quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

DIÁLOGO: A AMEAÇA DO RIO -(FRAGMENTO) - MARCELO C. CUNHA - COM GABARITO

Diálogo: A ameaça do Rio – Fragmento.
            
  Marcelo Carneiro Cunha

        [...]
        -- Patrícia, é que eu quero me desculpar mesmo, entende?
        -- Você já falou, já pediu. Tá tudo bem.
        -- Não tá tudo bem. A gente quando faz besteira, a gente tem que corrigi a besteira que fez. O meu pai sempre diz isso.
        -- E então?
        -- Então que eu faço o que tu quiser. [...]
        -- Então eu posso pedir qualquer coisa e você faz?
        [...]
        -- Bom, então eu já sei o que quero.
        [...]
        Ela me disse. Puxa, a gente às vezes se mete em cada fria!
        -- Mas, Patrícia.
        -- Hum?
        -- Nada. Tudo bem, eu faço.
        -- Ótimo.
        -- Só uma coisa.
        -- Hum?
        -- Isso tudo é pra ti. Eu continuo achando o teu irmão um cara muito chato.
        -- Daniel.
        -- O que foi?
        -- Eu também acho.
        A gente até riu.
        [...].
                    Diálogo tirado do Livro A ameaça do Rio. São Paulo, Ática, 2001.
Fonte: Livro – Ler, entender, criar – Português – 6ª Série – Ed. Ática, 2007 – p.79-80.

Entendendo o diálogo:

01 – O que esse diálogo sugere sobre as personagens Patrícia e Daniel: Eles são jovens ou adultos? A conversa entre eles é formal ou informal? Copie no caderno palavras e expressões que justifiquem sua resposta.
      Trata-se de dois jovens despreocupados com a formalidade. “Tá”, “a gente”, “tu quiser”, “tu me desculpa”, “puxa”, “se mete”, “cada fria”, “hum”.

02 – Copie os pronomes possessivos e identifique a pessoa gramatical a que eles se referem.
      Meu: refere-se à 1ª pessoa do singular, aquele que fala; Teu: refere-se à 2ª pessoa gramatical, aquele com quem se fala.

03 – Se Daniel tratasse Patrícia por você, como deveria ser escrito o trecho “Isso tudo é pra ti. Eu continuo achando o teu irmão um cara muito chato”?
      Isso tudo é pra você. Eu continuo achando o seu irmão um cara muito chato.

04 – A expressão a gente equivale a um pronome pessoal. Como ficaria a última frase, se você substituísse essa expressão pelo pronome pessoal equivalente?
      Nós até rimos.

05 – Considerando sua resposta a questão 01, de que maneira a última frase fica mais adequada ao contexto: como foi escrita pelo autor ou como você a escreveu?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: No contexto do diálogo, a frase “A gente até riu” é mais adequada que “Nós até rimos”.


