terça-feira, 30 de março de 2021

REPORTAGEM: ESTUDO DE GENE DE LINGUAGEM REFORÇA TEORIA DA SEPARAÇÃO ENTRE HOMENS E CHIMPANZÉS - COM GABARITO

 Reportagem: Estudo de gene de linguagem reforça teoria da separação entre homens e chimpanzés

                  Nicholas Wade (traduzido do jornal The New York Times)

        Um estudo dos gnomas dos seres humanos e chimpanzés forneceu novas ideias sobre a origem da linguagem. Um dos atributos humanos mais distintos, a linguagem foi um passo fundamental na cadeia evolutiva. Segundo esse estudo, a linguagem foi, na escala de tempo evolucionária, um desenvolvimento muito recente, algo que ocorreu nos últimos 100.000 anos.

        A descoberta reforça uma teoria inovadora, proposta pelo Dr. Richard Klein, arqueólogo da Universidade Stanford (EUA). O pesquisador argumenta que o surgimento do comportamento humano moderno, há cerca de 50.000 anos, deu-se por importante modificação genética, provavelmente aquela que levou ao desenvolvimento da linguagem pela espécie.

        O novo estudo, desenvolvido pelo Dr. Svant Paabo e colaboradores, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária (Leipzig – Alemanha), se baseia na descoberta no ano passado do primeiro gene humano envolvido especificamente na linguagem.

        O gene foi identificado por meio de estudos em uma grande família londrina, famosa entre os linguistas. De seus 29 membros, 14 não conseguem articular a fala, mas são, de outra forma, normais.

        Uma equipe de biólogos moleculares, liderada pelo Dr. Anthony P. Monaco, da Universidade de Oxford (Inglaterra), identificou, em 2001, o gene que estava causando os problemas da família. Chamado de Foxp2, o gene regula a atividade de outros genes durante o desenvolvimento do cérebro. Presume-se, portanto, que tenha um papel no estabelecimento de um circuito neural para a linguagem, mas o mecanismo ainda não foi compreendido.

        A equipe de Paabo estudou a história evolucionária do Foxp2. Para isso, comparou sequências de DNA das versões do gene em camundongos, chimpanzés e outros primatas.

        Em artigo publicado on-line, na quinta-feira 8 de agosto, pela revista Nature, Paabo diz que o gene Foxp2 permaneceu basicamente inalterado durante a evolução dos mamíferos, mas sofreu súbita mudança nos seres humanos, depois que a linha de hominídeos separou-se da linha dos chimpanzés.

        As mudanças do gene humano, segundo os autores, afetam em dois pontos a estrutura da proteína que codifica. Um deles altera ligeiramente a forma da proteína; o outro dá a ela um novo papel no circuito de sinalização das células humanas.

        As mudanças indicam que o gene tem estado sob forte pressão evolucionária nos seres humanos. A forma humana do gene, com suas duas modificações, também parece ter se tornado universal na população, sugerindo que confere alguma vantagem essencial.

        Paabo alega que os humanos já deviam ter alguma forma de linguagem rudimentar antes de o Foxp2 ter sofrido as mutações. Ao conferir a habilidade de rápida articulação, o gene aprimorado pode ter se difundido na população, dando o toque final à linguagem verbal. “Talvez esse gene tenha conferido o aperfeiçoamento final da linguagem, tornando-a totalmente moderna”, disse Paabo.

        Os membros afetados da família londrina na qual a versão defeituosa do Foxp2 foi descoberta possuem alguma linguagem rudimentar. Sua principal dificuldade parece estar na falta de controle mais fino dos músculos da garganta e da boca, necessários para a fala rápida. No entanto, os membros afetados apresentam muitas dificuldades tanto em testes escritos, quanto nos orais, sugerindo que o gene defeituoso causa problemas gramaticais, além dos de controle muscular.

        O genoma humano acumula constantemente, por mutações randômicas, modificações de DNA, que, contudo, raramente afetam a estrutura dos genes. Quando um novo gene difunde-se pela população, a diversidade genômica no período é reduzida por certo tempo, já que todo mundo possui o mesmo pedaço de DNA transferido com o novo gene. Ao medir a diversidade reduzida e outras características de um gene de vital importância, Paabo estimou a idade da versão humana do Foxp2 em menos de 120.000 anos.

