domingo, 12 de junho de 2022

ARTIGO DE OPINIÃO: INTERNET E FRAUDE - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

Artigo de opinião: Internet e fraude

        A Internet ensina-nos coisas, sim. Inclusive quando temos de pensar a respeito das armadilhas da internet e de como evita-las.

        Moacyr Scliar

        Alguém duvida que a Internet mudou a vida das pessoas? Não, ninguém pode duvidar disso. A Internet não é apenas ume meio de comunicação ou de informação; é um jeito de viver, um novo jeito de viver, e a história do mundo vai se dividir em duas frases: AI (antes da Internet) e DI (depois da Internet).

        A ai do AI! A Internet subverteu totalmente a milenar ideia de que os mais velhos detêm o conhecimento. Agora, são eles que têm de aprender com os mais jovens, e não o contrário. Um aprendizado que, aliás, funciona. Num projeto conduzido nos Estados Unidos, adolescentes, orientados por professores de informática, prontificaram-se a dar aulas sobre computador e Internet para pessoas de idade. Ficaram, os veteranos, melindrados com a situação? Nada disso. Antes do treinamento, só 5% sentiam-se à vontade com Internet. Depois do treinamento, esta percentagem subiu para 80%. O vovô pode, sim, aprender com os netos. Vale para computador, vale para celular, vale até para controle remoto.

        Mas há um lugar em que a Internet está causando problemas: a sala de aula. No passado, era muito comum os professores pedirem aos alunos que preparassem, em casa, trabalhos sobre temas diversos. As pesquisas para isso eram feitas em bibliotecas ou em enciclopédias. No mínimo, os jovens tinham de copiar os textos. Agora, não. Agora eles simplesmente podem baixá-los da Internet. E podem contar para isso com o auxílio de empresas especializadas, que elaboram até teses de mestrado e de doutorado. A frequência com que isso está acontecendo é muito grande, e os textos a respeito, que aparecem na própria Internet, dizem que, nos Estados Unidos, no mínimo 50% dos alunos admitem que já recorreram a esse tipo de fraude. Resultado: surgiu uma nova especialidade, a detecção de fraudes. Há até um programa de computador, o Turnitin, desenhado para detectar a cópia.

        Pergunta: será que isso vale a pena? [...]

        Em primeiro lugar, precisamos nos dar conta de que, como foi dito antes, copiar os alunos sempre copiaram, só que antes faziam isso à mão. Pode-se alegar que, desta forma, aprendiam alguma coisa, mas trata-se de uma afirmação questionável: copiar pode ser simplesmente uma coisa mecânica. O melhor é perguntar: qual deve, afinal, ser o característico de um trabalho de aluno? A mim a resposta parece óbvia. O trabalho do aluno, como o trabalho de qualquer pessoa – como este texto que vocês estão lendo – deve refletir o pensamento e as emoções de quem o elabora. Ou seja: o trabalho deve ser eminentemente pessoal. Deixem-me dar um exemplo tirado do ensino de medicina. Podemos pedir a um aluno que escreva sobre as relações médico-paciente, e aí, sem dúvida, ele encontrará na Internet montes de textos copiáveis. Ou podemos pedir que descreva um episódio de sua própria vida: uma doença que teve e o papel que o médico desempenhou então, com sua avaliação a respeito. Aí não tem como colar. Só a autenticidade resolve. E esta autenticidade será extremamente educativa para o aluno.

        Ou seja: a Internet nos ensina coisas, sim. Inclusive quando temos de pensar a respeito das armadilhas da Internet e de como evitá-las.

Moacyr Scliar. Internet e fraude. Carta maior, 8 jun. 2007. Extraído de: www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14266. Acesso em: 23 mar. 2013.

Fonte: Língua Portuguesa – Caminhar e transformar – Aos finais do ensino fundamental – 1ª edição – São Paulo – FTD, 2013. p. 240-3.

Entendendo o artigo de opinião:

01 – No texto lido, o autor:

(   ) Narra um fato de modo particular.

(X) Expõe seu ponto de vista sobre o assunto.

(X) Apresenta argumentos para defender seu ponto de vista.