CRÔNICA: A CASA DE MADRINHA - (FRAGMENTO) - LYGIA BOJUNGA NUNES - COM GABARITO


Crônica: A casa de madrinha – Fragmento
          
                 Lygia Bojunga Nunes

        [...]
        -- Onde você mora?
        -- No Rio, e você?
        -- De Janeiro?!
        -- É. Moro em Copacabana. Mas fim de semana eu passo em Ipanema.
        Vera ficou olhando espantada para ele. É claro que ela tinha visto que ele não era do lugar, mas nunca tinha imaginado que ele era garoto de Copacabana. Alexandre olhou pra ela:
        -- Conhece Copacabana?
        -- Não. Mas minha prima foi pra lá. Ela morava aqui na roça, o pai dela também plantava flor que nem o meu.
        -- Que flor ele planta?
        -- Cravo, zínia, agapanto e margarida, conhece?
        -- Não.
        -- Depois eu mostro. Mas aí o pai dela vendeu o sítio e foi pra lá. Mora na rua Siqueira Campos, perto de um túnel, conhece?
        -- Conheço.
        -- Pois é. E aí ela me escreveu dizendo que tudo quanto é colega da escola dela nunca viu nem coelho, nem tatu e muito menos uma paca, já pensou? Disse que o garoto que senta do lado dela nunca viu nem uma galinha. Só assada na mesa já pronta para comer. E que ele nunca tinha pensado que antes a galinha andava e voava. E porco também nunca viram.
        -- Lá onde eu moro tem porco.
        -- Em Copacabana?
        -- É.
        -- Mas tem?
        -- Tem uns lugares que tem, sim.
        -- E tatu, coelho e paca, também tem?
        -- Isso eu nunca vi. Aqui tem?
        -- Assim. Depois eu mostro.
        -- E você onde é que mora?
        Vera apontou uma plantação de flor.
        -- A casa é no fundo. Tem um quintal superlegal: vai até o rio.
        -- E o rio também é teu?
        -- Não, é dele mesmo.
        Alexandre riu. Vera não tinha falado pra fazer graça: encabulou; ficou olhando uma formiga no chão. “Será que esse pessoal que nunca viu tatu nem coelho nem galinha viva é assim que nem eu? pensa igual a mim?” Espiou Alexandre de rabo de olho. Ele era mais queimado do que ela, mais alto, falava mais gostoso, tinha roupa velha e pé no chão. Mas o resto não estava parecendo assim tão diferente, não. “Bom, mas ele não é que nem os colegas da minha prima: tem um porco lá onde ele mora”.
        [...].
                                A casa da madrinha. Lygia Bojunga Nunes.
                             Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p.137-9.
Entendendo a crônica:

01 – Alexandre mora em Copacabana. E Vera, onde parece morar? Justifique sua resposta.
      O texto indica que Vera mora no interior, pois mora perto de um rio, de flores e em um local em que há vários animais.

02 – “De Janeiro?!” O que indica a associação entre um ponto de interrogação e um ponto de exclamação?
      Indica espanto.

03 – “E aí ela me escreveu dizendo que tudo quanto é colega da escola dela nunca viu nem coelho, nem tatu e muito menos uma paca, já pensou?”.
a)   O que indica a expressão grifada?
Indica espanto.

b)   A partir da expressão grifada, podemos concluir que Vera achou comum ou raro o fato de as crianças não conhecerem os animais?
Achou incomum.

c)   Por que Vera teve essa reação em relação ao comportamento dos colegas de sua prima?
Porque, para ela, a convivência com os animais é parte da vida.

04 – “Alexandre riu”.
a)   Por que Alexandre riu?
Porque achou que Vera estivesse fazendo piada ao afirmar que o rio pertencia a ele mesmo.

b)   Por que Vera ficou encabulada?
Porque não tinha tentado ser engraçada.

c)   Por que Alexandre achou engraçado o comentário que Vera fez a sério?
Porque os dois têm maneiras diferentes de ver a vida.

05 – “Será que esse pessoal que nunca viu tatu nem coelho nem galinha viva é assim que nem eu?”
a)   O que provocou a reflexão de Vera?
O fato de Alexandre ter rido de sua observação sobre o rio.

b)   Por que Vera achou que ele não era diferente quanto os amigos de sua prima?
Porque havia um porco onde Alexandre morava.

c)   A vida na cidade e a vida no campo são diferentes? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: As diferenças de hábitos, costumes, maiores ou menores facilidades para a sobrevivência, diferentes tipos de laser, níveis de violência, poluição, acesso à informação.

06 – A experiência da prima de Vera era diferente da experiência de seus colegas. Assim como eles não conheciam os animais, certamente havia coisas que ela não conhecia.
a)   O conhecimento da prima de Vera podia ser importante para os seus colegas?
Sim, pois ela estava oferecendo novas informações e mostrando a eles a existência de um mundo que não conheciam.

b)   O conhecimento dos colegas da prima de Vera podia ser importante para ela?
Sim, pois poderiam ajudá-la a viver melhor na cidade.

c)   Alexandre mostrou ter uma experiência diferente da experiência de Vera, da experiência de sua prima e também da experiência das crianças da escola. Por quê?
Porque ele tinha visto um porco, um animal que as crianças na escola não tinham jamais visto de perto.

