sábado, 25 de junho de 2022

MÚSICA(ATIVIDADES): TERRA SECA - ARY BARROSO - COM GABARITO

 MÚSICA(ATIVIDADES): TERRA SECA  

                    Ary Barroso

O nêgo tá, moiado de suó

Trabáia, trabáia, nêgo

 Trabáia, trabáia nêgo (Refrão)

 

As mãos do nêgo tá que é calo só

Trabáia, trabáia nêgo

Ai “meu sinhô” nêgo tá véio

Não aguenta essa terra tão dura, tão seca, poeirenta...

 

O nêgo pede licença prá falá

O nêgo não pode mais trabaiá

Quando o nêgo chegou por aqui

Era mais vivo e ligeiro que o saci

 

Varava estes rios, estas matas, estes campos sem fim

Nêgo era moço, e a vida, um brinquedo prá mim

Mas o tempo passou

Essa terra secou ...ô ô

A velhice chegou e o brinquedo quebrou ....

Sinhô, nêgo véio tem pena de ter-se acabado

Sinhô, nêgo véio carrega este corpo cansado

cifrantiga3.blogspot.com/2006/05/terra-seca.html

 Entendendo a canção

01. O traço da linguagem informal utilizada pelos escravos está indicado no seguinte trecho:

a) “Não aguenta esta terra tão dura, tão seca, poeirenta...”

b) “O nêgo não pode mais trabaiá.”

c) “Era mais vivo e ligeiro do que o saci.”

d) “estes campos sem fim”.

02. A história é real ou o que é relatado acontece apenas na ficção? Explique.

A história é real e acontecia no período da escravidão, embora ainda há trabalho escravo em nosso país de forma velada.

03. Retire da canção versos que identificam características de pessoas.

“...moiado de suó”;

“...As mãos do nêgo tá que é calo só”;

“...Ai “meu sinhô” nêgo tá véio”;

“...Sinhô, nêgo véio carrega este corpo cansado”.

04. Após analisar a letra da canção, responda: a temática é positiva ou negativa? Explique.

Negativo, pois a escravidão deixou marcas na sociedade brasileira como: a concentração de índios, negros e mestiços nas camadas mais pobres da população; a persistência da situação de marginalização em que vive a maioria dos indivíduos dessas etnias; a sobrevivência do racismo e de outras formas de discriminação racial e social.

O Brasil é conhecido e reconhecido como um dos países mais desiguais do mundo há várias décadas.

 

POEMA: A SERENATA - ADÉLIA PRADO - COM GABARITO

 POEMA: A SERENATA

              Adélia Prado

Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mãos incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobro
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
— só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?

 (Adélia Prado – Poesia Reunida)

https://contobrasileiro.com.br/a-serenata-poema-de-adelia-prado/ 

https://www.colegio24horas.com.br/ogloboeducacao2006/abrirpdfae.asp?p=000LinguaPortuguesa&s=&a=ae0005_234d_20061019000000.pdf

 Entendendo o texto

01.  O texto cuida da relação amorosa, de uma perspectiva feminina. O eu lírico num momento presente, e considerando tão-somente o aspecto temporal, em que versos demonstra?

“Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.”

02. O eu lírico, se caracteriza como alguém “no começo do seu desespero” e fala da dificuldade de chegar ao balcão “sem juventude”, para viver a relação amorosa que antevê. Para caracterizar o seu processo de envelhecimento, utiliza-se o eu lírico do apelo à adjetivação metafórica, como acontece em “cabelos entristecidos”. Destaque do texto uma outra expressão em que se utiliza recurso literário da mesma natureza.

“A pele assaltada de indecisão”.

03. As palavras doida e santa situam-se em plano antitético, no texto. Presentes nos dois últimos versos, esclareça o sentido que se pode atribuir a esses dois vocábulos.

Santa – Mulher de grandes virtudes, de bondade invulgar.

Doida – Mulher insensata, sem juízo.

04. Que abordagem a representação feminina no poema nos retrata sobre a mulher daquela época?

Vivia sob os moldes e o sistema da sociedade patriarcal, a qual concebia o matrimônio como fator essencial e indispensável à vida das mulheres.

05. Nos primeiros versos:

“Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mãos incríveis
tocar flauta no jardim.”, o que a mulher está pensando?