02 – Pelo fato de o texto ter caráter argumentativo, o autor formula uma tese (a ideia principal que expressa seu ponto de vista) e a defende em todo o texto. Que ideia o autor defende?

      O autor defende a tese de que a Internet influenciou a história do mundo e deve ser utilizada de forma consciente e crítica.

03 – Segundo o autor, que mudança a internet provocou a respeito do conhecimento relacionado às diferentes faixas etárias?

      Nota-se uma troca maior de conhecimentos entre as diversas faixas etárias. Em relação à informática, com muita frequência os indivíduos mais idosos aprendem com os mais jovens.

04 – Dê sua opinião sobre as seguintes frases do texto.

        “[...] a história do mundo vai se dividir em duas frases: AI (antes da Internet) e DI (depois da Internet).”

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O autor atribui grande importância ao uso da internet.

        “[...] A Internet subverteu totalmente a milenar ideia de que os mais velhos detêm o conhecimento. [...]”.

       Internet subverte a hierarquia entre velhos e jovens em relação ao uso e ao conhecimento acerca da rede mundial de computadores.

05 – Descreva o projeto desenvolvimento nos Estados Unidos para facilitar o acesso dos mais velhos à rede. O que você acha desse projeto?

      Adolescentes, orientados por professores de informática, prontificaram-se a dar aulas sobre computador e internet para pessoas de idade. É importante estimular a expressão de opiniões e argumentos dos alunos.

06 – Que mudanças de comportamento esse projeto provocou tanto nos mais velhos como nos jovens?

      No início, só 5% dos mais velhos sentiam-se à vontade com a internet. Depois do treinamento, a percentagem subiu para 80%. Por outro lado, os jovens perceberam que também têm o que ensinar aos mais velhos.

07 – É possível concluir que a aprendizagem pode aproximar os mais velhos dos mais jovens? Por quê?

      Esse projeto permite-nos dar resposta afirmativa. Os jovens têm facilidade de manipulação de computadores, celulares e controles remotos, e os idosos podem ter curiosidade por tudo o que lhes dê acesso ao saber.

08 – Moacyr Scliar apresenta apenas informações objetivas ou expressa também pontos de vista a respeito dos impactos produzidos pela internet?

      Moacyr Scliar produz um artigo de opinião para expressar pontos de vista a respeito de um determinado assunto. Todas as informações presentes no texto procuram fundamentar as opiniões do autor.

09 – O autor do texto é totalmente contrário à presença da internet no ambiente escolar? Na opinião de Moacyr Scliar, que propostas de trabalho podem conduzir a um uso adequado da internet na escola?

        O autor não é contrário ao uso da internet. No artigo de opinião, ele afirma que propostas de trabalho que conduzem a simples cópias de textos alheios devem ser substituídos por atividades que valorizem a autenticidade e a criatividade dos alunos. Desse modo, a internet pode ser usada como fonte de pesquisa e inspiração para os trabalhos escolares.

 

 


quarta-feira, 8 de junho de 2022

CRÔNICA: O RECALCITRANTE - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 CRÔNICA: O recalcitrante

                    Carlos Drummond de Andrade

        O trocador olhou, viu, não aprovou. Daquele passageiro escanchado placidamente no banco lateral, escorria um fio de água que ia compondo, no piso do ônibus, a micro figura de uma piscina.

        – Ei, moço quer fazer o favor de levantar?

        O moço (pois ostentava barba e cabeleira amazônica, sinais indiscutíveis de mocidade), nem-te-ligo.

        O trocador esfregou as mãos no rosto, em gesto de enfado e desânimo, diante de situação tantas vezes enfrentada, e murmurou:

        – Estes caras são de morte.

        Devia estar pensando: Todo ano a mesma coisa. Chegando o verão, chegam problemas. Bem disse o Dario, Quando fazia gol no Atlético Mineiro: Problemática demais. Estava cansado de advertir passageiros que não aprendem como viajar em coletivos. Não aprendem e não querem aprender. Tendo comprado passagem por 65 centavos, acham que compraram o ônibus e podem fazer dele casa-da-peste. Mas insistiu:

        – Moço! Ô moço!