        Paabo diz que sua estimativa aproximada encaixa-se com a teoria de Klein. Justificando o rápido aparecimento de novos comportamentos há 50.000 anos, incluindo arte, ornamentação e comércio de longa distância. Esqueletos humanos desse período são fisicamente iguais aos de 100.000 anos atrás, levando Klein a propor que alguma mudança cognitiva de base genética deve ter estimulado os novos comportamentos. A única mudança de magnitude suficiente, em sua opinião, teria sido a aquisição da linguagem pela espécie.

WADE, Nicholas. Estudo de gene de linguagem reforça teoria da separação entre homens e chimpanzés. Disponível em: http://www.uol.com.br/noticias Acesso em: 15 ago. 2002. Tradução de Deborah Weinberg.

Fonte: Português – Língua e Cultura. Carlos Alberto Faraco. Volume 1. 2. Ed. – Curitiba: Base Editorial, 2010. P. 95-7.

Entendendo a reportagem:

01 – Observe novamente como o texto é, no geral, bastante cauteloso nas afirmações que faz. Isso decorre das próprias características do trabalho científico. No fundo, todos os achados da ciência estão sempre sob o crivo da dúvida, isto é, eles podem ser modificados ou reinterpretados e até mesmo abandonados com o desenrolar das pesquisas.

Esse grau de incerteza e de abertura para novas possibilidades, característico do pensamento cientifico, é uma grande conquista histórica da humanidade. Com ele, foi possível assentar as bases de um pensamento não dogmático e definir um dos direitos fundamentais da pessoa humana – a liberdade de pensamento.

Muitas vezes esse grau de incerteza do trabalho cientifico não é percebido pelas pessoas. Resultado: toma-se uma afirmação cientifica como definitiva e inquestionável, como se o produto da ciência fosse um saber pronto e acabado.

Claro que as afirmações científicas têm uma certa força. Isso decorre do fato de que, na ciência, as afirmações têm de ser sustentadas com dados (não basta apenas afirmar). E mais: temos que apresentar dados que possam ser verificados por outros cientistas independentemente. Assim, as afirmações valem e sobrevivem (e têm força, portanto) enquanto é possível sustenta-las.

Isso posto, releia o texto identificando os vários elementos que expressam a cautela nas afirmações.

      2° / 5° / 8° / 10° / 13° parágrafos (provavelmente, presume-se, segundo os autores, parece, sugerindo, talvez, propor...).

02 – O texto é uma reportagem e, nesse sentido, é basicamente informativo. Ele nos traz informações sobre estudos de dois grupos de pesquisadores: o liderado pelo Dr. Anthony Monaco e liderado pelo Dr. Svant Paabo. Vamos localizar essas afirmações.

·        Sobre o grupo liderado pelo Dr. Anthony Monaco:

a)   Em que instituição o grupo trabalha?

5° parágrafo.

b)   Que tipo de profissionais compõe o grupo?

5° parágrafo.

c)   O grupo estudou uma determinada família londrina. Por quê?

4° parágrafo.

d)   Qual o resultado da pesquisa?

5° parágrafo.

e)   Que característica tem o gene Foxp2?

10° parágrafo.

f)    Em que ano a equipe chegou ao resultado?

5° parágrafo.

·        Sobre o grupo liderado pelo Dr. Svant Paabo:

a)   Em que instituição trabalha?

3° parágrafo.

b)   O grupo, partindo da descoberta da equipe do Dr. Monaco, buscou estabelecer o quê?

6° parágrafo.

c)   Como foi feita a pesquisa? E quais foram seus resultados?

6° parágrafo.

d)   Como a equipe do Dr. Paabo chegou à estimativa de idade da versão humana do Foxp2?

13° parágrafo.

e)   O texto diz que os resultados da pesquisa reforçam uma teoria proposta pelo Dr. Richard Klein. Qual é esta teoria; o que levou o seu autor a propô-la; e de que modo a pesquisa lhe dá reforço?

2° e 13° parágrafos.