               Os primeiros versos do poema retratam o pensamento de uma mulher que aguarda por uma serenata em sua janela. O aguardo por essa serenata é bastante simbólico, é a própria espera de um namorado, o ato de cantar/tocar é um modo de chamar alguém à janela e a intenção desse chamamento não significa apenas que a mulher deve se debruçar na janela para ouvir o canto de seu enamorado, mas também significa o chamamento para um relacionamento, já que as serenatas eram feitas, geralmente, quando se tinha a pretensão de conquistar alguém.

 

CONTO: A HONRA PASSADA A LIMPO - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

 CONTO: A HONRA PASSADA A LIMPO

               Marina Colasanti

       Sou compulsiva, eu sei. Limpeza e arrumação. 

    Todos os dias boto a mesa, tiro a mesa. Café, almoço, jantar. E pilhas de louças na pia, e espumas redentoras.

      Todos os dias entro nos quartos, desfaço camas, desarrumo berços, lençóis ao alto como velas. Para tudo arrumar depois, alisando colchas de crochê.

       Sou caprichosa, eu sei. Desce o pó sobre os móveis. Que eu colho na flanela.

       Escurecem-se as pratas. Que eu esfrego com a camurça. A aranha tece. Que eu enxoto.

       A traça rói. Que eu esmago. O cupim voa. Que eu afogo na água da tigela sob a luz.

      E de vassoura em punho gasto tapetes persas.

     Sou perseverante, eu sei. A mesa que ponho ninguém senta. Nas camas que arrumo ninguém dorme. Não há ninguém nesta casa, vazia há tanto tempo.

      Mas sem tarefas domésticas, como preencher de feminina honradez a minha vida?

COLASANTI, Marina. Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1986

Entendendo o texto

01.Essa história é contada por um narrador que

     a) é personagem principal.

     b) é personagem secundária.

     c) interage com os leitores.

     d) observa os fatos narrados.

02. A autora fala de ações que se repetem, na mesmice de cada um de seus dias. Para traduzir essa ideia de repetição, vale-se de alguns recursos expressivos, relativos à forma.

Aponte dois desses recursos.

Assíndeto-representa a omissão de conectivos – Exemplos: Café, almoço, jantar.

 Anacoluto- é a mudança repentina na estrutura da frase. Exemplos:     

Sou compulsiva, eu sei.

Sou caprichosa, eu sei.

03.  “Mas, sem tarefas domésticas, como preencher de feminina honradez a minha vida?” A pergunta acima transcrita, que finaliza o texto, traduz a solidão da personagem e a tentativa de sua sublimação através do mecanicismo da prática de “tarefas domésticas”, muitas vezes desnecessárias, quando não ilógicas, absurdas. Comente, com base em elementos do texto, essa afirmação.

A personagem fala que coloca a mesa que ninguém senta; arruma cama que ninguém dorme e que é uma casa vazia há tanto tempo. Ficando claro que ela tenta preencher um vazio que tem dentro dela.

04. No terceiro parágrafo, a construção do período se faz, no início, com o emprego sucessivo de orações que se vinculam sem a presença de elementos conectores.

a) Como se classificam tais orações e que figura de linguagem é assim constituída?

Assíndeto-representa a omissão de conectivos

b) Que efeito expressivo é obtido com a utilização desse recurso?

Torna o texto mais ágil e podendo, até mesmo, passar a sensação de elementos mais aglomerados.

05. “Não há ninguém nesta casa, vazia há tanto tempo.” Na passagem acima, o verbo haver é empregado com dois significados distintos. Do ponto de vista sintático, há, porém, aspecto que os identifica. Que aspecto é esse? Justifique sua resposta.

Verbo haver no sentido de ter e verbo haver no sentido de tempo.

 

quarta-feira, 22 de junho de 2022

ANEDOTA: LOROTAS DE PESCADOR(VELHA ANEDOTINHA) -TATIANA BELINKY - COM GABARITO

 ANEDOTA: LOROTAS DE PESCADOR (Velha anedotinha)

                    Tatiana Belinky

João e José dois velhos amigos que gostavam de pescar, comparavam suas proezas esportivas, como sempre um procurando superar o outro.

— Outro dia eu pesquei um bagre — disse João —, e nem queira saber, era o maior bagre que olhos mortais já viram. Pesava pelo menos duzentos quilos.

