Texto: “Insegurança”
Contardo Calligaris
O adolescente se olha no espelho e se
acha diferente. Constata facilmente que perdeu aquela graça infantil que,
em nossa cultura, parece garantir o amor incondicional dos adultos, sua
proteção e solicitude imediatas. Essa insegurança perdida deveria ser
compensada por um novo olhar dos mesmos adultos, que reconhece as imagens
púbere como sendo a figura de outro adulto, seu par iminente. Ora, se olhar
falha: o adolescente perde (ou, para crescer, renuncia) a segurança do amor que
era garantido à criança, sem ganhar em troca outra forma de reconhecimento que
lhe parecia nessa altura devido.
Ao contrário, a maturação, que, para
ele, e evidente, invasiva e destrutiva do que fazia sua graça de criança, é
recusada, suspensa, negada. Talvez haja maturação, lhe dizem, mais ainda
não e maturidade. Por consequência, ele não é mais nada, nem criança amada, nem
adulto reconhecido.
O que vemos no espelho não e bem nossa
imagem. É uma imagem que sempre deve muito ao olhar dos outros. Ou seja me vejo
bonito ou desejável se tenho razões de acreditar que os outros gostam de mim ou
me desejam. Vejo e suma, o que eu imagino que os outros vejam. Por isso o
espelho e ao mesmo tempo tão tentador e tão perigoso para o adolescente: porque
gostaria muito de descobri o que os outros veem nele. Entre a criança que
se foi e o adulto que não chega, o espelho do adolescente é frequentemente
vazio. Podemos entender então como essa época da vida possa se campeã em
fragilidade de alto-estima(...).
Parado na frente do espelho, caçando as
espinhas, medindo as novas formas de seu corpo, desejando e ojerizando seus
novos pelos ou seios, o adolescente vivi a falta do olhar apaixonado que
ele merecia quando criança e a falta de palavras que os admitam como
par na sociedade do adultos. A insegurança se torna assim o traço próprio da
adolescência.
Grande parte das dificuldades
relacionadas dos adolescentes, tanto com os adultos quanto com seus coetâneos,
derive dessa insegurança. Tanto de uma timidez apagada quanto os estardalhaço
maníaco manifestam as mesmas questões, constantemente a flor da pele, de
quem se sente não mais adorado e ainda não reconhecido: será que sou amável,
desejável, bonito, agradável, visível, invisível, oportuno inadequado?
CALLIGARIS,
Contardo. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000. p. 24-5.
Entendendo o texto:
01 – No primeiro parágrafo o
autor diz que o adolescente "se acha diferente". Para justificar essa
afirmação, diz que o adolescente perde algo sem ganhar nada em troca que
compense essa perda. Responda de acordo com o texto:
a)
O que o adolescente verifica que perdeu ao se
olhar no espelho?
Verifica que perdeu aquela graça infantil.
b)
Essa perda, em nossa Cultura, acarreta outras
perdas. Quais são elas?
Garantir o amor incondicional dos adultos, sua proteção e solicitude
imediatas.
c)
Talvez não houvesse tantos conflitos se essas
perdas resultassem em algum ganho. Qual é o ganho que não acontece e que seria
importante para o adolescente, segundo o autor?
Segundo o autor essa insegurança perdida deveria ser compensada por
um novo olhar.
d)
Na frase “Ora, esse olhar falha” a quem o
autor está se referindo?
Está se referindo ao adolescente.
e)
O título do texto é INSEGURANÇA. Que
expressão do primeiro parágrafo equivale a essa palavra?
Equivale à segurança do amor que era garantido a criança, sem ganhar
em troca outra forma de reconhecimento que lhe parecia nessa altura devido.
02 – A expressão do primeiro
parágrafo que pode ser considerada equivalente à palavra que dá título ao texto
"Insegurança" é:
a)
"novo olhar."
b)
"amor incondicional."
c)
"par iminente."
d)
"segurança do amor."
e)
"segurança perdida."
03 – Na frase: "Ora, esse olhar falha",
o autor está se referindo ao olhar:
a)
De outro adolescente.
b)
Dos outros.
c)
Dos adultos.
d)
Do próprio adolescente.
e)
Da sua imaturidade.
04 – De acordo com o texto,
o adolescente, ao se olhar no espelho, verifica que:
a)
Ele é seu inimigo.
b)
As pessoas não gostam mais dele.
c)
Perdeu a graça infantil.
d)
Ele reflete toda a sua insegurança.
e)
Ele não reflete absolutamente nada.
05 – Quando o adolescente
percebe que não é mais criança, essa percepção traz algumas perdas que são:
a)
A perda da ingenuidade e da naturalidade.
b)
A perda do amor irrestrito, da
proteção e da solicitude.
c)
A perda da própria imagem.
d)
A perda da autoestima.
e)
A perda da segurança diante das pessoas.
06 – Talvez não houvesse
tantos conflitos se essas perdas resultassem em algum ganho. Segundo Contardo
Calligaris, o ganho que não acontece e que seria importante para o adolescente
é:
a)
O reconhecimento de que ele já é um
outro adulto.
b)
Não acreditarem na sua responsabilidade.
c)
Não deixarem ele crescer.
d)
Não deixarem ele olhar para ele como criança.
e)
Não aceitarem suas opiniões.