REPORTAGEM: GESTOS PODEM ESTAR NA ORIGEM DA LINGUAGEM - SHARON BEGLEY - COM GABARITO

 Reportagem: Gestos podem estar na origem da linguagem

         As pesquisas sobre o uso de sinais por chimpanzés e crianças surdas estão mudando algumas teorias

                   Sharon Begley

        Novas pesquisas sobre como os chimpanzés e crianças surdas se comunicam por gestos podem fornecer a resposta para um dos maiores mistérios da evolução humanas: quando e como se originou a linguagem?

        Um chimpanzé fêmea senta-se no chão, satisfeita, comendo frutas na sua floresta africana natal. Nisso, um outro chimpanzé fêmea, mais jovem, se aproxima e estende a mão em concha. Ela está pedindo à primeira para compartilhar a comida. Um outro chimpanzé, desta vez em um centro de pesquisa de Atlanta (EUA), focaliza uma banana que está fora do seu alcance, fora da gaiola, a sua esquerda. Quando um cientista se aproxima, o chimpanzé faz um gesto com a mão direita, estendendo-a toda, os olhos indo do cientista para a banana e vice-versa: “Se importaria de me passar a comida, grandão?”

        O.K., em se tratando de linguagem, apresentar a mão em concha ou estendê-la não é exatamente o solilóquio de Hamlet. A natureza primitiva do sistema de comunicação do chimpanzé convenceu muitos cientistas de que nossos parentes mais próximos não conseguem dominar a verdadeira linguagem com todos os seus meandros gramaticais e sintáticos.

        Mas mesmo esses críticos admitem que o chimpanzé, tanto na selva como no laboratório, faz o que pode ser classificado ao menos como comunicação intencional. Embora os gritos dos chimpanzés indiquem emoções como medo e raiva, são seus gestos que transmitem significado.

        Combinado com estudos com crianças surdas que, espontaneamente, criam sua própria e complexa linguagem de sinais – e com a descoberta de que as pessoas cegas gesticulam no mesmo ritmo das pessoas que enxergam – estão crescendo as provas de que o cérebro humano está equipado para a comunicação gestual.

        Agora alguns cientistas estão indo ainda mais longe. Um dos enigmas mais persistentes da antropologia é quando e como a linguagem, considerada a façanha máxima da evolução humana e também o atributo que separa nossa espécie de todas as outras, teve origem. “A linguagem pode ter evoluído não da vocalização de nossos ancestrais, mas dos gestos manuais”, diz Mike Corballis, um neurocientista cognitivo da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia.

        Desde o século 18 – A ideia de que a linguagem surgiu dos gestos foi proposta no século 18 e foi reavivada na década de 1970. Mas soçobrou por falta de provas. Agora, porém, os cientistas têm 20 anos de descobertas sobre como os chimpanzés são capazes de usar a linguagem de sinais. “Na vida selvagem, um bonobo usa gestos de mão para indicar à fêmea como ele gostaria que ela se posicionasse para o sexo”, explica William Hopkins, pesquisador da linguagem dos chimpanzés do Berry College no Estado da Geórgia (EUA) e do Yerkes Regional Primate Research Center (Centro Regional Yerkes de Pesquisa com Primatas). Os bonobos também usam sinais de mão para avisar aos outros que há um ser humano observando-os furtivamente. Um jovem bonobo foi visto fazendo um gesto para convidar seu irmão menor para brincar, em vez de mostrar, por meio de representação, o que tinha em mente. Pode não ser linguagem, mas é comunicação simbólica.

        Os chimpanzés conseguem reforçar sua capacidade simbólica quando aprendem um pouco da Língua de Sinais Americana (American Sign Language – ASL), a língua de gestos manuais dos surdos. Embora os macacos pareçam não conseguir ir além da linguagem própria de uma criança de 2 anos, há indícios de que sua facilidade com os gestos “é decorrente de um sistema neurológico atávico de comunicação baseado no gesto”, diz Hopkins. Os chimpanzés aprendem facilmente centenas de sinais da ASL e os combinam em sentenças que nunca viram antes, entre elas “me faça cócegas” ou “me dê uma banana”.

        Em outra descoberta interessante, a chimpanzé Washoe que aprendeu a ASL, ensinou-a espontaneamente a seu filho adotivo, Loulis, moldando a mão dele para que fizesse cada sinal corretamente. Loulis consegue agora usar cerca de 80 sinais – para objetos como banana e ações como dar e vir.