— Isso não é nada - respondeu José. — Outro dia eu estava pescando, e adivinhe o que veio pendurado no meu anzol? Uma lâmpada de navio, com uma data gravada nela: A.D. 1392l .Imagine só: cem anos antes da descoberta da América por Cristóvão Colombo.

E não é só isso: dentro da lâmpada havia uma luz, e ela ainda estava acesa!

João olhou para a cara de José e ficou calado por um momento. Mas logo sorriu e disse:

— Olhe aqui, José, vamos entrar num acordo. Eu abato 198 quilos do meu bagre. E você apaga a luz da sua lâmpada, está bem?

BELINKY, Tatiana. Mentiras... e mentiras. São Paulo: Companhia das letrinhas, 2004.

Entendendo o texto

01. De que se trata o texto?

Lorotas de pescadores.

02. Quais eram os personagens da anedota?

João e José.

03. Que fato provocou o desenrolar dos acontecimentos descritos no texto?

O fato de cada pescador querer contar mais vantagem que o outro.

04. A que conclusão chegou João ao final?

Ele propõe um acordo a José.

05. Que acordo foi este? Descreva-o.

João abatia 198 quilos do bagre e José apagaria a lâmpada que estava acesa desde o tempo de Cristóvão Colombo.

    06. No trecho “... e ela ainda estava acesa!”, a exclamação sugere

        (A) coragem.

        (B) emoção.

        (C) respeito.

        (D) valorização.

 

 

CONTO: BEZERRO SEM MÃE - RACHEL DE QUEIROZ - COM GABARITO

 CONTO: BEZERRO SEM MÃE

                Rachel de Queiroz

         Foi numa fazenda de gado, no tempo do ano em que as vacas dão cria. Cada vaca toda satisfeita com o seu bezerro. Mas dois deles andavam tristes de dar pena: uma vaca que tinha perdido o seu bezerro e um bezerro que ficou sem mãe.

        A vaquinha até parecia estar chorando, com os peitos cheios de leite, sem filho para mamar. E o bezerro sem mãe gemia, morrendo de fome e abandonado.

       Não adiantava juntar os dois, porque a vaca não aceitava. Ela sentia pelo cheiro que o bezerrinho órfão não era filho dela, e o empurrava para longe.

       Aí o vaqueiro se lembrou do couro do bezerro morto, que estava secando ao sol. Enrolou naquele couro o bezerrinho sem mãe e levou o bichinho disfarçado para junto da vaca sem filho. Ora, foi uma beleza!

        A vaca deu uma lambida no couro, sentiu o cheiro do filho e deixou que o outro mamasse à vontade.

        E por três dias foi aquela mascarada. Mas no quarto dia, a vaca, de repente, meteu o focinho no couro e puxou fora o disfarce. Lambeu o bezerrinho direto, como se dissesse: "Agora você já está adotado”.

        E ficaram os dois no maior amor, como filho e mãe de verdade.

(Rachel de Queiroz [et al.]. Meninos, eu conto. Rio de Janeiro: Record, 2002.

Entendendo o texto

01. Qual o cenário em que se desenrola a história?

Numa fazenda de gado.

02. Qual a situação inicial da história?

“Foi numa fazenda de gado, no tempo do ano em que as vacas dão cria. Cada vaca toda satisfeita com o seu bezerro.”

03. Que fato provocou o desenrolar dos acontecimentos descritos no texto?

Duas cabeças de gado andavam tristes de dar pena: uma vaca que tinha perdido o seu bezerro e um bezerro que ficou sem mãe.

04. Qual o desenvolvimento da história?

A vaquinha até parecia estar chorando, com os peitos cheios de leite, sem filho para mamar. E o bezerro sem mãe gemia, morrendo de fome e abandonado.

Não adiantava juntar os dois, porque a vaca não aceitava. Ela sentia pelo cheiro que o bezerrinho órfão não era filho dela, e o empurrava para longe.

05. Que fez o vaqueiro para ajudá-los?

Aí o vaqueiro se lembrou do couro do bezerro morto, que estava secando ao sol. Enrolou naquele couro o bezerrinho sem mãe e levou o bichinho disfarçado para junto da vaca sem filho. Ora, foi uma beleza!

A vaca deu uma lambida no couro, sentiu o cheiro do filho e deixou que o outro mamasse à vontade.