07 – Por ter uma experiência de vida diferente, Alexandre achou a frase de Vera engraçada. Reflita: a interpretação de um texto, assim como a interpretação da vida, pode variar de acordo com a experiência de cada pessoa? Por quê?
      Porque as pessoas diferentes veem de maneira diferente o mundo e que por isso mesmo o texto nunca tem uma só interpretação possível.

TEXTO: AZUL E LINDO PLANETA TERRA NOSSA CASA - RUTH ROCHA - COM GABARITO

Texto: Azul e lindo planeta Terra nossa casa

   Ruth Rocha

        Mas para que a Terra continue a nos dar tudo aquilo de que precisamos para viver, temos que cuidar dela como cuidamos de nossa própria casa.
        E melhor ainda. Pois da nossa casa nós podemos nos mudar. Da Terra não.
        E nós sabemos que não estamos tratando da Terra como devíamos.
        Por isso os membros da Organização das Nações Unidas (ONU) preocupam-se com o meio ambiente.

        Várias reuniões já foram feitas para discutir esse problema.
        E destas reuniões têm saído declarações, manifestos e planos de ação que tentam estabelecer o que pode ser feito para evitar que a Terra – a nossa Terra – a nossa casa – venha a se transformar num ambiente hostil, com muitos desertos, águas envenenadas, florestas devastadas, onde seria impossível viver.
        Essas declarações, manifestos, planos de ação dizem mais ou menos o seguinte:
        Todos os homens são iguais e portanto têm o direito de viver bem, num ambiente saudável.
        Todos têm o dever de proteger e respeitar o meio ambiente e a vida em todas as suas formas.
            Azul e lindo planeta Terra, nossa casa. Ruth Rocha e Otávio Roth.
                        Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p.154-5.
Entendendo o texto:

01 – Relendo o texto, responda: O que os autores querem dizer com “... da nossa casa podemos mudar. Da Terra não.”?
      Destruir a natureza significa ficar sem lugar onde viver.

02 – O texto é dissertativo: Ele está em 1ª ou em 3ª pessoa?
      Está em 3ª pessoa.

03 – A linguagem utilizada no texto é mais formal? Por quê?
      Sim, porque eles pretendem transmitir informações e, portanto, deve ser compreendido por todas as pessoas.

04 – Leia as duas declarações relacionadas ao meio ambiente. Responda:
a)   Que igualdade é essa que o texto afirma haver entre os homens?
A igualdade de direitos.

b)   O que significa, no seu modo de ver, viver bem?
Resposta pessoal do aluno.     




terça-feira, 24 de dezembro de 2019

MENSAGEM ESPÍRITA: BILHETE DE NATAL - FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - PARA REFLEXÃO

BILHETE DE NATAL


         Meu amigo, não te esqueças,
      Pelo Natal de Jesus,
      De cultivar na lembrança
      A paz, a verdade e a luz.

      Não olvides a oração
      Cheia de fé e de amor,
      Por quem passa, sobre a Terra,
      Encarcerado na dor.

      Vai buscar o pobrezinho
      E o triste que nada tem...
      O infeliz que passa ao longe
      Sem o afeto de ninguém.

      Consola as mães sofredoras
      E alegra o órfão que vai
      Pelas estradas do mundo
      Sem os carinhos de um pai.

     Mas, escuta. Não te esqueças,
     Na doce revelação,
     Que Jesus deve nascer
     No altar do teu coração.


Casimiro Cunha, Francisco Cândido Xavier - Livro: Antologia Mediúnica do Natal.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

POEMA: DOR DE DENTE - PEDRO BANDEIRA - COM GABARITO

POEMA: DOR DE DENTE

Tô com dor de dente,
dor de dente,
dor  de dente...