        Embora na maioria das atividades os chimpanzés não mostrem preferência pelo uso de uma das mãos, na linguagem de sinais parece ser diferente.

        Esquerda e direita – Em um estudo conduzido em 1998 com 115 chimpanzés em Yerkes, Hopkins e David Leaves, da Universidade da Geórgia, descobriram que os chimpanzés tendiam a usar a mão direita para fazer gestos significativos do tipo “por-favor-me-passe-uma-banana”, mesmo quando a banana está do lado esquerdo do chimpanzé. “O chimpanzé costuma usar a mão esquerda para alcançar a banana”, diz Hopkins. “O fato de estarem usando a mão direita para fazer o gesto indica que esta é uma tentativa de comunicar-se, não de alcançar algo. O lado esquerdo do cérebro envia sinais para o lado direito do corpo e também aloja os centros da linguagem. É possível que as áreas do cérebro responsáveis pela linguagem, que somente no ano passado foram descobertas nos chimpanzés, estejam associadas à comunicação gestual”, diz ainda Hopkins.

        A outra grande mudança no estudo dos gestos é que a sinalização é agora reconhecida como uma “linguagem apropriada, gramatical”, como diz Mike Corballis. Mais ainda: as pessoas surdas em todo o mundo e no decorrer dos séculos têm inventado linguagens de sinais. Esses sistemas são completamente gramaticais também. “O surgimento espontâneo”, diz Corballis, “confirma que a comunicação gestual é tão natural à condição humana quanto o é a linguagem falada.” As crianças surdas até “balbuciam” em sinais, fazendo um gesto repetidamente, da mesma maneira que seus amiguinhos que escutam fazem o mesmo “ma-ma-ma” repetidamente.

        As crianças surdas podem até inventar aspectos gramaticais mais refinados que aqueles da língua falada. Veja o exemplo das crianças surdas de pais ouvintes, na China e nos Estados Unidos, que inventaram linguagens de sinais. As invenções delas têm mais semelhança entre si do que têm com a sinalização simples que viram seus pais fazerem, segundo um estudo de 1988 liderado pela psicóloga Susan Goldin – Meadow, da Universidade de Chicago (EUA). Além disso, a linguagem gestual das crianças mostrou detalhes gramaticais mais reinados do que aqueles que ocorrem em inglês ou mandarim: as crianças usam sinais ligeiramente diferentes para “rato” nas sentenças “o rato chegou” e “o rato comeu o queijo”. A única diferença entre as duas é que o primeiro rato é o sujeito de uma sentença com um verbo intransitivo (“chegar”), enquanto o segundo rato é o sujeito de uma sentença com um verbo transitivo (“comer”).

        Pode um gesto, então, recorrer às mesmas estruturas cerebrais para a gramática que a fala faz? Estudos de imagens do cérebro indicam que sim. “Os neurônios responsáveis pela produção e compreensão da linguagem tornam-se ativos quando um emissor de sinais surdo observa sentenças na Língua de Sinais Americana”, diz Helen Nerville, da Universidade de Oregon (EUA).

        Sistemas antigos – A ideia de que o cérebro abriga sistemas antigos para a linguagem gestual não foi surpresa para os cientistas que estudam o desenvolvimento da linguagem nas crianças. “Os bebês fazem gestos complexos antes de falar e crianças que fazem gestos referenciais mais cedo começam a falar mais cedo, enquanto aquelas que fazem gestos mais tarde falam mais tarde”, explica a psicóloga do desenvolvimento Elizabeth Bates, da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA). “Os gestos e a linguagem compartilham um substrato neural comum; isso é coerente com a ideia de que a linguagem oral surgiu da gestual, embora também seja consistente com o desenvolvimento paralelo de ambas”.

        Faz sentido que, em um mundo de predadores, nossos ancestrais tenham evoluído da comunicação silenciosa para a oral. Mas nem todos concordam que a linguagem tenha se originado do gesto. O neuropsicólogo Merlin Donald, da Queens University, de Ontário (Canadá), argumenta que, se ela tivesse se originada daí, então uma linguagem gestual totalmente desenvolvida ainda estaria por aí; e não está, a não ser entre os surdos.