06. Em que passagem do texto ocorre o clímax, ou seja, o momento de maior tensão da história? Explique.

E por três dias foi aquela mascarada. Mas no quarto dia, a vaca, de repente, meteu o focinho no couro e puxou fora o disfarce. Lambeu o bezerrinho direto, como se dissesse: "Agora você já está adotado”.

07. Qual o desfecho (epílogo ou conclusão) da história?

E ficaram os dois no maior amor, como filho e mãe de verdade.

08. Assinale o propósito do texto acima:

              a) debater um tema.

              b) dar uma informação.

              c) defender uma opinião.

             d) contar uma história.

     09.  O narrador expõe uma opinião sobre um fato em:

            a) “Mas dois deles andavam tristes de dar pena […]”

          b) “A vaquinha até parecia estar chorando, com os peitos cheios de leite […]”

           c) “Não adiantava juntar os dois, porque a vaca não aceitava.”

        d) “Mas no quarto dia, a vaca, de repente, meteu o focinho no couro e puxou fora o disfarce.”

       10. No trecho “E o bezerro sem mãe gemia, morrendo de fome e abandonado.”, preposição “de” exprime a relação de:

          a) posse

          b) causa

          c) origem

          d) modo

    11. “Foi numa fazenda de gado […]”. A palavra “numa” é resultado da contração:

       a) da preposição “de” com o artigo “uma”.

       b) da preposição “para” com o artigo “uma”.

       c) da preposição “em” com o artigo “uma”.

      d) da preposição “por” com o artigo “uma”.

   12. No segmento “Ela sentia pelo cheiro que o bezerrinho órfão não era filho dela, e o empurrava para longe.”, os termos sublinhados se referem:

     a) À vaca

     b) Ao bezerro

     c) Ao vaqueiro

     d) À mãe e o filhote.

domingo, 19 de junho de 2022

FILME(ATIVIDADES): O PRIMEIRO ALUNO DA CLASSE - PETER WERNER - COM GABARITO

 FILME(ATIVIDADES): O PRIMEIRO ALUNO DA CLASSE

 Ficha técnica completa

TÍTULO: FRONT OF THE CLASS

ANO PRODUÇÃO: 2008

DIRIGIDO POR: PETER WERNER (III)

ESTRÉIA: 7 DE DEZEMBRO DE 2008 (MUNDIAL)

DURAÇÃO: 95 MINUTOS

CLASSIFICAÇÃO: 10 – NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 10 ANOS

GÊNERO: BIOGRAFIA – DRAMA

PAÍSES DE ORIGEM – ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

 SINOPSE

Primeiro da Classe. O filme é estrelado pelo ator James Joseph Wolk que dá vida ao professor Brad Cohen, personagem com a Síndrome de Tourette. Trata-se de uma história verídica.

O personagem Brad, no início do filme, não tem um bom relacionamento com o pai, mas conta com um irmão protetor e uma mãe que o apoia. Desde a infância, ele sofre preconceitos devido a Síndrome de Tourette, cansado dos tratamentos sem solução, Brad resolve abandonar o acompanhamento médico.

Já adulto e formado, Brad começa a correr atrás do seu sonho, ser professor, mas o preconceito com a Síndrome é a sua maior barreira. Apesar de um bom currículo as manifestações da Síndrome o reprovam nas entrevistas. Depois de muita procura, uma escola o contrata. Pela primeira vez Brad foi observado com o profissional e não por sua Síndrome.

 

Entendendo o filme

01. Qual o nome da personagem principal do filme e quem era sua amiga inseparável? A partir de que idade a sua amiga inseparável apareceu?

Brad Cohen. Sua amiga inseparável era a Síndrome de Tourette.

Ele tinha seis anos quando ela apareceu. 

02. Como era a vida de Brand na escola?

Odiava a escola, nada de lição de casa e do olhar atravessado dos professores.

03. O que sua mãe resolveu fazer para ajudá-lo?

Pesquisar nos livros médicos sobre a Síndrome de Tourette.

04. O que Brad fazia para agradar seu pai?

Praticava esportes, jogando beisebol.

05. Por que o pai de Brad não gostava dele?

Por causa dos tiques, sentia vergonha.