Como dói o dente,
dói o dente,
dói o dente...
.
Falar com a mamãe?
Jamais!
O dentista dói muito mais!
.
Pedro Bandeira

(Cavalgando o arco-íris. São Paulo, Moderna, 2002. )
Fonte: Livro – Ler, entender, criar – Português – 6ª Série – Ed. Ática, 2007 – p.21.

Entendendo o poema
1)   Nesse trecho do poema existe uma repetição de alguns versos. Quais? Transcreva-os.
“dor de dente,/dor de dente...”, “dói o dente,/dói o dente...”

2)   Na sua opinião, por que Pedro Bandeira repetiu esses versos?
Para reforçar a ideia da intensidade e da continuidade da dor.

3)   Quando alguém percebe a existência da dor?
Quando a sente.

4)   Como alguém percebe um dente?
Olhando-o, tocando-o.



CRÔNICA: O GRANDE JOGO - IVANA VERSIANI - COM GABARITO

Crônica: O grande jogo        

                   Ivana Versiani

        -- Olha, o jogo está 17 a 17. Tem que ir a 19. Mas, se houver outro empate em 18 a 18, teria que ir a 20. Aí, eu acho que já é demais. Este set já vai pra uma hora  meia de duração, os dois times estão muito equilibrados, e as meninas estão começando a ficar exaustas. Por isso, eu, como juiz, resolvi fazer uma coisa inédita em vôlei: se o jogo chegar a 18 a 18, encerro a partida e declaro empate entre os dois times.
        Quando ele acabou de falar, a torcida ficou boquiaberta. Empate em vôlei? Nunca ninguém tinha ouvido falar! No entanto, aquilo parecia razoável, e quem ia discutir a autoridade do Carlos?
        Quem? A treinadora da turma da manhã. Ao acabar de entender o que ele tinha decidido, veio correndo, e chegando perto dele exclamou:
        -- Mas isso é loucura! Empate em vôlei? Isso não existe!
        D. Araci, balançando a cabeça, comentou com D. Dulce:
        -- Essa aí está querendo ensinar padre-nosso ao vigário...
        Mas a treinadora da manhã insistia:
        -- Impossível! Não existe!
        Carlos, entre impaciente e irônico, respondeu:
        -- Eu sei que não existe... Já aprendi isso há alguns anos...
        E, levantando a voz, pra que todos ouvissem:
        -- Isso aqui é jogo, não é guerra. Os dois times estão disputando com uma garra difícil de ver em meninas dessa idade. Qualquer um deles pode vencer – o que vai ser ao mesmo tempo justo, e injusto pra outra equipe. O jogo está muito equilibrado. E já está durando demais. Esporte não é pra matar ninguém. Esporte é pra dar prazer e alegria. Estas meninas estão se matando, e nós queremos todas elas vivas, pra continuar a jogar como hoje, com garra, disciplina e valentia.
        Uma salva de palmas acolheu suas palavras, enquanto Carlos dizia baixo para Marco:
        -- Além de tudo, esta partida é muito especial...
        O jogo recomeçou. O time da manhã fez um ponto: 18 a 17. A torcida imóvel, tensa, não dava um pio. Mas logo, enchendo-se de brio e de vontade, o time da tarde empata: 18X18! O juiz apitou e fez um gesto com os braços, encerrando a partida.
                                           Greve na escola. Ivana Versiani.
                         Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p.121-3.
Entendendo a crônica:
01 – As duas equipes estão disputando um jogo equilibrado. Por que você percebe isso?
      Porque o último set já vai para uma hora e meia de duração e a partida está empatada.

02 – Você conhece as regras de uma partida de vôlei?
      Voleibol. Jogo entre duas equipes de seis jogadores, separadas por uma rede, em uma quadra previamente demarcada, cuja objetivo é fazer com que uma bola passe por cima da rede e toque no chão do lado da quadra onde se encontra a equipe adversária.