        Nada. Dormia? Olhos abertos, pernas cabeludas ocupando cada vez mais espaço, ouvia e não respondia. Era preciso tomar providência:

        – O senhor aí, cavalheiro, quer cutucar o braço do distinto, pra ele me prestar atenção?

        O cavalheiro, vê lá se ia se meter numa dessas. Ignorou, olímpico, a marcha do caso terrestre.

        Embora sem surpresa, o cobrador coçou a cabeça. Sabia de experiência própria que passageiro nenhum quer entrar numa “fria”. Ficam de camarote, espiando o circo pegar fogo. Teve pois que sair do seu trono, pobre trono de trocador, fazendo a difícil ginástica de sempre. Bateu no ombro do rapaz:

        – Vamos levantar?

        O outro mal olhou para ele, do longe de sua distância espiritual. Insistiu:

        – Como é, não levanta?

        – Estou bem aqui.

        – Eu sei, mas é preciso levantar.

        – Levantar pra quê?

        – Pra que, não. Por quê. Seu calção está molhado de água do mar.

        – Tem certeza que é água do mar?

        – Tá na cara.

        – Como tá na cara? Analisou?

        Forrou-se de paciência para responder:

        – Olha, o senhor está de calção de banho, o senhor veio da praia, que água pode ser essa que está pingando se não for água do mar? Só se…

        – Se o quê?

        – Nada.

        – Vamos, diz o que pensou.

        – Não pensei nada. Digo que o senhor tem de levantar porque seu calção está ensopado e vai fazendo uma lagoa aí embaixo.

        – E daí?

        – Daí, que é proibido.

        – Proibido suar?

        – Claro que não.

        – Pois eu estou suando, sabe? Não posso suar sentado, com esse calorão de janeiro? Tenho que suar de pé?

        – Nunca vi suar tanto na minha vida. Desculpe, mas a portaria não permite.

        – Que portaria?

        – Aquela pregada ali, não está vendo? “O passageiro, ainda que com roupa sobre as vestes de banho molhadas, somente poderá viajar de pé.

        – Portaria nenhuma diz que o passageiro suado tem que viajar de pé. Papo findo, tá bom?

        – O senhor está desrespeitando a portaria e eu tenho que convidar o senhor a descer do ônibus.

        – Eu, descer porque estou suado? Sem essa.

        – O ônibus vai para e eu chamo a polícia.

        – A polícia vai me prender porque estou suando?

        – Vou botar o senhor pra fora porque é um… recalcitrante.

        O passageiro pulou, transfigurado:

        – O quê? Repita se for capaz.

        – Re… calcitrante.

        – Te quebro a cara, ouviu? Não admito que ninguém me insulte!

        – Eu? Não insultei.

        – Insultou, sim. Me chamou de réu. Réu não sei o que, calcitrante, sei lá o que é isso. Retira a expressão, ou lá vai bolacha.

        – Mas é a portaria! A portaria é que diz que o recalcitrante…

        – Não tenho nada com a portaria. Tenho é com você, seu cretino. Retira já a expressão, ou…

        Retira não retira, o ônibus chegou ao meu destino, eu paro infalivelmente no meu destino. Fiquei sem saber que consequências físicas e outras teve o emprego da palavra “recalcitrante”.

Carlos Drummond de Andrade. “Recalcitrante”. In: De notícias e não-notícias faz-se a crônica. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 1987.

Fonte: Língua portuguesa – Palavras – Hermínio Geraldo Sargentim – 5ª série – IBEP – 1ª edição, São Paulo, 2002. p. 50-3.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Escanchar: sentado com as pernas abertas.

·        Ostentar: exibia.

·        Enfado: aborrecimento.

·        Olímpico: majestoso.

·        Transfigurado: transtornado.

·        Recalcitrante: indiscutível, irredutível, teimoso.

02 – Empregue convenientemente nas frases as palavras: recalcitrante, placidamente, transfigurado, indiscutível, infalivelmente, completando a frase.

a)   Depois das palavras do pai, o menino ficou transfigurado.

b)   O professor chega infalivelmente no horário.

c)   Olhou placidamente para as pessoas e saiu.

d)   Você será considerado recalcitrante se não acatar a ordem do diretor.

e)   Saber comunicar-se é uma necessidade indiscutível.