06. Quantos irmãos Brad tinha? Seu irmão também tinha uma síndrome. Qual era?

Tinha apenas um irmão, e ele tive hiperatividade.

07. Como o diretor da escola contribuiu para acabar o preconceito que os amigos de Brad tinha contra a sua síndrome?

Convidou Brad para o concerto da escola, e o chamou no palco para explicar para os demais alunos sobre a Síndrome de Tourette e como todos poderiam ajudá-lo, pois a mesma não tem cura. Todos o aplaudiram.

08. Que carreira Brad queria seguir?

Queria ser professor.

09. Brad tentou arrumar emprego em quantas escolas?

Vinte e cinco.

10. Na última escola que Brad foi entrevistado, qual a resposta que ele deu aos diretores quando foi questionado porque ele queria ser professor e quem o tinha inspirado a ser?

Disse que era tudo o queria, ser professor. E que um diretor o inspirou quando o apoiou.

11. Como Brad não arrumava emprego, o que ele decidiu fazer?

Foi trabalhar com o pai.

12. Que prêmio ele ganhou?

Prêmio Melhor Professor do Ano.

CONTO: O RELOJOEIRO CONTORCIONISTA - VALÉRIO ROMÃO - COM GABARITO

 CONTO: O RELOJOEIRO CONTORCIONISTA

                 Valério Romão

 A dificuldade é microscópica. A luz não ajuda.

 Os clientes dizem-me que a loja está cada vez mais suja, que não é possível trabalhar com rolos de cotão deambulando pelas mesas como gatinhos, os clientes que só se mantêm fiéis porque a minha tabela de preços é tão an­tiga quanto eles o são. Não posso ter uma empregada de limpeza – replico – não posso ter uma senhora de plumas de avestruz na mão a estragar-me meses de trabalho com uma espanadela ruminada à pressa.

 A dificuldade é antiga.

 O meu pai ensinou-me tudo o que sabia. O meu avô tinha mãos de cirur­gião e olhos de pombo. Eu carrego alguns genes bondosos e medo de fazer outra coisa. O trabalho é como um par de tamancos que se lega de mãe pa­ra filha: por mais desconfortável que seja, não há coragem para mostrar as feridas nos pés. Um cambalear ocasional que se atribui à diferença de ta­manho entre dois membros rigorosamente idênticos é o único indício de descontentamento. Ainda assim, não há corpos perfeitos e a mentira pas­sa de barriga em barriga.

Não desgosto os relógios. Fascina-me saber que há coisas que, quando me­xem para a esquerda, obrigam outras coisas a mexerem-se para a direita e estas últimas forçam pequenos gravetos de metal a percorrer distâncias milimétricas numa cadência monocórdica de barítono deprimido. Aprendi a amar alguns tipos de metais, algumas marcas específicas de engrenagens, aprendi a soldar e a desviar átomos com a ponta da pinça. Toda a minha vi­da está prenhe de rolamentos minúsculos e cheiro de cobre. Não tenho fi­lhos, nem mulher. Quando morrer serei enterrado com uns tamancos cor-­de-caixão. Ninguém verá as chagas nos pés.

 A dificuldade é parar.

 Quando se é relojoeiro parece que o tempo dá para tudo. É um manto cin­zento, estendido, que se prolonga espaço fora e que salpica tudo de tique­taques sincronizados. Quando se é relojoeiro tem que se cumprir os pra­zos. Ninguém confia num relojoeiro que se atrasa, independentemente do valor da desculpa ofertada. A mãe pode estar a galgar a linha da meta, o pai ou sobrinho podem ter tido um acidente grave. O que importa é que haja alguém cuja função seja a de compor uma sinfonia pela qual todos os passos possam ser dados com segurança. É preciso um maestro. Um alqui­mista da simultaneidade. Eu.

Um relojoeiro não se cansa, um relojoeiro não se desconcentra. Um relojoeiro é um apêndice do tempo e desde logo está fora dele. Contempla-o, encaixa as suas peças como se brincasse com Legos e devolve às pessoas a possibilidade de falhar um compromisso. Caso eu não existisse, não haveria atrasos, nem ocasião. Somente a visão do sol e das rugas faciais para saber que a vida não tem buracos e que, quando os tem, não tem vida. Eu sou o alicerce.             