03 – Você sabe a função de cada jogador no time?
      Antigamente, no voleibol, as equipes eram formadas por três levantadores e três cortadores. Posteriormente, passou-se a jogar com dois levantadores e quatro cortadores. Com a evolução tática do esporte, os antigos levantadores, hoje, ficaram reduzidos a apenas um, que é chamado de armador, função importantíssima, já que responsável pela armação de praticamente todas as jogadas. Os cortadores hoje são mais designados por sua posição na formação e especialidade, como meio-de-rede, por exemplo.

04 – Você sabe o que é um “set” numa partida de voleibol? Qual o número máximo de “sets” num jogo?
      Set é cada uma das partes do jogo e que se encerra quando uma das equipes atinge 25 pontos com pelo menos dois pontos de diferença da equipe contrária. O número máximo de sets é cinco.

05 – Quem determina os erros durante a partida?
      Os dois árbitros, o principal e o auxiliar.

06 – Qual o tempo normal de duração de um “set”? E de uma partida toda?
      Não existe tempo determinado, nem para os sets nem para a partida.

07 – A decisão do juiz do texto “O grande jogo” seria inédita? Por quê?
      Porque não existe empate em voleibol.

08 – Por que a treinadora da turma da manhã resolveu discordar da decisão do juiz? Você conseguiu perceber?
      Porque contrariava as regras.

09 – Comente o ditado popular citado por Dona Araci naquele momento: “-- Essa aí está querendo ensinar padre-nosso ao vigário...”.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A expressão refere-se ao ato de ensinar a alguém aquilo que ele já sabe.

10 – Por que o juiz ficou “entre impaciente e irônico”?
      Porque a treinadora agia como se ele não soubesse o que estava fazendo.

11 – “Esporte não é pra matar ninguém. Esporte é pra dar prazer e alegria.” Como você define o esporte em geral? Você concorda com as palavras acima? Justifique, argumentando sua opinião.
      Resposta pessoal do aluno.

12 – A decisão do juiz foi justa ou injusta? Como você agiria se estivesse no lugar do juiz?
      Resposta pessoal do aluno.