03.Apesar dos  elementos  narrativos,  o  texto  em  estudo  é  uma  crônica. Marque  um X na(s)  alternativa(s)  que  apresente(m)  características desse gênero textual.

      a)(  ) A crônica trata de temas inteiramente da fantasia, inventando acontecimentos e personagens que não poderiam existir em nosso cotidiano.

       b)( X ) Muitas crônicas usam o humor e a ironia para fazer uma crítica aos nossos costumes e modos de pensar a vida.

       c)( ) O cronista procura sempre passar informações em linguagem objetiva, sem sua interpretação pessoal, da mesma forma que as notícias e reportagens.

       d)( X  ) Diferente das notícias, a crônica apresenta um tom literário, com termos em sentido conotativo.

       e)( X  ) O cronista inspira - se a partir do contato com noticiários e/ou partindo de fatos do seu cotidiano.

 04. Que problema movimenta o enredo de O Recalcitrante?

      O enredo é um homem, com a roupa molhada, querer viajar sentado, em um ônibus, sendo que é proibido (ele só poderia viajar de pé).

 05. Qual é o clímax da crônica?

       O clímax da crônica acontece quando o homem infrator é chamado de um termo que desconhece (recalcitrante) e pensa estar sendo ofendido.

 06.Em: “Daquele passageiro, escanchado placidamente no banco lateral, escorria um fio de água”, o sujeito do verbo grifado é:

    ( a ) “Daquele passageiro”  

    ( b ) “Um fio de água”    

    ( c ) “Água” 

    ( d ) “No banco lateral”

 

07. Qual figura de construção foi aplicada ao trecho em análise na questão 06?

          ( a ) Hipérbato

         ( b ) Elipse

         ( c ) Zeugma

         ( d ) Polissíndeto

 

CRÔNICA: ESTRANHO EQUILÍBRIO - FABRÍCIO CARPINEJAR - COM GABARITO

 CRÔNICA: ESTRANHO EQUILÍBRIO

                     Fabrício Carpinejar

 Eu descobri ontem um provérbio perfeito: Se quer ser amigo feche um olho, se quer manter uma amizade feche os dois olhos.

Faz muito sentido. Amigo é não se meter, por mais que tenhamos intimidade, é respeitar a decisão mesmo que não seja o que você pensa.

Se ele procura namorar alguém que você não gosta, é dar apoio igual. Se ele pretende permanecer num emprego que você não acha justo, é dar apoio igual. Se ele busca manter uma vida que você não considera ideal, é dar apoio igual.

É estar junto apenas, para qualquer dos lados.

Amizade é dança. Acompanhar o ritmo da música.

É opinar, expor sua crítica, mas não viver pelo outro.

É não intervir, não pesar a mão, não exagerar.

Amigo não é ser pai, não é ser mãe, não é educar.

É aceitar o que ele é, é reconhecer o que ele deseja, ainda que seja muito diferente de suas crenças.

É entender o momento de falar e entender também o momento de silenciar.

Análise demais estraga a amizade. Você estará sendo terapeuta, não amigo.

É discordar e seguir adiante. Não é discordar e fazer oposição, boicote, greve. Até que nosso amigo mude de ideia.

Amigo é oferecer conselho, não um sermão. É alertar, jamais insistir.

Amizade é fugir do julgamento, é compreender a alternância, os altos e baixos, os desabafos.

Amigo não cobra coerência, não fica em cima cutucando feridas.

É saber tudo e agir como se não soubesse de nada. É não ficar apontando o que é certo ou errado.

Amizade é difícil. Amizade é um estranho equilíbrio.

Mas amizade não é cegueira. É a arte de enxergar com os ouvidos.

Disponível em: <http://carpinejar.blogspot.com/2014/03/estranho-equilibrio.html>. Acesso em: 26 mar. 2019.

 Entendendo o texto

 01.O que motivou Fabrício Carpinejar a escrever a crônica anterior? 

O que motivou a escrita da crônica foi Fabrício Carpinejar descobrir um provérbio sobre a amizade que considerou perfeito.