Quando morrer e levar comigo os tamancos serei homenageado com uma estátua ou uma rua com o meu nome. Quando eu morrer todas as coisas serão engolidas no silêncio dos relógios coma­tosos. Deixará de haver emprego, leis, férias. Tudo será um único bolo confuso de noite e de dia se revezando.

 O problema é sincrónico.

 À noite cumpro o meu ritual privado. Desço as escadas, bebo meio copo de leite morno e começo a dar corda aos bichos. Cada um dos relógios - de parede, de pulso, de bolso — tem um grunhido diferente. Tento compor o ramalhete. Paro todos os relógios. Menos um. Depois tento acertá-los mentalmente, com as engrenagens bloqueadas, para que, quando for hora, conseguir que todos batam os segundos no mesmo instante. São centenas de músicos aspirantes a solistas. Mas eu quero uma orquestra, uma filar­mónica de Cronos que esteja em sincronia com o meu espaço interior, que cumpra as regras do bater do meu coração.

Todas as noites dou voltas pelas bancadas, esgueiro-me por debaixo das ca­deiras e penduro-me no escadote para que sinta, uma única vez apenas, a simultaneidade original. O meu avô disse-me quando eu tinha tempo, antes de saber que o tinha, que Deus não criou o mundo em sete dias, que toda a história da génese originária era um paliativo para mentes preguiçosas. Deus criou tudo no mesmo instante, como se todos os relógios do mundo houvessem batido o pé ao mesmo tempo, e desse estrondo instantâneo brotaram todas as coi­sas vivas.

O pecado original, outra farsa para imberbes – dizia o meu avô -, foi o desrespeito pelo ritmo do mundo. O primeiro homem e a primeira mulher zangaram-se porque um deles se atrasou. Não porque houvesse comido uma maçã ou um bolo-rei, e sublinhava bolo-rei com um cinismo impróprio para curas, não porque houvesse desejo de saber mais ou ser igual a Ele. O tempo foi desrespeitado, pura e simplesmente nunca me disse se houvera sido o homem ou a mulher a atrasar-se e todas as coisas perderam o lastro de pureza e a sincronia. O meu avô que lia a bíblia à luz da teoria do atraso metafísico nutriu sempre o sonho de ser ele a restaurar o tempo em que as coisas eram como deviam ser. Eu herdei as suas mãos e a sua paranoia. 

 A dificuldade é sempre o tempo.

 Uma noite qualquer, uma noite sem sol igual às outras, uma noite fria e de­sacompanhada de carne, depois de cinquenta anos passados a pular para cima de cadeiras, a abrir e a fechar gavetas teimosamente iguais, dou por mim com um estranho formigueiro nos dedos.

Nessa noite fiz tudo com precisão. Parei os relógios. Todos. Pus a mão no coração e escutei. Não com os ouvidos. Escutei pela mão, escutei o ritmo todo do meu corpo, a pressão que o sangue exerce sobre as paredes das ar­térias, os impulsos micro-eléctricos de neurónio a neurónio, as células da pele a caírem no chão, ribombando como fanfarras de bombeiros. Com a mão no coração e os olhos cerrados porque se ouve muito melhor com os olhos cerrados dirigi-me a cada relógio e acertei-os de acordo com o que ouvia sentia e sei que entre um e outro decorria uma batida cardíaca apenas. Dentro dessa batida cardíaca morriam civilizações inteiras porque uma estrela ha­via engordado de luz e fogo, dentro dessa batida havia choros de bebês cujas caras me eram absolutamente incompreensíveis mas todos os bebês choram dentro dessa batida travavam-se guerras, amavam-se pessoas e coisas, den­tro dessa batida todo o espaço me era revelado como só Deus o poderia ver.

Enquanto acertei os relógios com calma, com segurança vi tudo o que o universo oferece e esconde. Não somente o que há, mas tu­do o que poderia ter havido, que se multiplica em cada segundo que passa pelas possibilidades deixadas para trás. Era como se, de repente, tudo es­tivesse despudoradamente nu. Vi a nudez do meu pai, do meu avô-metafí­sico, vi a minha mãe que poderia ter casado com outro qualquer e tido outros filhos quaisquer ou ter morrido à nascença ou dois anos depois vi os filhos que nunca tive e que poderia ter tido, vi a mulher que deveria ter amado, vi todas as mulheres que nunca deveria ter visto e sentei-me, pesado. O universo e seus irmãos passaram por mim, sincopados, de ba­tida em batida, e deixaram-me sozinho com todo o mundo ao colo a lu­tar por atenção.