        Mas uma origem gestual poderia resolver um dos enigmas mais desafiadores da evolução humana. O desenvolvimento da laringe (uma das condições para a fala) só se deu há uns 150 mil anos, segundo sugerem fósseis de ancestrais de seres humanos. Dali até as primeiras civilizações da antiguidade (que surgiram há mais ou menos 5 mil anos), argumenta Mike Corballis, “é um espaço de tempo muito curto para o surgimento de coisas tão complexas como a gramática”, que requer mudanças revolucionárias no cérebro.

        Contudo, se nossos ancestrais já tivessem inventado a gramática e usado para a linguagem gestual, então a transferência dessa gramática para a fala não teria sido tão mais difícil do que, por exemplo, aplicar as lições da gramática espanhola para o português. A troca de meios seria fácil. Como resultado, assim que a laringe surgiu, os seres humanos puderam começar a conversar. E nunca mais pararam.

BEGLEY, Sharon. O Estado de São Paulo, 16 maio 2002. Caderno 2. Tradução de Maria de Lourdes Botelho. From The New York Times, 8/15/2002. c 2002. Todos os direitos reservados. Usado com permissão e protegido pelas leis de copyright dos Estados Unidos.

Fonte: Português – Língua e Cultura. Carlos Alberto Faraco. Volume 1. 2. Ed. – Curitiba: Base Editorial, 2010. P. 89-93.

Fonte da imagem-https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.hippopx.com%2Ffr%2Flola-ya-bonobo-democratic-republic-of-congo-kinshasa-africa-ape-nature-pan-19709&psig=AOvVaw1pX66xl-zGUTIc8t9xIn1B&ust=1617229722915000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCIi28byI2e8CFQAAAAAdAAAAABAD

Entendendo a reportagem:

01 – Observe que o texto é, no geral, bastante cauteloso:

      1° parágrafo – 2ª linha.

      4° parágrafo – 2ª linha.

      5° parágrafo – 5ª linha.

      12° parágrafo – 1ª linha.

      13° parágrafo – 1ª linha.

·        Várias vezes se insiste que se trata apenas de uma possibilidade. Ou seja: não temos nenhuma certeza. Preste atenção, nesse sentido, em como o verbo poder (no sentido de ser possível) é frequente no texto. Já no título ele está presente. Localize outros exemplos;

Quem concorda – 14° parágrafo.

Quem discorda – 15° parágrafo.

·        Apresentam-se afirmações um pouco mais incríveis dos pesquisadores que defendem a hipótese de que a linguagem verbal foi precedida de uma linguagem gestual. Mas também informa-se que nem todos concordam com esta hipótese (Quem é citado neste caso?); e que outros a tratam com certa reserva (observe que as palavras da psicóloga Elizabeth Bates enfraquecem um pouco a hipótese. Que outra possibilidade ela sugere?).

Elizabeth Bates – 14° parágrafo.

02 – Apesar de redigir um texto cauteloso, é claramente perceptível que a autora tem simpatia pela hipótese que relata. Ela faz interesses manobras argumentativas nesse sentido. Uma delas é fazer uma concessão aos “adversários” (aos críticos da hipótese) para, em seguida, tentar enfraquecer a posição deles. É uma manobra que podemos representar pelo esquema SIM/MAS (muito comum, aliás, nas nossas conversas cotidianas). Observe o exemplo do início do texto em seus vários lances:

        1°) a autora relata o uso de gestos por chimpanzés na natureza e no laboratório (segundo parágrafo);

        2°) em seguida, ela faz a concessão ao “adversário”, dizendo (terceiro parágrafo):

        “O.K., em se tratando de linguagem, apresentar a mão em concha ou estendê-la não é exatamente o solilóquio de Hamlet.”

        Ou seja, SIM – o sistema gestual dos chimpanzés é muito simples e está muito longe da complexidade da linguagem verbal humana (representada aqui pelo solilóquio de Hamlet – referência à famosa cena da peça Hamlet, de Shakespeare). E acrescenta que a simplicidade do sistema gestual leva muitos cientistas (os “adversários”) a concluir que os chimpanzés não conseguem dominar a linguagem humana;

        3°) ela tenta agora enfraquecer a posição dos “adversários” (é a hora do MAS). Observe com atenção cada passo que ela dá (quarto parágrafo):

a)   O parágrafo começa assim:

“Mas mesmo esses críticos admitem (...).”