 02.“Faz muito sentido. Amigo é não se meter, por mais que tenhamos intimidade, é respeitar a decisão mesmo que não seja o que você pensa.” Identifique o trecho em que ocorreu silepse de pessoa e explique seu efeito para o texto.

A silepse está no trecho: “por mais que tenhamos intimidade”, pois a crônica estava na terceira pessoa, referindo-se a “você”, mas, nesse momento, o cronista usou a 1ª pessoa, a fim de se incluir na ideia apresentada.

 03. Releia:

“É não intervir, não pesar a mão, não exagerar.” Sabendo que a outra nomenclatura para conjunção é SÍNDETO, a que figura de construção Carpinejar recorreu, no trecho transcrito: Assíndeto ou polissíndeto? Explique.

Ocorreu  a  figura  de  construção  ASSÍNDETO, pois  o  autor  optou  por  não  usar  uma  conjunção  entre  a segunda  oração  e  a terceira, na qual se encerrou o período. Poderia ter usado a conjunção E.

 04. “Amigo não cobra coerência, não fica em cima cutucando feridas.” O uso da conotação, nesse trecho, foi para expressar que amigos:

( a ) não magoam.

( b ) não revelam segredos.

( c ) precisam saber cuidar.

( d ) evitam assuntos desagradáveis.

 05. Ao encerrar seu texto afirmando que a amizade “É a arte de enxergar com os ouvidos.”, o cronista ressalta qual sentido como o mais importante para sua manutenção?

( a ) Tato

( b ) Visão

( c ) Audição

( d ) Paladar

 06. O “estranho equilíbrio” a que se refere a crônica é:

( a ) fazer amigos é fácil, mas mantê-los é difícil.

( b ) estar entre amigos é bom, mas gostar de estar sozinho é fundamental.

( c ) amigos aconselham, mas não podem comandar as atitudes do outro.

( d ) amigos antigos devem se mesclar a amigos novos, para haver renovação

 

 

 

ARTIGO DE OPINIÃO: O PODER DA AMIZADE NA ADOLESCÊNCIA - ROSELY SAYÃO - COM GABARITO

 ARTIGO DE OPINIÃO: O PODER DA AMIZADE NA ADOLESCÊNCIA

                                         Rosely Sayão

         Terminada a infância, os filhos querem mais é trocar de turma porque os pais e a família já não bastam como companhia para eles. Essa é a hora de eles começarem a conquistar vida própria, de iniciarem a construção de sua privacidade, de darem os primeiros passos  rumo  à  independência  e  à  liberdade  possíveis  do  mundo  adulto.  Mesmo que os  filhos  tenham  um  grupo  de amigos que se frequenta desde muito cedo – o que tem ocorrido bastante no mundo atual –, é só a partir do início da adolescência que esse processo de estabelecimento de vínculos fora da família se consolida de fato.

 Fazer amigos ajuda a combater a ideologia consumista de nosso tempo, que pega tão pesado com os jovens, já que ter amigos subverte a lógica do consumo.

 Nunca é demais lembrar que a presença firme e tuteladora dos pais ainda é imprescindível na vida dos filhos, acima de tudo por meio de palavras e condutas que orientam, limitam, impõem e reafirmam as regras e normas de vida que são valorizadas no convívio familiar.  Ao mesmo tempo, é nessa fase que os pais devem iniciar  o  processo  de  substituição  das  imposições  por propostas e sugestões naquilo que diz respeito à vida do filho.

         Entretanto esse é um processo longo, que apenas tem sua largada nessa fase e deve terminar lá pelos 17 ou 18 a nos afim de  precipitar  a  autonomia  e  a  maturidade.  Agir com urgência ou  impaciência  e  abortar  o  processo  ainda  em  andamento prejudica sua chance de bom termo.

         Muitas coisas os jovens devem aprender com educadores escolares e pais nessa fase, e hoje vamos conversar a respeito de uma delas, que é crucial para que eles tenham um norte nos relacionamentos que passam a ter com seus pares de geração: as relações de amizade. A respeito das relações de coleguismo e das impessoais e incidentais, falaremos em outra oportunidade.