Pendurei os tamancos. Parei os relógios todos. Disse aos clientes que pre­cisava de férias. Nunca mais voltei. Tenho ainda em mim a gritaria selva­gem do começo e do fim de tudo.

O problema é esquecer.

 Entendendo o texto

01. Em relação à estrutura textual do conto.

A. Narrador: a) narrador-personagem

                          b) narrador-observador

                          c) narrador-onisciente

           B. Em relação ao discurso das personagens

               Presença de discurso: a) direto

                                                    b) indireto

           C. Qual é a tipologia predominante no conto:

                a) narrativa

                b) argumentativa

                c) descritiva

02. Qual a temática abordada nesse texto?

       A vida de um relojoeiro, herdada a várias gerações.

 03.Qual o cenário em que se desenrola a história?

      Numa relojoaria.

 04. Por que o relojoeiro não contratava ninguém para limpar a relojoaria? Retire do texto.

      “Não posso ter uma senhora de plumas de avestruz na mão a estragar-me meses de trabalho com uma espanadela ruminada à pressa”.

 05. Como o narrador se tornou relojoeiro?

     O pai ensinou tudo o que sabia. O avô tinha mãos de cirur­gião e olhos de pombo. E ele carrega alguns genes bondosos e o medo de fazer outra coisa. Legado de família.

 06. Qual o desfecho (epílogo ou conclusão) da história?

       Ele parou os relógios todos e disse aos clientes que pre­cisava de férias. Nunca mais voltou.

 07. Faça um pequeno resumo da história.

      Resposta pessoal.

 

 

     

 

TEXTO: POUPAR É POSSÍVEL - ELAINE TOLEDO - COM GABARITO

 TEXTO: POUPAR É POSSÍVEL

                 Elaine Toledo

 Sempre dá para separar um dinheirinho para o futuro. Em sete passos fáceis, veja como:

1. Ande com um caderninho na bolsa e anote tudo o que gasta para saber para onde está indo seu dinheiro.

2. Se você não tem certeza de que conseguirá conter seus impulsos, deixe em casa cartões de crédito e cheques. Estabeleça um limite em dinheiro para carregar na carteira.

3. Planeje suas compras, todas elas, e pague apenas à vista.

4. Sempre pesquise preços e pechinche.

5. Só compre pela internet ou pelo telefone se for algo necessário, oferecido a um preço ótimo (a internet é um prato cheio para compradores compulsivos).

6. Passe longe das liquidações.

7. Pesquise pacotes econômicos para celular, telefone fixo, internet e TV a cabo.

 TOLEDO, Elaine. “Poupar é possível”. Revista Claudia. São Paulo, p. 83, fev. 2009.

 Bechara, Evanildo Bechara para concursos : ENEM, vestibular e todo tipo de prova de Língua Portuguesa / Evanildo Bechara; colaboração de Shahira Mahmud, Fatima Amendoeira Maciel. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.

Compreensão do texto 

01. A frase do texto que traz somente marcas de linguagem formal é:

a.   “sempre dá para separar um dinheirinho”;

b.   “para saber para onde está indo seu dinheiro”;

c.   “sempre pesquise preços e pechinche”;

d.   “a internet é um prato cheio para compradores”;

e.   “pesquise pacotes econômicos para celular”.

 

02. A marca que indica uma preocupação com o paralelismo na construção de grande parte das frases do texto é:

a.   o início traz sempre uma forma verbal;

b.   o emprego de formas de imperativo;

c.   o apelo ao humor nas instruções;

d.   o uso de formas coloquiais de linguagem;

e.   a presença de testemunhos de autoridade.

03. A linguagem do texto ”Poupar é possível” é persuasiva, a intenção da autora é influenciar o comportamento do leitor, por isso a função da linguagem predominante é:

a)   Conativa, porque tenta “seduzir” o leitor a aceitar as ideias propostas pela autora.

b)   Poética, marcada pela presença de figuras de linguagem.

c)   Referencial, pois implica apenas informação.

d)   Fática, pelo envolvimento de frases reticentes.

e)   Metalinguística, porque usa a linguagem do cinema.