·        Com o Mas ela sinaliza que vai fazer um movimento de “quebra”, de enfraquecimento do efeito da concessão (do SIM);

·        Em seguida, os cientistas mencionados no parágrafo anterior passam a ser chamados de críticos (“adversários”, portanto, da hipótese à qual ela será simpática);

·        Por fim, ela busca fortalecer a sua posição dizendo que mesmo os “adversários” admitem (concordam) que os chimpanzés têm, com os gestos, uma comunicação intencional.

b)   Enfraquecida a posição dos “adversários”, a autora acrescenta dois dados humanos (o caso das crianças surdas e o das pessoas cegas) para reforçar a posição de sua simpatia e concluir que “estão crescendo as provas de que o cérebro humano está equipado para a comunicação gestual”, conclusão que sustentará o passo seguinte do texto: levantar a possibilidade de solução do enigma da origem da linguagem verbal (ela teria evoluído não das vocalizações dos nossos ancestrais, mas de seus gestos manuais).

Localize, agora, outro momento do texto em que a autora usa a mesma estratégia argumentativa do SIM/MAS.

15° parágrafo.

03 – A autora lembra que a hipótese de que a linguagem verbal surgiu dos gestos é antiga. Contudo, nunca se sustentou por falta de provas. Agora, segundo ela, os cientistas estariam melhor aparelhados para retorná-la. Dois grandes fatores estariam contribuindo para isso.

a)   Quais são eles?

O uso de sinais por outros primatas e o uso de sinais por crianças surdas.

b)   Por que eles são importantes para dar certo sustento à hipótese?

Porque... – 13° e 14° parágrafos.

04 – No último parágrafo, a autora dá uma certa “forçada de barra” para fazer passar a plausibilidade da hipótese. Em certo sentido, ela atropela a questão que continua sendo central em toda esta discussão. Conforme aponta Mike Corballis no parágrafo anterior (isto é, como se deu a passagem de um sistema mais simples para um mais complexo?). Para ela, a gramática já estava “inventada” (continuamos sem saber como) na linguagem de gestos; a coisa toda se resumiu a trocar os gestos pelos sons vocais. O exemplo que ela dá é efetivamente adequado para o caso? Por quê?

      Não, porque passar da gramática espanhola para o português é passar de uma língua complexa para outra língua complexa e não de um sistema simples para outro complexo.

segunda-feira, 29 de março de 2021

POEMA: GATO QUE BRINCAS NA RUA - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 POEMA: GATO QUE BRINCAS NA RUA


        Fernando Pessoa

 Gato que brincas na rua

como se fosse na cama

invejo a sorte que é tua

porque nem sorte se chama.

 

Bom servo das leis fatais

que regem pedras e gentes,

que tens instintos gerais

e sentes só o que sentes.

 

És feliz porque és assim,

Todo o nada que és é teu.

Eu vejo-me e estou sem mim,

Conheço-me e não sou eu.


 Entendendo o poema

1.   Que sensação uma primeira leitura desse poema provoca em você: alegria, melancolia, inquietação, serenidade? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal.

2.   Como você imagina a cena observada pelo eu lírico? Copie o verso que justifica sua resposta.

Resposta pessoal.

3.   Releia a primeira estrofe e responda às questões a seguir:

a)   Segundo o eu lírico, qual é a sorte do gato? Que sentimento o eu lírico confessa diante disso?

É o fato de o gato mostra-se feliz, confortável, mesmo sem ter consciência disso.

O eu lírico inveja essa condição.

b)   O significa saber o nome das coisas?

Significa conhece-las, reconhece-las e ter consciência de sua existência.

c)   O que você acha que significa dizer que a sorte do gato não tem nome?

Resposta pessoal. Sugestão: O eu lírico sugere ser sorte viver sem ter consciência do que se vive, livre de autojulgamentos, “sentido só o que sente”.

   4- Releia a segunda estrofe e responda às questões a seguir.

a)   Discuta com um colega: O que são leis fatais?