CRÔNICA: NÓS VAMOS DE TREM - WANDER PIROLI - COM QUESTÕES GABARITADAS


CRÔNICA: Nós vamos de trem
         
   Wander Piroli

        O homem veio da área de serviço com a capanga de pescaria e sentou-se do outro lado da mesa, em frente do menino. Antes de abri-la, deu uma boa bicada na batida de limão.
        -- Oba – exclamou o menino, fechando o caderno. – Nós vamos, pai?
        -- Estou pensando, Bumba – disse o homem.
        -- Pompéu?
        -- Pompéu é longe pra um dia só.
        -- Paraopeba.
        -- É outro rio.
        -- Eu conheço?
        -- Acho que não.
        -- Que rio que é pai?
        -- Você já ouviu falar no Rio das Velhas?
        O menino riu. A mulher entrava na casa.
        -- Olha, mãe. Nós vamos no Rio das Velhas.
        -- Uai, querido – disse a mulher para o homem – você resolveu?
        -- Ainda não.
        -- Ô, pai – o menino protestou.
        -- Bumba, você já acabou o “para-casa”?
        -- Tô no fim, mãe. Nós vamos, não vamos, pai?
        -- Ele agora só pensa nisso – disse a mulher.
        -- O que você acha, nega? – disse o homem.
        -- A padaria deve estar fechando – lembrou a mulher.
        -- Fala que nós vamos, pai – insistiu o menino.
        O homem sorriu. O menino deu um salto da cadeira.
        -- Aonde é que você pensa que vai?
        -- Vou arrumar minhas coisas, mãe.
        A mulher fez o menino sentar-se novamente.
        -- É amanhã, Bumba – disse o homem.
        -- Vamos hoje, pai.
        -- Está vendo? – disse a mulher.
        -- O trem sai de madrugada – disse o homem.
        -- Trem – exaltou-se o menino. – Mãe, nós vamos de trem.
        -- Bumba não vai gostar – observou a mulher.
        -- Eu sei – disse o homem.
        -- Pai – disse o menino – por que mamãe tá falando que eu não vou gostar?
        -- Lá não temais peixe – disse a mulher.
        -- No duro, pai?
        -- Parece que sim.
        -- Então vamos no Areião – propôs o menino.
        -- Bumba – disse a mulher – seu pai está querendo ir num lugar onde ele ia com o seu avô. Seu pai era do seu tamanho e era lá que eles iam.
        -- Você pegava peixe, pai?
        -- Todo mundo pegava.
        -- Mas do que em Pompéu?
        -- Quase igual. E tinha a vantagem de ser perto. E a gente ia de trem. Saía domingo de madrugada e voltava de noitinha. A gente não gastava quase nada e trazia uma porção de peixe no cambão.
        -- O que é cambão, pai?
        -- Você sabe.
        -- Querido – interrompeu a mulher –, se vocês vão mesmo, Bumba precisa dormir mais cedo.
        -- Tem razão – disse o homem. – Vamos, filho, acaba logo com isso.
        -- Eu vou na padaria – disse a mulher –, e quando voltar quero te ver na cama.
        A mulher dirigiu-se para a área de serviço e logo em seguida a sineta da porta repercutiu na casa em silêncio.
        -- Cambão, pai – cobrou o menino.
        O homem virou o resto da batida e acendeu um cigarro:
        -- É uma varinha que a gente cortava no mato pra enfiar os peixes.
        -- Mamãe falou que lá não tem mais peixe. Por quê, hem, pai?
        -- Você não vai entender – disse o homem.
        -- Eu entendo.
        -- Então termina primeiro o seu dever.
        -- Já acabei.
        -- Você sabe o que é poluição?
        -- Saco fácil, pai.
        -- Vamos ver.
        -- Poluição é fumaça.
        O homem riu.
        -- Não é, pai?
        -- A professora falou isso?
        -- Falou.
        -- O que mais?
        -- Ela falou que a fumaça tá envenenando a gente. Que venenava peixe ela não falou não.
        -- Ela deve ter esquecido.
        -- Como é que a fumaça entra dentro d’água?
        -- Amanhã eu explico.
        -- Eu queria saber, pai.
        -- Primeiro guarda o caderno, lava os pés e cai na cama. Se sua mãe te pegar acordado, adeus pescaria.
        O menino levantou-se correndo.
        O homem ouviu durante algum tempo o ruído da água e do chuveiro elétrico. Depois houve silêncio, e o menino chamou:
        -- Pai.
        Encontrou-o debaixo das cobertas. Sentou-se na cama e tentou explicar o que está sendo feito para matar o peixes e acabar com os próprios rios. Falou das indústrias que jogam veneno nos rios e o que acontece com os peixes. Falou da derrubada de matas e como isso é bom para secar as nascentes e os córregos que abastecem os rios. O homem foi falando, como se estivesse falando sozinho, o menino dormiu logo.
              Os rios morrem de sede. Wander Piroli.
                        Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p.152-5.
Entendendo o texto:
01 – “-- Oba – exclamou o menino, fechando o caderno. – Nós vamos, pai?”
a)   Por que o menino achou que ele e o pai iam pescar?
Porque o pai abriu a capanga de pescaria.

b)   O que podemos concluir dessa sequência?
Que, às vezes, a comunicação é possível sem palavras.

02 – O texto “Nós vamos de trem, exaltou-se o menino” é uma narração. O narrador é personagem? Justifique sua resposta.
      Não. O texto foi narrado em terceira pessoa.

03 – Por que o pai do menino queria leva-lo para o Rio das Velhas se lá não havia mais peixes?
      Para matar a saudade do passado.