx4WqOKZcapp05CqmB-ILgDwSDb6iJhHMgQ3Wp95-aQenTQerbZYlvKdutGBiyfWA7R80R3JOFBErMP6W2VDHEAHVkZBCoIWjP1CR9Lwdyh2G5W2FEA8FyS6O7k-9KG7zoPxLYMWDT-DvZ1wREI98Z-aMdQOxmk/s400/BICHINHO.jpg


        -- Com tudo alagado não vai dar.

        -- Vai dar sim – disse o juiz, pode escolher o campo.

        E o capitão:

        -- Então tá. Meu time joga o primeiro tempo a favor da correnteza.

Ziraldo. As anedotinhas do Bichinho da Maçã. 6ª Ed. São Paulo: Melhoramentos. 1988. p. 26.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 6º ano. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. 7ª edição reformulada – São Paulo: ed. Saraiva, 2012. p. 246.

Entendendo a piada:

01 – Qual é a situação inicial descrita na piada?

      Chovia há três dias sem parar, e o campo de futebol estava completamente inundado.

02 – Por que o capitão de uma das equipes não queria jogar?

      O capitão não queria jogar porque o campo estava alagado e, em sua opinião, não seria possível jogar nessas condições.

03 – Qual foi a solução proposta pelo juiz para resolver a situação?

      O juiz decidiu que o jogo seria realizado de qualquer maneira e disse ao capitão para escolher de qual lado do campo seu time jogaria.

04 – Qual foi a resposta engraçada do capitão em relação à escolha do campo?

      O capitão respondeu com humor que seu time jogaria o primeiro tempo "a favor da correnteza", aproveitando a inundação do campo.

05 – Qual é o elemento de humor central da piada?

      O humor está na ideia absurda de jogar futebol em um campo tão alagado que há até uma "correnteza", e o capitão tenta tirar vantagem dessa situação bizarra.

 

POEMA: CANTIGA - SÁ DE MIRANDA - COM GABARITO

 Poema: Cantiga

              Sá de Miranda

Comigo me desavim,

vejo-me em grande perigo,

não posso viver comigo,

nem posso fugir de mim.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsduKrZsnk-fo4HZMUZSud6aRi0mn09AXjvz8I2-Ldcvcg6RMck523XGZSh0-roA8nTCdTztxJGwIaHKRvkjGL_I63Qs1_H1lrxZfbZtDI7z3UuEaBbEoB2rA8Akt_f2W1MnB3njGVJT6DmUdlOEhZ3lfB0LEjO7fEsPL2oFunIxg0Bd8XQMBa6aiOnug/s1600/FUGIR.jpg

Antes que este mal tivesse,

de outra gente fugia;

agora, já fugiria

de mim, se de mim pudesse.

 

Que cabo espero, ou que fim

deste cuidado que sigo,

pois trago a mim comigo,

tamanho imigo de mim?

Sá de Miranda. Francisco. Cantiga. In: Cancioneiro geral. Lisboa. Verbo, 1962. p. 20-1.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 1 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 127.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal temática abordada na cantiga?

      A principal temática é a angústia existencial e a luta interior do eu lírico. O poeta expressa um profundo conflito consigo mesmo, sentindo-se dividido e incapaz de encontrar a paz interior.

02 – O que significa a expressão "Comigo me desavim"?

      Essa expressão significa que o eu lírico está em desacordo consigo mesmo, em uma espécie de guerra interior. Ele não consegue encontrar harmonia em suas próprias emoções e pensamentos.

03 – Qual a evolução do sentimento do eu lírico ao longo do poema?

      Inicialmente, o eu lírico expressa um desejo de fugir de si mesmo. No entanto, ao longo do poema, essa vontade se intensifica, revelando uma angústia ainda maior diante da impossibilidade de escapar de seus próprios conflitos.

04 – Que tipo de futuro o eu lírico vislumbra para si?

      O eu lírico não vislumbra um futuro positivo. Ele se sente perdido e sem esperança, questionando o sentido de sua vida e o motivo de tanto sofrimento.

05 – Qual a importância da repetição do pronome "mim" no poema?

      A repetição do pronome "mim" enfatiza a centralidade do eu lírico no poema. Ao se colocar em primeiro plano, o poeta evidencia a intensidade de sua angústia e a importância da busca por si mesmo na experiência humana.

 

SONETO: A UMA AUSÊNCIA - ANTÔNIO BARBOSA BACELAR - COM GABARITO

 Soneto: A uma ausência

            Antônio Barbosa Bacelar

Sinto-me, sem sentir, todo abrasado

No rigoroso fogo que me alenta;

O mal, que me consome, me sustenta;

O bem, que me entretém, me dá cuidado.