Resposta pessoal. Sugestão: São as leis da natureza, que se impõem sobre todos os seres, como o desgaste das rochas, a passagem do tempo e a morte dos seres vivos.

b)   A que se refere a oração adjetivaque tens instintos gerais e sentes só o que sentes”?

Refere-se ao gato.

c)   O que essa oração esclarece sobre o elemento a que se refere?

Significa que o gato age como qualquer outro gato; suas ações são instintivas; ele não pensa no que é.

5 – Releia a última estrofe do poema e, abaixo as acepções para o termo “nada”, retiradas de um dicionário.

nada – pr.indef.

1.Coisa nenhuma [...] adv.

2.De modo nenhum [...] sm.

3.O não existente, a não existência, o vazio [...]

4.Ser ou coisa insignificante [...]

a) Em sua opinião, a palavra “nada” empregada no poema corresponde a algo mencionado em outros versos? Justifique sua resposta.

O “nada” citado na última estrofe recupera a ideia de viver sem pensar que se vive, presente nos versos “porque nem sorte se chama” e “sentes só o que sentes”, e não corresponde às acepções apresentadas.

b) Podemos afirmar que o eu lírico é feliz como o gato? Justifique.

Não. O eu lírico se observa, reflete sobre si mesmo (“Eu vejo-me”), não se encontra e não se reconhece.

 6. Assinale a alternativa mais adequada ao sentido do poema.


a) O eu lírico inveja a sorte do gato, porque este tem a felicidade de uma vida segura, ao passo que ele, eu lírico, está solitário e desamparado.
B) Entre o eu lírico e o gato há a distância devida a que este se situa do lado de uma generalidade despreocupada, enquanto aquele vive uma individualidade consciente e problemática.
c) O gato é feliz porque brinca despreocupado de sua própria sorte; o eu lírico é infeliz porque não se adapta a sua situação.
d) O gato tem a felicidade instintiva; o eu lírico, a angústia das sensações e das ideias incertas, em razão de excessivo intelectualismo.
e) O gato não é nada, mas é feliz porque se conforma às “leis fatais”; o eu lírico (o homem), que se revolta contra essas leis, vive torturado pela solidão e pela incerteza.

domingo, 28 de março de 2021

CHARGE: JOGADA CERTA - LIXO / GILMAR - COM GABARITO

 CHARGE: JOGADA CERTA - LIXO

1 – Leia a charge a seguir:

GILMAR. Jogada certa. Disponível em: https://bit.ly/2xEw2ta. Acesso em: 26 set.2018.

Fonte: Livro - Tecendo Linguagens - Língua Portuguesa: 6º ano/Tania Amaral Oliveira, Lucy Aparecida Melo Araújo - 5.ed. - Barueri(SP): IBEP, 2018 - p.152.

a)   Em que consiste o humor dessa charge?

Resposta pessoal.

b)   Que reflexão crítica é possível fazer pela leitura do texto e da imagem que compõem a charge?

Resposta pessoal.

c)   Quais diferenças podemos notar na expressão facial dos personagens em relação ao fato retratado?

A mulher mostra-se apavorada, suando e espantada ao ver-se cercada de lixo; o homem mostra-se aparentemente tranquilo e curioso, procurando uma saída para o problema.

d)   O verbo mudar, na charge, tem o mesmo significado para ambos os personagens? Explique.

Não. Para a mulher, mudar significa deixar aquele local e transferir-se para outro, ou seja, mudar de casa; para o homem, mudar significa alterar os hábitos, agir de outro modo.

     2 – Releia a fala da mulher, no primeiro balão.

a)   Nessa fala, há uma locução verbal.

Identifique-a.

“Vamos ter”.

 

b)   Entre as alternativas a seguir, transcreva a que apresenta uma forma verbal que poderia substituir a locução verbal presente na fala da personagem sem alterar o sentido expresso:

(  ) tínhamos           (  x ) teremos          (  ) tivemos

 

 Fonte: Livro - Tecendo Linguagens - Língua Portuguesa: 6º ano/Tania Amaral Oliveira, Lucy Aparecida Melo Araújo - 5.ed. - Barueri(SP): IBEP, 2018 - p.152.