        Num mundo em que se aponta a popularidade – ser conhecido por um grande número de pessoas – como característica social das mais cobiçadas e reveladoras de prestígio, nada mais importante e necessário do que esse tema na educação.

      Muitos fatores têm contribuído para que os jovens tenham um conceito pouco sólido a respeito da amizade, já que quase todas as pessoas com quem eles se relacionam são chamadas de amigos. Talvez o mau hábito de pais e professores de, desde que a criança  é  bem  pequena,  nomearem  como  amigos  todos  os  colegas  de  classe,  de  prédio  ou  de  clube,  por  exemplo,  tenha  um grande peso nessa história. O fato é que eles não têm em conta como amigos apenas aqueles a quem eles querem bem e  a  quem  têm  grande  consideração.  Então, eles precisam saber que nem todo relacionamento é de amizade.

        Fazer amigos é uma escolha, se bem que viver sem  amigos  talvez  torne  a  vida  mais  árdua  do  que    é  ou,  quem  sabe,  até impossível  de  ser  vivida.  Amigo  não  deixa  de  ser  um  recurso  para  fazer  frente  às vicissitudes  da  vida.  E  os  jovens  precisam aprender que tal escolha traz compromissos: de disponibilidade, de dedicação, de generosidade, de tolerância e de lealdade, entre outros.

        Fazer amigos ajuda a combater a ideologia consumista de nosso tempo, que pega tão pesado com os jovens, já que ter amigos subverte a lógica do consumo. Quem cultiva amizades  entende que mais importante do que ter o poder de ter algo é ter alguém ao lado, poder contar com alguém.

         Ao despedir - se da infância, o jovem se depara com uma grande empreitada: saber quem é, reconhecer o outro e suas diferenças  e  respeitá-lo.  Essa é uma questão das mais  importantes  do  início  de  adolescência,  que acompanhará  o  jovem  pelo resto da vida, pois as relações de amizade são um campo fértil de experimentações que contribuem de forma criativa para essas descobertas.

         Tudo isso e muito mais os jovens podem aprender se pais e escolas, principalmente, contribuírem para que eles encarem a amizade como um valor. Mas, pelo jeito, temos é colaborado para que tal questão seja cada vez mais banalizada.

Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2508200510.htm>. Acesso em: 26 mar 2019.

 Entendendo o texto

 01.  Releia um trecho transcrito do quarto parágrafo: “

A  respeito  das  relações  de  coleguismo  e  das  impessoais  e  incidentais, falaremos em outra oportunidade.” Refletindo acerca do enunciador do trecho, explique por que houve silepse de  número  no verbo grifado.

Houve silepse de número em “falaremos”, pois a mensagem do texto está sendo transmitida por uma única pessoa, Rosely Sayão, então não havia a necessidade de se usar o plural, mas, provavelmente, ela fez isso para dar um tom de humildade ao texto.

 02. O  terceiro  parágrafo  encerra - se  da  seguinte  forma:  “Agir  com  urgência  ou  impaciência  e  abortar  o  processo  ainda  em andamento prejudica sua chance de bom termo.”

O pronome em destaque refere-se à/ao:

( a ) urgência.        ( c ) processo.

( b ) impaciência.    ( d ) maturidade

 

03. Releia três trechos do texto e transcreva o único que serviria adequadamente de resposta ao título (entre as opções), caso fosse um questionamento: Qual é o poder da amizade na adolescência?

 I.“Entretanto esse é um processo longo, que apenas tem sua largada nessa fase e deve terminar lá pelos 17 ou 18 anos a fim de precipitar a autonomia e a maturidade.”

II)“Muitos fatores têm contribuído para que os jovens tenham um conceito pouco sólido a respeito da amizade, já que quase todas as pessoas com quem eles se relacionam são chamadas de amigos.”

III)“ Quem cultiva amizades entende que mais importante do que ter o poder de ter algo é ter alguém ao lado, poder contar com alguém.”

 04. Assinale a frase que constitui um período simples.

( a ) “Agir com urgência ou impaciência e abortar o processo ainda em andamento prejudica sua chance de bom termo.”

( b) “A respeito das relações de coleguismo e das impessoais e incidentais, falaremos em outra oportunidade.”