 
Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVeu1BGe5mtUu_xuGcRsWmAzI0LxRorGI0rR7hAU460NBl185N2zEowUkBMYMKN8EyZ39QhzERlY0Fat_c_pXCbtDzFxRnoDcNavRon8Bo15Q1jJdkKg195tslRvk8wQy-s3EQFTL7EdzAe-xNoq9bgT9MU4LnOIsG3I6Mn8El82c3XilSqtfTaY3OejY/s1600/AUSENCIA.jpg

 

Ando sem me mover, falo calado;

O que mais perto vejo, se me ausenta,

E o que estou sem ver, mais me atormenta;

Alegro-me de ver-me atormentado.

 

Choro no mesmo ponto em que me rio;

No mor risco me anima a confiança;

Do que menos se espera estou mais certo.

 

Mas se de confiado desconfio,

É porque, entre os receios da mudança,

Ando perdido em mim como em deserto.

António Barbosa Bacelar, in 'Fénix Renascida'.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 1 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 255.

Entendendo o soneto:

01 – Qual a principal emoção expressa pelo eu lírico no soneto?

      O eu lírico expressa uma intensa angústia e confusão. Ele se sente dividido entre sentimentos contraditórios, como prazer e dor, movimento e imobilidade. A ausência parece ter criado um estado de perturbação interna que o impede de encontrar paz.

02 – Como a ausência é representada no poema?

      A ausência não é representada de forma concreta, mas sim como uma força que domina o eu lírico. Ela é a causa do sofrimento e da perturbação interior, e parece estar presente em todos os momentos da vida do poeta. A ausência é tanto física quanto emocional, e se manifesta de diversas formas no poema.

03 – Quais os paradoxos presentes no soneto?

      O soneto é repleto de paradoxos, como "sinto-me, sem sentir", "o mal, que me consome, me sustenta" e "alegro-me de ver-me atormentado". Esses paradoxos revelam a complexidade dos sentimentos do eu lírico e a impossibilidade de encontrar uma explicação lógica para seu sofrimento.

04 – Qual o significado da imagem do deserto no final do soneto?

      O deserto representa o estado de solidão e desorientação interior do eu lírico. Ele se sente perdido em si mesmo, sem encontrar um caminho para sair daquela situação de angústia. O deserto simboliza a vastidão e a aridez da sua alma.

05 – Como a linguagem do poema contribui para a construção do sentido?

      A linguagem do poema é marcada por um alto grau de subjetividade e expressividade. O uso de antíteses, paradoxos e imagens fortes cria um clima de tensão e intensifica a experiência emocional do leitor. A linguagem poética permite que o eu lírico expresse de forma intensa e complexa seus sentimentos de angústia e desespero.

 

 

POEMA: MULHER AO ESPELHO - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poema: Mulher ao espelho

             Cecília Meireles

Hoje que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7bCx31dexQuSAmg2CCIaFjqLBfjCttwC21-BSMFfbMFVtCEEF-RfoJXRrmPMLyAXu4j20jMIfd5h8JEYjew99i-RrJVKIHeYNxDcGYATnSiTwZK9Kne_e4h7teblHC-7KwwaIHlUsCApKJ_tdlbcLd2RlvQRau7R__kecAbk9zzmhSLLrKvIm3N9RZ30/s1600/ESPELHO.jpg



Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.

Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seu
se morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.

Cecília Meireles.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 1 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 131.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal temática abordada no poema?

      A principal temática é a construção da identidade feminina e a relação da mulher com a sociedade e consigo mesma. A poetisa explora a superficialidade da beleza, a pressão social e a busca por uma identidade autêntica em um mundo que impõe padrões.

02 – O que significa a afirmação "Quero apenas parecer bela, pois, seja qual for, estou morta"?

      Essa frase revela a angústia da mulher diante da inevitabilidade da morte e a busca por uma beleza efêmera como forma de negar a finitude. A beleza se torna uma máscara para esconder a angústia existencial.

03 – Qual a importância da enumeração de diferentes nomes femininos no poema?

      A enumeração de nomes como Margarida, Beatriz, Maria e Madalena representa a multiplicidade de papéis que a mulher assume ao longo da vida. Ao mesmo tempo, revela a impossibilidade de se encaixar em um único modelo feminino, evidenciando a busca por uma identidade própria.

04 – O que simboliza a "tinta" mencionada no poema?

      A "tinta" simboliza a artificialidade, a futilidade e a superficialidade da vida. Tudo, desde a beleza física até os sentimentos, parece ser uma construção social e não algo autêntico.

05 – Qual a relação entre a beleza e a morte no poema?

      A beleza é apresentada como algo efêmero e ligado à morte. A busca incessante por um padrão de beleza imposto pela sociedade leva a mulher a negar sua própria identidade e a se conformar com um papel pré-determinado.

06 – Qual o significado da última estrofe?

      A última estrofe sugere que a busca pela beleza pode levar à alienação e à perda da própria identidade. A mulher que se perde na busca pela perfeição acaba se distanciando de si mesma e de Deus.

07 – Qual a mensagem central do poema?

      A mensagem central é uma crítica à sociedade que impõe padrões de beleza e à superficialidade da cultura. O poema convida à reflexão sobre a importância de construir uma identidade autêntica e a superar a necessidade de se conformar com os padrões estabelecidos.