 

CLASSIFICADOS POÉTICOS: QUALQUER COISA - TELMA GUIMARÃES CASTRO ANDRADE - COM GABARITO

 Classificados Poéticos – Qualquer Coisa

22   Quarta               Maio

       Wednesday       May

 A-  Vende-se, Alugar-se, Troca-se

Pai usado, em estado de novo, pouco cabelo branco, sem vícios, movido a gasolina (álcool de jeito nenhum), pega na primeira partida, não para nunca, está sempre de boa vontade, cara legal, nunca te deixa na mão, engata na primeira, segunda, terceira, quarta, quinta e até na sexta se você topar.

Nunca falha aos domingos. Dá marcha à ré sempre que for preciso, deixa bater o maior vento em você, liberdade total. Faço doação no caso de nenhum interessado.

  B-  Vende-se, Alugar-se, Troca-se

Mãe usada, em estado de nova, cabelos pintados recentemente, sem vícios, movida a diesel, pega na subida e na descida, topa tudo sem reclamar, te deixa folgar legal! Se te deixar na mão é porque você esqueceu da água, de dar uma passada no posto, de conferir esses detalhes comuns. Tem um belo estofamento, freios perfeitos, breque em cima, direção de piloto de fórmula um.

Faço doação no caso de nenhum interessado.

 

          ANDRADE, Telma Guimarães Castro. Agência poética. São Paulo: Scipione, 1997.

Fonte: Livro - Tecendo Linguagens - Língua Portuguesa: 6º ano/Tania Amaral Oliveira, Lucy Aparecida Melo Araújo - 5.ed. - Barueri(SP): IBEP, 2018 - p.114/115.

 Por dentro do texto

1-   A primeira frase nas duas partes do texto “Qualquer coisa” é “Vende-se, Aluga-se, Troca-se”. Indique a alternativa que mostra a intenção com a qual essas expressões costumam ser utilizadas.

a)   Convidar.

b)   Contar uma história.

c)   Anunciar algo.

2-   As partes A e B remetem a que gênero textual?

Essas partes remetem ao anúncio classificado ou classificados.

3-   Aparentemente, qual é o objetivo dos classificados que compõem o texto?

Vender, alugar ou trocar o pai e/ou a mãe do eu poético.

4-   No texto, estão presentes as expressões “em estado de novo”, “movido a gasolina”, “pega na primeira partida”, “Dá marcha à ré”, “freios perfeitos”, “breque em cima” e “direção de piloto de fórmula um”.

a)   A que geralmente essas expressões se referem?

Geralmente, essas expressões se referem a automóveis ou veículos automotores.

b)   A quem as expressões estão se referindo no texto A e no texto B?

No texto A, referem-se ao pai da anunciante e, no texto B, à mãe.

c)   Faça uma lista com as expressões do texto que são comuns em anúncios classificado e outra com as que não são comuns.

Expressões comuns: “em estado de novo” e “movido a gasolina”.

Expressões que não são comuns: “pega na primeira partida”, “Dá marcha à ré”, “freios perfeitos”, “breque em cima”, “direção de piloto de fórmula um”.

 5-   Considerando a descrição realizada no Classificado, podemos dizer que ele retrata os pais com mais defeitos ou mais qualidades?

Mais qualidades.

 6-   Releia a frase a seguir.

Dá marcha à ré sempre que for preciso[...].

·        O que essa frase diz sobre o pai?

Informa que o pai é capaz de voltar atrás quando necessário.

7-   Esta frase se refere à mãe.

Tem [...] freios perfeitos, breque em cima, direção de piloto de fórmula um.

·        Que característica(s) dessa personagem ela ressalta?

A mãe sabe o momento em que deve colocar limites. Ela dirige as coisas de maneira muito precisa e certeira.

        8 – Como você pôde perceber, o texto emprega a linguagem figurada. Esse tipo de linguagem é comum em Classificados? Explique.

         Não. Em Classificados costuma-se encontrar a linguagem literal, que apresenta um produto real como ele é de fato. A linguagem figurada é utilizada principalmente a gêneros literários.

    9 – Observe a descrição dos pais anunciados no texto. Levante uma hipótese: O eu poético teria mesmo a intenção de se desfazer deles?

          Resposta pessoal.

          Resposta possível: Provavelmente não, porque o eu poético quer anunciar, de fato, não a venda dos pais, mas a boa relação que tem com eles.