( c ) “Então, eles precisam saber que nem todo relacionamento é de amizade.”

( d ) “Mas, pelo jeito, temos é colaborado para que tal questão seja cada vez mais banalizada.”

 

 

 

domingo, 5 de junho de 2022

PINTURA: O CAFÉ - CÂNDIDO PORTINARI - COM GABARITO

 Pintura: O café

 

 Fonte da imagem -https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7OucTXjyiwCBcjHjf_eHCnVaxwg6OJKA7kYsqqkNmJOldpX73ZqCTpiirfLaprrxeUPi7S6Hul1wsJMti_BtzMpl2PQr9_z8LbGEJzdEX0oqYmVrzgSFjZLCVZQuca9yRtKJsp9el0CIHlRC68fgtPZVAK5qUZV6iOIzeev6jmfgyWJDrUD-an9XY/s1600/cafe.jpg

O café, de Cândido Portinari (1934-1935).

      Fonte: Língua Portuguesa – Caminhar e transformar – Aos finais do ensino fundamental – 1ª edição – São Paulo – FTD, 2013. p. 180-1.

Entendendo a pintura:

01 – Observe com atenção a pintura O café, do pintor brasileiro Cândido Portinari, pintado em 1935 e reproduzido acima. Em seguida, responda.

a)   Há muitas pessoas presentes na cena retratada pelo pintor. Quem são elas, o que estão fazendo e onde estão?

A pintura retrata trabalhadores em uma plantação de café, ocupados com as tarefas do mundo agrícola.

b)   Os personagens do quadro são exatamente iguais às pessoas reais? Justifique sua resposta.

Não. As figuras humanas retratadas por Portinari possuem mãos e pés intencionalmente ampliadas e desproporcionais em relação ao restante do corpo. Por meio desse recurso de representação, o pintor procurou ressaltar a força física dos trabalhadores.

c)   Parece haver, na pintura, uma divisão de trabalho entre homens e mulheres? Quais são as tarefas atribuídas a cada um desses grupos?

Sim. O trabalho de carregar as grandes quantidades de café depende de grande força física e é realizado principalmente pelas figuras masculinas, predominantes no quadro. Às mulheres ficam reservadas as funções de semear e colher os frutos da plantação.

02 – O trabalho em uma plantação de café, tal como pintado por Portinari, parece ser um trabalho leve ou pesado? Por quê?

      O trabalho nas grandes plantações de café é retratado como sendo pesado e desgastante. As tarefas exigem muita força física, exposição ao sol e contato com a terra durante longos períodos de trabalho.

03 – Você já viveu a experiência de trabalhar em uma plantação ou conhece alguém que trabalha com o cultivo da terra? Redija um pequeno parágrafo a respeito desse trabalho.

      Resposta pessoal do aluno.

04 – Observe a pintura de Portinari. Você localiza algum personagem responsável pela supervisão do trabalho na plantação de café? Em caso afirmativo, descreva esse personagem.

      No canto esquerdo do quadro, é possível identificar a figura autoritária de um capaz, responsável por supervisionar os trabalhos na plantação. Note o dedo apontado para os trabalhadores, em posição de comando, e as botas e chapéu preto que distinguem dos demais personagens presentes na obra.

05 – Em sua opinião, que objetivo teve Cândido Portinari ao pintar o quadro O café? Qual a relação entre o que ele representou e a realidade econômica da época?

      Ao retratar o cotidiano difícil de trabalhadores em uma plantação de café, o pintor registrou uma fase da história do Brasil em que predominava a economia cafeeira. Os trabalhadores negros ou mulatos, bem como os imigrantes italianos, constituíam a principal mão de obra nas fazendas de café.

06 – Que elementos ocupam o primeiro plano da cena: os trabalhadores ou a plantação? A partir de sua resposta, podemos dizer que o aspecto predominante na imagem é humano ou natural?

      Os trabalhadores ocupam o primeiro plano da pintura de Portinari. Ao destacar os elementos humanos da plantação, predominantes no quadro, o pintor procurou enfatizar não apenas a ação do homem sobre a natureza, mas também a exploração do trabalho humano no meio rural.